Primeiro, quero pedir desculpa pelo meu novo desaparecimento. Este ano lectivo tem sido infernal e é só trabalhos e trabalhos para fazer. E quando se está numa área de Artes visuais, como eu, temos que desenhar e desenhar até as nossas mãos caírem. E, como projecto de uma disciplina, tenho que criar um site. É horrível e ocupa-me maior parte do tempo.
Segundo quero pedir desculpa aos meus leitores, que provavelmente estavam á espera de mais capítulos das minhas histórias, ou mesmo um One-shot SasuHina ou ItaHina de compensação. Afinal trago-vos esta coisa, que nem sequer é "Naruto". Mas tinha de ser.
Fiquei viciada, praticamente, por Hetalia mal vi o primeiro episódio. E quando vi Inglaterra foi amor á primeira vista (Ele é simplesmente adorável!). Fiquei também viciada no Par USxUK, não faço ideia por quê, mas acho-os fofos juntos e, muitas vezes, incrivelmente sexy. Eu tinha que escrever algo com eles, ou iria explodir. Não foi tarefa fácil, nunca escrevi uma história Yaoi… bem… completamente Yaoi (Os meus leitores habituais já estão habituados á sempre constante homossexualidade nas minhas histórias). Sempre pensei que a minha primeira história Yaoi fosse ItaSasu… pelos visto enganei-me.
Queria que isto fosse um One-shot, mas estava a ficar demasiado grande. Provavelmente será dividido em dois (Até porque ainda não cheguei á parte porca. O que será de uma história minha sem uma parte porca!)
Duvido que esta pobre amostra de literatura tenha grandes reviews ou mesmo favoritos. USXUK não é assim tão famoso na categoria escrita em português (Porque em inglês tem imensos fãs e imensas histórias). Mas não me interessa muito. Eu queria escrever isto e escrevi. Fim.
Bom, espero que gostem e perdoem qualquer erro ortográfico.
Diferença
Parte I
Algo estava a tocar naquele corpo. Algo suave, pequeno e esguio. Esse objecto tinha penetrado o tecido grosso da sua camisa de inverno, explorando assim a pele branca que se encontrava por debaixo do vestuário.
Era uma mão, uma mão pequena, sedosa e extremamente matreira. Dedos fininhos percorriam cada pedaço, cada centímetro, tudo... mas tudo, daquele corpo pálido, tão magro... tão belo.
Alfred sorriu abertamente. Não era o seu habitual sorriso alegre e inocente, tão infantil e mágico. Era algo diferente, mais negro e secreto, um tipo de sorriso que só aparecia no seu rosto quando ele estava sozinho ou quando aquele a quem ele chamava de guardião dormia.
E aquela era uma dessas alturas. Arthur dormia profundamente, exausto após uma viajem tão longa de barco. O homem louro estava deitado ao seu lado, a sua camisa estava agora puxada para cima, revelando a barriga torneada do mais velho.
Não era a primeira vez que Alfred se aventurava no corpo de Arthur. Tantas noites o rapaz utilizara o seu medo de fantasmas e a sua capacidade de mentir para se meter na cama do mais velho, esperava que este adormecesse para depois tocar-lhe e tocar-lhe, até estar demasiado cansado e ceder ao sono.
Alfred sabia que, acordado, Arthur nunca se deixaria tocar daquela maneira, especialmente pelo rapazinho que considerava irmão. Talvez até fosse achar tal ideia repulsiva. Era por isso que a colónia agia na calada da noite, tão silencioso e matreiro, acariciando o corpo do seu guardião em busca de saciar o seu desejo desconhecido.
Arthur poderia ser um homem sempre em alerta, graças á pirataria que levara alguns anos antes, mas quando dormia na segurança da sua casa, fazia-o como um pura pedra. Não ressonava, apenas dormia pesadamente, com a cabeça em cima da almofada, o seu cabelo louro espalhado pelo tecido braço.
Lindo
Pensava o rapaz mais novo, colocando os lábios no pescoço branco do império. Arthur era lindo. Acordado, a dormir, ele era simplesmente deslumbrante. Alfred beijou a pele suave do mais velho, lambeu e mordiscou sem grande força, para não deixar provas. Gemeu baixinho de prazer ao sentir o sabor tão estranho e diferente que simplesmente gritava "Arthur". Era tão agradável, delicioso e mágico que Alfred entrava em puro delírio. O seu corpo ardia com doçura, a sua respiração tornava-se ofegante com a excitação, o seu sexo latejava de desejo.
Tudo por causa de Arthur.
Arthur e o seu rosto bonito. Arthur e o seu corpo esguio e pálido. Arthur e a sua voz profunda. Arthur e o seu cabelo louro, tão curto e rebelde. Arthur e o seu sorriso doce e carinhoso. Arthur e os seus gestos amáveis. Arthur e as suas roupas elegantes. Arthur e os seus grandes olhos verdes.
Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur, Arthur.
Alfred grunhiu de forma quase selvagem, enquanto o seu membro implorava por atenção. Era sempre Arthur. Aquele homem estava sempre a sua mente, a tortura-lo inconscientemente com desejo ardente. Se o Inglês soubesse o que Alfred lhe fazia na sua imaginação, ficaria traumatizado para o resto da sua longa vida. A mente do rapaz já criara situações demasiado pecadoras, onde o grande império britânico era o actor principal.
