N/a: Essa história se passa no sexto ano. Não a tenho toda em minha cabeça, mas me esforçarei para entregar os capítulos o mais rápido possível. Não acho que contenha nenhum spoiler. Espero que se divirtam tanto quanto eu. Ah, cuidado, talvez surja algo bizarro por aqui.


Perseguido

– Harry! – sussurrou Hermione em tom de repreensão.

O rapaz deu um pequeno salto na cadeira, os olhos bem abertos.

Eles estavam na aula de História da Magia. O garoto havia se distraído no meio da explicação do Prof. Binns sobre uma revolta de duendes no século XIV e quase cochilara, por isso sua amiga o olhava desgostosa. Não podia culpá-lo, no entanto, já que ela também dava sinais de cansaço. Era a última aula do dia, aquela em que todos aguardam ansiosos pelo término. O jantar ocupava, no momento, boa parte dos pensamentos de Harry, que mal podia controlar a saliva ao imaginar o frango com purê de batatas que os elfos deveriam ter preparado. Seu estômago já dava voltas quando a aula finalmente acabou. Ouviram-se suspiros em uníssono. O professor não parecia se importar, no entanto. Aparentava estar igualmente exausto.

– Acho que Rebecca logo ficará com torcicolo – disse Rony zombeteiro olhando uma garota cruzar a porta com duas colegas da Corvinal.

– O quê? – questionou Harry confuso ao colocar a mochila nas costas.

Hermione, que tinha acabado de guardar as anotações na bolsa, parou do lado dos amigos.

– Ela esteve olhando para você o dia inteiro – informou a garota enfastiada.

– E não é de hoje – cantarolou o ruivo. – Ela está rondando há semanas.

Harry estava particularmente cansado neste dia. O garoto dormira tarde trabalhando num pergaminho de transfiguração que deveria entregar logo cedo a Profª McGonagall, caso contrário levaria uma detenção para o fim de semana. Era verdade que havia reparado no súbito interesse da corvinal por ele, mas não dera demasiada importância. Não que Rebecca Stevenson fosse feia ou algo do gênero. Na verdade, a garota era bem bonita. Tinha olhos cinzentos e longos cabelos negros, os quais contrastavam com sua alva pele; estava no sexto ano também e era monitora. Esse era o resumo que tinha sobre ela, não a conhecia realmente, apesar da moça ser tema recorrente das conversas dos garotos de Hogwarts. Além do mais, foram somente alguns olhares furtivos. Talvez não significassem nada.

– Você está exagerando... – começou Harry.

Rony, no entanto, parecia extremamente empolgado com a ideia do melhor amigo namorando Rebecca. Estava incrédulo ante o aparente desinteresse de Harry.

– Como você pôde não notar? – inquiriu assombrado. – Até Neville percebeu!

– Eu… notei. Só que não é nada demais – justificou o garoto se dirigindo a porta.

– O quê?!

– É só uma garota, Ronald – replicou Hermione, que parecia tão cansada quanto Harry da insistência no assunto.

– Claro que não! É uma das mais bonitas de toda Hogwarts. Como grifinório, amigo, você não pode ignorar isso.

– Francamente, Rony, deixe isso para lá. Vamos, o jantar não vai esperar por nós – disse a garota, encerrando o assunto.

Muito a contra gosto, o Weasley seguiu os amigos pelos corredores do castelo até o Salão Principal. O assunto certamente não seria esquecido. O amigo provavelmente adiara a conversa com Harry para quando estivessem longe de Hermione, assim seria mais fácil "clarear" a mente do moreno.

Quando o trio entrou, as quatro mesas já estavam praticamente cheias; era difícil achar onde se sentar. De longe, Harry viu Gina acenando para eles indicando lugares vagos ao seu lado. Assim que se sentaram, Simas foi para o lado de Rony.

– E aí, Harry? Como vão as coisas? – Perguntou Simas atipicamente interessado. – Alguma novidade?

Rony sorria de modo conspirador, como se Harry soubesse do que estavam falando. Só que o menino-que-sobreviveu estava demasiado lento naquele dia, devido ao cansaço. Ainda levara um sermão da melhor amiga sobre organização. Não a escutou quando ela dissera para aprontar o pergaminho no dia em que a tarefa fora passada.

– Rebecca! – acudiu Rony quando percebeu que o amigo não entendera. – Acorda, Harry. As garotas esperam que nós tomemos a iniciativa.

– Ah, isso outra vez… – enfastiou-se Harry.

