Ele era um Lupin. Não apenas um Lupin, mas Remus Lupin. Simplesmente o bruxo mais lindo em que meus olhos cinza já pousaram. Nem me lembro quando comecei a olha-lo diferente. Agora, pensando bem, acho que nunca o vi como um mero amigo. Não, eu sempre o tratei de forma diversificada em relação aos outros, mesmo que nunca tivesse coragem de admiti-lo. Talvez eu tenha começado a ama-lo naquela primeira olhada, em que ele ainda era para mim um estranho, subindo no mesmo trem que eu. Nunca poderia ser amigo daquele Black arrogante e solitário que eu era. Mas, nisso, o destino sorriu para mim pela primeira vez em muitos anos.
Estávamos todos ansiosos para finalmente conhecer a escola onde passaríamos boa parte dos próximos sete anos de nossas vidas. Era uma sensação engraçada, uma mistura de medo, exaltação e liberdade que eu nunca mais senti. Deve ser uma daquelas coisas que só acontecem uma vez na vida e, se você não conseguiu aproveitar, bye bye.
Eu não conhecia ninguém e me vi totalmente perdido no longo corredor do vagão onde eu estava. Não havia compartimentos vagos onde eu pudesse sentar-me sozinho, mas ao mesmo tempo não podia simplesmente ir entrando nos grupos de amigos que conversavam. Era uma situação desesperadora e confesso ter cogitado agarrar o meu malão e voltar pela mesma porta que havia acabado de cruzar, quando esbarrei nele, James Potter.
Eu me senti completamente desajeitado, como imagino que qualquer garoto de 11 anos se sentiria depois de esbarrar num completo desconhecido, mas ele simplesmente sorriu e me estendeu a mão com aquele jeito amigável que eu viria a conhecer melhor mais tarde.
- Olá! Me chamo James. Você tá sozinho?
Tinha 11 anos como eu, os cabelos despenteados e olhos castanhos muito vivos. Ele me acolheu e me arrastou para um vagão ali perto antes que eu pudesse questionar. Dentro do compartimento, um garoto estava sentado olhando pela janela e acenando alegremente para a estação. O rapaz que eu havia contemplado com tanto interesse a alguns minutos, virara-se e agora passava seus olhos cor de mel sobre mim. Nunca conseguirei descrever em palavras o arrepio que me percorreu a espinha naquele momento.
- Remmy, esse é Sirius Black. Sir, esse é Remus Lupin.
Foi assim que conheci meu anjo de cabelos dourados. A figura que roubaria muitos dos meus sonhos a partir dali. Dessa forma simples e direta, James me apresentou aquele que mudaria minha vida completamente. Embora eu ainda não soubesse disso.
Mas naquela hora, o que eu sentia por ele ainda não podia ser chamado de amor. Estava feliz por ter amigos com o qual passar a viagem, e a descontração de James contagiava a nos dois, que em pouco tempo estávamos tagarelando sobre coisas inúteis e falando bobagem atrás de bobagem. Eu estava acima de tudo feliz, e tinha certeza que eles estavam também. Parecia o começo de um sonho, estar ali era perfeito, eu me sentia confiante sabendo que não estava só.
Com o passar do tempo nos tornamos inseparáveis. Não dava para imaginar Sirius sem James ou James sem Sirius. Remus também se tornou um grande amigo, mas estava quase sempre ocupado fazendo tarefas, coisa que realmente não nos seduzia.
Tínhamos o mundo todo pela frente, uma vida inteira para explora-lo e a juventude nos dando a imortalidade que precisávamos. Aproveitávamos juntos cada oportunidade de sermos nos mesmos e nos divertíamos com qualquer coisa.
Tudo podia virar motivo de riso, só depende do bruxo que aproveita essa oportunidade e como o faz. E James e eu éramos mestres nisso.
