Oi gente essa é a minha segunda fanfic. Na verdade não é minha, é do autor Robyn Donald. Achei a história linda e decidi passá-la para o mundo de Inuyasha.

Kagome sabia que não podia escapar de Inuyasha Taisho. Durante um ano, ele havia planejado cuidadosamente uma vingança terrível e agora a faria pagar por ter causado a morte de sua esposa grávida. Ele a humilharia até que a dor fosse sua companheira inseparável; usaria seu corpo jovem até que ela lhe desse os filhos que queria. O fato de se casar com Inuyasha não diminuía sua degradação. Ao contrário: o lindo anel de safiras que ele lhe havia dado no dia do casamento era um símbolo de escravidão. Significava que pertenceria a Inuyasha enquanto ele assim o desejasse. A única coisa que podia fazer era rezar para que o marido se fartasse logo de seu corpo e arranjasse uma amante!

CAPITULO 1

O enorme jato passou pelos Alpes do Sul. Kagome Higurashi virou-se, animada, para a simpática mulher a seu lado:

— Um desses picos é provavelmente o Monte Cook, o mais alto da Nova Zelândia, mas daqui não sei distingui-lo. Toda a minha vida eu os vi no horizonte, mas ficam completamente diferentes vistos daqui de cima!

— Mas são mesmo lindos — comentou a sra. Hamel. — Então, está quase em casa, meu bem. Será que sua mãe e sua irmã estão a sua espera?

— Espero que sim. Naturalmente, Ayame está na escola. Não, não! Ela terminou no fim do ano. Este ano já está fazendo o pré-médico; no ano que vem ela começará o curso de Medicina.

A sra. Hamel sorriu, olhando com admiração o rosto atraente da moça.

— Nos Estados Unidos esse curso é muito difícil.

— Mas Ayame é brilhante — comentou Kagome, sem a menor sombra de inveja. — Brilhante, mesmo! Não terá problemas, e também é sua vocação. Lá em casa sempre soubemos que ela seria médica.

— E você?

Kagome ficou levemente corada, antes de responder:

— Também quero ir para a universidade. Tenho muito interesse por computação.

— Seus pais devem estar orgulhosos de filhas tão inteligentes. Você tem mais irmãos?

Os límpidos olhos azuis de Kagome ficaram sombrios, e ela levou alguns instantes para responder:

— Não. Somos só Ayame, eu... e minha mãe. Meu pai morreu há seis meses.

— Sinto muito. Parece que a ouvi dizer que ficou fora um ano inteiro?

— É verdade. Fui para uma escola de etiqueta na Suíça. Minha mãe estava tão decidida a me fazer aprender boas maneiras, como receber e coisas assim, que tive que ceder. Meu pai morreu enquanto eu estava lá.

— Coitadinha! Tão longe de casa...

— Sim. Naturalmente, eu quis voltar para casa, mas minha mãe achou que era bobagem. E a irmã de papai, que mora em Londres, foi passar duas semanas comigo. Todos foram muito bons, em St. Antoine.

— Passou esses últimos dias em casa de sua tia?

Kagome olhou para as belas planícies de Canterbury, lá em baixo, a maior parte já envolvida pela sombras, e seu coração bateu mais depressa.

— Sim, com tia Kaede. Ela é maravilhosa e me hospedou durante dois meses ótimos. Mas bem que estou contente de voltar para casa! Estava com tanta saudade!

A voz suave não escondia a emoção tanto tempo reprimida. Consciente disso. Kagome virou a cabeça, e agora somente seu perfil era visível, o rosto corado escondido sob a massa de cabelos negros. Cabelos macios como seda, disse Kouga um dia enquanto segurava entre os dedos uma mecha que caíra nos olhos.

Talvez Kouga estivesse lá para recebê-la. Ayame havia escrito que ele estava muito ocupado na universidade, com aulas mas talvez ela tivesse sorte a aquele fosse para ele. Fazia um ano que os dois não se viam:um longo ano sem cartas, embora a querida Ayame sempre mandasse notícias dele.

