If at some point we all succumb
For goodness sake let us be young
Because time gets harder to outrun
And I'm nobody, I'm not done
With a cool cool breeze and dirty knees
I rest on childhood memories
We all got old at breakneck speed
Slow it down, go easy on me
Go easy on me
O telefone vibrou no meio da madrugada anunciando uma mensagem. Ele tateou o criado mudo até alcançar o maldito celular para saber do que se tratava. Por alguns segundos tudo o que viu foi um grande borrão sobre a tela branca, até que seus olhos se adaptaram à luz e Jon conseguiu ler o texto.
Apenas o número do voo e o horário previsto para chegada. Olhou quem havia lhe mandado a mensagem e deu um salto da cama imediatamente. Arya nunca mandava mensagem, preferia ligar e ouvir a voz dele, ou apenas conversar online, enquanto mantinha a câmera ligada para dar uma boa conferida no estado em que ele estava desde que saiu de casa.
Garotas de dezessete anos não passam férias no Alaska, quando podem ir pra Hamptons. Garotas de dezessete anos não mandam mensagem de texto para o meio irmão só avisando apenas o número do voo e a hora que chegaria. Por algum motivo aquilo não parecia um bom sinal.
Ele estava no saguão de desembarque do aeroporto de Juneau às seis da manhã, segurando um copo de café quente. Não foi difícil avistá-la. Ela não havia mudado muito nos últimos anos, a não ser pelo cabelo curto que estava sempre bagunçado. Continuava o mesmo fiapo de gente que ele se lembrava, a única diferença é que ela parecia bem mais adulta.
Arya pegou uma única sacola da esteira e saiu da área de desembarque indo em direção a ele. Ela não estava sorridente como ele pensou que estaria ao revê-lo. Não sabia dizer a razão pela qual ela estava em Juneau, nem o motivo de viajar sozinha, mas Jon decidiu que estava satisfeito em vê-la mais uma vez. Foram pelo menos cinco anos sem vê-la e ele nunca conseguiu negar que sentia saudades.
Ela sorriu um sorriso enviesado antes de abraçá-lo. Ele quase se esqueceu do copo de café que tinha na mão e por muito pouco não se queimou com o conteúdo. Retribuiu a demonstração de afeto com apenas um braço e beijou a bochecha dela.
- Senti tanto sua falta. – ela disse junto ao ouvido dele e por algum motivo aquilo não parecia uma afirmação de alguém que estava feliz em rever um parente, mas sim de alguém que estava agarrada a sua última chance de salvação. Jon estava oficialmente preocupado.
Eles foram para o carro e Jon seguiu pelas ruas tranquilas da cidade, enquanto a música tocava no rádio e ele tentava não lançar olhares furtivos à ela. All Star velho, calça jeans desbotada, regata preta, camisa de flanela xadrez e um casaco por cima de tudo. Ela mantinha o mesmo estilo rebelde e um tanto masculino. Por alguma razão, ele nunca conseguiu imaginá-la usando roupas que a fizessem se parecer mais com uma mulher do que com um menino desleixado.
Quando chegaram ao apartamento, Jon jogou a sacola com as coisas dela sobre o sofá. Até então não havia criado coragem para perguntar o por que da visita inesperada e o tempo que ela pretendia permanecer em Juneau.
- Gostei do seu cabelo assim. – ele disse quebrando o silêncio, enquanto ela se jogava no sofá da sala de estar minúscula dele.
- Valeu. – ela respondeu de forma nada feminina – Está morando sozinho aqui?
- Já faz um mês. Não consegui ninguém pra dividir as despesas, mas pelo menos a privacidade compensa. Vizinhança tranquila também. – ela revirou os olhos.
- Como se esse fim de mundo fosse o paraíso das noitadas e crimes hediondos. – ela disse sarcástica.
- Como estão os outros? – Jon perguntou por fim, sentando-se ao lado dela. Ela ficou calada por alguns segundos – Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu e nem é como se eu não soubesse que cedo ou tarde a coisa toda fosse dar merda, mas está sendo pior do que eu pensava. – ela disse séria – Desde que o pai virou sócio do tal Robert Baratheon as coisas saíram do controle.
