Por Kayene
Brilho de uma Esmeralda

Capítulo I

Sakura estava sentada sobre a pedra de uma cachoeira olhando a bela paisagem com árvores de esplendor único. As folhas verdes voavam de um lado e para o outro livres pelo vento. O som das águas que batiam nas pedras era um torpor para a moça. Seu pequenino pé rodava vagarosamente de um lado para o outro mergulhado na água fresca e transparente. A moça de longos cabelos cor de mel e olhos verdes, como grandes esmeraldas, olhava aquele cenário entretida em seus pensamentos. Usava um quimono vaporoso estampado com delicadas flores de cerejeira.

'Senhorita, Sakura!' Ela ouviu uma voz fina e calma a chamar. 'Seu pai está lhe esperando! Ele quer vê-la, precisamos ir!' Uma moça de longos cabelos pretos presos em um meio rabo com um bonito laço e olhos violetas a chamava.

'Ah Tomoyo! Estava tão gostoso...' Dizia olhando para sua aia e suplicando que ficasse mais tempo ali.

'Eu sei que adora esse lugar, mas temos que voltar para o palácio.' Dizia um pouco afoita. 'Vamos, por favor, senhorita!'

As duas foram em direção ao castelo com passos largos, já que Tomoyo a obrigara.

Antes de partirem para a reunião com o grande rei Sakura, foi se preparar em seu quarto. Tinha que estar sempre apresentável e nesse momento usava um traje não muito adequado para a ocasião.

Entraram no lugar. Era grande e espaçoso, havia cerâmicas japonesas e arranjos de florais adornando o belo e feminino quarto. Em um lado do quarto dava para ver umas cortinas que emolduravam uma passagem para um jardim. Era chamado de o Jardim da Princesa. Deitado no chão em cima de uma grande almofada, um leão.

'Kero! Que bonito você está assim'

Ele rugiu pra ela. O animal era de estimação desde criança e ela sempre o mantinha solto no jardim.

'Já sei que está com fome! Sua comida já vem, meu querido Kero!'

Ela aproximou-se dele se agachando e ele por sua vez lambeu-lhe as mãos da garota.

Ela deu uma leve gargalhada e disse para ele parar com aquilo. Parecia que o animal conseguia entender o que ela dizia. Imediatamente parou e se acalmou.

Tomoyo chegou com um quimono de seda branco e flores vermelhas. Era preso à cintura por uma faixa larga vermelha.

Ela começou a se aprontar e com o auxílio da aia arrumou o comprido cabelo num coque preso com enfeites típicos e dois sticks finos de madeira.

'Pronto, agora parece uma princesa!'

As duas se retiraram do aposento deixando Kero no jardim. Tomoyo andava sempre atrás de Sakura que ia à frente com a cabeça baixa. "O que será que papai quer comigo? Ele nunca me chama para reuniões ou nada do tipo!"

Chegaram em um grande salão reservado para reuniões exclusivas com os membros da realeza. Era muito bem adornado e decorado. Tinha vasos nos cantos do salão dando ao local graça e tranqüilidade. Havia lá um equilíbrio perfeito entre todos os objetos e coisas.

Um homem alto de meia idade, com cabelos da cor dos da menina que acabara de entrar, estava acompanhado de um outro, também alto, mas com cabelos pretos. A menina, assim que chegou, fez uma reverencia dizendo:

'Bom dia papai, bom dia Toya!' Após levantar o corpo, continuou 'O que queria comigo, papai?'

'Minha filha! Você sabe que nós estamos passando por situações muito difíceis com os chineses, não sabe?' Ele começou calmamente.

'Sim papai!' Ela disse um pouco triste, pois sabia o quanto aquele momento era difícil para seu país.

'Sabe que eles querem conquistar nosso território e que não temos como proteger nosso império contra um, tão grande como aquele, não sabe?' Disse pesadamente aquelas palavras e Sakura sabia o quanto doía para seu querido pai dizer isso. Ela apenas confirmou com a cabeça.