Mas isso não era suficiente para o coração faminto de Kagome.

Talvez agora, dentro de poucos minutos, ela o veria, e sua vida ficaria novamente completa.

Até mesmo a profunda tristeza pela morte do pai não diminuía a intensa expectativa de voltar a seu país e rever sua família.

A sra. Hamel a observava atentamente, percebendo que algo a preocupava.

— Espero sinceramente que tudo dê certo para você.

As duas se despediram na sala da Alfândega, e logo Kagome estava nos braços da mãe e da irmã. Abraçadas, as três choraram. um pouco, emocionadas, lembrando em silêncio o quarto membro da família, agora morto.

Entretanto, seis meses é tempo suficiente para acalmar as dores mais cruéis, e o coração de kagome deu um salto de alegria ao ver um rapaz alto e moreno se aproximar. Mas era só alguém parecido com kouga. Ele não tinha vindo. Intimamente se consolando, sabendo que o veria muito em breve, demonstrou uma alegria descuidada que na verdade não sentia.

As três foram para casa em dois táxis: um para as malas e outro para elas.

— A culpa de tantas malas é de tia Kaede — defendeu-se ela. quando Ayame comentou a enorme bagagem. — Ela não resiste a vestidos bonitos e foi absurdamente generosa comigo. Eu pedia para ela não exagerar assim, mas ela ria e continuava comprando coisas sem parar!

— Menina de sorte! Só quero ver se vai fazer a mesma coisa para mim, quando eu,for um dia a Londres.

— Mas é claro que sim, Ayame. Ela vai ficar radiante quando puder escolher roupas para uma moça tão elegante como você. com essa altura e esse corpo de modelo. Tia Kaede lamentava o tempo todo o meu um metro e sessenta de altura.

A mãe imediatamente reagiu:

— Não venha outra vez com essas queixas, minha querida! Você saiu a minha família, é isso. Muitos homens até preferem mulheres mais baixas, eles se sentem protetores. — Olhou para as duas filhas, que riam, e acabou rindo também. — Espere um pouco, e logo verá que tenho razão. E você perdeu um pouco de peso, Kagome; está com o corpo muito bem proporcionado para a sua altura. Parecendo um pouco... mais velha, um pouco mais sofisticada.

— Espero que sim — respondeu Kagome, sentindo o olhar implacável da mãe, mas o treino em St. Antoine funcionou, e ela se manteve aparentemente controlada. — Teria sido tempo e muito dinheiro perdidos, se eu não voltasse tão... tão polida como uma mesa de sala de jantar!

— Bem, tem que reconhecer que você era uma garota das mais sem vaidade e sem modos que já existiram — comentou Rose, olhando para a filha, agora uma moça refinada e pronta para assumir o lugar para o qual a mãe a havia preparado. — Eu fico contente em ver que aquele seu ar obstinado e infeliz, também sumiu. Era tão desagradável! Parecia que eu tinha uma enjeitada dentro de casa!

Kagome afastou uma mecha de cabelo que lhe caía no rosto.

- Em compensação, você tinha uma verdadeira fada, que era Ayame.

— Pare com isso, Kagome! — reclamou a irmã.

— Precisa se livrar dessa idéia, querida. Não há razão para ter sempre ciúme de Ayame e...

— Mas não tenho ciúme de Ayame! Nunca tive, verdade! E como poderia? Ela é um encanto. É mesmo. Ayame, não faça essa cara! Sei perfeitamente que sou muito teimosa e tenho um gênio difícil, e sou rancorosa. Como poderia culpar você por ser mais dócil do que eu? Afinal de contas, ela tem o seu gênio. Nunca indiferente a um elogio, ainda mais um elogio sincero.

Rose Higurashi riu.

— Você! Com todos esses vestidos novos, deve ter um bem bonito para a festa de seu aniversário.

— Festa?

— Querida, festa de seus dezenove anos. Ou será que já esqueceu?

— Claro que não. Mas, será que podemos ...? Parou de falar, lembrando-se de que o motorista do táxi escutava a conversa.