- O que está acontecendo por lá? Ninguém se importa muito em me mandar notícias. – ele disse puxando ela para um abraço desajeitado, como sempre fez.
- Primeiro teve o acidente do Bran. – ela começou.
- Isso já faz mais de um ano. – Jon disse imediatamente.
- Sim, mas ninguém superou isso ainda, principalmente a minha mãe. Rickon ficou impossível desde então, com a minha mãe no hospital o tempo todo e as viagens constantes do nosso pai. É claro que Robert é um cara legal. Meio fanfarrão e esquisito, mas não é dos piores de se conviver. Ele tem ajudado bastante no que pode, mas isso também quer dizer que eu tenho que olhar pra cara daquela Cersei e do filho nojento delas muito mais do que gostaria. – Arya se remexeu no colo dele – Eu odeio esses dois. Você não faz ideia do quanto.
- Pelo menos pode evitá-los. Não é como se fossem da família, ou coisa assim. – Jon disse enquanto bagunçava o cabelo dela.
- Jeoffrey pediu Sansa em casamento. Dá pra acreditar numa idiotice dessas? Ela nem terminou a faculdade ainda! – Arya disse revoltada – Agora eles vão ser da família e isso me enoja!
- Aconteceu alguma coisa pra justificar isso? – Jon perguntou. Arya virou o rosto para não encará-lo. Ela ficou em silêncio por um tempo até que Jon percebeu que ela estava chorando baixo – Arya! O que...Droga! Me diga o que aconteceu?
Ele nunca foi bom em lidar com garotas chorosas, com ela não era diferente. Talvez fosse até pior, porque Jon podia contar nos dedos de uma mão as vezes que viu a irmã chorando depois dos seis anos de idade.
- Por favor. – ele pediu – Me diz o que está acontecendo. – não conseguiu por um limite a sua imaginação a tempo. Logo todo tipo de pensamento medonho começou a lhe encher a cabeça.
- Dois meses atrás eu aceitei sair com Sansa, Jeoffrey e o irmão dele. Era pra ser uma bobagem. – ela disse tentando secar os olhos – Estava tudo bem até aquele imbecil decidir que precisava de uma bebida. Foram algumas doses de vodka cara e sabe-se lá o que mais. Tommen ficou furioso com o irmão, desceu do carro e ligou pra um taxi. Ele até disse que me deixaria em casa se quisesse, mas eu estava preocupada em deixar Sansa com o Jeoffrey. Voltamos pra dentro do carro e ele começou a se exibir, dizendo que estava bem e que Tommen era um medroso. Eu gritava e pedia pra ele ir mais devagar e o idiota só fazia correr mais até que subiu em cima de uma calça e passou por cima de um rapaz que estava voltando pra casa.
Ela fez uma pausa e Jon soube o que estava por vir, ainda que ela não tivesse continuado a história.
- Ele morreu? – Jon perguntou com a voz séria e grave, enquanto Arya apenas concordou com a cabeça.
- Acham que fui eu. – ela disse soluçando – Sansa mentiu no depoimento dado a polícia. Tommen não estava mais no carro pra confirmar a versão. Ela disse que eu estava dirigindo.
- O que o pai fez? Contratou um advogado, alguma coisa? – Jon perguntou exasperado. Ela negou com um aceno de cabeça.
- Robert Baratheon botou dois advogados trabalhando para comprovar a versão de Sansa. – ela disse soluçando – Meu pai ainda não tinha decidido o que ia fazer. Minha mãe acha que Sansa está falando a verdade! Eu não aguentava mais ficar lá. Robb está fora do país, eu só tinha você.
- Alguém mais sabe que está aqui? - ele perguntou enquanto a erguia para que o encarasse nos olhos.
- Não. – Arya respondeu enquanto tentava secar as lágrimas com a manga da camisa de flanela.