A colónia traçou um trilho doce de beijos apaixonados pelo pescoço branco do homem mais velho, subindo e subindo, até chegar aos lábios pálidos e carnudos. Ah, como adorava aquela boca, sempre com sede de a beijar, constantemente com uma vontade de a possuir com a sua.
Mas não o fez. Não abriu os lábios do inglês para o beijar profundamente com toda a paixão que ardia em todo o seu ser. Não poderia fazer tal coisa, o risco de ser descoberto era demasiado.
E Alfred não queria ser descoberto. Não. Isso não, nunca. Se fosse revelado a Arthur que este era praticamente abusado sexualmente durante o sono pelo seu protegido, haveria uma chance de o Inglês se afastar completamente, de nunca mais voltar. E a Ultima coisa que Alfred queria era que o homem mais velho se distanciasse para sempre.
Não. Arthur tinha que ficar ao seu lado, sem saber da existência do desejo ardente que o rapazinho possuía dentro de si.
Descolando os seus lábios dos do homem mais velho, Alfred acariciou levemente a cara branca de Arthur, suspirando levemente. A sua mão livre serpenteou de forma matreira até ao meio das suas pernas, rodeando o seu membro erecto.
Um pequeno gemido de prazer escapou pela sua boca.
_ A-arthur... - Sussurrou fantasmagoricamente enquanto tentava satisfazer as suas necessidades com a mão - Arthur... - Enterrou a cabeça no pescoço do homem adormecido, inalando o aroma doce daquela pele tão suave - P-porquê? Porque é que me fazes s-sentir assim...?
A sua única resposta foi um ronco quase inaudível da parte do grandioso império britânico e os olhos de Alfred encheram-se de lágrimas de frustração. Seria eterno, não seria? O seu sofrimento? Ele iria desejar aquele homem até ao final dos seus dias, sempre com vontade de o possuir completamente mas sempre com inúmeras regras éticas e morais que o impediam de fazer tal coisa. Era como um prisão, uma cela interna que o prendia com o desejo infernal que só Arthur poderia saciar.
Alfred lançou um pequeno grunhido quando sentiu a explosão do êxtase, a sua camisa de dormir ficou húmida com os seus fluidos e o pescoço de Arthur estava ligeiramente pegajoso com o suor do rapaz mais novo.
O jovem colónia olhou o seu guardião com olhos azuis cansados. Lá estava Arthur a dormir tão pacificamente, com o seu rosto bonito calmo e sereno, peito a subir e descer lentamente... Que visão magnífica. O homem mais velho estava completamente nas mãos da ignorância quanto ao facto de o seu "irmãozinho" ter acabado de se masturbar mesmo ao seu lado, praticamente encostado ao seu corpo.
Alfred abafou um minúsculo gemido de desespero, sentindo-se nojento.
_ O que é isso têm haver comigo? - Perguntou o inglês secamente, virando a página do seu jornal já um pouco machucado, pois o carteiro era desastrado. A sua mão livre segurava uma chávena de chá enquanto o seu ombro impedia o telefone de cair. Descruzou as pernas e olhou para a janela, cujo vidro estava salpicado com inúmeras gotículas de água, que reflectiam de forma destorcida o céu cinzento da cidade de Londres.
_ Arthur, por favor, algo se passa com ele! - A voz suave implorou no sue ouvido.
Arthur franziu as suas sobrancelhas espessas, semicerrando os olhos de jade.
_ Eu realmente não estou a ver porque é que me iria importar com tal facto.
Que lata do... qual era o nome dele outra vez? Mathias? Mark? Mimi? Ele tinha a certeza que começava com um "M". A incomodá-lo numa manhã de sábado tão calma como aquela.
_ É o seu aniversário! E ele não o vai festejar com um baile estonteante, barulhento e cheio de comida! Não convidou ninguém para festejar! Ninguém! Nem sequer o Japão!
Bem... realmente isso não parecia ser coisas que o América faria... aquele imbecil ficava sempre tão excitado nas semanas próximas do seu oh tão adorado aniversário, que parecia estar a ter um orgasmo a cada hora. Sinceramente, chegava a ser repulsivo.
(Era claro que Inglaterra só dizia esse tipo de coisas porque o excesso de energia que o americano mostrava era irritante e não pelo facto de o idiota estar a festejar a sua independência... obvio.)
_ Ele parece... quase deprimido, sabes?
América? Deprimido? Isso era novo... nem a Grande Depressão de algumas décadas antes o tinha deitado abaixo. Arthur simplesmente não conseguiria ver aquela criatura enervante deprimida, triste ou mesmo sem um sorriso de imbecil no seu rosto.
_ Ele tem estado um pouco distante... desde o Abril passado. Não sei bem porquê, mas... mas já tentei falar com ele acerca disso, mas fui completamente ignorado. E quanto ao aniversário... ele... ele disse que queria ficar sozinho.
_ Bem, talvez ele finalmente abriu os olhos e viu que estamos todos com uma economia de merda, e resolveu poupar dinheiro. - Sugeriu Arthur, ainda não muito interessado pelo tema de conversa. Bebericou um pouco de chá, suspirando com satisfação ao sentir o liquido aquecer-lhe o corpo.
_ Sim, talvez... m-mas... mas mesmo assim teria convidado os seus amigos mais próximos, não é verdade?
