Prólogo
O sol atrapalhava a visão do velejador. Ele colocou uma mão em concha na sobrancelha direita para observar o rosto e depois, inevitavelmente, o corpo da garota.
Era a mesma do quiosque, a que o ignorara. Era ainda mais bonita de corpo inteiro.
As mechas do cabelo castanho esvoaçavam endereçando-se ao mar, a barra do vestido seguia a mesma direção. Ela lutava para que ambos permanecessem no lugar adequado enquanto conversava.
Edward, contudo, em seus vinte e nove anos de vida, jamais presenciara tanta beleza equivalendo-se à falta de bom-senso vindos somente de uma pessoa que, não tinha dúvidas, vinha de um mundo muito distante do seu.
Era granfina! Uma lady sem consciência do perigo que corria pedindo carona para um homem que não sabia nem mesmo o nome. Uma mulher que se equilibrava em seu salto alto que não fazia ideia do perigo que o mar escondia.
— Carona? — Edward perguntou em tom de escárnio.
— É! — afirmou contrariada pelo tom que lhe foi devolvido.
— Carona? — repetiu desacreditado e voltou ao trabalho com as velas.
— Nossa,…! — declarou e completou mentalmente "como você é devagar". — Sim! Ca-ro-na! Carona!
Ela começava a se arrepender de estar admirando o peito livre dele.
— Sim, eu já entendi. — ele sentiu-se idiota. — Mas está no lugar errado! Os cruzeiros ficam do outro lado da ilha. — apontou para a direção dos navios de grande porte.
— Não quero um cruzeiro! — bateu o pé. — Quero uma embarcação,… assim, como a sua.
Ele não entendeu o que ela quis dizer com "assim, como a sua", mas sentia que não era um elogio.
Imaginou para onde ela queria ir. Pensou no resort mais próximo de sua localização e soube que era completamente fora de seu caminho. Não que ele considerasse a hipótese de levá-la à algum lugar.
Novamente, parou o que estava fazendo, cansado de idiotices, levantou-se e caminhou até a popa do veleiro. Não pôde evitar de admirar o corpo esbelto à sua frente. Seu vestido de flores que ia até o joelho, combinava com a ilha, combinavam com sua pele delicadamente branca, até mesmo com o perfume que a brisa levou até suas narinas.
— Não mudo minha rota, senhorita. — explicou calmamente depois de sondá-la.
— Não vai mudar. — adiantou. — Sei que está ido para a costa sul americana, para a Flórida. É para lá que estou indo! — afirmou. — E eu pago muito bem!
— Não freto o meu veleiro! — por algum motivo se sentiu ultrajado e voltou ao trabalho procurando ignorar a visitante.
— Não estou brincando quando digo que pago bem. — assegurou. — Hmmm… Dois mil agora e mais dois quando eu chegar. — disse como que falando de algo trivial.
— Peraê! Como sabe que estou indo para a Flórida? — surtou de repente encarando-a a distância.
— Ouvi quando disse lá… no quiosque. — explicou timidamente.
"Que bisbilhoteira!", ele pensou.
— Seus pais nunca te disseram que é feio ouvir a conversa dos outros?
— Certamente! — falou irritantemente educada. — Vai aceitar a proposta?
Ele semi-serrou os olhos.
— Guarde seu dinheiro, moça. — respondeu após alguns instantes pensando no que a levava a querer uma viagem de veleiro — de médio porte — quando poderia pegar um avião, ou mesmo um navio infinitamente mais confortável que sua casa móvel.
Ele a imaginou em alto-mar, reclamando o tempo todo do espaço e do balançar da navegação. E também, o veleiro era humilde, não estava à altura dela. Definitivamente, ela estava no lugar errado e falando com a pessoa errada.
— É pouco? — ela questionou em dúvida calculando quanto mais poderia pagar.
— Não. É muito dinheiro — para mim é claro — mas, não tenho interesse em levá-la a lugar algum. — disse com desdém.
— Qual é o seu problema? — não gostou do tom. — Não custa nada!
— Custa sim. E também… eu viajo sozinho. — justificou. — Agora, se me der licença, eu tenho mais o que fazer! — apontou para a vela a ser içada.
— Estúpido! — cuspiu as palavras e lhe deu as costas batendo seu salto alto na madeira do píer.
A estória está quase concluída e o final já tem roteiro. Espero que gostem. Se houver feedback, volto ainda hoje(8/7/2011)