– O quê?! – vociferou Simas incrédulo. Os rapazes o olharam em reprovação. – Desculpe, mas é isso? Você nem liga? Ela é… Rebecca! – sussurrou exasperado.

– Ela não está-… – começou Harry.

– Claro que está! Não pode ser tão tapado – atalhou Rony.

Neville, que estivera quieto olhando a conversa, virou-se para o apanhador e acenou a cabeça, em afirmativa.

– Está sim.

Harry o encarou com um olhar inquisidor.

– Os elfos sabem de tudo – replicou corando.

– Viu?! – inquiriu Rony.

Harry mirou a sua frente, onde ficava a mesa da Corvinal. Não demorou muito para que encontrasse quem procurava, simplesmente porque a pessoa estava olhando para ele. O rapaz corou e desviou o olhar rapidamente. Eles pareciam ter razão, entretanto nada parecia mudar. Seu interesse no tópico não aumentara. Será que havia algo de errado, pensou. Qual era o problema dele? Era uma garota bonita e inteligente interessada, por que diabos não reagia a isso?

Gina deve ter dito algo engraçado, pois, Hermione, que estivera quieta durante todo jantar, subitamente começou a rir. Harry saiu do seu pequeno transe para escutar a risada dela e, inconscientemente, sorriu. Ela o olhou divertida e, rubra por ter sido pega de surpresa, voltou a postura comum, retomando sua conversa com a Weasley.

– Finalmente! – comemorou Simas. – Você percebeu!

– Agora é tudo uma questão de planejamento… – continuou Rony.

O apanhador grifinório passou o resto do jantar fingindo ouvir os conselhos dos amigos sobre estratégias. Era informação demais para a cabeça sonolenta do rapaz processar. Pensaria sobre o assunto mais tarde, sozinho. No momento, seu único interesse era que a refeição se findasse para que pudesse se deitar tão logo fosse possível.

A visão de sua melhor amiga se levantando da mesa tirou Harry do seu induzido estado letárgico. Precisava sair dali. Iria com ela. Ao ter a ideia, porém, o rapaz viu de esguelha que Logan, um "amigo" da monitora, também vira Hermione se erguer e ia ao encontro dela. Iria roubá-la. A garota, providencialmente, não tinha notado movimento algum em torno de si. Harry, então, agilmente, saiu do banco, antes que o outro rapaz chegasse perto.

– Você vai para a torre, não é? Vamos – informou a uma surpresa Hermione, arrastando-a consigo. – Boa noite, pessoal – disse andando, deixando Rony falando sozinho.

Assim que os dois saíram do Salão Principal, Harry suspirou em contentamento.

– Nossa, acho que vou ser enfeitiçada – ironizou a garota.

– O quê? – indagou o rapaz confuso.

– Stevenson não parecia nada radiante quando nos viu sair. Acho que me amaldiçoaria se pudesse. Não – disse fingindo considerar –, tenho certeza.

– Ela que experimente – ameaçou Harry.

A garota sorriu.

– Você vai ter que pensar diferente na hora de usar as estratégias – disse.

Harry foi quem riu dessa vez, deixando-a confusa. Então ela estivera prestando atenção à conversa toda, pensou.

– Acha mesmo que vou usar as estratégias de Rony? Mesmo que eu estivesse interessado, usaria meus próprios métodos. Até porque, não acho que ela se atrairia por cantadas como aquelas.

– Então não está interessado? – inquiriu a grifinória surpresa.

– Não acho.

– Não acha? Como assim?

– Ora…

Harry não sabia como explicar. A verdade era que não sabia exatamente o que se sente quando se está interessado em alguém. Não achava que sua breve experiência de ter gostado de Cho servisse como base. Claro, Rebecca já atraía por sua beleza, mesmo sem qualquer aproximação. Só que o garoto não sentia vontade de conhecê-la, de chegar perto dela. Nem sentia o nervosismo que tinha antes ao chegar perto da antiga namorada. Não sentia nada.

Hermione estancou de súbito e virou o amigo para si, forçando-o a parar também. O rapaz se assustara com a atitude inesperada da amiga. Seu coração pulsava em seus ouvidos. A garota estava de frente para ele, encarando suas íris profundamente. Não havia outra escolha a não ser fitá-la de volta, sua respiração se fazendo mais curta ante a intensidade do olhar da monitora. Concentrada, ela tentava decifrá-lo, como já havia feito diversas vezes. Para a ruína de Harry, ela sempre conseguia.

– Ronald vai querer matar você por acabar com o conto de fadas dele – sussurrou num meio sorriso.

