A ALEGRIA DE UMA UNIÃO
"A alegria do coração
conserva a idade florida."
Salomão
Capítulo 30
Mulder chega, entrando no apartamento a passos rápidos:
— Oi, lindinha! Onde está você?
— Aqui! - grita Dana lá de dentro.
Ele a procura.
Ela está no banheiro, usando o secador de cabelos.
Mulder aproxima-se e a enlaça pelas costas.
Dana deixa-se beijar no pescoço e sente o corpo quente dele, colado ao seu.
Ambos sentem o entusiasmo e a alegria tomarem conta de seu coração no momento em que se avistam.
Em qualquer ausência, seja o tempo que levar, pouco ou muito, os deixa ansiosos pela presença um do outro. É, na realidade, uma união que a ambos trouxera um prazeroso desejo de alcançar muito mais além da alegria, a cada dia, a cada momento de suas vidas, o verdadeiro caminho do amor.
Mulder vai passando os lábios por sua nuca, apertando-a contra seu corpo.
Dana continua usando seu secador de cabelos, colocando-o noutra direção.
E ele prossegue a beijar-lhe a nuca com avidez.
Dana desliga o aparelho. Volta-se de frente para ele.
Num repente e com ansiedade retira-lhe a gravata, abre-lhe a camisa... e com a boca ávida por buscar o sabor do amado, beija-lhe o peito forte, deslizando sobre ele todo seu carinho e amor.
Ele enlaça-a impetuosamente desejoso.
Suas bocas encontram-se quase com furor.
Desejam-se. Querem-se. Amam-se.
Dana sente seu corpo pedir o de Mulder.
Ele retira e joga ao chão o roupão de banho que cobre o corpo de Scully.
Em segundos tira todo o restante da roupa que veste.
Não podem conter-se. É incontrolavel o desejo de se amarem.
Carrega-a no colo, sem mais nada esperar e coloca-a na cama.
Seus corpos se enlaçam e o desvairado desejo do amor incontido sobrepuja todos os outros sentidos.
Dana em minutos sente que seu corpo freme e anseia por deixar liberar de seu interior o mais intenso dos prazeres.
Tudo no seu íntimo anseia por gritar o seu prazer. O seu desvario. A sua loucura de amor.
O grito que impulsiona sair de seu interior, aparece, no entanto, somente como um gemido.
E Mulder sobre o corpo dela torna-se imóvel.
E assim deixam-se ficar. Cansados. Extenuados.
O prazer percorrera-lhe todas as fibras sensíveis de seu corpo.
Agora o relaxamento. A espera da volta do domínio dos próprios sentidos. O controle dos atos e pensamentos.
Dana está ainda agarrada a ele, aguardando a retomada do controle da sua afogueada respiração.
Com os olhos semi abertos, Dana passeia com a sua visão em Mulder, os menores detalhes de seu rosto.
Passa a face sobre a dele, a fim de sentir espetarem-se-lhe na pele os fios da barba por fazer.
Tal gesto causa-lhe um imensurável prazer.
— Huuuum... está arranhando, Mulder.
— É ruim?
— Não... muito bom.
Ele esfrega por várias vezes sua face nas rosadas maçãs do rosto de Scully.
Ela ri, prazerosa.
— Eu vou fazer sua barba. - ela diz.
— Engraçadinha...!
— E deixa comigo que vai durar um ano pra nascer de novo.
— Como assim?
— Vou tirar um por um seus pêlos.
— O que?
— Com pinça; tá bom?
Ele agarra-a fortemente, espremendo-a contra seu corpo.
— Aah, quer me castigar, hein?
— Ai, Mulder, espera! Sou fraquinha...! - diz, sentindo a força dos braços de Mulder apertando-lhe as carnes e os ossos.
Ela dá pequenas mordidinhas no peito dele.
Mulder afrouxa os braços e ela afasta-se de seu corpo.
— Mulder?
— O que?
— Por favor, Mulder, por favor, muda seu modo de proceder e procura me dizer pra onde vai quando estiver saindo novamente...
— O que foi que eu fiz?
— O que você não fez! Você não me disse pra onde ia naquele dia, desapareceu, correu risco de vida, tudo porque não quis me falar para onde estava indo... você é sempre assim!
