Ele poderia sentir o frio vento que anunciava o nascer do sol, se tudo não estivesse tão confuso em sua mente. Os passos que eu dava simplesmente seguiam o caminho de sempre, mas dessa vez ele não notava absolutamente nada. Havia apenas os tons róseos do alvorecer, tingindo o gélido azul cinzento do mar. As ondas pareciam cantar naquela manha.

Um ano antes...

A noite ia alta e ele permanecia acordado como sempre. Tamborilava os dedos na escrivaninha e tentava escrever alguma coisa decente, mesmo sabendo que era impossível. Três longos anos longe de qualquer coisa que lhe desse uma referencia de casa, se é que algum dia ele teve.

Por sorte seu relatório poderia esperar alguns dias, já que ele não tinha a menor vontade de continuar com aquilo. Poderia chamar de gota d'água, mas naquele momento se sentir sozinho era algo de que não precisava.

Pegou suas coisas e saiu. Fazia uns quinze graus lá fora, o vento incomodava, mas ele precisava de um trago naquele momento. O estomago estava vazio, teria de passar em algum lugar para resolver isso, não estava disposto a perder a sobriedade nos primeiros goles.

Entrou no mercado. Caminhava meio distraído entre as prateleiras e mantinha a mente o mais vazia possível. Acabou esbarrando em alguém, mas não olhou. Ouviu o barulho suave de um envelope caindo. Abaixou-se para pegá-lo. O remetente era uma mulher, mas não havia destinatário. O nome era Magnólia Willburn, achou o nome bonito.

Tinha certeza de que o envelope pertencia a quem havia esbarrado nele. Foi até o gerente e pediu para q anunciassem que ele havia encontrado o envelope. Não demorou muito e ela entrou na saleta. Ruiva, mediana, olhos castanhos, algumas sardas no rosto, tinha a sensação de que já a conhecia. Ela agradeceu e pegou o envelope, logo em seguida deu as costas em direção à saída.

Aquela visão o deixou perturbado por algum motivo. Deixou o lugar às pressas, na esperança de encontra-la antes que deixasse o mercado. Ela já estava do lado de fora quando ele finalmente a alcançou.

Você é Magnólia Willburn?- ele perguntou segurando o braço dela.

De certa forma... Sim.- ela o olhou surpresa.

É um belo nome...- ele ficou um tanto sem jeito.

Não é meu nome, infelizmente.- ela sorriu de leve ao ver o desentendimento no rosto dele.- É um pseudônimo, para um livro que estou escrevendo. Meu nome é Ginevra Weasley. É um prazer conhece-lo.- aquele nome! Depois de tantos anos, era ela...

Daniel Malcom.- ele se apresentou tentando não mostrar a surpresa e a satisfação que sentia ao reencontra-la.- Você disse que escreve livros?

Sim...- ela falou um pouco constrangida.

A noite está um pouco fria. Gostaria de me acompanhar numa bebida?- ele não estava disposto a perde-la de vista novamente.

Seria uma boa idéia.- ela simplesmente sorriu diante daquele estranho. Caminharam até um pub próximo dali.

Entraram no estabelecimento e procuraram uma mesa próxima à lareira, num canto mais quieto do bar. Ele puxou a cadeira e ofereceu a ela. Ela se sentou e eles permaneceram de frente um pro outro em silencio por alguns minutos.

Desculpe, acho que devo estar sendo muito inconveniente, não é?- ele perguntou sem jeito, de fato não esperava encontra-la daquela maneira, não sabia nem mesmo o que falar.

De maneira alguma.- ela sorriu gentilmente – Por que eu pensaria isso?- ele sorriu aliviado. Ao menos ela não havia perdido a capacidade de fazê-lo se sentir à vontade.

Já sabemos o nome um do outro, por que não fala um pouco sobre você?- ele pediu com todo cavalheirismo que se lembrava de ter. - O que você gosta de fazer?

Nada de mais, ler, escrever, assistir a um bom filme. – ela falava com uma simplicidade que ele desconhecia, ela estava mais serena. - Mas a minha distração favorita é ver a lua.

Realmente, é sempre bom ver a lua...- ficou satisfeito, ela ainda se lembrava.

E você, do que gosta?- os grandes olhos castanhos estavam totalmente focados nele. Incrível como sentia falta daquilo. Depois de alguns segundos despertou do feitiço que aqueles olhos lhe lançavam

Do mar... Gosto de ver o sol nascer no mar. Sempre vejo quando estou saindo do trabalho. No mais, gosto de ouvir musica.

Você trabalha em que?

Trabalho com esportes.

Como?- ela perguntou com intuito de que ele fosse mais claro.

Uma empresa de artigos esportivos. - viu a satisfação nos olhos dela. - Você trabalha?