_ Ouve, Mathilda-
_ Matthew.
_ Isso. O que é que queres de mim, sinceramente?
_ B-bem... p-pois, e-eu, e-eu estava á espera que talvez pudesses ir visitá-lo e... d-descobrir o que se passa com ele?
Houve um silêncio pesado, quase frio. Lenta e cuidadosamente, Arthur colocou a chávena em cima da mesa, sem nunca tirar os seus grandes olhos de jade da janela. Levou a mão livre ao telefone, deixando o seu ombro tenso descair, liberto do seu trabalho temporário. Os dedos finos e elegantes do cavalheiro rodearam a maquineta com força desnecessária.
Abriu a boca, mas apenas alguns sons pouco coerentes escaparam, antes de abanar a cabeça para clarear a mente.
_ Q-queres que o vá visitar? - Rugiu finalmente, cheio de indignação - Isso deve ser a coisa mais ridícula que já alguma vez ouvi.
_ Por favor, Arthur! Eu já tentei falar com ele, mas fui ignorado! E tu és o único que Alfred respeita!
Arthur lançou um som seco, que mostrava humor sarcástico. América não respeitava ninguém, provavelmente nem o seu próprio presidente. Aquele imbecil tinha um ego terrível, que poderia sufocar qualquer pessoa que estivesse a três milhas de distância. O inglês não tinha quaisquer dúvidas de que América provavelmente se achava melhor do que qualquer outra nação no mundo.
_ Perdoa-me, Matthew, mas não posso dar-me ao trabalho de o visitar nesta altura. Tenho muito que fazer no meu próprio país para me preocupar com os comportamentos infantis do idiota do teu irmão.
_ Isso é mentira, e tu sabes bem disso. Eu sei bem porque não queres visitar o meu irmão. Pois bem, eu estava a tentar ser simpático, mas não me dás outra escolha. - Arthur pestanejou ao ouvir o tom negro na voz do canadiano. Andaria o rapaz a passar tempo com o Rússia, ou coisa parecida? - Já telefonei ao teu chefe. E ele informou-me polidamente que tu estavas disponível para ajudar o Alfred!
_ O que o meu chefe diz não se escreve. Lá por eu não ter coisas politicas de momento para fazer, não quer dizer que a minha vida pessoal não esteja ocupada.
_ Sentar-te ao pé da lareira e beber chá o dia todo não é uma vida pessoal ocupada, Arthur.
O inglês lançou um pequeno olhar culpado á sua lareira acesa e á sua caneca de chá. Seria assim tão previsível, ou andava o Canadá a mandar espiões para descobrir os seus segredos?
_ Ainda assim, vou ter que recusar.
_ Arthur... eu juro que telefono á tua rainha...
O homem louro congelou no seu lugar, esbugalhando os seus olhos verdes.
_ Não o farias!
_ Faria sim...
_ Não. Não. Eu não o vou visitar, nem sequer me vou importar com a sua mera existência. Não é que ele se importe com a minha.
_ Vá lá, Arthur, isso não é verdade...
_ Não? Todos os anos o imbecil tem-me mandado convites para o seu aniversário, mesmo sabendo que não tinha qualquer intenção de ir. E ainda por cima, os últimos que mandou tocavam a porra do hino nacional dele!
_ Arthur...
_ Quando notei que este ano ele não me enviara nada, finalmente pensei: "Aleluia, o imbecil entendeu a mensagem." mas nããão! O pobrezinho está deprimido e quer passar o seu melhor dia do ano sozinho, coitadinho, vamos todos chorar porque Os Estados Unidos da América sente-se mal. Tu e ele que se fodam.
E desligou o telefone.
Respirou fundo, a fim de se acalmar. A sua cabeça já doía com tanto stress (Havia sempre stress na sua mente naquele especifico mês). Raios partam aqueles dois. Sinceramente, incomoda-lo naquela altura do ano. Arthur preferia ter um França a correr nu pelas ruas de Londres a colocar um único pé no continente americano.
América estava deprimido, pff! Não era o único no mundo em tal estado de espírito, não era necessário fazer dramas por causa disso. Arthur tinha a certeza que o imbecil iria ficar bem após a ingerir alguns hambúrgueres e jogar uns quantos vídeos jogos do Japão.
Pegou novamente na sua chávena e acabou com o restante chá que o objecto continha. Ah, sim. Paz. Sem memórias desagradáveis de acontecimentos que lhe partiram o coração, sem canadianos cujo nome ele nunca se lembrava e sem a misteriosa depressão de América.
Então a porra do telefone tocou mais uma vez.
_ Sim? - Resmungou sem paciência, colocando mais uma vez a maquineta ao lado da orelha.
_ Arthur, eu juro que telefono á tua rainha.
_ Então diz-me, meu amor, porque estamos aqui?
_ Eu estou aqui porque aquele tipo cujo nome não me lembro de momento fez chantagem comigo e eu tenho que visitar o América. Tu estás aqui porque és um perseguidor pervertido que anda a tentar levar-me para a cama desde a porra da revolução americana.
_ Isso é porque já não me dás atenção! O que aconteceram aos dias em que tiravas todas as tuas frustrações em mim?
_ Meh.
_ Mas que resposta tão articulada vinda do grande cavalheiro inglês.