— Tá bom; tenho que mudar...
— E tem mesmo... Mulder... agora somos como um só. Não podemos perder os passos um do outro. Concorda?
— Sim, lindinha.
— Vai fazer o que eu disse?
— Prometo.
— Tem certeza? - ela joga-se por cima dele.
— Totalmente.
— Eu não posso ficar mais no desespero, Mulder.
— E eu não vou deixar mais acontecer isso, Scully.
— Vou comprar uma coleira...
— O que?
— ... pra colocar no seu pescoço.
— Ah, é? - aperta-a contra si.
— E com uma correntinha carregar você sempre junto de mim.
— Sou seu escravo. - beija-a no pescoço, no queixo.
— Está me amassando...! - ela faz voz manhosa.
— Amassando o que? - finge não saber.
Mas sabe que os seios dela estão sendo imprensados sobre seu peito.
— Ahn... - ela geme, levanta o corpo.
Ele apara o seu busto com a boca desejosa e insaciável.
— Ainda quer me pôr numa corrente?
— Não...
— Vou castigá-la por isso... - murmura.
— Sim... - sussurra.
— Você é minha escrava?
— Sim, meu amo. Sou tua tudo!
Ele enlaça-a com força.
A sala de trabalho está silenciosa. Nenhum ruído tolda o ambiente.
Enquanto Mulder seleciona algumas fotos entre dezenas delas, Scully está pesquisando algo no computador.
Súbito, um ruído os faz voltar o olhar para a porta.
Entra um funcionário do Bureau.
— Olá, Agente Mulder? Oi Dana?
— Oi. - responde Dana.
Mulder não responde ao cumprimento. Simplesmente pára o que está fazendo, para fitá-lo.
— E então está tudo ok?
— Ahn, ahn. - responde Mulder.
O recém-chegado pigarreia.
— O que quer saber? - pergunta Mulder, sem mais delongas.
— Não... é que... vim só conversar um pouco.
Mulder joga sobre a mesa uma pilha de fotos que tem às mãos, sorrindo, com ar de sarcasmo.
— Scully, agora já inspiro até simpatia dentro do Bureau! - fala, em alta voz.
Dana retira o óculos, passa a mão sobre os olhos e fita Mulder. Nada retruca.
O colega deles dá uma gargalhada.
— Escuta, Mulder, não precisa exagerar, não! Você não é exatamente um exemplo de simpatia, mas tem muito conhecimento.
— De que?
— Das coisas que se sabe por aí...
— Por exemplo... homenzinhos verdes...?
— Que é isso, cara? Deixa pra lá. Vim aqui só pra te fazer um convite.
— Convite? - Mulder surpreende-se.
— É... sabe o Martin? Vai casar.
— Recuso-me a ser testemunha... - prontamente ele retruca.
Sean Allen dá uma risada.
— Não... não é isso, absolutamente. É que ele vai fazer uma festa de despedida de solteiro.
— Aaaaaaaaahn! - exclama Mulder, balançando a cabeça, entendendo e estirando-se na cadeira, jogando-a para trás e colocando as mãos cruzadas à nuca.
Scully, por sua vez, ao ouvir o convite, fica atenta às palavras do colega.
— E tudo indica que vai ser a maior badalação!
Mulder franze os lábios em bico e levanta as sobrancelhas; dá um leve sorriso. Olha de soslaio para Dana, que finge ocupar-se somente com a tela do computador, porem sua atenção está inteiramente voltada para a conversa dos dois.
— Vai ter muita alegria... bebidas e... mulheres!
Novamente Mulder faz um meneio, mostrando entender o que irá acontecer. Levanta-se.
O outro Agente, de pé, movimenta as mãos com entusiasmo.
— Bem, Mulder, fica aí o convite e caso queira comparecer, é só me comunicar, ok?
— Ok. - é só o que ele diz.
— Estou saindo agora. - volta-se para a colega - Tchau, Dana!
Ela somente faz um sinal de cabeça, como despedida.
Allen sai, fechando a porta atrás de si.
Mulder sorri, dando uma volta e jogando-se na cadeira, achando cômica a história do convite.
Dana leva o olhar em direção dele.
— Engraçado Mulder, antes de nos entendermos em nossa vida... você...