Remus olhava tudo sem nos dizer quando parar nem o que fazer, mesmo depois que se tornou monitor. Devia ser o dever dele, mas não o fazia. E nos aproveitávamos abertamente da situação. Hoje me dói pensar em todas as broncas que Remus deve ter levado por nossa causa. Ou talvez não, ninguém seria capaz de resistir aqueles olhinhos castanhos e acanhados. Além do que, Remus sempre teve a compaixão dos professores, nada que ele fizesse era levado para o lado ruim e ele nunca tomava detenções. De toda forma, se um dia ele levou bronca por nossa causa, nunca ficamos sabendo.
Com o passar dos anos, nos tornamos populares. Não populares de conhecer muita gente e ter muitos amigos. Populares de verdade. As pessoas nos invejavam e nos apontavam, eu tinha todas as garotas que queria com um estalar de dedos, bebia tudo que podia e abusava da minha sorte.
Remus não participava das nossas extravagâncias. Não, ele era inteligente demais para essas coisas. Mas ainda assim era um de nós, e toda popularidade o atacava também. Em menor escala, mas sempre presente.
Acho que ele se divertia também, mas não podia demostrar. Não pegava bem para um monitor, apoiar o maluco do Black e o pirado do Potter. Mas isso nunca foi problema, nossa amizade estaria acima de qualquer coisa e, se ele tivesse que escolher um dia, tenho certeza que mandaria o distintivo direto para o saco.
E foi mais ou menos nessa época que o Peter apareceu, lá pelo final do nosso segundo ano.
Posso pegar um pedaço desse chocolate?
Com essas palavras inocentes Peter entrou em nosso grupo. Era bem menor que James e eu, e devo admitir que era menor até que Remus. Até hoje me pergunto porque Peter, quando havia centenas de garotos que se matariam para estar em seu lugar. A vida acontece de forma estranha e as vezes me pego pensando que nosso destino já estava escrito naquele dia. E não há um só dia em que eu não imagine como tudo poderia ter sido diferente se tivéssemos simplesmente ignorado aquele pedido como fazíamos com a maioria. Mas não é verdade, Peter não era uma alma ruim naquela época. Era só uma criança assustada que nunca poderia ter ido muito longe sem a nossa ajuda.
Nós o conhecemos na ala hospitalar, enquanto visitávamos Remus numa das suas internações mensais. Ele dizia que era uma doença que o fazia ficar, todo mês, alguns dias internado. Mas James e eu não éramos tolos. Não demorou muito para descobrir qual era a "doença". Sempre que perguntávamos, Remus respondia vagamente. Nunca tinha certeza de quais seriam os sintomas no próximo mês, e haviam sempre tantos machucados pelo seu corpo que não seria possível serem causados por doença alguma. Não poderiam ser sequer humanos.
Éramos, enfim, quatro. Quatro, inseparáveis, como... qualquer coisa que venha em quatro, não consigo pensar em nada agora. Peter não demorou muito para entrar no clima dos "marotos", como nos chamavam. Que época maravilhosa, uma época que, acredito eu, Hogwarts nunca vai esquecer. Éramos o que havia de melhor, e todos sabiam disso. Se não sabiam, fazíamos com quem soubessem. Hoje consigo compreender o desespero dos professores tentando nos controlar, mas naquela época tudo era motivo de riso. Não me leve a mau, não que fossemos alunos ruins, pelo contrário, tirávamos sempre as notas mais altas, a exceção de Peter, que sempre acabava desesperado tentando absorver algum conhecimento de Remus antes da prova. Remus sim era um aluno brilhante, o orgulho de todos os professores. Não consigo me lembrar quantas vezes ele foi aconselhado a largar a nossa companhia. E não consigo nem mesmo imaginar quantas vezes nós rimos disso no escuro, as únicas almas acordadas no dormitório atrapalhando todas as outras.