_ Francis, se não calas o bico, juro que te parto os dentes.
_ És sempre tão amável comigo, meu amor.
O taxista, um pobre mexicano que tentava fazer a vida na grande cidade, olhou-os como se fossem loucos através do espelho retrovisor. Arthur cruzou os braços e as pernas, franzindo o seu sobrolho espesso enquanto os seus olhos estavam fixos na janela, mas sem de facto verem a paisagem do outro lado.
Se havia uma coisa que Arthur odiava, era o aniversário do América. E pior que esse dia horrível, era estar naquela amaldiçoada nação quarenta e oito horas antes dessa data chegar com toda a sua glória desprezível e fogo de artificio. Ali estava ele, a personificação do Reino Unido, num país onde milhões de pessoas estavam prestes a celebrar o facto de se terem livrado dele há uns séculos atrás.
Que alegria.
Lenta, cuidadosa e pervertidamente, uma mão grande e elegante serpenteou até ao seu ombro, massajando os músculos tensos aí situados. Arthur girou a sua cabeça em direcção do outro louro que o acompanhava, semicerrando os seus olhos verdes.
França lançou-lhe um belo sorriso brilhante.
Arthur lançou-lhe um olhar ameaçador.
_ Ah, meu querido Inglaterra. - Fez o francês docemente, aproximando o corpo mais pequeno da nação britânica do seu, ignorando o olhar cortante do outro - Quem diria que tens um coração generoso o suficiente para visitar o nosso pequeno herói nesta altura do ano. - O olhar verdejante de Arthur ficou mais mortífero, se fosse possível - Não faças essa cara, meu amor, não te fica bem.
Os dedos de Arthur rodearam a mão que invadia o seu ombro e apertaram com toda a força que ele arranjava naquele momento. Francis lançou um guincho pouco apropriado para um homem adulto e afastou a sua pobre mão dos dedos agressivos.
_ Que cruel, Inglaterra. Sempre cruel. Se não tens cuidado com essa atitude, vais acabar sozinho.
O Inglês olhou novamente para a janela. Por meros segundos, os seus grandes olhos mostraram a dor e agonia que o atormentavam á séculos, por meros segundos, a sua máscara de indiferença e frieza caiu, mostrando o quão partido ele estava.
_ Eu já estou sozinho. - Sussurro sombriamente para ninguém, o seu bafo embaciou o vidro transparente da janela com a acção.
É claro que estava só. O que ele queria não estaria disponível. Ele já não era aquela nação jovem, bela e energética que tinha sido séculos antes. Agora não passava de um homenzinho baixo, magro, pálido e com as sobrancelhas mais grossas do planeta. Ninguém, a não ser França, o tomaria como amante. Ninguém, a não ser França, o acharia atraente. E, sinceramente, Arthur não tinha paciência para andar ás cambalhotas com o seu eterno rival, ter apenas uns momentos de prazer e odiar-se depois do acto.
Mas aquela onda de mágoa rapidamente foi disfarçada pela raiva e o sarcasmo, enquanto Arthur tentava esganar Francis por este lhe ter apalpado o rabo.
A casa de América era relativamente modesta, se considerássemos o ego enorme do seu dono. Não era muito grande, nem muito pequena, mas sim num tamanho razoável para um homem solteiro viver confortavelmente e ainda ter espaço para algumas visitas.
Arthur caminhou pelo relvado sem grandes pressas, com França atrás dele a persegui-lo com alguma dificuldade. Ambos tinham malas de viajem, apesar de as de França serem maiores e mais pesadas do que as do inglês.
A temperatura era extremamente elevada, comparada com o tempo chuvoso do bom e velho Reino Unido. Arthur já sentia o suor escorrer pelo seu rosto e pescoço e as suas roupas grossas colarem-se ao seu corpo de forma pegajosa.
Bufou irritadamente, com as bochechas ligeiramente coradas com o calor. França lamentava o peso das suas malas atrás dele, mas foi ignorado pelo britânico, que continuou o seu caminho pelo relvado verdejante de América. Os seus sapatos pisavam a erva com violência, contrastando os passos elegantes do francês que vinha atrás.
Arthur quase correu de desespero até á porta da casa de América, em busca da sombra abençoada que era fornecida por um minúsculo telheiro. O britânico deixou cair as malas e lançou um suspiro de alivio quando a sua pobre pele branca já não era atingida pelo sol. Ao seu lado, França poisava os seus pertences com delicadeza e olhou-o com superioridade.
_ Pelos deuses, meu amor, és sempre tão sensível ao sol e ao calor. - O seu sorriso tornou-se travesso - E se bem me lembro, também és sensível em muitas outras coisas.
_ Eu juro, ás vezes és mesmo nojento. - Resmungou Arthur com algum desprezo, erguendo o braço para tocar á campainha. O seu dedo fino premiu o botão branco e o som agudo e irritante ecoou pela casa.
Os dois rivais quase milenários esperaram lado a lado, a olharem para a porta sem grandes expectativas. Arthur coçou a cabeça, desalinhando mais os seus cabelos dourados e lançou um som aborrecido pela boca. Algures no relvado de América, um insecto qualquer lançava um som enervante, como um leve rugir de acasalamento. França bocejou abertamente, nem sequer tentando esconder o interior da sua boca, e esfregou os olhos azuis, gemendo baixinho.