Put a wetsuit on, come on, come on
Grow your hair out long, come on, come
Put a t-shirt on
Do me wrong, do me wrong, do me wrong
Jon a abraçou forte contra o peito, sem saber o que dizer, ou fazer com ela. Arya se aninhou entre os braços dele, uma mania que ela tinha desde criança e que se repetia todas as vezes que ela estava em apuros, ou quando alguém a magoava. Jon não sabia dizer qual das situações ela estava vivendo naquele momento.
Não perguntou quanto tempo ela ia ficar. Arya acabou adormecendo no sofá da sala, já que não tinha conseguido pregar o olho durante a noite. Tudo o que ela tinha estava dentro da sacola que havia trazido. Um punhado de roupas quentes, sapatos e um pouco de dinheiro, que Jon supunha serem suas economias.
Enquanto ela dormia, ele pegou o celular e foi para o banheiro para que ela não o ouvisse caso acordasse. O telefone tocou duas vezes e Eddard Stark atendeu do outro lado da linha. Já fazia meses que eles não se falavam. A última vez Ned havia ligado apenas para dizer a ele que levasse um currículo até Jeor Mormont, seu atual empregador numa firma de contabilidade.
- Ela está comigo. – ele disse com a voz firme.
- Graças a Deus! – a voz de Ned Stark era de puro alívio – A que horas ela chegou?
- Seis da manhã. Cansada, perdida e sem saber a quem recorrer. – ele disse ao pai em tom de reprovação – O que diabos estão esperando pra ajudá-la?
- A situação é delicada, Jon. – Ned disse com voz cansada – Isso aqui está uma loucura a cada hora aprecem mais e mais provas e os advogados de Robert revertem tudo contra ela. Dadas às situações, foi melhor ela ter se ausentado. A vida dela ia ficar um caos aqui.
- Catelyn pelo menos acredita que ela é inocente agora? – Jon questionou com raiva.
- Não seja injusto com Cat, ela ainda está desorientada com Bran e com toda esta história. – Ned tentou apaziguar as coisas, mas não estava dando certo.
- Injustiça não é o meu forte, é o da senhora sua mulher. – Jon retrucou – O senhor sabe disso, só prefere fazer de conta que não vê. Enquanto for Sansa afirmando que foi Arya quem atropelou o rapaz, Cat Stark vai acreditar na filha que é igual a ela. – Ned ficou calado do outro lado da linha por um tempo.
- Ela pode ficar com você durante as férias? – Ned perguntou por fim.
- É claro que pode. Eu não vou negar isso a ela. – Jon respondeu mal humorado.
- Eu vou mandar algum dinheiro para as despesas dela e me avise se estiverem precisando de alguma coisa. Enquanto ela fica com você, ou vou tentar concertar essa bagunça. – a voz do pai parecia envelhecida em dez anos e Jon não sabia mais se sentia raiva ou pena – Obrigado por cuidar dela.
- Ela é minha irmã. É o mínimo que eu posso fazer. – Jon retrucou – E dependendo da situação, sugiro que providencie a transferência dela de escola.
- Ela tem casa, Jon. Isso é uma situação temporária. – Ned retrucou ríspido.
- Eu achava que tinha uma casa também. – ele respondeu amargo – Arya nunca se encaixou ai mais do que eu me encaixava. Deixe que ela escolha aonde quer ficar depois que toda essa baderna acabar. Eu ligo pra dar notícias. Até mais.
Ele não esperou o pai responder, apenas desligou o celular. Estava revoltado de mais com Ned, Catelyn, Sansa e aqueles malditos Baratheon para conseguir ter o mínimo de consideração pelo pai.
Jon a encarou dormindo no sofá, em posição fetal, parecendo a menininha de quatro anos que se escondia no quarto dele quando tinha algum pesadelo. Se Robb estivesse ali, ele tentaria convencer Arya a ficar por um tempo e quando tudo estivesse calmo ele a mandaria de volta pra casa, mas Jon não era Robb e ele sabia exatamente o que Arya estava passando naquele momento.
