APRESENTAÇÃO:

Olá! Essa é a minha primeira fanfic. Sim, não é uma tradução, é de minha autoria mesmo, eu nunca escrevi uma fanfic antes (só traduzi uma que acho que a maioria de vocês já está familiarizada, o D.I) e resolvi estrear com uma Johnlock porque acho esse casal lindo, doce, meigo e fofinho (limpa disfarçadamente um pouco de baba no canto da boca).

CERTO, AGORA VAMOS PARA OS AVISOS:

1 – Fanfic publicada entre os meses de outubro e dezembro de 2015 nas plataformas dos sites Social Spirit e Nyah Fanfiction. Está sendo publicada hoje nesta página para possibilitar mais uma opção de plataforma de leitura para os apreciadores de Johnlock.

2 – Fic sem Beta. Isso quer dizer que há possibilidade de você encontrar algum deslize meu ao longo da leitura. Se isso acontecer, mantenha a calma, seja um ninja paciente e bondoso, perdoe a autora, dê um duplo salto mortal caprichado por cima e siga adiante, afinal, o importante é se divertir.

3 – Enredo com teor homossexual. Se você caiu aqui acidentalmente passando por todos os avisos sem perceber, aproveite e saia de fininhinho.

4 – O Trailer desta fanfic pode ser visto no Youtube, é só fazer a pesquisa por "O último sorriso: trailer/ fanfic" e você poderá apreciar o trabalho!

5 - Capa elaborada por mim!

6- Autora estreante, portanto, faça-a feliz, comente! Permita que ela saiba se você apreciou o estilo dela.

Boa leitura!

Capítulo I – O código esquecido

John Watson era um bom homem, um ótimo médico e um excelente amigo, reunia todo o mérito possível para ser bem sucedido nos relacionamentos amorosos, mas mérito não é garantia de recompensa. John sabia disso na prática, pois apesar dos esforços, não havia conseguido estabelecer nenhum namoro razoável nos últimos tempos desde que chegou a Londres.

Em parte ele sabia que seu novo ritmo de vida atrapalhava um pouco e, sendo bem mais sincero, seu amigo atrapalhava muito. Não foi só um ou dois encontros que Sherlock estragou arrastando-o para a investigação de casos bizarros e misteriosos, foram praticamente todos os encontros que ele tentou ter desde que passou a morar com Holmes. Depois de um tempo, simplesmente cansou e deixou essa parte de sua vida cair na inatividade ou simplesmente parou de correr atrás, mas não deixava de tentar paquerar uma ou outra mulher bonita que por ventura lhe demonstrasse algum interesse. Querendo ou não, ele tinha o seu charme, e as mulheres não deixavam de notar. Mas era muito difícil seguir com a paquera para algo mais sério, pelos motivos já mencionados.

John estava no final do seu plantão numa sexta-feira chuvosa quando recebeu de Victória Winter, uma jovem médica residente, um sedutor convite para uma macarronada com vinho na casa onde a moça morava sozinha. A ideia era ótima, no entanto, de uma forma que beirava o sobrenatural, o médico recebeu uma mensagem do seu amigo detetive intimando-o a descartar qualquer convite para vinhos e macarronadas naquela noite, pois tinha um caso a resolver. O ex-militar respirou fundo passando a mão no rosto cansado, depois olhou para pontos estratégicos da sala em busca de câmeras. Nesse momento sentiu o celular vibrar com outra mensagem:

"Não seja tolo, não preciso de câmeras para deduzir o óbvio." SH.

John suspirou fundo e abandonou a tentativa de compreender como o amigo fazia isso. Desculpou-se com a residente e foi se preparar para voltar para casa. Ao chegar ao apartamento 221B, munido de sacolas de comida italiana, encontrou Sherlock empoleirado em sua poltrona encarando muito atentamente um pequeno e tímido ramo de flores posto sobre a mesa de centro como se ele fosse uma arma letal utilizada em algum assassinato bastante peculiar.

– Eu trouxe o jantar, você já comeu? – John perguntou já deduzindo a resposta negativa, portanto, não se importou com o silêncio recebido como réplica, foi para a conzinha e desentulhou uma área da mesa criando espaço para dois.