_ Espero dormir um pouco esta tarde.
_ Assim que aquele imbecil nos abra a porta, talvez durmas. - Arthur tocou mais uma vez á campainha, com a face a ficar a cada momento mais vermelha com frustração e calor. Bateu com o pé impacientemente no chão, a sola do seu sapato provocava um som duro de cada vez que embatia na madeira pintada de branco.
Finalmente, depois de Arthur ter tocado mais uma vez á campainha, América abriu a porta. O britânico teria lançado logo um comentário desagradado e França provavelmente tinha dado uma piada sexualmente sugestiva, se os dois não tivessem tão abismados com o aspecto da nação mais nova.
América parecia não dormir há dias, com grandes papos debaixo dos olhos azuis, pobremente tapados pelos óculos sujos. Estava extremamente pálido, num tom doente, rivalizando com o tom de pele de Arthur, que raramente via sol graças ao mau tempo que se fazia no seu habitat natural. O cabelo louro escuro estava completamente despenteado, assemelhando-se demasiado com um ninho de ratos inabitado e, para horror dos dois rivais, uma grande porção de barba dourada preenchia a cara juvenil do americano.
Barba.
Na cara de América.
_ Mon Dieu, América! O Inglaterra não te ensinou a barbear a cara? - Soltou França chocado, levando as mãos á boca.
Tirando com relutância os olhos verdes na figura desmazelada do seu antigo protegido, Arthur girou a cabeça na direcção do Francês, mirando-o com indignação.
_ É claro que ensinei, meu grande idiota. E nem sequer sei porque estás a falar, olha para o teu focinho! - Apontou para a pequena penugem que França sempre tinha no seu queixo.
_ E continuas a chamar-te cavalheiro, enquanto falas de maneira tão rude. - O mais velho dos três abanou a cabeça – Sinceramente, meu amor, tens mesmo que controlar essa tua boquinha jeitosa que tens aí. Ah... tantas coisa úteis que me poderias fazer com ela em vez de me insultar.
_ Sim... tantas coisas úteis. Poderia arrancar-te as bolas à dentada, o que achas disso?
_ Não sejamos violentos, meu amigo, existem certas partes do meu corpo que tenciono manter saudáveis.
_ Porque é que estão aqui? - Cortou a voz de América, que não soava o idiota animado que geralmente mostrava ser.
Arthur e França ficaram a olhar para ele, pasmados pelo tom de voz tão desconhecido. O olhar celeste do americano mostrava evidentemente que os dois rivais não eram bem vindos no seu país. Mostravam frieza e alguma repulsa, coisa que nem o britânico nem o francês alguma vez tinham visto, ouvido ou mesmo sentido sair de América.
_ Se não estão aqui por alguma razão útil, então sugiro que voltem para onde vieram. - Disse o mais novo no mesmo tom de voz distante e gélido, enquanto começava a fechar a porta.
_ O-o quê? Hei! - Arthur impediu-o de se trancar dentro de casa com o pé - Eu não estou aqui porque quero, seu grande pedaço de merda...
_ Inglaterra, essa linguagem, meu amor, essa linguagem.
_ ...Mas estive horas enfiado dentro da porra de um avião, tenho o traseiro dorido de estar tanto tempo sentado, estou com sono, fome e cansado e já fui sexualmente assediado demasiadas vezes por um dia. E juro que se não me deixares entrar na merda da tua casa dentro de dez segundos, enfio a cabeça do França pelo teu rabo a cima.
_ Não podes enfiar outras partes do meu corpo no rabo dele?
_ Mas tu tens que estragar todas as ameaças que eu faço?
América ficou a observá-lo pela fresta forçada da porta entreaberta, olhos azuis ainda gélidos, mas com alguma hesitação. Arthur olhou-o com firmeza, com a sua ameaça ainda forte na sua expressão séria.
Em fim o mais alto dos três suspirou e abriu completamente a porta, afastando-se para deixar os mais velhos entrar. Arthur deixou que um sorriso vitorioso lhe iluminasse o seu rosto pálido, baixando-se para apanhar as malas, e perdendo o lamber de lábios que o americano fez, de olhos fixos no representante do Reino Unido.
Ao lado de Arthur, França semicerrava os olhos desconfiadamente na direcção da nação mais nova.
_ Eu sabia que acabarias por ver o meu ponto de vista, América. - Comentou o britânico enquanto entrava dentro da casa da sua antiga colónia.
_ Simplesmente não quero nenhuma parte do corpo de França enfiada no meu rabo. - Respondeu América secamente, enquanto o dito francês passava por ele, lançando-lhe um olhar e som indignado.
_ Fica sabendo, meu rapaz, que provavelmente irias apreciar ter uma certa parte do meu corpo bem enfiada no teu...
_ Não acabes essa frase, ou vou ter que te bater. - Cortou Arthur com um ar desagradado.
França virou o rosto na sua direcção, lançando-lhe o seu habitual sorriso de tarado convencido.
_ Não tens de ter ciúmes, amor, há Francis o suficiente para vocês os dois.
_ Certo... - Arthur ergueu uma sobrancelha - E porque haveria eu de te querer, afinal?
_ Porque sou lindo e maravilhoso.
_ Tu e quem? Um Sapo?
