Zoete Nacht

Os cabelos castanhos dourados lhe batiam abaixo dos ombros. O vento brincava com eles, mas a garota não parecia notar. Andava com as mãos nos bolsos do casaco cor de sangue. A cada passo que dava, o tecido preto da saia farfalhava em atrito com a meia calça preta e os coturnos pretos ecoavam no chão. Ela ia acompanhada apenas por sua estranha sinfonia. Sua antiga companheira, Esperança, encontrava-se morta e enterrada havia muito. Mas a garota não tinha chorado quando ela morreu.

Às vezes se sentia mal por isso. Esperança sempre estivera ao seu lado, e era uma companheira zilhões de vezes mais agradável que Desespero ou Destruição. Ela não era barulhenta e agitada como Destruição, e sua presença emanava uma aura segurança e conforto, ao contrário da angústia e da dor trazidas por Desespero. Agora só havia Nada. Sim, a sinfonia a estava acompanhando, mas quando parava de andar, Nada vinha. E Nada era ainda pior que Desespero e Destruição, porque ele ficava lá parado, encarando-a com seu rosto sem expressão.

Parou de andar de repente, a sinfonia cessou. Nada encostou-se num dos lados do portão da mansão e olhou para ela. Ela não encarou Nada e voltou a andar, dando continuidade à sinfonia. Atravessou corredores e portas até chegar a seu destino.

Havia um rapaz largado numa poltrona, com um ar de displicência. Seus olhos refletiam a luz do fogo da lareira, e eles se viraram para porta ao ouvi-la. Assim que viu de quem se tratava, forçou um sorriso torto que desfigurava seu belo rosto.

- O que está fazendo aqui, Helena? – perguntou, sua voz soando por todo cômodo.

- Não se faça de ignorante, Hiwatari – ela respondeu, seca – Você sabe muito bem o que – completou desviando o rosto, um tom rosado tingindo timidamente sua face. Ele sorriu diante disso, e dessa vez foi sincero, oferecendo-lhe um sorriso sarcástico que exibia seus caninos compridos. O mesmo sorriso que ele oferecia a suas vítimas, milésimos antes de atacar. Ela não pôde evitar pensar que aquele sorriso era a última coisa que aquelas pessoas viam, e que o pavor daqueles dentes era a última coisa que sentiam. Mas pelo menos aquele medo passava logo. Kai não era de brincar com a comida. Ela, por outro lado, tinha que conviver com aquela sensação.

- Ora, não tenho idéia do que você está falando. Você vai precisar ser mais clara – disse, ainda sorrindo. Ela lançou-lhe um olhar frio e atravessou a sala, em direção à janela. Chovia forte agora. Não conseguiria um lugar para ficar àquela hora. A mansão era realmente grande. Poderia muito bem sair dali e ir para qualquer cômodo, mas isso significava estar acompanhada por Nada. Tremeu, e isso nada teve a ver com o frio. Agora tudo que lhe restava era ficar com Kai, até que ele se cansasse e se retirasse. Odiava depender dele daquela maneira, mas parecia que tudo a levava a isso. Foi até a cozinha. Necessariamente, não precisaria comer, mas estar mastigando era a desculpa perfeita para não estar falando.

Sem nem dar atenção aos outros armários, foi diretamente na porta do que queria. Abriu-a apenas para encontrar um vidro vazio. Ele havia comido todos os cookies. Desgraçado. Se ela não estava de bom humor antes, agora era oficial. Kai realmente tinha muita sorte em ser imortal. Voltou para a sala pisando forte. Seus olhos faiscaram na direção do garoto quando ela parou entre a poltrona dele e a lareira, fazendo-o olhar para ela.

- Como você ousa? Primeiro, inventa que o "Mestre está aqui e solicita sua presença, você não tem escolha, Helena", segundo, quando eu chego aqui, você age como se não soubesse de nada, como se você fosse um anjo, quando, na verdade, isso não poderia estar mais equivocado! E, só para completar, a gota d'água que fez o copo transbordar: VOCÊ COMEU MEUS COOKIES. Você nem mesmo come há anos, mas só porque são MEUS cookies e porque eu venho para cá, você acaba com eles. Então, eu peço que me explique o porquê disso tudo! Aparentemente meu raciocínio não consegue acompanhar sua lógica absurda – ela acabou com o rosto afogueado pela raiva, desafiando-o a responder.

- Bom, Helena querida, como você nunca se dá ao trabalho de aparecer, me obriga a usar tais artifícios. Quando a fingir que não sei de nada, suas explosões são sempre divertidas demais para eu perder a chance de lhe provocar – ele falou, levantando-se e ficando perto demais dela para o gosto da garota.

- Ótimo. Ótimo. Mas isso não explica o motivo de você ter comido meus cookies – teimou ela, virando o rosto, numa tentativa de se afastar. Às vezes, quando Kai ficava perto demais ou a tocava, ela tinha medo que ele aparecesse. Ele, o qual a assustava mais até que Nada, exatamente por ser seu extremo oposto. Ele a assustava por sua grandiosidade, e Kai a assustava pela facilidade com que fazia ele aparecer.

- Bom... Se você estivesse comendo cookies, eu não poderia fazer isto – ele disse simplesmente, unindo seus lábios. E Helena não pode deixar de sorrir quando Amor piscou para ela de um canto da sala.

xXoOoXx

Bom, é isso. Eu não ia postar, mas a Helena me obrigou, e o presente é dela e tals. O título foi o pior. Quem escolheu foi a Helena, também. Quase. Ela escolheu Sweet Night (Doce Noite, em inglês), tudo que eu fiz foi botar em holandês. Sei lá o porque. Feliz aniversário mais de um mês atrasado, Helena-chan n.n