Enquanto arrumava os pratos, relanceou a vista no sentido da sala para analisar o amigo. Ele parecia um falcão em seu pouso majestoso observando algo particularmente interessante e intrigante. As mãos longas e pálidas pousavam concentradas logo abaixo do lábio inferior carnudo e rosado e seus olhos límpidos de íris desfocadas, fixos no raminho bem diante dele, deixava claro que o amigo estava excursionando em seu palácio mental. John voltou a olhar o ponto de encontro entre as mãos e os lábios de Sherlock e aquilo fez seus próprios lábios formigarem, aquilo o deixou um pouco assustado, mas já estava se acostumando com esse tipo de efeito narcotizante que Holmes lhe provocava.

Colocou os talheres na mesa e o tilintar da prata desencadeou o ressoar de uma frase há tempos arquivada em sua mente. O comentário aflorou tão claro como se estivesse sendo pronunciado naquele exato momento: "trocaram nossos corpos, irmão". John riu da lembrança, a irmã lhe falou isso alguns meses atrás, enquanto almoçavam juntos. Teve medo de refletir o motivo, mas no fundo sabia perfeitamente. A irmã havia percebido aquilo que ele inabilmente tentava esconder de si através de insistentes e agora desesperadas autoafirmações de "eu não sou gay". Ele realmente acreditava nisso, sim "acreditava", mas agora sua crença estava sendo abalada violentamente pelo dono de misteriosos olhos claros, cachos infantis e boca obscena, que morava com ele.

Sherlock lhe tirava o sono, não só para perturbá-lo com longas descrições dedutivas a cerca de casos, arrastá-lo para cenas de crimes, torturá-lo com notas irregulares do violino durante as madrugadas, mas também através do desejo impuro que despertava no médico, um desejo insano e imprudente de reivindicar mais do que a amizade do moreno.

Não era capaz de precisar quando exatamente o desejo carnal começou a cravar as garras em seu corpo como um animal sedento, esmagando o amor fraterno que crescia fiel e avassalador ao longo dos dias que compartilhava com o excêntrico colega de apartamento. Quando se deu conta, já sentia ciúmes, já ardia por dentro quando seus olhos traidores pousavam nos contornos sinuosos do longo corpo bem marcado pelos ternos alinhados do amigo, já perdia o ar quando os olhos fantásticos de Sherlock lhe encaravam com uma curiosidade ímpar e perigosa. Já estava perdido. Já não sabia o que fazer.

Nessas horas em que os olhares se encontravam, o sangue do médico gelava. O medo de ser surpreendido em seus desejos impuros era tão grande quanto a vontade de avançar sobre o corpo do amigo e fazê-lo experimentar a primitiva viagem rumo ao orgasmo debilitante. John piscava, respirava fundo e mentalizava algum paciente chato e a monótona descrição de algum desconforto decorrente do sedentarismo ou da alimentação equivocada. Isso costumava funcionar, suas feições tomavam um ar cansado e suas pupilas dilatadas pelo desejo regrediam despencando na estafa. Ele só não podia precisar quão rápido Sherlock ela capaz de captar um estado mental antes que ele fosse manipulado para camuflar intenções.

"Oh, meu Deus! Preciso de uma namorada. Urgente!" – refletiu passando a mão no rosto, depois de desviar os olhos dos lábios de Sherlock que continuava perambulando por seu palácio mental, para a grande sorte de Watson.

Antes de concluir a arrumação da mesa, ouviu a voz sedosa de Sherlock atingir seus tímpanos guiando sua atenção para o longo corpo empoleirado na poltrona escura.

– Que sutil... Muito elegante... – afirmava o detetive observando o ramo de flores.

– O quê? O que disse? – John confuso se aproximou do amigo e também se colocou a observar as florzinhas na mesa.

– Esse caso, John! A mente por trás desse caso tem táticas assassinas muito elegantes. – o moreno afirmou com um brilho febril nos olhos enquanto mordia o lábio inferior em meio à excitação provocada pelo caso que se mostrava promissor.

Watson respirou fundo buscando não pensar no quanto o comportamento do amigo mexia com sua libido.

– Me explique. Que caso é esse? Você me fez perder uma macarronada com vinho por causa dele. – John sentou-se em sua poltrona habitual encarando o detetive.

– Eu salvei você. – Sherlock respondeu encarando-o seriamente – a macarronada viria de um restaurante duvidoso a duas quadras da casa da médica residente que está dando em cima de você e o vinho te derrubaria em dois tempos. Ela não é muito entendida da bebida e escolheu uma safra de sabor doce, porém com alto teor alcoólico o que, ao invés de te animar para certas atividades, relaxaria seu corpo cansado e te induziria para o merecido descanso que um médico que acaba de passar por um plantão costuma exigir. É, decididamente a estratégia dela de obter sexo no primeiro encontro está carregada de falhas, ela precisa melhorar muito. – respondeu de modo rápido, voltando a encarar o ramo de flores sobre a mesa como se tivesse acabado de falar sobre a cotação do dólar.