_ Se vão continuar com a vossa discussão inútil, sugiro que a levem lá para fora. - Disse América num tom impacientemente gelado, enquanto caminhava para a sala de estar - Não tenho paciência para aturar as vossas birrinhas infantis.
Arthur e França caíram novamente no silêncio, olhando as costas do americano num estado de choque.
América. O barulhento, alegre e imaturo América acabara de lhes dar um sermão.
América.
Dera-lhes um sermão.
A Arthur e França.
América.
Arthur olhou para o seu "arqui-inimigo" de sempre com uma expressão confusa, apenas para constatar que França estava tão confundido como ele.
_ O que raio é que se passa com o miúdo? - Perguntou a nação francesa num sussurro assombrado.
_ Não sei. Mas aquele rapaz cujo nome agora não me lembro disse-me que o América andava deprimido. - Murmurou o britânico baixinho.
_ Não me parece deprimido. Parece-me extremamente irritado com alguma coisa. Ou com alguém.
Os grandes olhos verdes de Arthur observaram o homem mais novo, em busca de respostas para o comportamento tão invulgar do seu antigo pupilo. América estava agora sentado no sofá, de rosto fixo na televisão, mas os olhos estavam desfocados, como se a sua mente não estivesse presente.
_ Talvez. - Acabou por dizer num tom miúdo.
Arthur caiu no colchão como um peso morto, grunhindo de cansaço. Nem sequer se dignou a desfazer as malas, simplesmente enterrou o seu rosto pálido na almofada e fechou os olhos. Sabia que França, no quarto ao lado, estaria a fazer o mesmo. (Antes a dormir do que a fazer outras coisas, como invadir divisões e tentar violar personificações do Reino Unido).
O Britânico suspirou, descalçando os sapatos atrapalhadamente com os pés, sem se importar onde caíam. Os seus músculos latejavam como se agulhas o picassem repetidamente, doridos depois de um dia tão exaustivo.
Talvez devesse tomar um banho antes de adormecer, mas nem isso tinha vontade de fazer. Enrolou-se numa bola, tentando relaxar na cama de um dos quartos de hospedes da casa de América.
Abriu os olhos.
A casa de América... ele estava na casa de América, a dois dias antes do festejo da independência do idiota.
O seu coração tremeu em agonia.
Ele deveria ser masoquista. Só poderia. Ninguém na sua situação poria ali os pés. Deveria ter ignorado Mathilda ou Matthew ou lá como o rapaz se chamava, deveria ter lidado com a possível raiva da sua adorada rainha e ficaria em sua casa, provavelmente a sentir-se horrível por ter desonrado a sua monarca, mas satisfeito e confortável na sua casinha, a beber chá e a ler um bom livro, tentando esquecer memórias dolorosas de há tantos anos atrás.
Mas não. Ele tinha que estar ali. Ali! No local onde em breve milhões de pessoas iriam festejar a sua mágoa, a sua humilhação e o seu abandono.
_ Se eles sentissem o que eu senti, não estariam tão contentes. - Murmurou para ninguém, com os seus olhos fixos no tecto branco.
Respirou fundo, levantando-se vagarosamente. Não valia a pena ficar ali, deitado, como um total inútil, a amaldiçoar biliões de idiotas que faziam parte de América. Caminhou sem pressa para a casa de banho privada que tinha no quarto, rastejando a sua mala de viajem consigo. Colocou o objecto em cima do lavatório branco e começou a abrir o fecho sem grande entusiasmo. O seu olhar verdejante caiu no espelho á sua frente e ele parou com os seus movimentos, pestanejando rapidamente.
Já há muito que deixara de ser atraente. A sensualidade ou beleza tinham desaparecido por completo, se é que alguma vez tenham existido. A única coisa que Arthur via reflectido naquele espelho era um jovem de feições redondas, muito pálidas, quase brancas. Os seus olhos sempre foram demasiado grandes, maiores do que o normal, tal como as suas sobrancelhas, que eram sempre alvo de troça pela parte dos imbecis com quem convivia diariamente. O seu nariz era pequeno e arrebitado, não condizia com nada nem sequer ficava ali bem. Os seus lábios eram tão desprovidos de cor como o resto da cara, carnudos e gretados. O seu cabelo, esse, mantinha o mesmo tom de ouro que sempre tivera, estava constantemente desalinhado, não havia nada a fazer. Só os italianos conseguiam domar aquele pedaço de selva loura que ele tinha na cabeça, e Arthur nunca tivera paciência para aturar Itália e o seu rabugento irmão mais velho.
Deus do céu, ele estava horrível. Não era de admirar que á décadas que ele não tinha ninguém na sua cama. Quem quereria uma coisa tão baixa, magra, pálida e feia como ele (Aparte de França, como era evidente. Mas Arthur realmente não queria dormir com França.).
Encostou-se à parede, sem tirar os olhos do seu reflexo.
Ainda se lembrava dos seus tempos de pirata, onde o mundo era praticamente seu. Ah, nessa altura sim, era fácil arranjar alguém para satisfazer as suas necessidades físicas, quer seja há força ou por vontade própria. Muitas vezes, ao olhar para Espanha, as suas memórias da derrota do homem moreno vinham-lhe á mente, e Arthur sorria com vitória, séculos depois. Pobrezinho, aquele amante de tomates. Ainda se debatera ao inicio, já feito prisioneiro, no barco do Inglês, mas acabara por ceder á vontade do louro, acabando por gemer de prazer e humilhação. Essa tinha sido a forma que Arthur utilizara para que Espanha nunca se esquecesse da sua Armada perdida, ao dominar o moreno no sexo, magoando mas ao mesmo tempo provocando êxtase, foi o suficiente para fazer com que o bom e velho António tivesse sempre na memória aquele pequeno episodio.
