Capítulo 1 : Orgulho
- Ganhei mais uma vez! – Bradou Kerol.
- Novidade... – Disse Sirius – Eu deixei você ganhar dessa vez.
- Deixou nada! Já é a vigésima vez que eu acerto na mosca, e você mal consegue colocar uma flecha no arco.
Sirius, aborrecido, jogou o arco no chão, e, com a cabeça baixa, começou o caminho de volta para sua casa.
Sirius, um garoto não mais alto do que os outros garotos da sua classe, nem mais inteligente do que seus pais o idealizavam, morava em Payon desde que havia nascido. Pertencente á uma família antiga de Payon, conhecida por sua linhagem afiada de homens, que, seguindo a tradição hierárquica, se tornavam exímios caçadores. As mulheres por sua vez, se tornavam donas de casa, ou lecionavam na guilda dos arqueiros mirins, "Teoria e Aplicação Prática do Arco e Flecha", nome muito complicado, que Sirius tinha o hábito de chamar de "Como atirar um palito extremamente grande de madeira á uma distância extremamente grande"; tal guilda que servia como preparatório para o ingresso dos jovens na guilda dos arqueiros e, de lá, aperfeiçoarem mais ainda seus talentos.
O pai de Sirius, Monrad, atirador de elite veterano, havia conquistado o respeito da cidade, inclusive da própria família real de Payon, quando defendeu esta, ao lado de outros grandes atiradores do ataque de monstros liderados pelo urso Eddga. Acontecimento este, que foi quando se sucedeu a morte de sua mãe, Fovielle, seqüestrada pelo próprio Eddga, quando estava recuando da vila, por ver que não tinha chances contra a elite de Payon.
Com a tropa de ursos em retirada, Fovielle foi levada junta com eles, e, desde então, nunca mais foi vista. Sirius tinha apenas 2 anos nessa época, então quase não se lembra da mãe, mas nutria um sentimento especial por seus avós, com quem fora deixado no dia da invasão.
Atualmente, Sirius com 10 anos, morava com seu pai, numa casa próxima ao palácio da família nobre. Saía todos os dias de manhã para ter suas aula na guilda dos arqueiros mirins, onde se divertia muito com seus colegas, apesar de não ser muito bom com o arco e flecha. Na verdade, Sirius sempre ficava em último nas avaliações em grupo, não acertando algum outro coleguinha na cabeça, por sorte.
Porém, apesar de não ter sido abençoado com o dom natural da precisão aguçada, Sirius se enturmava muito bem com seus colegas, sendo querido por todos, até mesmo por seus professores, que fingiam ignorância diante de suas habilidades pobres no manejo do arco.
A guilda dos arqueiros mirins funcionava da seguinte forma : As classes eram divididas por idade, sendo cada uma representada por um elemento de flecha diferente. As crianças de cinco á sete anos eram da classe "Flecha de Madeira", as de sete até nove anos faziam parte da "Flecha de Ferro", e as crianças de dez anos compunham a classe "Flecha de Oridecon", sendo esta última, o último estágio de avaliação das crianças. Os exames de avaliação consistiam num exame escrito de dez questões, uma prova prática, que envolvia acertar alvos á diferentes distâncias, e um "Desafio Extra", que não era obrigatório, porém, se fosse completado, garantia ao aluno um ponto na média final.
- ACORDA FILHÃO ! ACORDA, ACORDA, ACORDA, ACORDA !
Sirius odiava que seu pai o acordasse com cutucões como se ele tivesse a maior disposição do mundo logo cedo.
- Oi pai... já acordei. – Disse Sirius, se contendo para não chingar seu pai.
- Hoje é o grande dia não é, filhão ? – Disse Monrad animado – Afinal, é hoje que meu filho vai entrar para a guilda dos arqueiros.
- Talvez sim ... – Sirius resmungou, ainda sonolento.
Ele levantou da cama e foi para a cozinha, tomar seu café da manhã : uma fatia de pão com geléia real e um copo leite de lunático.
- Como assim talvez ? Os homens da nossa família vem sendo arqueiros...
- Por séculos e séculos, sim pai, eu já sei a ladainha toda – Completou Sirius, mordendo um generoso pedaço do pedaço de pão e tomando um gole de leite para ajudar a descer.
- Mas não é só por isso que eu vou me tornar um arqueiro – Murmurou Sirius meio cabisbaixo – O senhor sabe que não sou tão bom atirando quanto o senhor.
Monrad, pulando da cadeira, foi correndo até o armário da cozinha e tirou de lá um ovo.
- Aqui está filho – Disse ele entregando o ovo ao filho.
Com o copo de leite ainda na mão, Sirius segurou o ovo, fitando-o por um momento. E então perguntou :
- O que é isso pai ? – Perguntando sarcasticamente.
- É um ovo ! – Respondeu o pai, tremendo de animação – E não é um ovo qualquer, é um ovo de Grand Peco ! Aquelas aves com penas coloridas que eu te mostrei outro dia no meu álbum de fotos.
Sirius se lembra muito bem daquele dia, seu pai mostrou-lhe um velho álbum de fotos, aonde Sirius se interessou por duas fotos : Uma de seu pai e sua mãe saindo da igreja de Prontera, logo após o matrimônio dos dois, e uma outra foto onde seu avô e seu pai aparecem, seu pai ainda criança, montados num Grand Peco colossal.
- Nossa família tem a tradição de apresentar um Grand Peco aos homens que vão prestar o exame de graduação na guilda dos arqueiros, dizem que dá sorte. – Disse Monrad – Eu vou fazer diferente com você, filho; vou te dar um ovo de Grand Peco de presente, e você vai cuidar dele até ele chocar e assim você vai poder acompanhar o seu Grand Peco crescer pouco á pouco.
- Puxa vida pai... muito obrigado mesmo ! – Disse Sirius abraçando seu pai com toda a força. – Prometo que vou cuidar muito bem do meu Grand Peco !
- Esse é o meu filhão ! – Disse o pai, esfregando carinhosamente o cabelo do filho. – Puxa vida, você já deve estar atrasado filho, ande logo senão você vai perder o horário de entrada.
Sirius concordou com a cabeça e, deixando seu ovo de Grand Peco debaixo do travesseiro do seu quarto, pegou seu caderno e saiu em disparada em direção da guilda.
