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Eles diziam, naquele tempo, que ele poderia fazer tudo. Não importava se ele não estava onde podíamos ver; todo mundo contava com o fato de que estaria. É estranho como as coisas acontecem às vezes. É estranho como de repente as pessoas colocam suas vidas nas mãos de pessoas que não conhecem com uma devoção que não deixa espaço para dúvidas.

Mas ele já havia estado tão perto. O suficiente para que não adiantasse mais simplesmente tentar não acreditar em um punhado de boatos. Às vezes as pessoas ficavam olhando para o céu, como se ele pudesse estar vindo de lá, e não fazia sentido. Mas eu olhava também, de vez em quando. Talvez só estivesse lembrando do quadribol.

Em uma Guerra, a gente se acostuma a dividir tudo – especialmente as pessoas – em dois lados. Quase sempre esquecemos o meio-tom. E as coisas aconteciam assim: ou você passava a acreditar realmente que tudo vai dar certo, ou simplesmente desacreditava de tudo. Talvez as pessoas que se lembrassem do meio-tom fossem mais sensatas e encontrassem um equilíbrio.

Eu queria ter acreditado em muitas coisas, mas às vezes era tão difícil. Só não poderia mesmo ter ficado sentada, esperando, e não fiquei. Não poderia mais olhar para o céu e esperar que alguma coisa extraordinária acontecesse. Que você viesse, por exemplo.

Sinto muito, mas você mesmo sabia que eu nunca poderia fazer isso. Naquele tempo, Harry, mesmo esperando por você, todos tínhamos que aprender a ser heróis de nós mesmos. E sei que você entenderia isso também, talvez melhor que todos.

Porque, no fim, o que resta é isso. Eu, você, e um punhado de heroísmos.