O ruivo vinha às pressas ao encontro dos amigos no corredor. Harry, cuja taxa de adrenalina não parecia querer decrescer, ainda se encontrava na mesma posição em que sua amiga lhe deixara, rente à parede.

– Amigo, você é bom – disse sorrindo.

– O quê? – perguntou Harry se recuperando.

– Você praticamente arrastou Hermione para fora do salão! Rebecca parecia a ponto de amaldiçoar Mione.

Hermione mordia os lábios segurando o riso ante a face sonhadora de Rony. Ele estava radiante frente às possibilidades do casal que, em sua mente, se formava.

– Não vim com Hermione para fazer ciúmes em ninguém. Apenas... Estou cansado e ela estava indo para o salão comunal... Somos amigos, se lembra?

– Não precisa mentir para Rony – o moreno a encarou incrédulo. – A verdade é que Rebecca não é o tipo da garota que se conquista fácil, então, nós pensamos que, já que metade de Hogwarts baba por ela, se Harry fosse tão direto...

– Ela o trataria como um qualquer! – completou o ruivo.

Harry estava indignado, mas, ao ver que Rony parava de interrogá-lo, agradeceu a amiga com o olhar.

– Exatamente. Você vê? Agora ela ficará mais interessada ainda – disse a garota, fingindo estar empolgada com tal plano.

Enquanto a amiga distraia Rony com o falso futuro casal, Harry tinha agora liberdade para se abster daquela realidade. A conversação dos amigos só exigia alguns acenos vez ou outra. Além do mais, o dormitório estava demasiado perto para que tivesse que aturar aquele tema por muito mais. Hermione é brilhante, pensou. Precisaria compensá-la depois, de algum modo.

Assim que cruzaram o retrato da Mulher Gorda, o menino-que-sobreviveu se desvencilhou dos amigos e foi em direção a sua cama. Graças à monitora, não foi difícil esgueirar-se das cobranças do Weasley. Tomar um banho quente e se deitar era tudo que precisava. No dia seguinte estaria pronto para acabar com as fantasias do melhor amigo. Aquele possível relacionamento não fazia muito sentido na cabeça confusa de Harry. Seria complicar sua vida ainda mais, o que Voldemort e seus seguidores já faziam demasiado bem sozinhos.

O garoto foi em direção aos chuveiros. Após se despir, relaxou ao sentir um jato de água quente em sua nuca. Não havia nada melhor numa noite fria como aquela. Ele se permitiu não pensar enquanto se esquentava, e somente resguardava a aprazível sensação do cálido do líquido em si. Depois de alguns minutos, o rapaz se enxugou e foi, a passos lentos, se vestir. A cama e os cobertores o aguardavam, perspectiva essa que faziam os olhos do grifinório brilhar. Pronto para se enfiar embaixo de seus lençóis, ele se surpreendeu imensamente ao ver que suas intenções anteriores teriam de ser postergadas por causa de uma caixa de tamanho mediano vermelho berrante sobre seu travesseiro.

Ela não estava acompanhada de bilhete algum e, por um segundo, o rapaz sentiu medo. Aquele pacote poderia ter origens sombrias. E se fosse de algum comensal? Será que teriam conseguido ultrapassar a segurança da escola? Teriam eles conseguido enganar o próprio Dumbledore? O garoto pensou seriamente em correr até o salão comunal e chamar Hermione e Rony. Eles o ajudariam a saber se aquela caixa tinha sido enviada por forças das trevas. Mas, talvez, aquilo tudo fosse um surto da parte de Harry. Talvez não houvesse ameaça alguma e ele estivesse ficando paranoico. No fim, estava em Hogwarts, em casa, no lugar mais seguro do mundo. Não. Não havia forma de nenhum seguidor de Voldemort ter se infiltrado ali. Desde o quarto ano, a segurança fora reforçada. O diretor saberia se houvesse qualquer ameaça. Tudo estava seguro; ele estava seguro. Não devia ser nada demais.

Decidiu, afinal, saber do que se tratava aquela encomenda. Analisou rapidamente a caixa procurando por qualquer indício suspeito. Havia um perfume suave, o qual o lembrava do campo. Não havia remetente. O único que estava escrito externamente era Harry. Só. Então restava apenas uma saída à curiosidade dele: abrir o pacote. Impaciente, o garoto retirou a tampa para se deparar com uma dúzia de quadradinhos marrons. Eram chocolates, mas não só isso. O aroma que sentira anteriormente parecia estar extremamente forte nesse momento. Era bom, inebriante, em verdade.

