Avisos: Esta é uma história um pouco mais adulta, com linguagem madura. Não é exatamente proibida para crianças, mas é aconselhável para adolescentes e adultos. Pode conter palavrões, violência e um pouco de sensualidade. Se você prefere histórias mais leves, esta não é pra você. Não contém spoilers. Apenas algumas referências ao livro, mas nada que estrague nenhuma surpresa.

Par: Draculaura / OC

Classificação: T (Romance/Drama/DeathFic)

Notas da Autora:

- A história se passa nos anos de 1970. Todas as referêncioas são dessa época. Não são muitas, mas vocês verão algumas.

- Draculaura ainda não é a vampirinha fashion que conhecemos hoje. Ela não pintava os cabelos e os usava soltos. Suas roupas são góticas e fofas, mas mais clássicas.

- Temos algumas referências óbvias a Beatles durante toda a fanfic. Quem se interessar, pode procurar algumas coisas sobre eles na Wikipedia. As letras das músicas e traduções podem ser encontradas no Google.


PRÓLOGO

O cheiro metálico invadia suas narinas sensíveis e a frente de seu vestido preto estava úmida com o líquido morno que esfriava rapidamente. Ela abraçava o corpo inerte dele, a cabeça encostada contra o peito e sentiu o gosto do sangue só muito depois que as lágrimas já haviam lavado seu rosto.

Não havia mais volta. Tudo o que ela podia fazer era chorar... e jurar para si mesma que jamais aquilo aconteceria novamente.

CAPÍTULO 1
A Noite de Um Dia Difícil

Era verão em Salem, a noite estava morna e clara. Draculaura passeava numa praça perto de casa, aproveitando a brisa e um pouco de liberdade. Seu pai não costumava deixá-la sair muito e aquele dia não favia sido excessão.

Naquela tarde, a filha tinha pedido permissão ao pai para fazer compras no boulevard da cidade. Estava louca para ver as roupas de uma nova loja de grife que havia aberto lá.

- De jeito nenhum - havia sido a resposta categórica.

- Mas, pai! - protestou Draculaura - Preciso de roupas novas!

- Não há nada de errado com as suas roupas - retorquiu o pai. - Já lhe disse que não a quero se misturando com humanos, especialmente durante o dia.

- Eu visto as mesmas coisas há anos! Eu posso ir com a Nana...

Não era mentira. O vestido preto com rendas e babados era muito bonito, mas com certeza estava muito fora de moda. Nana era a ama de Draculaura. Cuidava dela há séculos - uma espécie de babá centenária. Vestia e arrumava a jovem vampira todos os dias e até ela concordava que aquelas roupas já eram antigas no século XIX.

- Já disse que não! - cortou o pai.

A discussão continuou por quase uma hora e, como sempre acontece, terminou com Draculaura de castigo e de vestido velho.

Quando anoiteceu, porém, Draculaura aproveitou a saída habitual de seu pai e deu uma escapulida para aproveitar a noite. O ar fresco lhe fazia bem como se pudesse respirar. A brisa suave passava por entre seus cabelos negros e lisos e acariciava sua pele pálida. Ela se sentou num banco da praça quase vazia e ficou observando os humanos de longe, cantarolando baixinho.

- "She's leaving home"? - perguntou uma voz de repente.

- Ahhh! - Draculaura soltou um gritinho de susto. A voz tinha vindo detrás dela e estava muito perto.

- Oh, desculpe. Eu te assustei? - perguntou a voz, agora com um corpo. Era um rapaz de aparentemente uns 17 anos, rosto fino e cabelos lisos meio compridos.

- Ah... Um pouco - disse Draculaura, com a mão no peito. O susto fora tão grande que quase fez seu coração voltar a bater.

- Desculpe de novo - disse o rapaz. Tinha olhos calmos, castanhos muito claros, e um sorriso gentil.

- Tudo bem - Draculaura sorriu de volta, mas com o cuidado de manter os lábios fechados.

- Eu me chamo Patrick, e você? - perguntou o garoto.

- Sou Lala - era assim que ela se identificava aos humanos.