– Mas... Mas como diabos você sabe de tudo isso? E quem disse que eu iria transar com ela logo no primeiro encontro? Você anda me seguindo? – o médico estava vermelho e visivelmente desconfortável.

– Como eu sei disso? Deduções, meu caro Dr. Watson, eu observo tudo, ao contrário do restante das pessoas. Conheço a médica, a rotina dela, sei onde mora e lembre-se que eu tenho o mapa de Londres no meu palácio mental, não é nada difícil deduzir de onde uma mulher solteira e sem tempo para cozinhar buscaria um jantar para sua visita especial. Como eu já mencionei, ela é solteira, está sem namorado há sete meses, mora sozinha e te convida para um jantar na casa dela com bebida no final de um plantão. A intenção dela, nesse caso, até você seria capaz de deduzir – piscou sorrindo da cara enraivecida que John formava. - Te seguindo? Claro que não, tenho coisas mais interessantes para fazer. Transar no primeiro encontro, sim, você provavelmente toparia isso se o vinho não te derrubasse por conta da estafa acumulada. Você anda tentando desesperadamente obter companhia feminina nos últimos meses e fracassando, o que deve estar concentrando tensão sexual em seu corpo e convenhamos você precisa resolver isso, costuma ficar irritadiço quando fica sem sexo por tanto tempo, isso seria resolvido hoje com a jovem médica residente, se não fosse por este caso. – concluiu apontando para as florzinhas tímidas.

O médico sentiu vontade de socar a cara do amigo, mas conteve-se, seria inútil tentar rebater boa parte das verdades que ouviu. Endireitou o corpo na poltrona e olhou para o ponto que as mãos longas de Sherlock indicavam.

– Ok, Sherlock! Que raios de caso é esse? - perguntou cruzando os braços.

– Corpos sorridentes encontrados em áreas desertas de Londres. Até agora somam quatro. Nada de violência, nem luta corporal. Todos eles foram achados com pequenos arranjos florais no peito.

– Que tipo de flores? – John perguntou franzindo a testa. – por acaso são como estas? – apontou para a mesa de centro.

– Não, John. Elas são diferentes. Nos quatro casos, as flores eram totalmente diferentes.

– Talvez o assassino não se importasse com o tipo de flor, talvez apenas quisesse deixar uma assinatura com flores independente da variedade.

– Assinatura, sim, independente da variedade, não. Você não vê, John? A variedade é o mais importante aqui.

– Mas você mesmo acaba de dizer que o assassino utilizou flores diferentes no corpo de cada uma das quatro vítimas, isso não me parece ação de alguém que se importa com a variedade e sim com o fato de serem flores, e só.

– Como pode? Como vocês podem ver o óbvio e não enxergar? – Sherlock o encarava agitado. – A variedade é o que mais importa nesse caso! Está tão óbvio que grita!

– Tudo bem, então me conte, porque eu não estou entendendo. – o médico fungou e esparramou-se no seu assento esperando a explicação.

– As flores não são meras assinaturas do tipo "eu estive aqui", as flores são mensagens.

– Mensagens?

– Sim! Mensagens!

– Espera, ele está usando flores como código? É isso?

– Exatamente! Finalmente está seguindo o raciocínio.

– Mais ou menos. Flores são códigos?

– São, John. Trata-se de uma prática de comunicação que caiu no esquecimento nos dias de hoje, mas foi um costume amplamente exercido na era vitoriana. O envio de flores e arranjos era empregado para transmitir mensagens codificadas, possibilitando a transmissão de ideias que não podiam ser manifestadas por outro meio. Desse modo, inocentes ramalhetes decidiram vidas e provocaram mortes. A isso se deu o nome de floriografia.

– Estou impressionado. E qual era a mensagem das flores encontradas nos corpos?

– Agora você Fez a pergunta certa! – respondeu o outro dando uma palma na altura do rosto exibindo um sorriso maroto, indo em direção a uma pasta sobre a mesa perto das janelas e voltou abrindo-a sobre a mesa de centro. – Veja, o primeiro arranjo foi encontrado sobre corpo de uma mulher de 32 anos.