'Bem...' ele deu uma pausa e depois de um suspiro pesado disse: 'Meu bem, você sabe que eu a amo mais que tudo nesse mundo, não sabe? Sabe que por mim, você ficaria ao meu lado eternamente e nunca sairia e que...'

'Onde o senhor está querendo chegar, papai?' Ela disse, com ar preocupado, sem deixar que o homem terminasse de falar e sem entender o que o pai estava querendo dizer com aquilo tudo. Ela sabia o quanto o pai a amava, tivera várias demonstrações disso em toda a sua vida. Sua infância foi muito tranqüila, mesmo com a ausência materna, sabia dos esforços do pai para preencher a falta que a mãe fazia. Teve tudo do melhor. Os melhores professores, os melhores trajes, os melhores brinquedos. Ela era muito grata por tudo o que seu querido pai lhe proporcionara na sua infância e sua adolescência.

'Hoje, nós recebemos a visita do Ministro de Relações Exteriores do império chinês e ele propôs um acordo de paz entre nossos reinos!' Toya que até então estava calado falou pela primeira vez. A expressão facial de seu pai e seu irmão estava muita pesada.

'E qual foi esse acordo?' Sakura perguntou. Alguma coisa dentro dela estava dizendo que aquela resposta mudaria radicalmente sua vida e ela estava com muito medo do que escutaria naquela hora.

'O Imperador da China propôs unir nossos reinos, querida!'

'E qual foi à proposta?' Perguntava, um tanto apreensiva. 'E por favor, papai, sem rodeios!'

'Bem...' Ele abaixou os olhos dando uma longa pausa na explanação. 'Quando propôs a união quis dizer que propôs que você se casasse com seu filho...'

'O quê?!!!'

Ela estava atordoada com o que ouvira. Como seu pai concordou com uma barbaridade daquelas? "Isso é uma injúria"Pensava. "Como eles querem me obrigar a casar com uma pessoa que nem conheço? Como isso pode estar acontecendo comigo? Não posso permitir isso!" Seus pensamentos estavam a mil, não sabia direito o que falar, só tinha vontade de sair correndo e fingir que não tinha acontecido nada.

'Antes que você fale qualquer coisa quero dizer que essa é uma escolha inteiramente sua. Se você realmente não quiser se casar, vamos entender.' Fugitaka disse tentando acalmar as expressões da jovem a sua frente.

Sakura estava transtornada de mais, não conseguia formular direito uma resposta. Estava furiosa e irritada com aquilo tudo. Porque justamente ela que acreditava em casamento por amor teria o triste fim de se casar por conveniência?

Sem conseguir responder por seus atos, ela se virou e cruzou o salão correndo em direção à porta de saída. Ela precisava pensar com clareza, colocar as idéias em ordem. Primeiro teria que analisar o que tinha em jogo. Não podia também arriscar seu país, ela amava aquele lugar. Teria que encontrar uma outra solução.

Sakura correu direto para seu quarto, lá ela se jogou na cama sem agüentar, as lágrimas desceram-lhe o rosto. Ela sabia qual era a situação de seu país, sabia que se não aceitasse se casar com esse tal filho do Imperador, seu país sofreria as conseqüências e seria muito pior: se não se casasse com o tal homem o imperador tomaria como um insulto e os atacaria sem piedade.

'Deus... Me ajude!' Ela implorava por uma solução ainda com os olhos cheios de lágrimas.

Assim que Sakura saiu correndo porta a fora, o Rei sentiu um enorme remorso por ter dito ao Ministro que iria pensar no assunto. Isso era humilhante demais, era como se estivesse vendendo a única filha para o império chinês.

Resolveu que iria comunicar ao ministro que infelizmente teriam de encontrar uma outra maneira de fazer um tratado de paz. Iria ter como Ministro durante a noite, até lá tentaria encontrar uma solução eficaz para seus problemas.

Pediu para Toya, o futuro herdeiro do trono, que convocasse uma reunião com seus ministros e generais de guerra. Certamente, não aceitando o casamento haveria uma guerra entre os dois países.