Ele a pegou no colo com cuidado e a levou pro próprio quarto, aonde a deitou na cama e em seguida retirou seus sapatos. Jon puxou o cobertor para cobri-la até o pescoço e ficou observando enquanto ela dormia. Precisaria dar um jeito de acomodá-la melhor no apartamento se ela fosse ficar de vez.
x-x-x-x-x-x
Nos dias que se seguiram ela deu um jeito de arrumar um emprego numa oficina de carros que havia aberto há pouco tempo, pra ajudar Jon com as despesas e conseguir um dinheiro extra pra se manter em Juneau.
Gendry Waters, o dono e principal mecânico, tinha a mesma idade que Jon e pouco capital de giro para contratar uma secretária mais experiente pra cuidar da organização da parte administrativa. Arya era boa com contas e cuidava dos contatos da oficina e de mandar os documentos para o contador. O pequeno escritório atrás da oficina era o espaço dela e em alguns dias estava organizado e a comunicação com os fornecedores de peças havia se tornado bem mais eficiente.
Jon não gostou muito da ideia a princípio, mas concordava que ela precisava de algo pra fazer, pelo menos no período das férias. Ele passava o dia fora de casa, trabalhando na firma de contabilidade e não queria que ela passasse os dias sozinha no apartamento, pensando em coisas que não lhe fariam bem algum.
Ele chegava em casa no fim da tarde e a encontrava sentada assistindo tevê, ou guardando mantimentos que havia comprado na volta do serviço. Pediam comida fora quase todo dia, já que nenhum dos dois era muito habilidoso na cozinha. Jantavam juntos e então Arya ia tomar seu banho, enquanto Jon assistia qualquer coisa na televisão, até que ela desocupasse o banheiro.
Às vezes ele se perguntava se ela conseguia agir de forma tão despreocupada na casa dos pais. Arya saia do banheiro de pés descalços, usando um camisetão que caberia duas dela dentro e empoleirava no sofá ao lado dele, deixando que Jon brincasse com as mechas encharcadas de seu cabelo curto.
Ela nunca foi muito dada a contato físico, era quase fria na sua forma habitual de lidar com as pessoas a sua volta, mas com Jon sempre havia aquela liberdade nos movimentos que ela não compartilhava com mais ninguém. Quando ela era criança, parecia um filhotinho em busca de atenção e afago, agora ela parecia apenas uma garota meio crescida que não sabia o que fazer da vida pelos próximos meses.
Quase não falavam dos pais dela, ou de Sansa, mas riam juntos se lembrando dos tempos de crianças e de como as coisas eram melhores antes de Jon e Robb saírem de casa. Ao menos Robb era bem vindo e visitava com frequência. Jon preferia seu exílio voluntário para não ter de olhar pra cara de Catelyn Stark e para a apatia do pai.
Já havia se passado quase um mês desde que Arya havia se hospedado no apartamento dele e Jon ainda não havia providenciado um lugar adequado para ela dormir. O apartamento tinha apenas um quarto, uma sala, uma cozinha americana e um banheiro. Por um tempo ele insistiu que Arya ficasse com a cama, enquanto ele se virava com o sofá da sala, mas agora sua coluna estava mais curva do que uma interrogação.
If it's up and after you
What do you suppose that you would do?
You're all whacked out from lack of sleep
You blame it on the friends you keep
You want to do things differently
And do them independently
We all got old at breakneck speed
Slow it down, go easy on me
Go easy on me
Não fosse pela insistência dela e em parte pela manipulação descarada que Arya usava com ele, Jon nunca teria concordado, mas a opção não era tão ruim. Passaram a dividir a cama de casal e era algo um tanto nostálgico para os dois. Pareciam duas crianças com medo do escuro absoluto no quarto, necessário para esconder o sol que brilhava do lado de fora mesmo à meia-noite.