Quando chegaram à espaçosa casa, no elegante bairro de Cashmere Hills, Kagome perguntou, preocupada:

— Temos dinheiro para dar uma festa? Pensei que... que com a morte de papai, as coisas tinham ficado mais difíceis.

Rose serviu-se de uma xícara de chá, fazendo uma careta como sempre faria quando tinha que conversar sobre dinheiro. Mas respondeu despreocupada:

— Queridinha, não se preocupe, tudo está sob controle; eu garanto.

— Tem certeza?

— Mas claro! Não há nada que a impeça de ter uma linda festa. Todos os nossos amigos sabem que você voltou e já a convidaram para mais programas do que vai poder ir.

— Sem falar em Kouga — disse Ayame, a voz controlada, olhando para a bela casa do outro lado da rua, onde o rapaz morava.

Kagome teve a impressão de que a mãe estava preocupada, mas Rose imediatamente afastou aquela sensação desagradável e sorriu, pois não queria ter rugas no rosto ainda moço e conservado.

— Não fique pondo idéias bobas na cabeça de Kagome. Aquilo foi um romance de criança, Kouga é um ótimo rapaz, mas Kagome logo descobrirá que tem muito pouco em comum com ele.

Entretanto, quando os dois se encontraram naquela mesma noite, Kagome sentiu que tudo voltava a ser como antes de sua partida. Atirou-se nos braços dele, e trocaram um beijo longo e apaixonado, pelo qual ambos esperaram um longo ano.

— Meu amor. Ah, Kagome, como senti sua falta!

— Estou tão contente por voltar! Foi um ano que parecia não acabar nunca!

— É verdade.

Era só o que precisava ser dito.

Os dois tinham crescido juntos, Kouga era três anos mais velho do que ela. Sempre houve uma grande afinidade entre eles, mas só aos dezesseis anos Kagome descobriu que a amizade e o companheirismo tinham se transformado em amor. Nessa ocasião, Kouga a beijou pela primeira vez. Timidamente, a princípio, mas a resposta imediata dela o assustou. Agindo como um adulto responsável, ele lhe disse que não deviam permitir que as liberdades entre eles aumentassem muito, pois ainda teriam que esperar um bom tempo antes de poderem casar.

Ambos levavam uma vida muito ocupada, ele na universidade, ela ainda no colegial, e assim o namoro seguia vagarosamente seu curso. Até que Rose começou a insistir em mandá-la para a Suíça, o que atirou novamente um nos braços do outro. Foi só o bom senso de Kouga que evitou que acontecesse exatamente o que Rose mais temia.

Assim, foram obrigados a testar seu amor durante um ano. E agora, até mesmo Rose tinha que reconhecer que haviam nascido um para o outro.

Embora a mãe não fizesse mais uma oposição aberta ao namoro, algo em sua atitude deixava Kagome intrigada. Sempre que tentava perguntar por que era contra seu amor por Kouga, Rose desconversava. Finalmente, Kagome chegou à conclusão de que ela simplesmente não aprovava casamentos de duas pessoas muito jovens.

Como não tinha intenção de casar logo, pois Kouga ainda precisava fazer pelo menos um ano de especialização na faculdade, resolveu desistir de pressionar a mãe e recuperar o tempo perdido longe de Kouga.

No dia de sua festa de aniversário, ela desceu radiante a escada, o rosto brilhando de felicidade.

— Minha filha, está linda! Como gostaria que seu pai estivesse aqui! Ele ficaria muito orgulhoso.

As duas se abraçaram, ambas felizes e ao mesmo tempo um pouco tristes, ao se lembrarem de Holt Higurashi.

-Quem sabe ele está me vendo agora — disse a moça, dando uma risada nervosa.

Rose pareceu contrariada.

- Tinha esperança de que, depois de um ano em St. Antoine, você tivesse se livrado dessas risadas espalhafatosas.

— Quase sempre consigo controlá-las. Eles insistiram muito comigo. Lembra-se de como eu costumava rir assim, nos momentos mais inoportunos?