Pela primeira vez desde que abrira as cortinas de sua cama, Harry pensou que aquilo tivesse sido enviado por uma garota. Não parecia uma hipótese absurda, muito pelo contrário. E os indícios apontavam para alguém especificamente. O menino-que-sobreviveu sentiu suas bochechas esquentarem suavemente. Seria aquilo obra de Rebecca? O garoto tentava pensar nas possibilidades, mas isso se tornava tarefa cada vez mais complexa. Aquele cheiro o estava envolvendo, impedindo-o de raciocinar. Ele tinha de provar os doces. Só um não faria mal… Afinal de contas, se fora um presente (o que parecia ser), nem ao menos provar seria falta de consideração, informava a mente avoada do rapaz. Sim, ele comeria um chocolate, e aí pensaria nos possíveis remetentes disso. Apenas um.

Assim que provou um pedaço do doce, parar se tornou utopia. A verdade era que cada pedaço despertava uma sensação completamente nova no rapaz, todas viciantes. Elas traziam cheiros e gostos diferentes. Ele sentia o aroma de canela e tinta fresca. Havia também um perfume que não conseguia definir do que era, e podia jurar que o dormitório exalava a pergaminho. A essa altura, o sono de Harry se extinguira por completo, uma ansiedade atípica o tomando. Algo alarmava em sua mente. Ele tinha de agir, não podia esperar. Precisava ir.

Nesse momento, Rony irrompeu no cômodo.

– Nossa, o que é tudo isso? – inquiriu ao ver todos aqueles papéis de bombom caídos no chão do quarto. – Você estava comendo? E nem para guardar nada para mim! E eu achando que você já tinha dormido…

Harry, que estivera sentado no chão, se levantou subitamente e foi em direção ao amigo.

– Onde ela está?!

– Ela quem? – indagou o ruivo assustado.

A pergunta de Rony parecia deslocada. Imagens turvas se formavam na cabeça do moreno. Uma sequência de flashes aleatórios. Todos a tinham como protagonista. De repente, uma risada ecoava em sua mente. A mesma que escutara mais cedo. O som o fez tremer ligeiramente. Tinha de ir vê-la, pois ficar mais um segundo sem a garota por perto parecia sufocá-lo.

– Hermione, oras! Onde, Ronald?!

– Hermione? Ela estava no salão…

O apanhador não se deu o trabalho de esperar o fim da frase do Weasley, saiu em disparada para a escada do dormitório. Parecia estar tarde, visto que o salão comunal estava praticamente vazio. Mas ela certamente estava lá. A monitora sempre passava da hora. Os livros pareciam absorvê-la por completo, às vezes. Harry estivera tão ocupado em sua busca que não notou que Rony o acompanhava.

– O que está acontecendo?! – inquiriu ao pé da escada. – Por que esse desespero? É por causa de… de… você-sabe-quem?

Harry não escutava. Sua procura havia terminado. Seu olhar estava fixo no outro extremo do salão, numa poltrona especialmente isolada do resto. Hermione estava sentada com um grande volume em seu colo, escrevendo algo num pedaço de pergaminho. Parecia que a garota estava num universo próprio, tamanha era sua compenetração. Os cabelos presos, seus cachos caindo ligeiramente em seu rosto. Os níveis de adrenalina subiram na corrente sanguínea do bruxo, o qual sentia seu rosto corar.

– Mione! – exclamou o menino-que-sobreviveu.

– Hermione! – chamou Rony.

As pessoas agora miravam o trio, curiosas. A bruxa se alarmou ante a expressão dos amigos e se levantou.

– O que está acontecendo? – perguntou.

– Harry está estranho. Há algo errado…

– O que é?

Só que Harry não ouvia, nem respondia. O único que importava estava vindo em sua direção, logo, para não esperar ainda mais, o garoto foi ao encontro da monitora. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, de súbito, o rapaz enlaçou a pequena cintura, trazendo-a mais para perto. Ele pôde notar, antes de pressionar os lábios contra os dela, que a garota prendera a respiração.

As sensações que haviam se instalado no corpo do bruxo minutos antes estavam maximizadas, no auge. Ondas de calor perpassavam seu corpo numa velocidade impressionante. À medida que os gostos e aromas o absorviam, a intensidade do contato aumentava. A beira de um ataque cardíaco, uma Hermione boquiaberta e corada foi solta do agarre de Harry. O rapaz nunca havia lamentado o fato de precisar de oxigênio.


N/a: E aí?! O que diabos deu em Harry? Conto com as suposições de vocês! Até