Virava um para cada lado e dormiam de costas um pro outro, até o dia em que ele a ouviu resmungar durante o sono e passou o braço ao redor da cintura dela. Arya se aninhou contra o peito dele e dormiu com o nariz enterrado na camisa que ele usava, enquanto Jon deixava seus dedos deslizarem por de baixo da blusa do pijama dela e roçarem de leve contra a pele das costas ou da barriga.
Jon mandava notícias dela para o pai enquanto estava no escritório. Ned Stark mandava dinheiro toda semana para ajudar com as despesas, mas o que Jon fazia era colocar numa poupança no nome dela, para que Arya tivesse uma pequena reserva de dinheiro caso precisasse. Ned havia contratado um advogado que parecia estar tendo sucesso no caso, mas concordou em providenciar os documentos para a transferência de escola para que ela tivesse a chance de esfriar a cabeça um pouco mais e só voltaria pra casa quando precisasse comparecer em audiência. Isso era só um meio de evitar mais confusão, já que Sansa estava de casamento marcado e seria a esposa de Jeoffrey em dois meses.
x-x-x-x-x-x-x
No fim do segundo mês junto dele, Arya começou a demorar mais no serviço. A princípio Jon deixou aquilo escapar, por achar que ela havia perdido a hora, ou coisa assim, até que os atrasos ficaram recorrentes.
Decidiu passar na oficina para buscá-la. Talvez até marcasse uma revisão pro carro se o preço valesse a pena. O lugar estava fechado e ele imaginou que não demoraria muito para que ela saísse.
Do outro lado da rua ele a viu caminhando descontraída e logo atrás vinha um jovem alto, de cabelo escuro e olhos azuis para entregar a ela um envelope que Jon supunha ser o pagamento. Ela agradeceu, guardando o envelope no bolso do casaco. O rapaz se inclinou sobre ela e lhe deu um beijo rápido nos lábios.
Jon desceu do carro e foi até ela. Arya se assustou ao vê-lo tão próximo, segurando-a pelo braço enquanto encarava o homem que havia beijado sua irmã como se estivesse disposto a arrancar a cabeça dele. Gendry Waters recuou alguns passos, para não causar confusão.
- Acho que sabe que ela é menor de idade. – Jon disse entre dentes encarando Gendry com raiva – E o que está fazendo é assédio. Não queremos que a polícia descubra, não é mesmo?
Gendry pediu desculpas e se afastou. Arya não disse nada, mas foi para o carro contrariada. Sentia-se uma criança sendo reprimida pelo pai, mas ao menos Jon se importava o bastante com ela para deixar a raiva de vê-la tomando uma atitude perigosa transparecer, ao invés de tentar colocar panos quentes no assunto e ficar em silêncio. Quando chegaram ao apartamento ele disse que não a queria trabalhando mais na oficina. Arya não tentou discutir o assunto.
Ela passou a trabalhar num mercado próximo de casa depois do incidente. O tal Gendry mandava mensagens pra ela e às vezes Jon a ouvia correr para o banheiro só para responder. Eventualmente o bom senso a atingiu e Gendry parou de manter contato. Aquilo foi um alívio, mas por algum motivo a consciência de Jon insistia em dizer que o fato dela ser menor de idade não seria um obstáculo para sempre.
Put a wetsuit on, come on, come on
Grow your hair out long, come on, come
Put a t-shirt on
Do me wrong, do me wrong, do me wrong
Put a wetsuit on, come on, come on
Grow your hair out long, come on, come
Put a t-shirt on
Do me wrong, do me wrong, do me wrong
x-x-x-x-x-x-x
Sam Tarly era seu colega de trabalho no escritório, talvez seu amigo mais próximo. Costumavam sair para beber alguma coisa depois do expediente, mas desde que Arya chegou aquele tipo de coisa já não fazia mais parte da vida de Jon. Eventualmente o amigo começou a questionar o que estava acontecendo e tudo o que Jon conseguir dizer era que a vida estava um tanto conturbada.