Toya fez exatamente isso porque afinal não gostaria de ver sua irmã casada com uma pessoa que nunca vira antes. Ele sabia dos ideais de amor dela. Ela vivia contando pra ele seus devaneios românticos e ele se divertia muito com aquilo. Por vezes zombava disto, mas sempre respeitou sua família.

A reunião estava marcada para as duas da tarde. Como sempre todos compareceram pontualmente à reunião, que desta vez seria num salão mais amplo. O imperador ficava sentado em uma espécie de altar e os ministros sentavam-se logo abaixo dele. Estavam presentes, ao todo, quatro ministros bem velhos, três um pouco mais jovens e o chefe do exército japonês, um jovem samurai belo e poderoso.

Ele que era o braço direito do imperado e melhor amigo de Toya, sempre tinha idéias iluminadas e era fiel, ao extremo, a seu senhor. Era um homem bem alto, com 1,85m de altura, cabelos prateados, compridos, presos num rabo de cavalo, já que samurais sempre tinham cabelos compridos. Seus olhos eram frios, mas muito calmos. Usava um quimono branco com flores coloridas na parte de baixo e tinha na cintura duas espadas presas.

'Como sabem...' O imperador começou a narrativa. '...nosso país está sendo ameaçado pelo império chinês. Hoje recebemos a ilustre visita do Ministro de das Relações Exteriores que propôs uma aliança de paz unindo os dos reinos com o casamento da minha estimada filha Sakura e o futuro imperador chinês, seu filho e herdeiro.'

'Ohhhhh!' Ouviu-se um murmúrio geral.

'No entanto todos sabem que minha filha é uma flor delicada e pura que tanto amo. Ao comentar sobre esse assunto com ela hoje pela manha percebi seu horror. Eu não posso sacrificar a princesa e minha única filha desta maneira. Convoquei essa reunião para que pensássemos em outra solução, outro tratado de paz, outra espécie de união.'

Todos estavam em silêncio pensando em como resolver aquele dilema. Em como tirar a princesa japonesa daquela situação.

O samurai estava com o olhar muito diferente do anterior. Ele estava furioso pelo que ouvira. Como? Sua doce Sakura que ele viu nascer e crescer, e que se tornara uma belíssima mulher não podia ser de um homem que nem a conhecia. Ele a amava de verdade, mas sabia que ela nunca poderia ser dele, um simples general. Acostumou-se a pensar que ela se casaria por amor e sabendo disso sentiu um aperto no coração.

'Mas senhor, analisando bem os fatos...' um dos ministros dizia '... se não aceitarmos essa união, teremos de nos preparar para uma eminente guerra!'

'Eu posso já de antemão dizer que se for pelo bem da nossa princesa, poderei pessoalmente convocar uma reunião com os líderes do nosso exército.' O refinado samurai disse.

'Yue, meu caro, acho que essa é nossa única alternativa!' O imperador disse tristemente.

'Se for assim, que seja!'

Nesse momento, a porta foi aberta brutalmente e todos se viraram para ver quem era que estava entrando de maneira tão apressada.

'Eu me caso com o tal homem!' Ela disse com os olhos duros perante todos que estavam na reunião.

Yue gelou-se.

'Mas, minha filha?'

'Eu já me resolvi. Pensei até agora e não consigo ver melhor solução para o nosso problema. Sendo assim, aceito me casar para salvar minha pátria!'

'Ohhhhhhhhh!' Um espanto geral.

'Com licença, os deixarei agora. Preciso descansar.' Virou-se e fechou a porta com cautela e com os olhos lacrimejantes.

Yue sentiu um aperto no peito. Se esse príncipe chinês a fizesse sofrer ele iria se ver com ele, iria o perseguir até os confins do universo. Isso era um juramento e samurais nunca quebravam seus juramentos.

Sakura, assim que saiu da sala, correu para seu quarto e aos prantos abraçou a amiga que estava lá cuidando de suas roupas.

'O que foi, princesa?' A moça perguntava sem entender.

'Ah, Tomoyo.....'

Soluçando, Sakura despejou toda sua tristeza no ombro da amiga que a acariciava tentando acalma-la.

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