O médico observou a foto, a mulher era ruiva e estava vestida com calça cinza e blusa branca cheia de babados, sem sinal de violência física e mantinha estampando no rosto um agourento sorriso. Sobre o peito havia um grande amor-perfeito, ramos de manjericão e cravos rajados. Antes que Watson perguntasse o significado, Holmes respondeu:

– Amor-perfeito significa "penso em você" e cravo rajado significa "recusa" e o ramo de manjericão: "ódio".

Mais uma ficha foi analisada e ela mostrava o corpo de um rapaz de 19 anos, ostentando o mesmo sorriso mórbido e um arranjo no peito. A terceira vítima era uma senhora de 64 anos, mesmo sorriso, e um arranjo. Antes dele levantar a vista para fazer perguntas, Sherlock resumiu:

– Primeira vítima carregava amor-perfeito e cravos rajados, significando "penso em sua recusa com ódio", a segunda trazia miosótis "lembre-se de mim" e várias rosas em diferentes estágios de degradação dando a conotação de rosas recebidas diariamente, isso passa a mensagem de "desejo o seu amor", e a terceira trazia meia dúzia de trevos de quatro folhas, significando "seja meu".

– E a quarta? Você disse que eram quatro? – John o encarou.

– Sim, foram quatro, a quarta vítima foi um homem de 56 anos, e trazia esse ramo de flores de cicuta no peito. – apontou para as pequenas flores na mesa de centro.

– Qual o significado?

– "Você será a minha morte". No entanto o significado dessa vez é invertido, veja. – indicou uma página solta que estava largada displicentemente debaixo da poltrona de Sherlock. Nela podia-se ver um homem de terno azul marinho com um ramo de cicuta no peito. – não consegue vê nada de diferente dos demais?

John observou com mais atenção, estavam na cena todos os elementos contidos nas outras, um corpo, um sorriso bizarro e flores sobre a vítima e... Sim! Ele percebeu! Havia algo diferente. O ramo de cicuta estava invertido. Diferente dos demais, as florescências apontavam para os pés, não para a cabeça. Estava invertida!

– A tradução certa é "eu serei a sua morte". – concluiu Sherlock.- E tem mais – disse mexendo no bolso do terno tirando duas flores médias: um cravo rajado e uma flor de romã. – essas duas estavam dentro do casaco da quarta vítima, quem colocou lá sabia que eu encontraria. O cravo rajado quer dizer "recusa" e a romã significa "tolice". Traduzindo todos os símbolos catalogados até agora temos: "penso em sua recusa com ódio, não o esquecerei. Desejo seu amor, seja meu. Sua tola recusa será a sua morte".

– Espera, qual a ligação entre as vítimas?

– Fora o modo como morreram? Nenhuma.

– Nenhuma?

– Exatamente. – respondeu o detetive tamborilando agitadamente os dedos nos braços de sua poltrona.

– Mas e a mensagem? Há uma mensagem sendo enviada para alguém, se não há conexão, essa mensagem só pode... – John calou-se, a dedução que sua linha de raciocínio lhe oferecia não era nada animadora e lhe dava calafrios. Seria possível que...

– Sim, John. – Sherlock respondeu encarando-o como um falcão.

– O quê? – agitou-se surpreso com a resposta de uma pergunta que ele não havia verbalizado.

– Sim, a mensagem está sendo construída para mim e essas pessoas morreram inocentemente para chamar minha atenção.

– Está sendo construída? Quer dizer que ainda há mais? Outras pessoas vão morrer?

– Exato. Algo me diz que a mensagem ainda não foi concluída.

– Isso é pavoroso!

– Bem elaborado, eu diria.

– Bem elaborado? Como você pode dizer isso assim tão friamente como se não se importasse?

– Me importar vai ajudar a chegar ao assassino mais rápido? – Sherlock o encarou com um olhar metálico.

– Não, claro que não, mas pelo menos vai fazer você parecer um pouco humano! – Watson exclamou exasperado recebendo por parte do moreno uma sequência de piscadas confusas com se tentasse processar o real significado do que o médico desejava expressar. – Ah! Quer saber? Vou dormir, eu tive um plantão exaustivo hoje e que não terminou na cama de uma garota por culpa sua! Boa noite. – cuspiu irritado e saiu pisando fundo rumo ao seu quarto.

John fechou a porta do seu aposento e atirou-se na cama. Às vezes era difícil compreender a forma objetiva com a qual o amigo tratava o mundo e as pessoas. Suspirou sentindo os músculos tensos relaxarem no colchão e adormeceu minutos depois. Estava realmente muito cansado.

Continua...