Ameaça

Capítulo 1: Esperança

- Abrir janela! – Deu o comando e o vidro escorregou para o lado.

O ventou zuniu dentro do cômodo derrubando papeis no chão e jogando os cabelos dela para trás. Fechou o zíper da jaqueta e puxou o capuz de volta, cobrindo a cabeça até a testa.

- Não pode sair antes de finalizar seus estudos!Anunciou a voz robótica atrás dela.

- Me dá um tempo lata velha! – Apoiou o joelho na mesa, segurou na beirada da janela e impulsionou o corpo para frente, saltando, caindo, quase voando, pulando de sacada em sacada, aproveitando a pouca segurança que as paredes lisas e metálicas davam-lhe para apoiar os pés e, assim, alcançar o chão com um rolamento e levantar em segurança.

Algumas pessoas olhavam um pouco assustadas e outras em deboche. Nem se importou, colocando-se a correr para o que seria uma pequena floresta bem à frente.

"Vou passar, dessa vez não me seguram!". Pensou, colocando mais força nos músculos da perna. Logo avistou a o muro de segurança da cidadela, ela estava disposta a atravessá-lo e descobrir o que havia escondido depois dele.

Usou de um salto para agarrar o primeiro galho de uma árvore baixa e lançando as pernas no ar o corpo fazia acrobacias e ia subindo pelas copas até alcançar a elevação mais aberta da parede, uma passarela comprida. Fez força e ergueu-se, garantindo que não havia nenhum vigia perto. Correu para a esquerda onde havia uma pilastra e em sua lateral uma escada com acesso ao segundo andar. Subiu agilmente até a beirada da próxima elevação e observou: Havia muitos sentinelas, humanos e robôs, andando de um lado a outro.

"Droga e agor..."

*tinc tinc tinc*

Um som agudo ao longe chamou a atenção da maioria que viraram e se encaminharam até onde ocorrera. Tentando entender ela levantou a cabeça e notou que algo se movia entre as armações do teto. Era um rapaz de roupas surradas de cor marrom e cabelos despenteados. Aproveitou a distração que ele provocou aos guardas, se esgueirou para entre as tubulações e canos ao lado. Apoiou mãos e pés nos frios cilindros de metal e escalou até as mesmas armações no alto enquanto, abaixo dela, os homens e máquinas voltavam a transitar como antes.

Respirou aliviada. Quando começou a se mover cuidadosamente percebeu que o garoto encarava-a com uma expressão de reprovação, antes dele mesmo avançar entre os metais. Era ágil, alcançando logo uma tubulação gradeada no fundo do local. Já ela ainda estava na metade do caminho, pois tentava evitar fazer barulhos ou esbarrar em lâmpadas.

Ele empurrou a grade, entrou e sumiu, mas não sem antes derrubar algo do bolso da calça fazendo outro som agudo assim que tocou o chão e chamando a atenção daqueles que estavam logo abaixo. Olharam para cima e gritaram: PARADA!

- Merda! – grunhiu tentando correr e se equilibrar em direção àquela mesma saída.

Armas foram levantadas e disparadas. Algo envolveu suas pernas e ela quase caiu. Agarrou rapidamente uma haste mais larga tentando retornar para o alto e aí sentiu uma dor forte e um choque percorrer todo o corpo. Gritou, perdendo a força e sentido tudo escurecer.


- É o segundo delito de travessia pela muralha da cidade, mocinha... – Dizia o guarda carregando-a pelo braço, atravessando o corredor que dava acesso a casa dela.

"E não vai ser o último". Pensou virando o rosto.

- ...Sabe que se a pegarmos novamente será mandada para o reformatório de onde nunca sairá. Garanto-lhe.

- Questão de tempo me livrar de vocês e passar para o outro lado!

Pararam em frente a porta do apartamento e ele puxou o colar de identificação dela.

- Uma dica abusadinha: é melhor aguardar a prova. É a maneira mais simples se quer tanto chegar ao outro lado. – Ele ativou o pequeno dispositivo e leu seus dados. – Eleanor. Não tem notas ruins nos últimos testes da área de treinos, mas diversas queixas pelo comportamento.

A porta se abriu e o robô guardião apresentou sua numeração ao guarda.

- Talvez seja culpa desse robô velho que não está fazendo o serviço de educação adequadamente. Viremos recolhê-lo e subst...

Antes que pudesse terminar a frase ela apertou a garganta dele, o colocou contra a parede e ameaçou:

- Ela era do meu irmão e ele passou. Não ousem tocar um dedo nela ou mandarei tu e seus amiguinhos para um lugar muito pior que a merda do reformatório de vocês! – Soltou-o e ele tossiu buscando ar enquanto ela entrava e trancava a porta.

- Faltam 3 dias para a prova senhorita, por gentileza volte aos estudos.

- Me deixa em paz. – Entrou no quarto, fechou a porta e encostou o corpo. Escorregou até sentar no chão. Escondeu o rosto, abraçou os joelhos, chorando:

- Cadê você irmão? – Soluçou. – Você prometeu me buscar!