CAPÍTULO I
Um Natal fora do comum
Hogwarts estava estranhamente vazia, mesmo para o feriado de Natal. Neste ano ficaram apenas cerca de dez alunos e eles, juntamente com os professores e funcionários, ceavam no Salão Principal. Bem, quase todos ao menos. As luzes da biblioteca ainda estavam acesas, por entre as prateleiras, podiam-se ouvir passos. E, sem dúvida, lá estava uma garota com os cabelos castanhos presos em uma trança, não era alta, mas sua postura demonstrava altivez e seus olhos escuros eram bondosos, mas escondiam pesar. Foi em direção à mesa coberta por papéis carregando dois grossos volumes que tinha retirado das prateleiras. Ficou ali estudando por cerca de uma hora até que, sem perceber, adormeceu sobre suas anotações. Algum tempo depois, acordou sobressaltada. Havia tido pesadelos novamente.
"Por Merlin! Tinha que pegar no sono...", disse ela ao retirar os óculos e esfregar os olhos.
"Deves adorar Runas Antigas se preferes ficar sozinha na biblioteca estudando a jantar..."
Ela se virou para a origem da voz e se deparou com o garoto que a observava com os olhos castanhos semi-cobertos pelos cabelos flamejantes. "Não que isto seja do teu interesse", respondeu ela juntando apressadamente suas coisas.
"Calma, não precisa correr. Não quer ajuda com esses livros?", disse ele se aproximando dela. Como ela não respondeu, ele continuou, "Não lembro de termos sido apresentados".
"Que seja...", ela pegou sua bolsa e se dirigiu à porta da biblioteca. Ou ao menos tentou, pois o garoto a segurava, "Poderias soltar meu braço, por gentileza?"
"Fiz algo de mais? Até onde eu sei só perguntei teu nome e isso não é um insulto, ou é?", perguntou seriamente.
"É só que eu não gosto de companhia".
"Mas tudo que eu peço é o seu nome. Por favor? Só pra poder associar um nome sempre que lembrar do teu rosto", ele sorriu, aquele sorriso que ela sempre via no rosto dos garotos quando estes resolviam flertar. Apesar disso, nunca tinha acontecido com ela, ela tinha um jeito todo especial de mantê-los afastados. Acabou enrubescendo. Esqueceu por um momento que estava saindo e ficou a contemplar o garoto. Ele era bem mais alto que ela e, por mais que ele tentasse tirar os cabelos do rosto, eles sempre voltavam a cair sobre seus olhos, as sardas cobriam levemente seu rosto e faziam com que seu sorriso parecesse ainda mais maroto.
"Dawn...", respondeu ela voltando à sua plena consciência, "E não precisa se dar ao trabalho de se apresentar. Já sei seu nome, Sr. Guilherme Weasley. Agora, se me der licença...", e seguiu até o corredor.
"E como tu sabes meu nome?", perguntou ele ao chegar ao corredor.
"Infelizmente, eu divido um quarto com outras três garotas e, aparentemente, alguma delas já namorou ou namora o senhor. Portanto, por mais que eu tente não ouvir todos os cochichos tolos delas, às vezes é impossível..."
"Sofia?", e como ela voltou a se afastar ele disse mais alto, "Mas esqueça o senhor, ok? Pode me chamar só de Gui".
Sem diminuir o passo ou ao menos olhar pra trás, ela deu de ombros e disse, "Que seja...", e continuou seu caminho até as masmorras. Ao chegar em seu quarto, depositou sua bolsa na sua mesa de cabeceira e se jogou na cama com um livro. Mas antes de começar a ler não pode deixar de pensar em Gui. Realmente Sofia não era assim tão boba, pelo menos não na escolha do namorado...
"Opa! Parece que alguém acordou bem disposto hoje!"
"Parece que sim, Carlinhos. E, pelo jeito, este alguém é o senhor", riu Gui enquanto os irmãos seguiam pelos corredores.
"Ora, ora, mas eu sempre acordo bem disposto! Inclusive pensava em te convidar pra uma partida de quadribol. Mas pelo teu jeito acho que já tens melhores planos pra hoje".
"Não tenho planos... Deve ser só porque é Natal", os dois continuaram caminhando em silêncio, até que continuou, "Já ouviste falar de uma garota chamada Dawn?"