Nenhum de vocês seria capaz de dizer o quão escuro e silencioso aquele castelo se torna a noite. Com o passar dos tempos você se acostuma, mas isso pode ser bem assustador para um garoto recém chegado. Era especialmente assustador para Remus. Tenho pra mim que ele sempre teve certo medo de ficar sozinho, principalmente quando anoitece, e confesso que posso entender seus motivos, mas ele nunca admitiria. Ele sempre tentou parecer mais forte do que era, mas eu podia ver por trás dos seus olhos cor de mel. Podia sentir quando ele tinha medo. E pude sentir isso logo na primeira noite que passamos naquele dormitório.
Acordei. Acho que já devia ser de madrugada. Tínhamos ido dormir bem tarde, com toda a festa e comilança que antecede o começo das aulas. No outro dia seria um dia bem cheio e, como era de se esperar, não demorou muito para que capotássemos cada um em sua cama. Umas poucas e esparsas velas iluminavam o dormitório quando acordei. Sentei-me na minha cama, esfregando os olhos com sono.
- Desculpa, te acordei?
Não pude conter a surpresa quando me virei e vi Remmy, na cama ao lado e não menos desperto que eu, enquanto o dormitório inteiro dormia.
- Não, tudo bem. – Olhei para os livros espalhados ao redor da cama de meu amigo, com interesse e dúvida. – Não dormiu a noite toda?
- Não estou com sono.
Um sorriso meio forçado emoldurou seu rosto delicado. Já naquela época eu podia sentir o medo nos olhos dele, como lhes disse a alguns parágrafos. E já naquela época me doía vê-lo assim.
- Então não vai se importar se eu me sentar pra ler com você, não é?
Antes que o garoto loiro pudesse se livrar do susto e esboçar uma resposta, pulei da minha cama para a dele, me aconchegando nas suas cobertas já quentes. Passamos a próxima hora assim, Remus me contando as mais variadas histórias que cabiam todas nos seus livros gastos. Não tenho certeza se fui eu, o cansaço ou a companhia de todos os seus personagens fantásticos, mas ao final daquela hora aquele Lupin jazia adormecido ao meu lado. Lembro-me de admirar com ternura aqueles cabelos loiros caídos sobre um rosto quase infantil. Não era amor ainda, mas um carinho agradável, uma vontade de cuidar daquele ser que era tão menor e mais delicado que eu, e que parecia que iria se quebrar toda vez que eu lhe tocava.
Depois disso, não se passou uma única noite fora da lua cheia ou das férias em que eu não botasse Remus para dormir em sua cama antes de me aconchegar na minha. Muitas vezes tínhamos que esperar até que todos fossem dormir para que, finalmente, eu pudesse cumprir minha tão nobre missão sem os olhares curiosos dos outros estudantes. Não sei como ninguém nunca desconfiou de nada. Pensando bem, lembro-me de ter acordado James umas duas ou três vezes enquanto voltava para a segurança de minha própria cama e de ter inventado as histórias mais estúpidas para justificar o flagrante. Ainda hoje não consigo dormir direito sabendo que meu garoto loiro não está comigo. Passo dias sem dormir até desmaiar, vencido pelo cansaço, num sono cheio de pesadelos e angústias.
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N/A: Hahaha, quantos anos tem que eu não escrevo nada? Uns dois? Nossa, nossa, acho que to perdendo o jeito disso maaas, mesmo assim, não resisti ao impulso de tentar em comemoração aos 5 anos da minha primeira fic.
5 Anos? Meu deus como o tempo passa o.o.
Enfim, como podem ver a fic não termina aqui e talvez eu leve um tempinho pra postar os próximos capítulos graças a faculdade. Mas reviews podem realmente adiantar o processo 8D.
Essa fic é dedicada a pessoa mais importante pra mim no mundo, o meu Remus, que vai saber exatamente que é ele quando ler essa n/a. Posso dizer com certeza que essa fic só existe hoje por causa dessa pessoa e, se vocês estão lendo e odiando, é tudo culpa dela, podem xingar. Mas eu a amo muito e ela sabe disso =).
Até o próximo capítulo.
