Durma Com os Anjos
Disclaimer: Os personagens e lugares citados não me pertencem... Óbvio! Senão o objetivo de vida deles seria apertar o traseiro do maior número de pessoas possíveis... De qualquer forma, eles pertencem ao Kishimoto-sensei.
Sumário: Sakura recebe um par de convites para ficar num hotel de luxo nas montanhas. Todos os seus amigos já tinham planos pro natal, menos seu sensei querido. Precisava apenas convencê-lo. No hotel, tudo ocorreria muito bem, se não fosse o fato de Sakura ser sonâmbula!
Capítulo I:
Venha, venha, Kakashi-sensei!
"Parece bem simples." Ela suspirou enquanto caminhava de um lado para o outro. "Vou lá, o convido para passar o natal comigo e pronto!" Ela pensava consigo mesma enquanto tentava arduamente não analisar o quão atirado aquilo soaria a ouvidos alheios!
Se bem que ela não se importava como pareceria. Não mesmo! Quer dizer, porque se importaria? A opinião alheia só servia para isso mesmo! Estar alheia a ela. Afinal, desde quando as pessoas que a mal-diziam pagavam suas contas? Que ela soubesse, nunca!
Deu de ombros, torcendo para que aquele gesto também pudesse se refletir em sua mente, que a droga dos pudores que aprendera em toda a sua vida a deixasse em definitivo!
Era interessante esse negócio de pudores. Tinha-se vergonha por sentir amor, tinha-se vergonha por sentir desejos, tinha-se vergonha por falar a verdade, ainda mais quando se usava palavras chulas para expressar isso! Repare como esse negócio de pudores é profundo... Não podia usar palavras chulas porque normalmente estava relacionado ao sexo, não se pode falar de sexo porque sempre foi tido como algo que moças não deviam saber nada sobre. Ou seja, a tal vergonha de sentir desejos. Decididamente um círculo vicioso! Vai ver que era por isso que ainda era uma virgem aos 20 anos de idade! Não que ela tivesse algum problema com isso... Quer dizer, quantas garotas podiam dizer que se guardaram por tanto tempo para a pessoa certa? Não muitas, ela acreditava... Se bem que todo este tempo só se guardara por culpa desse maldito tabu! Toda essa coisa de pudor! Mas que droga! Isso parecia estar dentro de si até mesmo a raiz do cabelo!
Já não tinha mais os pais para proibi-la disso e daquilo. E mesmo que ainda os tivesse, eles já não poderiam mais controlar a vida de uma kunoichi por formação e excelência... Embora ela não pudesse dizer que não gostava de ser controlada. Gostava de ouvir a opinião de pessoas em que confiasse sobre o certo e o errado. Por mais que ela tivesse algum senso de discernimento, gostava de saber se sua opinião condizia com a da sociedade. Afinal, quem é diferente, é tachado. E ela, com toda a dificuldade que tinha de socialização, não queria ser excluída. Não depois de se desdobrar em várias para manter seus poucos amigos.
Poucas pessoas podiam dizer que sabiam o que se passava com a verdadeira Sakura. E as duas que podiam afirmar tal coisa, eram ambas seus senseis.
A boa e velha Sakura, talvez fosse apenas uma grande acomodada. Uma grande ociosa ou talvez relapsa, se o assunto era sua existência. Pois se acostumara com toda a sua vida premeditada e programada. Controlada por horários e coisas monótonas. Contudo, o tempo e a experiência como jounin, ensinara-a a lidar com o inesperado. Então ela decidira apenas estar pronta para tudo o que pudesse surpreendê-la. Imaginar todas as possibilidades para uma situação, por mais remotas que fossem. Talvez por isso se entediasse com tanta facilidade. Talvez por isso não se surpreendesse com nada em sua vida. Toda a emoção que tinha era dentro de batalhas e missões. Todas as suas paixões ocorreram em batalhas e terminaram no segundo que essas se findaram. A Sakura guerreira era brava, forte, destemida, bela, apaixonada, vingativa e impassível. Enquanto a Sakura cidadã era simples, tímida, comum, sem-graça, fraca e sensível. Eram totais opostos. Como o yin e yang. Completamente distintos, mas um sempre terá um pouquinho do outro, apenas assim, formando um todo.
Contudo, poucos podiam balancear e dizer realmente como era a Sakura. Os que a conheciam da vila, diriam pouquíssimo sobre ela, já que não parecia lá uma das pessoas mais sociáveis. Só sabia andar no meio dos outros shinobis! Alguns duvidavam até da capacidade de Sakura como guerreira. Enquanto os seus companheiros de batalhas, só a elogiariam. Algo um tanto contrastante. Se alguém perguntar quem é Haruno Sakura, terá duas respostas completamente distintas. