Disclaimer: Saint Seiya e seus personagens não me pertencem. Esta história não tem fins lucrativos.
Aviso: Conteúdo yaoi / lemon (relacionamento entre dois homens); violência; linguagem inadequada. SE NÃO GOSTA, NÃO LEIA!
Resumo: O amor a tudo vence? No século XV, o amor de dois homens testemunha o nascimento de duas nações. UA, Camus X Milo yaoi
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Amor Omnia Vincit?
Prólogo – Anno Domini 1434
Uma leve brisa soprava do norte e roçava nos cabelos longos dos dois homens. O tilintar grave dos sinos da velha catedral espalhava-se pelo ambiente, ecoando nos ouvidos: as cabeças latejavam. As mãos, dormentes, doíam. Não fazia calor nem frio, e o sol pálido iluminava as faces da multidão inescrupulosa. Naquela manhã do anno domini de 1434, nada era diferente. A não ser para os dois homens. Eles se entreolhavam com olhos fundos e amarelecidos. Não ouviam sequer uma das palavras que eram insistentemente proferidas. Nada importava.
A Deo et Rege, anno domini 1434, a pedibus usque ad caput, et peculum condeniae, hac lege heretic declaroum me, hic jacet sepultus ad Deo fulgiriae. Magna res est vociis et silentii temperamentum, hominem. Homo nudus cum nuda iacebat.
Nus deitam os dois, homem e mulher.
Vestiam túnicas de algodão que algum dia foram brancas: naquele momento, eram amarelas, negras pela imundície. Traziam corpos e rostos magros, que em nada lembravam a majestade e imponência de outrora. Os ombros ossudos ficaram ainda maiores quando amarraram as mãos atrás das toras de madeira. Os pés tocavam a palha seca. A garganta tremia. A sentença era duramente repetida. Mas nada importava.
Hinc et nun, hinc illae lacrimae, sol omnibus ulcet, stulturom infinitus est numerus. A Deo et Rege, anno domini 1434, homo nudus cum homo iacebat.
Nus deitam os dois, homem e homem.
O ribombar insistente do sino ao longe anuncia que o tempo, inclemente, não pára. Mas, para os dois, não havia tempo. Não havia mais nada. Nem mesmo dor. Os corpos, cansados de tanto flagelo, não mais se recordavam do prazer. Eles não ansiavam por nada, absolutamente nada, a não ser a redenção dos próximos minutos. Ou horas. Pagar com sofrimento pelos pecados da carne. Homo nudus cum homo iacebat. Heresia!
Spiritus lenis, spiritus asper. Sub iudice, sub judice, sub lider, sub lite. Acusatis heretic Camus de Beauregard, Duque d'Aquitaine, et Milo de Beauchamps, Baron de Warwick, condinaete est.
Acusados heréticos Camus de Beauregard, Duque d'Aquitaine, e Milo Beauchamps, Barão de Warwick, condenados estão.
Um dos homens levanta o rosto. Seus olhos encontram os olhos do outro homem. Ele tenta sorrir e não consegue. Ele quer alcançá-lo mas suas mãos estão amarradas. Ele não quer chorar, mas um nó se forma em sua garganta. O som das batidas dos sinos corta o ar e enche o ambiente de pesar. Os gritos da multidão cessam. A respiração se prende.
– Seus olhos eram vívidos, Milo. De um verde cristalino como os campos da Champagne. Seu porte era altivo. Seus cabelos eram loiros, dourados como o trigo da Aquitaine. Sim, seus cabelos sempre me lembraram minhas terras, o dourado dos trigais. O pão alimenta o corpo, seu dourado me alimentava a alma. Agora é tudo amarelo, amarelecido, e não dourado. Seus olhos estão sem brilho, e seus cabelos parecem a palha em que pisamos. O que aconteceu conosco, Milo?
Apenas o ribombar dos sinos como resposta.
Sui iuris, somma cum laude, sursum corda, tanta stultia mortalium est. Te Deum, te nosce. Gaudeamus ignitur, genius loce. Gloria in excelsis Deo. Gloria in excelsis Deo. Arrepentiis heretic, somodium est. Arrepentiis et at atrium volos. Arrepentiis. Gloria in excelsis Deo. Arrepentiis.