— ... não recebia convites de coisas assim, Scully. É o que quer dizer?
— Sim, é isso.
Mulder, num segundo, vai até onde Dana está e segura-lhe o rosto, para em seguida beijá-la na boca.
Ela nem tem tempo para uma reação.
— Mulder! - exclama após soltá-la - E se entra alguém aqui, agora?
— O que interessa? - sorri e vai caminhando em direção da mesa de trabalho - Scully?
— O que?
— Preciso que me diga quais são seus planos para o fim de semana.
— Planos? Por que?
— Ah, eu não sei... mas talvez pudéssemos andar num veleiro...
Ela dá uma risada.
Mulder, inadvertidamente, deixa cair no chão uma pilha de fotos mal colocadas sobre a mesa.
— Oh, Mulder! Que desajeitado! - corre a ajudá-lo.
Agacham-se os dois para apanhar do chão o monte de fotos.
— O que faríamos num veleiro? - ela pergunta, enquanto cata as fotos uma a uma espalhadas no chão.
— Poderíamos olhar o mar... - Mulder pára a observá-la.
— Sim? - continua o que está fazendo.
— Poderíamos sentir o cheiro da água salgada...
— Ahn, ahn... - não percebe que ele só a olha, observando sua beleza.
— ... também balançar junto com as ondas...
— Que imaginação! - ela ri.
— ... juntinhos... sob o céu escuro...
— Então em dia de chuva...?
— Ah, Scully, claro que não! Á noite!
— Aaaah! - agora ela com as fotos na mão pára, a fim de olhar para ele.
— E nos amar...
— ...muito! - ela completa, fitando-o com ardor.
De súbito, Mulder força-a a desequilibrar-se sobre seus saltos altos e ela desliza para o chão, com ele sobre seu corpo.
— Mulder, pára! - protesta, falando baixo.
Mas ele não ouve seu protesto. Apenas beija-a, sorridente, feliz e descontraido.
O som da chamada do telefone os coloca atentos, ao mesmo tempo em que têm que prestar atenção ao ruído que está vindo da porta.
— Agente Mulder! - alguém o chama, entrando na sala.
Scully no chão, ainda deitada atrás da mesa, ali permanece, agachada, tentando esconder-se, dando a entender dessa maneira, que não se encontra na sala neste momento.
Mulder está no chão, sentado, o semblante tomado pela surpresa, tendo ao seu lado a pilha de fotos que Dana o havia ajudado a recolher do chão.
O telefone havia tocado e parara, então.
— O que houve, Agente Mulder? - é a secretária do Diretor Assistente.
— Nada, Jennifer. Apenas estava procurando meu talão de cheques... que caiu.
— Ah, então eu posso ajudá-lo a procurar...
— Não. Não! - ele corta sua intenção - Não é necessário. Obrigado.
— Como não? Não me custa nada! - olha para o chão, querendo ver algum indício.
Dana esconde-se o mais que pode sob a mesa.
"Amor, a quanto obrigas! - pensa - Cadê aquela mulher séria e impenetrável que nem um sorriso sequer oferecia ao seu parceiro, até mesmo nos momentos da menor descontração? E agora estou eu aqui, amedrontada, prestes a ser descoberta pela secretária do Diretor numa pose um tanto ou quanto ridícula? E agora, meu Deus?"
Mulder levanta-se do chão quase aflito.
— Pode deixar, Jennifer. Não se importe. Eu vou procurar depois.
A moça está com os olhos voltados para algo de cor clara que aparece um pouco sob a mesa.
Aproxima-se mais do lugar e puxa o que pensa ser o talão de cheques.
— Jennifer! - ele a segura pelo braço, forçando-a a levantar-se - Não tem nada aí!
— Mas olha ali, Agente Mulder! Pode ser o seu talão!
Ele impede-a de voltar ao lugar, decidido.
— E um embrulho que deixei ali...
— Ah... bem... e mesmo me pareceu ser um tecido.
— Sim! Sim... claro... são tecidos que vou levar ao meu alfaiate.
— Aaah, sei. Desculpe.
Mulder suspira aliviado, vendo-a desistir de abaixar-se novamente.
— Veio para saber alguma coisa? - pergunta.