Nunca falava de Arya para o amigo, ou pra qualquer outra pessoa. Ela estava em Juneau por um motivo, no caso, se esconder dos rumores de que era a responsável pelo atropelamento e morte de um homem. Sam tinha uma vaga consciência de que Jon tinha uma família grande e que havia uma irmã que ele adorava, mas não sabia quem era, nem que a tal irmã estava por perto.
Num dia qualquer, quando estavam saindo do trabalho, Sam viu o plano de fundo da área de trabalho do computador que o amigo usava. Uma foto de Jon abraçado a uma garota de cabelos curtos e bagunçados, vestida com roupas nada femininas. Na foto eles sorriam e a mão do rapaz tocava a barriga parcialmente descoberta dela, enquanto a cabeça dela descansava languidamente sobre o ombro dele. Na foto, eles eram um casal feliz.
- Quem é a garota? – Sam questionou desconfiado e Jon se apreçou em desligar o computador.
- Ninguém. – ele respondeu rápido.
- Ela não é muito convencional. – ele disse com um toque de preocupação – Não devia sair com garotas desta idade, pode acabar sendo preso.
Por algum motivo que lhe fugia a compreensão, Jon ficou sem palavras. Não conseguiu dizer que era a irmã dele, não conseguiu dizer que aquela era uma das fotos que eles haviam tirado apenas uma semana atrás, quando ele a levou para conhecer a cidade e aproveitar o dia mais quente da estação.
Naquela mesma noite ele decidiu que precisava de uma bebida. Comprou algumas cervejas no caminho pra casa e pensou em pedir comida chinesa. Quando abriu a porta do apartamento Arya havia acabado de sair do banho. O cheiro de arroz frito e frango xadrez estava por toda parte, enquanto ela colocava a comida em travessas. Ela lia os pensamentos dele desde de pequena.
Beijou o pescoço dela para provocá-la e fazê-la rir baixo, enquanto tentava escapar do braço dele sem deixar a comida cair no chão.
- Você é a melhor, sabia disso? – ele disse rindo enquanto abria a cerveja e tomava um gole – Adivinhou meu pensamento.
- Que culpa eu tenho se eu também estava com vontade de comer comida chinesa? – ela perguntou rindo, enquanto roubava a cerveja da mão dele e bebia vários goles como se não estivesse fazendo nada de mais.
- EI! Isso é meu! – ele disse tomando a bebida da mão dela outra vez – E você é menor de idade, razão pela qual existe refrigerante nessa casa!
- Estraga prazeres. – ela resmungou – Vamos lá, Jon. Duas cervejas pra te fazer companhia. Beber sozinho é muito chato e eu sei que você e Robb também bebiam escondido quanto tinham a minha idade.
- Eu era um rebelde sem causa e Robb sempre esteve disposto a embarcar nas ideias mais imbecis possíveis. Você é a minha irmãzinha, eu tenho que ser responsável por você. – ele disse teimoso.
- Acho que mereço alguma coisa por ter pedido a comida chinesa. – ela disse piscando seus olhos cinzentos de forma descarada em direção a ele.
- Duas cervejas e nada mais. – ele respondeu por fim. Arya se pendurou no pescoço dele e beijou seu rosto inteiro até chegar ao canto da boca dele.
Does holy water make you pure?
Submerged your vision's just obscured
You're a lot like me
In up to our knees
In over your chest is way too deep
Era como uma promessa de algo mais e ao mesmo tempo o mais inocente dos gestos. Ele não sabia dizer o que estava acontecendo ali naquela noite, só sabia que a expectativa pairava no silêncio dele enquanto a comida e a bebida eram consumidas e as risadas se tornavam mais livres e a conversa menos sóbria.
Ela se deitou sobre o colo dele, sentindo a cabeça enevoada e rindo de qualquer bobagem que estivesse passando na tevê, enquanto Jon brincava com o cabelo dela, ou deslizava seus dedos sobre os braços descobertos.