Ao contrário de Espanha, foi o irmã dele, Portugal. Com essa, Arthur passara noites e dias bastante escaldantes. E, na altura, ele sentira-se muito orgulhoso de dormir com uma das mulheres mais fortes e curiosas da época. Não tinham sido muitas as nações mulheres que partiam para a aventura, naqueles tempos, e, sinceramente, Portugal também tinha tido um belo pequeno império. Pois bem, quando o império Britânico tinha na cama o Império Português, sentia-se no topo do universo.
Mas a pobrezinha, agora, estava tão triste e melancólica quanto ele. Ainda continuava bonita, mas sem a força e violência de antigamente. O império Português desfez-se, e com ele foi também o espírito ardente da pequena nação.
_ Ao menos ainda temos algo em comum, minha querida amiga. Ambos praticamente morremos com o nosso império. - Ironizou ele com o sorriso triste. Ah, quando aquele problema com América acabasse, Arthur teria que fazer uma visitinha á sua velha aliada. Afinal de contas, Portugal até era uma óptima companheira de bebidas. Falariam sobre as suas conquistas, e memórias duras ou doces de séculos antes, e quando estivessem os dois já podres de bêbados, provavelmente iriam chorar nos braços um do outro pelas perdas das suas colónias.
Yep, uma visita a Portugal seria necessária, Arthur mal poderia esperar para se embebedar até não conseguir ficar em pé.
Passou as mãos pelo cabelo, e fechou a porta da casa de banho, trancando-a. Começou a despir-se vagarosamente, colocando os artigos de vestuário cuidadosamente dobrado em cima da tampa da sanita. Estremeceu levemente ao finalmente livrar-se da sua roupa húmida pelo suor e meteu-se na banheira.
Ao abrir a água, não a temperou muito quente, mas perto do morno, a fim de aproveitar um banho relaxante naquela terra de inferno. Suspirou e lançou um pequeno som pela garganta, parecido com um ronronar de um gato, ao sentir a água arrefecer-lhe os músculos. O som era de puro prazer, e Arthur não tentou reprimir o quão agradado estava fisicamente naquele momento.
_ Tenho um mau pressentimento, Inglaterra. - Sussurrou França enquanto cortava cenouras com uma longa, afiada e bastante mortífera faca de cozinha.
Arthur estava ao seu lado, de cabelo já seco e desalinhado, duas horas após aquele banho tão merecido. O Britânico e o Francês observavam América pela porta da cozinha, que era mesmo em frente da sala, e do anglo onde ambos estavam dava para visionar a nação mais nova.
_ Não sejas dramático. É o América, o que poderia ele fazer? - Começou Arthur secamente, antes de se lembrar das coisas que a sua antiga colónia fizera num só século – Oh, certo!
_ Não que eu ache que ele vá atacar algum país, geograficamente, se é que me entendes, mas... ás vezes, e já não é a primeira vez que reparo nisso, parece que ele te quer atacar.
_ A mim? Ora, o teu cérebro de sapo deve estar a ficar senil. Porque raio é que haveria América de me atacar? Somos aliados e recentemente não lhe fiz nada de mal.
França lançou-lhe um olhar superior, colocando os vegetais na panela.
_ Acho que não entendeste bem o "atacar" a que me referi. - E mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva.
As faces pálidas de Arthur adquiriram um tom avermelhado quando o Britânico finalmente percebeu o que França queria dizer (E demorou um pouquinho a lá chegar).
_ I-isso é ridículo! América não és tu! Ele não anda para aí a "atacar" pessoas dessa maneira, seu pervertido! A-além disso, porque raio América haveria de querer "atacar-me"?
_ E porque não? Eu já te "ataquei" vezes sem conta.
_ Tu atacas tudo o que tem pernas!
_ Vá lá, meu rapaz, não sejas assim. Isso é só parcialmente verdade. - E começou a mexer a comida com uma colher de pau.
_ É totalmente verdade.
_ Hum... – Fez França num tom pensativo enquanto a sua mão se movia lentamente por cima da panela – Talvez devesse falar com ele, sabes? Para saber o que se passa? - Colocou um pouco de sal no futuro jantar - Tenho que admitir que ele está a comportar-se de uma forma estranha e suspeita.
_ Porque raio tenho de ser eu a falar com ele? Vai tu! Eu trato do jantar.
_ Inglaterra, não sejas pateta. Nem num milhão de anos eu queria que arruinasses o meu jantar perfeitamente saboroso com as tuas pobres qualidades culinárias. E, tu é que vieste para saber o que se passava com o América. Eu só vim para ver algum de vocês queria um bocado de diversão.
Arthur rangeu os dentes com irritação. Não havia problema nenhum com a maneira como ele cozinhava! A comida que ele preparava era perfeitamente apetitosa! Ele não tinha culpa que os idiotas que a provavam não tinham qualquer sentido de paladar!