— Sei, e muito bem! — respondeu Rose, passando os dedos cheios de anéis pelos cabelos bem penteados. — Bem até demais. Lembro-me da irritação de seu pai chegar ao desespero por causa dessa risada. Apesar de saber que você agia assim por nervosismo, às vezes ele se controlava com dificuldade.

Kagome deu umas voltas pelo espaçoso hall, o belo vestido de musseline e rendas flutuando como uma nuvem.

— Não se preocupe, mamãe. Aqui estou eu, pronta para dirigir uma casa com sofisticação e habilidade. Sei até como se contrata empregados. E como se despede! Coisa utilíssima aqui na Nova Zelândia, onde eles nascem aos cachos — caçoou. — E também sei pedir uma refeição e cozinhar uma porção de pratos refinadíssimos. Vou saber como conversar com os convidados importantes que meu futuro marido trouxer para casa.

— Não seja tão... tão cínica! — Rose protestou, zangada com uma brincadeira tão inocente. — Pois eu acho que a coisa mais importante que existe para uma mulher é ser uma boa esposa e mãe. E você ainda teve aulas de música, de arte e de cultura geral. o que vai ajudá-la a apreciar melhor a vida, no futuro.

Cheia de remorsos, Kagome deu o braço à mãe; tomando cuidado para não amassar o belo vestido de Rose.

— Agora, quero ir para a universidade aprender tudo que puder sobre computadores...

- ... e depois, tornar-se a sra. Kouga Opie — gritou a irmã do alto da escadaria.

Uma hora infeliz de tocar no assunto. Kagome sentiu o sangue lhe subir ao rosto.

- Isso ainda não está decidido — disse, ao perceber que a mãe ficara tensa.

— Querida, você ainda é jovem demais. Vocês dois são! Há alguns dias, eu estava conversando com Renée Opie e ela me contou que Kouga tem uma porção de planos. Se você estivesse pensando em casar com um homem mais velho, a coisa seria diferente. A maturidade é muito importante num casamento. Por mais que eu goste de Kouga, não se pode negar que ele é ainda um garoto! — E mudando de assunto: — Ayame, como está linda hoje! As duas estão lindas! Vamos fazer uma revisão final em tudo.

As irmãs trocaram olhares. Kagome sentindo que havia algo estranho no comportamento da mãe e com um pressentimento terrível. Mas, olhando novamente para Rose, alegre e segura de si, ela a seguiu, afastando os maus presságios.

- Pode ser uma qualidade frívola - comentou Rose, ao admirar as salas de flores, tudo impecavelmente arrumado —, mas sei instintivamente como receber meus convidados e deixá-los à vontade.

Olhou orgulhosa para as filhas, que estavam realmente lindas. Rose sempre havia sido muito exigente, se esmerando na educação das duas. Kagome era quase um palmo mais baixa do que a bela irmã, o corpo es­guio e bem feito, cabelos negros, pele clara, olhos de um azul inten­so. Ayame, alta e ruiva, tinha olhos verdes e herdara os traços clássicos e perfeitos da mãe. Naquela noite, usava um vestido dourado e estava mais linda do que nunca.

Olhando para a sala cheia de flores, Kagome sentiu o coração leve. O ano passado no exterior tinha sido fascinante, mas sentira imensa saudade de casa. Agora, depois do exílio forçado, recebia sua recompensa. Estava finalmente de volta, à espera dos amigos. E de Kouga?!

Logo a casa estava cheia de música, de risos e de conversa. E Kouga, a seu lado. Feliz, ela se movimentava entre os convidados, encantadora, vivaz, sorridente.

Depois de cumprir seu papel de anfitriã, dançou com Kouga.

Tive tanta saudade — ele sussurrou em seu ouvido.

Humm...

-É só o que tem a dizer? — reclamou Kouga, fingindo zanga

-O quer que eu diga? — perguntou, provocante. - Se eu dissesse tudo que quero, acho que assustaria você. Deus do céu ! Esse ano parecia não acabar mais!

- O pedido de sua mãe para não escrever um ao outro podia ser sensato, mas, querida, foi um inferno para mim!

