Já eram aproximadamente 01h30minh da manhã, mas o menino não conseguia dormir. Não que ele não quisesse, mas estava com tanto medo que, toda vez que fechava os olhos, imagens horríveis de monstros lhe vinham à mente, fazendo-o gemer baixinho. E, para ser sincero, não ajudava em nada que estivesse ocorrendo uma tempestade lá fora. O barulho da chuva e do vento assoviando tornava o cenário três vezes mais assustador em sua cabecinha.
Isso tudo era culpa do Inglaterra. Quero dizer, que tipo de adulto em sã consciência conta uma história de terror para uma criança dormir? Era uma imprudência que beirava à idiotice, coisa que absolutamente ninguém esperava da nobre representação humana do Grande Império Britânico.
Por falar em Inglaterra, será que ele estava acordado? Ele poderia ir ao quarto dele, não poderia? Com certeza os pesadelos não o seguiriam se ele estivesse junto de Arthur. Mas por outro lado, queria mostrar que já era um menino crescido. Que era corajoso o suficiente para ficar em seu quarto sem perturbar seu tutor durante uma noite particularmente medonha. Afinal, Alfred era um herói, não era?
CABRUM! (Onomatopéia tosca de um trovão, ignorem.)
Toda a sua determinação em ficar sozinho foi quase que literalmente por água abaixo depois dessa. Tremendo como um filhotinho, ele desceu da cama alta demais para sua baixa estatura, correu até a porta, levantando-se na ponta dos pequenos pés para alcançar a maçaneta e disparou para fora, andando pelo corredor e tentando não pensar no quão assustador aquele lugar em particular ficava no escuro.
Parou de frente para a conhecida porta e deu três batidinhas, esperando permissão para entrar. Mas... E se Arthur estivesse dormindo? Ele teria que ficar sozinho em seu quarto, morrendo de medo, até que fosse claro o suficiente para ter alguém acordado na casa para lhe fazer companhia. E essa não era uma perspectiva muito boa.
As lágrimas já se acumulavam nos olhos azuis quando ouviu a porta ser destrancada, deixando aparecer um homem relativamente alto- pelo menos na concepção de um aterrorizado ChibiAmérica - , de cabelos loiros bagunçados e olhos verdes sonolentos.
-Alfred? – para Arthur Kirkland, a visão de sua colônia, parado de frente para sua porta, durante a noite, todo encolhido e com os olhos chorosos, poderia ser resumida em uma única palavra: fofo.
-Arthur. - gemeu o mais novo, levantando os bracinhos num pedido mudo de colo.
O inglês o olhou com doçura e pegou-o nos braços, aninhando-o gentilmente. O pequeno enterrou o rostinho entre o ombro e o pescoço do loiro mais alto, enquanto suas mãos seguravam com força o pijama alheio.
-Está com medo da tempestade?- perguntou à criança com uma voz macia. O menino apenas aquiesceu em concordância, se distraindo com o cheiro bom de hortelã e chá de camomila que desprendia da pele do outro.
O homem fechou a porta e voltou para a cama, deixando Alfred deitado e se recostando também logo em seguida. Aninhou-o no peito e ficou mexendo nos cabelos macios. Alfred já parecia mais calmo, mas o escuro ainda o assustava, então pediu, com a voz embolada:
-Arthur? Pode deixar a luz acesa?
Inglaterra nada disse, apenas levantou e ascendeu a vela, deixando-a na mesinha de cabeceira e voltando a acomodar-se na cama. Poucos minutos depois, a colônia já estava dormindo e Arthur observava o rosto do pequeno, reparando principalmente nas sombras que os cílios projetavam nas bochechas rosadas de Alfred. Arthur sabia que momentos como aquele eram seu mais precioso tesouro e, sinceramente, desejou que Alfred nunca crescesse.