Arrependei e nos céus sereis recebidos. Arrependei. Glória ao excelso Deus. Arrependei.
– O que aconteceu conosco, Milo? Por que tivemos nós que pecar? Eu tinha vida, eu era belo. Tal qual a rosa vermelha de seus amigos Lancaster eram meus cabelos. Meus olhos eram azuis como o mar da Inglaterra. Era o campeão do rei; tinha porte de rei. Lutei em guerras e justas, amealhei vitórias. Expulsei o inimigo, e em terras que não eram as minhas lutei novamente. E por quê, Milo? Por quê?
Somente os apupos da multidão irrequieta como resposta.
Gloria in excelsis Deo. Te Deum, te nosce. Gloria in excelsis Deo. Arrepentiis. Arrepentiis heretic. Arrepentiis et at atrium volos. Arrepentiis. Gloria in excelsis Deo.
Arrependei. Gloria ao excelso Deus.
A brisa leve continuava soprando do norte. Os cabelos dos dois homens balançavam ao sabor do vento fraco. A catedral assistia a tudo, imponente testemunha dos séculos. Olhava-lhes com reprovação. As torres altas que apontavam aos céus eram dedos divinos, apontando para a face dos dois condenados inquisitorialmente.
– O que fizemos, meu Deus? O que fizemos, Milo? Por que merecemos acabar assim? Desse jeito? Logo eu e você, que fomos tão bravos. Logo eu e você...
O outro homem nada dizia. Fitava os olhos suplicantes de seu companheiro com uma expressão que não se saberia interpretar. Desviou o olhar durante algum tempo e percebeu o monge em sua frente, entendendo finalmente de onde vinham as incômodas palavras recitadas em ritmo hipnótico. Passeou os olhos cadavéricos pela multidão e pensou na crueldade dos homens, que se deliciavam com o sofrimento, com o padecimento dos inocentes.
De repente seus olhos pararam sobre uma figura na multidão: um homem alto, esguio, branco como seda, de longos cabelos loiros e olhos azuis marejados de lágrimas. Milo de Beauchamps apertou os olhos e suspirou. Despediu-se com um olhar. E aquele rosto na multidão chorou. Uma lágrima escorreu em seu rosto imaculado. A seu lado, um outro homem, de porte altivo, moreno, segurou-o com um braço. – Antes eles do que nós, carino. – suspirou. O loiro concordou com um leve menear de cabeça. Seu coração doía, mas não havia nada a ser feito. O homem tirou uma rosa vermelha, símbolo de sua casa, e depositou-a no chão. Despedida.
Ultima ratio. Ultima ratio regum. Ultra posse nemo obligatur. Ultima. Arrepentiis. Arrepentiis heretic. Arrepentiis et at atrium volos. Arrepentiis. Gloria in excelsis Deo.
Arrependei. Gloria ao excelso Deus.
– Arrepender? E para quê? Para que sejamos garroteados ao invés de queimados vivos? Não me arrependo! Éramos livres! Éramos livres, Milo. Tínhamos o mundo aos nossos pés. Lutamos por nossa obrigação, quando devíamos ter fugido. Podíamos ter sido reis, Milo! Reis! Devíamos, devíamos ter fugido. Toda essa humilhação, essa vergonha, esse sofrimento. E por quê? E para quê? E por quem, Milo? Por quem?
Nada, nem uma palavra. Somente o soprar da brisa e o barulho enjoativo do sino. E os olhos, negros olhos, da Catedral. Os corações de ambos, pesados como o metal de suas antigas armaduras. Nada importava.
Vivere desci, cogita mori. Vitanda est improba siren desidia. Vide et credere, videtes quantum scelus contra rem vobis nutiamtum sit. Ultima ratio. Arrepentiis. Gloria in excelsis Deo. Te Deum, te nosce. Arrepentiis.
Vós, Deus, conheça a nós. Arrependei.