Arya usava apenas um camisetão que ia até a metade da coxa. O cheiro era de cerveja barata, misturado a xampu de morango. Ela mexia as pernas sobre o sofá, revelando um pouco mais do que ele estava preparado pra ver. O tom da pele era tentador, o cheiro apelativo, o som da voz o deixava mais relaxado e aquela altura Jon já não estava tão sóbrio quanto deveria.
- Acho que você bebeu de mais. – ele se inclinou para sussurrar próximo ao ouvido dela e antes de se erguer ela virou a cabeça para encará-lo, fazendo seus lábios roçarem os dele por acidente.
Um beijo pareceu algo inocente o bastante, como uma consequência de meses dividindo um mesmo espaço e cuidando um do outro. Eram unidos por um sentimento de rejeição que haviam tolerado uma vida inteira. Ao menos aceitavam um ao outro sem grandes exigências e naquele momento, aceitação e carinho era tudo o que queriam.
As mãos dela estavam afundadas no cabelo cacheado dele, provocando e aprofundando mais o beijo, sem deixar a consciência atingi-los. Sentada sobre o colo dele, uma perna de cada lado do corpo, enquanto as mãos de Jon repousavam sobre o quadril dela e ousavam descer até as coxas, indecisas quanto à tentação de suspender a barra do camisetão, ou fazer aquilo que era certo.
Os dedos dela desabotoaram os primeiros botões da camisa que Jon usava, revelando pele alva, sensível ao toque. Ela beijou o pescoço dele, descendo pela clavícula, fazendo Jon jogar a cabeça pra trás e se decidir quanto ao camisetão. As pernas dela estavam nuas e a virilha extremamente próxima, quase pressionada contra a ereção crescente dele.
Arya desabotoou a camisa dele e a jogou num canto junto ao sofá. Seus dedos deslizavam sobre tórax e abdômen, traçando o contorno dos músculos e a trilha de pelos do umbigo até o limite do cós da calça dele.
Jon subiu suas mãos pelas pernas dela, erguendo o camisetão até conseguir descobrir cada centímetro de pele e deixá-la apenas de calcinha. Os seios eram pequenos e seus mamilos rosados e rígidos, esperando pela boca dele. Contornou-os com a língua, sugou-os, deixando que seus dentes raspassem contra a pele sensível, fazendo-a arquear as costas e pressionar seu corpo acidentalmente contra a virilha dele.
Uma das mãos dele se esgueirou até conseguir driblar o elástico da calcinha e tocá-la. Apenas um pouco de fricção e Arya estava gemendo junto ao ouvido dele e pedindo por mais. Os dedos dele continuaram, sentindo a crescente umidade e o calor. Ela mordiascava a orelha dele, lambia o lóbulo e beijava-o em pontos estrategicamente calculados, e quando Jon movia seus dedos com mais intensidade dentro dela, os gemidos que ela o soltava faziam-no endurecer ainda mais.
Ela se agarrou a ele com força quando sentiu o corpo se contrair inteiro num orgasmo intenso. Jon tinha o rosto enterrado entre os seios dela, enquanto os beijava, esperando para que Arya voltasse a terra, languida e parcialmente satisfeita.
Jon a deitou no sofá, beijando-a por toda parte e arrancando gemidos e lamentos sensuais dos lábios dela. Retirou a calcinha que ela usava e a jogou do outro lado da sala. As mãos de Arya arrancaram o cinto dele e desabotoaram a calça, enquanto suas pernas afastavam a única peça de roupa que impedia Jon de seguir em frente.
Roupas espalhadas por toda sala, garrafas de cerveja vazias, boxes de comida chinesa no lixo da cozinha. Jon pareceu recuperar a consciência no momento em que já não existia mais nenhuma camada de roupa entre eles. Tentou se afastar dela, mas Arya o enlaçou pela cintura com as pernas e sua mão se encarregou de posiciona-lo contra sua entrada.
- Por favor, Jon...- ela sussurrou suplicante junto ao ouvido dele.
O caminho era estreito, úmido e quente. O ritmo lento e torturante. Ela fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, tentando conter os sons constrangedores. Estava enterrado dentro dela, sufocado pela pressão insuportável e pela necessidade de movimento.