Kagome ficou impressionada com a intensidade do amor dele; mesmo assim, quis ter certeza.

— Pelo que Ayame me escreveu, você estudou tanto que nem teve tempo para pensar em mim.

— Nunca tirei você do pensamento. E tudo que fiz foi por você... por nós.

Era o mais perto que ele tinha chegado de um pedido de casamento. Feliz, ela levantou os belos olhos azuis para ele, e os dois continuaram dançando, esquecidos de tudo a sua volta. Então Kouga desviou o olhar e sua expressão mudou.

— O que foi? — perguntou ela.

— Entrou um homem, e ele estava olhando muito firme para nós. Agora, está conversando com sua mãe.

— Mas quem é?

— Não sei, mas o rosto me é familiar. — Girou, para que ela pudesse ver o desconhecido. — E aquele ali. Conhece?

Kagome o reconheceu imediatamente. Nem que vivesse mil anos, se esqueceria daquele rosto que vira pela primeira vez aos dezesseis anos. Aquele rosto frio, controlado, bonito e implacável. Os olhos dourados contrastavam com a pele morena, e a gelaram imediatamente, fazendo com que perdesse o ritmo da dança e tropeçasse.

— Querida, o que foi? Kagome...? — perguntou Kouga, olhando para o rosto lívido da namorada.

— Aquele é Inuyasha Taisho.

— Inuyasha Taisho? O mesmo...?

— Sim, o mesmo Inuyasha, cuja mulher eu matei quando tinha dezesseis anos.

Ele ficou calado, acompanhando mecanicamente o ritmo da música, enquanto Kagome sentia o corpo se transformar em um pedaço de gelo. A única realidade naquele instante eram os olhos frios e acusadores de Inuyasha Taisho.

— Más que diabo ele está fazendo aqui? — perguntou Kouga, irritado. — Sua mãe o convidou, ou ele veio se intrometer?

— Ela não me disse nada.

— Mas não parece estar surpresa de vê-lo. Vamos tomar alguma coisa. Você precisa de uma bebida forte, para se recuperar do susto.

Deu a ela um pouco de conhaque e levou-a até o terraço. Ficaram apreciando a bela vista da cidade de Christchurch que se via lá em baixo, uma cidade luminosa, espremida entre as montanhas e o mar.

— Não deixe que a presença dele a intimide, querida. O que aconteceu foi um acidente, sem a menor dúvida.

— Se eu não tivesse perdido o controle do meu skate, a mulher dele não teria morrido.

— O inquérito provou que a culpa não foi sua. Foi dessas terríveis coincidências, um acidente em que as duas tiveram culpa. Pensei que você tinha superado isso! O que deu em Rose para fazer uma coisa dessas? Mas Kagome estava deprimida.

— A mulher dele estava grávida de seis meses. Ela morreu e o bebê também, eu fui... fui com meu pai dizer a ele que sentia muito, mas vi que ele... que ele me odiava!

— O homem estava em estado de choque. Já deve ter esquecido tudo, agora.

Kouga falava mansamente, tentando encorajá-la, mas Kagome mal ouvia sua voz, perdida nas lembranças que lutara tanto para reprimir.

— O rosto dele parecia uma máscara inexpressiva, menos os olhos. Eram frios como gelo. Eu... eu queria dizer como estava triste com o que tinha acontecido, mas não conseguia falar. Foi papai quem falou. Papai segurou a minha mão o tempo todo. Inuyasha Taisho quase não disse nada, mas seus olhos ficaram o tempo todo fixos em mim, revelando o mais profundo desprezo. Eu estava tão nervosa que comecei a rir; ao sair daquele horrível quarto de hotel. Não conseguia me controlar!

— Querida, não fique assim! Com certeza ele veio justamente para dizer que sente muito, que já passou, qualquer coisa assim.

Mas a tentativa de animá-la falhou.

— Acha mesmo? Ele parecia uma estátua: frio, assustador e cruel E ainda é assim!

Kouga deu um suspiro e afastou-se um pouco para poder olhá-la nos olhos. Sacudiu-a de leve.