- Muito prazer - disse ele, sentando-se ao lado dela. - Você estava cantando "She's leaving home"?

- Ahn, sim. Acho que é... - respondeu Draculaura. Havia ouvido o disco aquela tarde na vitrola do quarto e a música ficara na cabeça.

- Gosto muito dessa. É uma pena que os Beatles se separaram, não é? - comentou ele. Em todo lugar, só se falava daquela notícia que abalara o mundo.

- Sim, é uma pena - Draculaura estava claramente desconcertada com a aproximação repentina do rapaz. Ao mesmo tempo, ele era uma pessoa agradável, mas ela estava insegura com um contato tão próximo com um ser humano. Provavelmente fazia anos que não conversava com nenhum. Claro que a insegurança também era pelo fato dele ser um gatinho.

- "O sonho acabou" - declarou ele.

- Como? - perguntou ela, voltando de seu devaneio.

- Foi o que Lennon disse quando eles se separaram - explicou Patrick. Seu estilo meio hippie não negava a inspiração. - Mas sei lá... Pra mim, os sonhos só acabam quando não tem mais ninguém pra sonhar. Você não acha?

- Acho, sim! Eu acho que acho, pelo menos. Acho - ela estava se atrapalhando, e acabou ficando corada.

Ele achou graça.

- Você mora por aqui? - perguntou ele, sorrindo para ela.

- Sim, e você? - respondeu ela sem pensar.

- No momento, sim - disse ele.

- Como assim? - perguntou ela.

- Eu viajo bastante... - explicou ele.

Naquele momento, o sino da igrejinha da praça badalou a meia-hora depois das 11. A qualquer momento o pai de Draculaura poderia voltar pra casa, e seria melhor que ela já estivesse no quarto.

- Ah, desculpa. Preciso ir - disse ela, ainda timidamente, mas claramente demonstrando tristeza.

- Eu te acompanho - disse ele, levantando prontamente.

- Não! - disse ela abruptamente. Depois se retratou. - Quer dizer, não precisa... É perto, pode deixar.

- Por favor, faço questão - insistiu ele, sorrindo com aqueles olhos meigos.

- Oh... Tudo bem - acabou aceitando ela. Se eles fossem rápido, poderiam chegar antes do pai dela. Valia a pena arriscar para passar mais uns minutos com Patrick.

Durante o curto caminho de volta os dois conversaram mais. Draculaura falando pouco, Patrick falando sobre tudo. A noite clara não poderia iluminar dois jovens mais diferentes. Draculaura pálida em seu vestido gótico de babados até os joelhos, longuíssimos cabelos negros e lisos com franja reta sobre os olhos violeta e Patrick com seus cabelos sem corte e olhos castanho-claros, as calças jeans boca-de-sino, camiseta-bata com motivos indianos, colar, anéis e pulseiras.

O casal caminhou alguns minutos e logo estavam diante da mansão onde ela morava. O casarão era um pouco sombrio e tinha um jardim denso que o escondia um pouco. Mas, de outra forma, era uma residência comum.

- Bela casa - disse ele, relaxado.

- Obrigada - respondeu ela, sorrindo sem jeito, se voltando para abrir o portão de pedestres.

- Bem, acho que é isso - disse ele. E, repentinamente, deu-lhe um beijo na bochecha.

Draculaura ficou sem ação. O contato dos lábios mornos dele na pele fria dela pareceu durar vários minutos, ainda que tenha sido um beijinho muito rápido. Ela sabia que estava muito mais corada do que seria possível para um vampiro.

Antes que ela pudesse responder, ele acenou.

- Então tchau. A gente se vê - e foi descendo a rua. Mas deu dois passos, virou-se e acrescentou. - Ah! Você não precisa esconder nada de mim, você sabe, né?

E com um sorriso franco, continuou seu caminho.

Draculaura, paralisada no portão, ficou observando-o até ele sumir de vista na curva da rua. Então, com um grande sorriso cheio de dentes, entrou cantarolando em casa.

- "Love, love me do..."

Continua...