Arya beijava seu pescoço, ombros, rosto e boca, desorientada pelas sensações que ele lhe causava. Ele a agarrava pelas coxas, buscando um meio de ir mais fundo e mais forte, tentando matar aquela necessidade descontrolada que sentia por ela e seus gemidos obscenos.
Num último movimento Arya gemeu alto e se rendeu a mais uma onda de espasmos e prazer. Ele precisou de toda sua força de vontade para resistir um pouco mais, para aproveitar aquele momento ao máximo. Logo ele também se rendeu e o mundo perdeu o foco e o sentido. Tudo era um emaranhado branco de cheiros, sons, toques e inexplicável prazer.
No silêncio do apartamento, eles permaneceram acordados e sem saber se deviam o não dizer alguma coisa. A culpa e aquela sensação de desconforto veio tão logo a consciência foi recobrada, mas nenhum dos dois sabia o que fazer.
Jon a abraçou mais forte e se deparou com a fragilidade do corpo dela contra o seu. Miúda e esguia, ela parecia mais jovem do que realmente era. Arya afundou o nariz contra o peito dele.
- Não me mande embora. – ela sussurrou num tom urgente e amedrontado. Tudo o que sobrou para ela foi o medo da rejeição e de não ter um lugar pra ir. Ironicamente, ele sentia a mesma coisa.
- Nunca. – ele respondeu deslizando os dedos pelas costas dela – Isso tudo foi...Arya, não devia ter acontecido. – aquela sensação horrível cresceu dentro dele como uma praga. Um misto de culpa, nojo e desejo não aplacado.
- Não me mande embora. – ela repetiu mais uma vez, ainda mais desesperada e agarrando-se a ele com mais força – Não me mande embora.
- Eu não vou. – Jon beijou a testa dela. Ela estava com medo de tudo. Medo de voltar pra casa dos pais, medo dos olhares de repreensão por algo que ela não havia feito, medo da figura doentia de Jeoffrey e das mentiras de Sansa. Sentia falta da família que um dia foi feliz, quando Bran ainda andava, Rickon era um menino doce, Robb e Jon jogavam futebol no jardim de casa e ela e Sansa conseguiam se tolerar.
Não sobrou nada daquela vida, sua única ancora e chance de felicidade era Jon e talvez aquilo tudo fosse apenas uma consequência da necessidade desesperada que ela tinha de tê-lo sempre por perto. Um pouco de herói, um pouco de protetor, um pouco de amigo e muito de família.
Era um sentimento horrível, mas Arya só queria se sentir segura, protegida e necessária para alguém. Estranhamente, ela havia conseguido sentir tudo aquilo enquanto estava nua, vulnerável e pressionada contra o corpo dele. Jon a abraçava forte e acariciava suas curvas com relutância e carinho, beijava o rosto dela, sussurrava palavras de conforto.
Ela não havia matado ninguém e mesmo que isso fosse comprovado, Arya não voltaria para os pais. Sua casa estava em outro lugar, com alguém que ao invés de recriminá-la por suas escolhas, temperamento e aparência, apenas a aceitava. Nos braços dele ela era sempre bem vinda e mesmo que se sentisse terrivelmente culpado o tempo todo por ter se deixado levar por carinhos e garrafas de cerveja, Jon não tentaria se livrar dela.
Put a wetsuit on, come on, come on
Grow your hair out long, come on, come
Put a t-shirt on
Do me wrong, do me wrong, do me wrong
Put a wetsuit on, come on, come on
Grow your hair out long, come on, come
Put a t-shirt on
Do me wrong, do me wrong, do me wrong
Nota da autora: Depois de ler algumas shot UA com Jon e também com o Robb, me deu uma vontade de sair do convencional e escrever essa. Não achei particularmente boa, mas me digam vocês o que acham. A música é Wetsuit, da banda The Vaccines e eu recomendo totalmente. Espero que gostem e comentem.
Bjux
Bee
