Uma Vez
Uma vez, você achava que tudo estava bem. Suas roupas estavam alinhadas; seus sapatos estavam brilhando de limpos; seu óculos escuro não tinha nenhuma poeira. Ao seu lado, sua mãe reluzia com uma roupa de marca cara, como sempre.
Como sempre, como sempre.
Uma vez, você ria das roupas de seus primos. Eram pobres. Não podiam comprar as roupas que a sua mãe lhe comprava toda semana. Ria também dos seus primos. Eram fracos, e estúpidos. Tão estúpidos ao ponto de acharem que eram especiais por aquela mulher pela qual estava usando um vestido preto.
Preto... Rosa... Preto... Rosa.
Uma vez, você se assustou com a sua mãe. Ela estava despenteada, as roupas sujas, e um dos sapatos estava quase saindo do seu pé. No olhar, somente o ódio e a vingança. Na mão, uma arma. Esta, que estava apontada para você.
Vermelho?
Uma vez, aquele primo de que você ria tanto... Lembra-se dele? Você o olhou com lágrimas no rosto, ao vê-lo em cima de um altar. Olhou para o seu vestido. Oh! como queria que ele fosse o branco. Como queria... Não era. Limpou as lágrimas com um lencinho que uma vez pertenceu a sua mãe. Enojada, jogou-o ao chão antes que alguém pudesse perceber a volta das lágrimas.
Brrrrraaaanc- embaçado... Embaçado... Choras?
Uma vez, se perguntou porque foi deixada para trás. Aquele que sempre estava ao seu lado, agora precisava cuidar de um pequeno ruivo com seus olhos. E você? Você fingia a felicidade que nunca conheceu. Talvez, um dia, em outra vida...
Por que vais para o banheiro tantas vezes?
Uma vez, encarou um pequeno objeto que comprou escondido. Era metálico e tinha um aviso de perigo para crianças. Seria ela uma? Pensando de um jeito, ela chorava todas as noites, custava a dormir, não sabia (mais) o que era viver... Abriu o pacote. Todas as dores, os arrependimentos, tudo... Acabaria ali. Só com um pequeno corte em um lugar específico e... De repente, a porta se abriu.
– Natalie, o que você... – o homem outrora menino arregalou os olhos. – NATALIE, LARGUE ISSO AGORA!
Tremendo, deixou o objeto cair, fazendo um barulho quase imperceptível. O homem correu para abraçá-la, se aguentando para não deixar suas lágrimas se unirem com as dela.
– Nunca mais pense em fazer isso! Sua Cobra maldita... – Os braços dele aumentaram o aperto do abraço. Foi só naquele momento em que ela percebeu que não estava sozinha. – Que susto que você me deu.
– D-Desculpe...
Uma vez, você nunca pediu desculpa. Uma vez, você nunca gaguejou. Uma vez, você sempre segurou o choro.
O homem retirou seus braços do redor dela e pôs as suas mãos no rosto da bela mulher.
– Eu que deveria te pedir desculpa. Não deveria ter entrado assim, mas é que você sumiu nessas quatro semanas, e eu fiquei-
– Preocupado? – Um fraco sorriso apareceu em seu rosto.
– Sim, preocupado. Natalie, por favor, nunca mais faça isso. – Em seus olhos, o medo estava ainda nítido. Entretanto... Medo de quê? – Prometa.
– Eu prometo com uma condição.
Nenhum dos dois notou, mas aquela distância tão estranhamente pequena diminuía a cada segundo.
– Qual é?
Natalie encarou o chão. Uma vez, sempre teve coragem de dizer o que pensava e o que deixava de pensar.
– Erm...
O olhar de Dan ficou mais gentil. Levantou a cabeça da Kabra com o dedo indicador e o seu olhar não conseguiu sair dos lábios dela. Por algum motivo, sabia o que fazer.
– Essa condição seria eu mostrar mais preocupação com você? Tanto eu quanto o seu irmão?
– Sim, isso... – Natalie notou que o olhar dele não estava exatamente nos olhos âmbar. – Daniel, o que você está fazendo?
Os olhos do homem semicerraram, prontos para se fechar completamente depois do fim daquela irritante distância.
– O que parece que estou fazendo?
O coração de Natalie começou a bater mais rápido, e a mesma engoliu a seco. Por que ele estava fazendo isso? Era casado!
– Dan, você é casado.
Uma vez, você odiava apelidos.
– Não... – A distância diminuiu tão drasticamente que somente as duas próximas palavras foram ditas antes que ambos os adultos perdessem-se de seus pensamentos. – Não mais.
Uma vez, você achava que tudo iria acabar em menos de segundos. Que ninguém sentiria a sua falta. Que ninguém nunca, talvez, a notaria.
Sim, uma vez. Uma vez já ultrapassada. Vez essa, que nunca voltaria atrás.
É, eu também não sei o que foi isso.
~CaahT39C