Não, só estudo.

Deixe-me adivinhar... Medica?- ela riu.

E você acertou a minha segunda opção.- ela sorriu – No momento eu sou uma escritora por tentativa. Faço escrita criativa.

Eu faço administração de empresas mágicas. Desculpe perguntar, mas quantos anos você tem?

Vinte e três. E você?

Vinte e cinco. Você é daqui?

Não, sou de Londres.

Então você mora perto do poder ...

Não me orgulho disso, detesto a politicagem que acontece por lá inevitavelmente.

Entendo. Mora com seus pais?

Não vejo meus pais a algum tempo. E com um pouco de sorte vou me mudar para uma cidade menor, algum lugar no campo. Acho que nunca ouviu falar de Godric Hollow, não é? - ele desanimou por um momento, ela ainda não havia esquecido aquela idéia maluca. Depois de tantos anos ela ainda pensava nele.

Não, nunca, mas torço por você.

Sabe, eu não venho à Bath faz uns sete anos, estou meio surpresa com a cidade.

Parece até brincadeira, mas eu cheguei há uma semana pra trabalhar aqui. - ele sorriu da maneira mais sincera possível, não se lembrava do quanto era bom ser ele mesmo.

Entreteram-se na conversa por duas horas e pareciam imperturbáveis. Em momento algum o assunto deu sinais de escassez e caso acontecesse ele seria capaz de ficar calado durante séculos, apenas contemplando-a. Tudo parecia o mais perfeito quadro surreal e aos poucos ele se afogava na mesma certeza que um dia o arruinara, mas desta vez ele tinha uma chance de fazer tudo dar certo, devia isso a ela e a ele mesmo.

Quando julgava sua noite perfeita, o destino pareceu querer brincar ainda mais com a euforia que ele sentia. Cada canto daquele pub foi preenchido com um som tão familiar quanto o rosto dela. Lembrou-se da promessa que fizera e agora estava ali para cumpri-la, ao som da canção deles. Dessa vez ele não iria embora.

Adoro essa musica...- ela comentou como se não esperasse que ele ouvisse.

É uma estranha coincidência. Também é a minha favorita.- ele sorriu – Posso te fazer um pedido?

Pode...

Eu sei que faz pouco tempo, mas... Eu sinto que você já faz parte da minha vida, de maneira irremediável. Por favor, prometa que nunca irá sair dela.

Eu...prometo...

Na praia, no mesmo ano...

Você tinha razão, Danny. É lindo.- ela se aconchegou mais nos braços dele. Ele a apertou com força.

Lindo e só nosso, pra sempre...- o sol nascia preguiçoso, colorindo um céu apaixonado para eles.

--------*--------

COMO VOCE PODE?- ela gritava enquanto as lagrimas corriam pelo rosto claro - Com que direito você se aproveitou dessa situação?!

Ginny, calma...- ele tentava inutilmente conter a histeria dela. Ele tentava manter a própria cabeça em ordem enquanto passava as mãos seguidas vezes pelos cabelos.- Vamos conversar...

CONVERSAR? Você é um crápula! Como você pode se aproveitar disso?- ela se encolhia no canto do sofá, como uma criança perdida.

Ginny... deixa eu explicar..- ele se aproximou cautelosamente dela, o que a fez se encolher mais ainda.

Eu não tinha memória e você FINGIU SER OUTRA PESSOA! Daniel Malcom! BELO NOME PRA ESCONDER TANTOS CRIMES, DRACO MALFOY! Fique com seus pecados e suas mentiras, eu não vou ficar nem um minuto a mais aqui.- ela pegou sua sacola e rumou em direção a porta.

Ginny, espere... Não faça isso!

Eu quis esquecer você, Draco. Só que esse seu egoísmo não consegue entender isso. Eu sacrifiquei a minha memória pra não ter de conviver com a lembrança de cada sofrimento que você me fez passar.

Gina! NÃO!- ela fechou a porta de uma vez.

Ele havia implorado, mas, da mesma maneira que havia feito no passado, ela também quebrou a promessa. Ela havia ido e dessa vez estava determinada a nunca mais botar os olhos nele. Ginevra tinha razão, ele fora egoísta. Foi uma escolha dela, esquecer de tudo o que ele havia feito, mas ele sentia que ainda existia dentro dela uma parcela ínfima daquele sentimento irracional.

Não havia mais sentido no nascer do sol, já que era dela que provinha a beleza daquele momento. Ela saiu batendo a porta, mas com uma força tão grande que acabou não conseguindo o resultado desejado. A porta continuou aberta e ele foi atrás dela, perseguindo um sonho vermelho, um passado obscuro, um futuro cinzento numa noite fria.