Com um bufar indignado, Arthur virou costas ao seu rival francês, atravessando a cozinha com passadas largas. Chegou á sala e abrandou, engolindo em seco enquanto olhava para a parte de trás da nuca do americano que estava sentado no sofá, em frente da televisão. O som ridículo dos desenhos animados ecoava na divisão, mas faltava algo para o acompanhar.
O riso de América.
Se América não se ria a ver os seus programas favoritos, algo estava mesmo mal.
Engolindo o receio, mágoa e amargura, Arthur fez o melhor que pôde para por um sorriso doce na cara, mesmo que falso. Aproximou-se do mais novo lentamente, colocando a mão no ombro do rapaz.
América deu um salto e virou o seu rosto para Arthur muito depressa. Os seus olhos assustados rapidamente tomaram aquele gelo de antes, apertando o coração do Britânico.
_ Aaaa... – Fez Arthur estupidamente, de sobrolho franzido, antes de forçar outro sorriso – América... não pude deixar de reparar que estás... erm... estranho. Estás doente?
O mais novo não lhe respondeu, limitando-se a continuar a olhá-lo fixamente com os seus olhos frios. Arthur sentiu o seu sorriso desvanecer lentamente, dando lugar á expressão irritada que ele geralmente tinha estampada no rosto.
_ América, algo se passa. É óbvio e visível. - Colocou a mão na testa do mais novo – Não pareces ter febre. - Murmurou pensativamente enquanto percorria o rosto do rapaz com os dedos, em busca de anomalias físicas.
Sentiu e viu o americano ficar tenso e rígido, muito quieto. O rapaz parara de respirar e os seus olhos estreitaram-se ameaçadoramente.
_ Não me toques.
América tinha rugido aquilo de tal maneira que Arthur retirou as mãos como se a pele do outro subitamente queimasse. Ficou a olhar para a nação maior com olhos esbugalhados, admirado pela maneira como o outro lhe tinha falado. Abriu e fechou a boca, ignorando a dor no seu coração, e fechou os punhos, atravessando o sofá para encarar aquele insolente frente a frente.
_ Ouve bem, miúdo, eu atravessei a porra de um oceano para te saber o que é que se passa contigo, realmente fiquei preocupado contigo, e é assim quer me tratas? Como te atreves!
_ Se bem me lembro, não pedi a tua ajuda.
_ Ao menos mostra-te agradecido por eu ainda mostrar mínima consideração por um imbecil como tu! E, pelo precioso nome da Rainha, faz a merda da barba!
América levantou-se, aproximando-se sombriamente e Arthur não pôde deixar de ficar intimidado pelo tamanho considerável do outro. Deu um passo atrás, estremecendo ligeiramente antes de arranjar coragem e manter-se firme.
_ Não mandas em mim, Reino Unido. Não és meu dono, não és meu patrão e muito menos és meu irmão. Eu não preciso das tuas ordens ou das tuas preocupações. Acho deverias meter nessa tua cabecinha dura que eu realmente não preciso ou quero saber de ti. Sugiro que voltes para a tua casa, onde realmente tens utilidade para alguém.
Tinham sido o quê? Quatro, cinco frases no máximo? E nem eram muito grandes. Mas foram suficientes para deixarem Arthur sem palavras, em choque, de olhos esbugalhados que lentamente iam humedecendo com lágrimas. Algures no seu cérebro uma vozinha gritava com raiva e indignação e exigia o sofrimento de América, mas a dor que o Britânico sentia no momento aniquilava qualquer fúria.
_ Rapazes – A voz de França cortou o silencio frio e cruel, suando quase como uma bênção nos ouvidos de Arthur - O jantar está pronto.
América afastou-se, caminhando para a cozinha sem dizer uma única palavra. Ao passar por França, este lançou um olhar de desaprovação ao mais novo, mas foi ignorado.
Arthur manteve-se no lugar onde estivera. Nem sequer moveu um único músculo. As palavras do americano ecoavam na sua mente, repetindo e repetindo, sem parar.
Seria ele... seria ele assim tão inútil para América? Ele pensara... ele pensara que mesmo que lutassem muitas vezes e andassem sempre a discutir e ainda tivessem mágoas do passado por ultrapassar, os dois até eram quase amigos, quase lá, mas não exactamente. Afinal parecia que tal coisa nunca fora verdade. América deveria detestá-lo mesmo. Talvez ter vindo para aquele lugar tivesse sido mesmo um erro.
_ Arthur... - Murmurou França lentamente, libertando-o do trilho dos seus pensamentos.
_ Não tenho fome, Francis. - Respondeu o britânico numa voz rouca - Vou para o meu quarto.
França não o impediu, limitando-se a anuir. Arthur atravessou a sala, lançando mais um olhar á cozinha, onde América estava erguido ao pé da janela, e cortou para a esquerda, caminhando pelo corredor, antes de começar a subir a escada.
Só quando chegou á segurança do seu quarto, envolto na escuridão e no silencio, é que Arthur deixou as lágrimas cair.
E aí está. Um capitulo perfeitamente aborrecido.
Ugh. Ainda depois deste tempo todo ainda falho em drama. Bem… é a vida.
Tenho que acabar de escrever isto, agora. Vou ver se não demoro muito. Mas não prometo nada.
Bem… feliz Natal e Ano novo muito atrasados. E uma boa Páscoa.
Beijos,
Evil.