— Agora, você está começando a ficar histérica, Kagome. Pare com isso! Ele não pode fazer nada contra você. Foi uma experiência traumatizante principalmente porque você é muito sensível. A sra. Taisho foi a maior culpada. O caminhão que subia a ladeira abafou o barulho do automóvel dela e as plantas na curva atrapalharam sua visão. Quando viu você, instintivamente quis desviar e subir naquela rampa. Foi por azar que morreu. E sabe que a polícia apurou que ela guiava com excesso de velocidade. E agora? Vai se controlar, ou tenho que mandá-la para a cama?

— Estou melhor — disse, fazendo uni esforço visível para se controlar.

— Assim é que eu gosto! — Beijou-a docemente nos lábios. Kagome agarrou-se a ele procurando segurança, certa de que a protegeria. Kouga hesitou um instante e, entendendo mal o que ela queria, tomou-a nos braços e beijou-a sensualmente. Pela primeira vez, Kagome não sentia a emoção que a proximidade dele sempre provocava. E a aparição repentina de Inuyasha Taisho ao lado deles a fez gelar.

Kouga murmurava seu nome, apaixonado, quando uma voz fria o interrompeu.

— Sinto estragar a cena — disse Inuyasha —, mas sua mãe mandou chamar você. Parece que é para cortar o bolo de aniversário.

Kagome ficou imóvel. Reunindo todas as forças, voltou-se para ele.

— Está bem.

Como se estivesse num pesadelo, caminhou até o salão e sorriu para os convidados. Rose parecia tão calma, que ela começou a descontrair-se. Mas, enquanto cortava o bolo, aquele homem a seu lado era para ela uma ameaça sombria.

Mais tarde, foi com um sentimento de alívio que Kagome se viu dançando com ele. Finalmente, saberia o que estava fazendo lá,

Inuyasha segurou-a mantendo uma distância convencional, mas Kagome tinha a sensação de que ele a aprisionava. Sentiu um arrepio gelado percorrendo o corpo. Ele era alto, muito alto, com quase um metro e noventa, os ombros largos, os braços musculosos. Por mais que a intimidasse, não podia negar que se tratava de um belo homem.

Percebeu que muitas amigas a olhavam invejosas. O conjunto agora tocava músicas românticas, e a maioria dos dançarinos mal se mexia do lugar, usando o pretexto da dança para ficarem mais juntinhos. Kouga conversava com Ayame num canto da sala; parecia estar interessado na conversa, mas, por um instante, seus olhares se cruzaram e ele lhe deu um sorriso encorajador. Mas ela se sentia a quilômetros, com Inuyasha Taisho separando-a do resto do mundo.

— Três anos fizeram uma grande diferença — disse ele, de repente.

— Foi por isso que veio? Para ver no que eu tinha me transformado?

— Em parte. — Olhou-a com assustadora intensidade. — Mas, principalmente, porque Rose me convidou.

— Mamãe convidou você? Mas... por quê?

Ele ficou calado por alguns instantes, e Kagome pensou que não ia responder.

— E por que não? Rose e eu nos tornamos grandes amigos nos últimos meses. E, antes disso, eu via seu pai constantemente.

Kagome olhava para ele, cada vez mais surpresa.

— Então, eles não lhe contaram nada, Kagome? Bem, talvez por que eu mandei que não falassem nada.

— Mandou?

— Eu disse que mandei? Foi uma palavra mal escolhida, claro. Mas não tinha sido. - Os olhos azuis de Kagome estavam presos ao rosto implacável e belo de Inuyasha. Havia um leve tremor nos músculos de seu maxilar e ela sentia um frio na espinha. De repente, seus olhares se encontraram, e ela corou violentamente ao ver um desejo selvagem naqueles olhos dourados e cruéis. Pela primeira vez naquela noite desejou estar usando um vestido menos decotado, que não revelasse tanto. Inuyasha a olhava como se ela estivesse completamente nua.

— Gostou do ano que passou na Suíça?

A pergunta ajudou-a a recuperar um pouco do autocontrole.