– Você era tão lindo, Milo. Ainda é lindo. Maravilhosamente belo. Nem mesmo a França consegue ter mais beleza. Nem mesmo a França... Lindo, lindos olhos. Eu me perdia nos seus olhos, sabia? E em seus cabelos... Ah, Milo, se você soubesse a falta que eu sinto de acariciar seus cabelos!
Um suspiro alto, sentido.
– Nos piores momentos, foi você quem me fez agüentar, Milo. A simples idéia de te ver novamente é que me deu forças. E acredito que tenha valido a pena. Aqui, no fim de tudo, você está a meu lado. Pra mim, é o que basta. Nada mais importa.
Arrepentiis nul! Arrepentiis, te Deum! Arrepentis! Ne humanus crede! Arrepentiis, ad Gloria Deo!
Não se arrependem! Arrependei, por Deus! Arrependei! Não creia nos homens! Arrependei, pela Glória de Deus!
– Por que, Milo? Você sempre teve resposta para tudo! Responda-me agora! Preciso dessa resposta! Por que, Milo? Por quê? O que nós fizemos? Pecamos, nós? O que nós fizemos, Milo? Diga-me!
O outro homem, que até então calara, suspirou profundamente. – Por que, Camus? Porque amamos!
Os dois se entreolharam. Havia lágrimas presas nos olhos de ambos, mas eles não chorariam. Não eles, os bravos guerreiros! Eles queriam se abraçar, mas as mãos estavam amarradas por trás das costas. Eles queriam se tocar, mas a distância entre os dois não permitia. Nas gargantas, o nó ficava cada vez maior. Era a última vez. A última vez... Esboçaram um sorriso. Olhos fixos nos olhos um do outro, eles aguardavam. A julgar por seus rostos, poderia-se até dizer que estavam tranquilos.
Arrepentiis nul! Vultus est index anima! Arrepentiis nul, condinaete est! Hic jacet sepultus ad Deo fulgiriae. In nomime Patris, et Fillis et Spiritus Santi. Amem.
Não se arrependem! O rosto é o espelho da alma. Não se arrependem, estão condenados. Aqui jazem sepultos nas fogueiras de Deus. Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Amem.
Uma saraivada de palmas, gritos e apupos vem da multidão ensandecida. O homem vestido de negro, encapuzado, vem caminhando com a tocha na mão. Eles não percebem toda a movimentação. Estão perdidos nos olhos um do outro. Camus não consegue evitar uma pequena lágrima, tampouco Milo. Eles sorriem. Nada mais importava. O ribombar do sino eclode mais uma vez, sobrepondo-se ao barulho da turbe. A Catedral parece chorar. Uma revoada de pássaros grasnando sobe aos céus.
O carrasco caminha a passos lentos. A tocha acesa em mãos. Ele caminha em direção aos homens. Aos condenados. Sua missão é acender as fogueiras divinas, e expiar os pecados do mundo. O algoz sorri por debaixo do capuz, pois aquele pensamento lhe traz algum conforto. Ele caminha. O sino toca. A multidão grita. Os condenados sorriem.
Nada mais poderia salvá-los ali, a não ser um milagre. Anno domini 1434. Definitivamente, aquela não era uma época propícia a milagres.
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A/N:
Certo, surtei. Mais do mesmo: Vida na Caserna, versão medieval. Desculpem-me, mas não resisti. A idéia dessa fic estava me martelando tanto que não conseguia continuar Vida na Caserna II, então resolvi começar essa aqui pra ver se a outra sai.
Aviso desde já que, embora eu esteja pesquisando um pouquinho, essa fic não tem pretensão de ser fiel à História. Vou usar de "licença poética".
Desculpem pelo capítulo pequeno, mas é só o prólogo.
E desculpem-me pelos clichês. Mas fazer o quê? Eles simplesmente vêm... e se não pode vencê-los...
Dúvidas, xingamentos, explosões de raiva, e até mesmo elogios... bem, deixem-me um review que prometo levar em consideração. E Jean Delumaeu deve estar se remoendo no túmulo, mas e daí?
Quanto às frases em latim, bem... muitas não tem significado nenhum, algumas eu realmente pesquisei.
Amor omnia vincit significa "O Amor a tudo vence" Nem preciso dizer, né? Deixem uma autora feliz! Reviews, please!!!