"Não me subestime, meu caro. Por acaso existe alguma garota em Hogwarts de quem eu não saiba pelo menos o nome?", Gui riu e Carlinhos continuou, "Dawn Hadrian. Sonserina, sexto ano, salvo engano. Uma garota estranha... Nunca falou comigo. Acredito que ela conheça a Sofia, não?"
"Aparentemente, ela conhece a Sofia sim... E não é porque uma garota não fala contigo que ela é estranha".
"De certa forma é sim..."
"Bem, tu com tuas teorias malucas... Mas, de qualquer forma, apesar de sermos do mesmo ano, aparentemente, acreditas que eu só fui conhecer ela ontem?", disse ele enquanto entrava no Salão Principal para tomar o café da manhã com seu irmão e, avistando Dawn sentada isolada dos demais na mesa da Sonserina, completou, "Ela até que não é feia, né?"
"Deixe-me ver se entendi uma coisa direito", disse Carlinhos enquanto se sentavam, "Tu estás seriamente considerando a possibilidade de trocar a Sofia, linda como ela só, por aquela ali?"
"Eu não to falando em trocar ninguém: primeiro porque não estou mais namorando a Sofia, segundo porque tudo que eu quero com a Dawn é conhecer ela melhor".
"Ok... Se já desististe da gata o problema é só teu... Mas quero te dizer que o maior problema é tu quereres te aproximar dessa Dawn... Ela não parece ser bem aquilo que chamamos de 'sociável'".
Gui tomou seu café observando Dawn de vez em quando. Pode até ser que fosse difícil que ela deixasse alguém se aproximar, mas, por algum motivo que ele não sabia explicar, achava que o esforço valeria a pena. E, quem sabe, pode ser que essa idéia não fosse tão louca assim: ele podia jurar que a viu lançando o olhar em sua direção uma ou duas vezes.
"Posso me sentar aqui?", perguntou Gui ao se aproximar de Dawn na mesa da ceia de Natal. Havia sido posta apenas uma mesa no centro do Salão Principal, já que havia tão poucas pessoas presentes. Ela não respondeu, apenas deu de ombros, "Vou considerar isso um sim...", disse ele ao se sentar com Carlinhos ao seu lado, "Pelo menos não trocaste a ceia pela biblioteca hoje..."
"Eu estou com fome".
"Sim, sim, também estou com fome... A propósito, Feliz Natal".
"Agora que já estamos todos reunidos", começou Dumbledore assim que o último aluno se sentou à mesa, "podemos começar a nos deliciar com a ceia de Natal", e logo a mesa se cobriu com as mais diversas comidas e todos passaram a se servir.
"Sabe, meu irmão ficou doente e, ao que parece, é um tanto contagioso, por isso que minha mãe achou melhor que eu e Carlinhos passássemos o Natal aqui..."
"Que maravilha...", respondeu sem tirar os olhos do prato.
"Por que não foste passar o Natal com tua família?"
"Preferi não ir".
"E eles não ficaram tristes com isso?"
"Olha, Weasley", respondeu ela dirigindo seu olhar pela primeira vez para ele, que ficou um tanto vermelho ao ter os olhos dela diretamente nos dele, "eu sequer sei porque estás me dirigindo a palavra, mas mesmo assim vou te explicar algo: existem coisas que não servem para ser tema de conversa, minha família é um deles".
"Ok, perdão. Eu só pensei em conversar um pouco".
"Então pensou errado. Estou falando sério. As pessoas me ignoram e eu as ignoro de volta. É assim que as coisas são. Já estou acostumada".
Dawn não entendia porque, de repente, depois de seis anos em Hogwarts, alguém começou a querer conversar com ela. Ela não precisa da companhia de ninguém. Ela não quer a companhia de ninguém. Agora eram só ela e a mãe. Não queria mudar nada. Gostava das coisas do jeito que estavam. Mas então porque ela deixou que ele continuasse a puxar conversa com ela mais umas duas ou três vezes durante a ceia? Talvez fosse porque ele a olhava de um jeito diferente, de um jeito que ela nunca tinha sido olhada... Foi quando se deu conta disso que levantou e foi embora, sem nem ao menos uma palavra para Gui.
N/A: Espero que tenham gostado e que deixem um comentário (tendo gostado ou não) rs!