— Gostei. Foi... foi bom. E muito interessante,

— Acredito que sua irmã não tenha interesse em fazer o mesmo tipo de curso. Ela faz Medicina, um curso muito caro. Sua mãe terá que gastar bastante com ela.

Mais uma, vez, olhou-o, intrigada. E mais uma vez os olhos dourados e frios responderam com ironia. Ele estava fazendo um jogo, mas ela não conhecia as regras. Insegura, procurou Kouga na sala, mas o rapaz dançava calmamente com Ayame, enquanto sua mãe conversava animadamente com duas amigas.

— Rose me contou que Ayame tem uma grande vocação.

— É verdade.

— E o que pretende fazer, agora que está em casa?

— Será que você também não sabe isso? — perguntou, subitamente zangada, sentindo que havia algo entre a mãe e Inuyasha, alguma combinação que ela desconhecia.

— Pois bem, acontece que eu sei. Mas duvido que você saiba, Kagome.

Não havia dúvida no tom de triunfo naquela voz grave. Kagome estremeceu, assustada. Quando tentou se libertar dos braços dele, Inuyasha a segurou com força. Felizmente, a música parou e ele a guiou através da sala, um sorriso implacável no rosto autoritário. Será que mais ninguém percebia isso?

Rose continuava a mesma mulher superficial e alegre de sempre, e, aos poucos, influenciada pela mãe, Kagome se acalmou. Logo Ayame e Kouga se juntaram aos três, e ela percebeu, assustada, que também eles sucumbiam ao feitiço de Inuyasha. Parecia que só ela notava que ele a olhava como se fosse seu dono!

— Como você viu — disse Kouga logo depois, quando dançavam —, ele esqueceu e perdoou. Pelo que Rose falou, tinha até negócios com seu pai. Devem ter se tornado amigos e decidiram não contar nada a você para não aborrecê-la.

Aquilo parecia lógico. Ainda assim, Kagome achava que as coisas não eram tão simples.

— Estou com medo — murmurou. Kouga reagiu com impaciência.

— Está sendo tola, querida. Ele é um sujeito muito agradável. Na verdade, se você não fosse tão bobinha eu teria ciúmes. Homens como Inuyasha costumam conquistar todas as mulheres. Mas concordo que Rose devia ter avisado você de que ele vinha. Foi um choque terrível, não? Mas agora tudo passou. E pode viver sem essa sombra ameaçando você.

Como Kouga podia ser tão obtuso? Kagome tinha vontade de gritar, para que ele percebesse o que estava acontecendo bem debaixo de seu nariz. Inuyasha Taisho não era uma sombra, era muito real, muito homem, e a ameaçava como se quisesse separá-la do resto do mundo!

Quando ergueu o rosto para o namorado, inconscientemente implorando sua ajuda, percebeu que Kouga estava fascinado pela forte personalidade de Inuyasha e não percebia o homem cruel que havia sob aquela máscara. Sentiu-se sozinha como nunca. Nem mesmo quando imaginara que era responsável pela morte de Kikyou Taisho sentira-se desse modo. Naquela época, os pais a entenderam e encorajaram, ajudando-a a vencer a angústia. Mas agora o pai não estava mais ali para protegê-la. Teria que enfrentar aquela ameaça assustadora sozinha, e desarmada!

— Meu benzinho, você parece exausta — disse Kouga, com ternura. — Desconfio que deve estar sentindo a mudança de fusos horários. Precisa dormir até tarde amanhã.

— Sim, vou fazer isso — respondeu, subitamente sem energia. Eram três da madrugada, quando a festa finalmente acabou.

Kagome foi procurar a mãe, mas Ayame avisou que ela acabara de se deitar, com uma forte dor de cabeça.

Teria que esperar pelo dia seguinte para pedir explicações sobre a presença de Inuyasha Taisho.

Depois de dar boa-noite à irmã, foi para o quarto e caiu na cama, sem forças.

E ae pessoal gostaram? Me mandem muitas reviews. Ah, um aviso para os leitores de No Amor e Na Guerra, o próximo capitulo está quase pronto.