— É... pra trazer esses relatórios.
Mulder pega-os de suas mãos.
— O senhor Skinner pediu que lhe desse umas explicações...
— Sim, sim! - Mulder está ansioso para que a moça se retire.
— Eu... olha, vai demorar um pouquinho... posso me sentar?
— Sentar? Ah... - ele ri forçadamente - olha, Jennifer, desculpe, mas as duas cadeiras desta sala estão quebradas.
— Quebradas? E não comunica isso ao departamento competente?
— É... falta de tempo... - ele passa a mão nos cabelos - ... por favor, diga logo o que preciso saber. Eu... estou com um pouco de pressa... preciso sair...
Mulder toma o paletó e vai vestindo-o, enquanto fala e encaminha-se para a porta, forçando assim, a Secretária a acompanhá-lo.
— Agente Mulder... neste relatório do caso Springer está faltando um anexo que deve estar com você.
— Sei. - diz ele, apressado.
— O relatório do caso de ontem, do ourives assassinado, falta incluir a parte B do anexo ao depoimento do assassino.
— Sei. - ele toma todos os papéis das mãos de Jennifer.
Abre a porta para sairem da sala.
Saem e ele bate a porta para fechá-la.
Inconscientemente, solta um suspiro sonoro com os lábios apertados, como um assobio, o que faz a Secretária não deixar de notar.
— O que é? - ela quer saber.
— Esqueci algo lá dentro e tenho que voltar.
— Ah, ok, Agente Mulder. Até logo, então. Eu vou subir.
— Até logo.
Mulder fica parado à porta do escritório, num pânico mudo, enquanto assiste Jennifer subir as escadas.
Ele retorna à sala.
Dana já está de pé, ajeitando a roupa.
— Droga! Que coisa, Mulder! O que me fez passar! - protesta.
— Oi lindinha... eu não sabia.
— É só o que vai me dizer? Não sabia?
— Não; eu tenho que te dizer outra coisa, além de desculpas.
— E o que é?
— Que eu te amo tanto, te desejo tanto, que todos os momentos próximos de você são um sacrifício pra me segurar e não te abraçar, beijar... e tudo o mais.
Scully nada fala. Continua ajeitando o cabelo e repuxando o casaco.
— Está zangada comigo?
Não responde, ainda.
— Olhe, nem vou me aproximar de você Scully, pra poder falar que não vou fazer mais isso.
Dana esboça um leve sorriso. No seu coração percebe que nem deve repreendê-lo tanto. Ele é o seu menino levado que, inconscientemente, pode causar em algum momento um tumulto em suas vidas, mas não se liga muito a essa hipótese.
O seu Mulder. O seu menino carente. O seu bem. O seu amor.
E é uma alegria tê-lo tão unido a si, embora às vezes sinta-se em pânico com as situações criadas por ele, como a poucos minutos atrás.
Agora ela deixa que um sorriso amplo desenhe-se em sua face; volta-se para olhá-lo de frente.
Olhos nos olhos. Como sempre.
Ela derrama seu olhar azul molhado sobre o verde transparente dos esquadrinhadores olhos dele.
— Mulder...
— Fala...
— Fiquei em pânico...
— Eu sei. Perdão, Scully ...
— Mas o engraçado é que... ela puxou a bainha do meu casaco, Mulder!
Dana termina a frase com um início de uma risda que termina em sonora gargalhada e Mulder, vendo-lhe a descontração, também ri com gosto do quase complicado incidente.
— Mulder...? - continua rindo.
— O que? - continua fitando-a intensamente, cabeça um pouco curvada em sua direção, balançando o corpo levemente com um sorriso nos lábios, para ouvi-la.
— Mulder... você é impetuoso demais! Tem que aprender a conter os seus impulsos...
— Perdão, Scully.
— ... mas eu gosto! - murmura sorrindo.
Ele estende os braços em sua direção.
Ela olha-o sorridente e indecisa, antes de atirar-se em seus braços. Precisa falar algo.
— Mulder?
— O que?
— Você precisa providenciar...
— O que, Scully?
— O conserto das cadeiras.
E a sonora risada dos dois ecoa pela sala do escritório.
"O riso é o melhor
tônico do mundo."
Lady Maud Warrender
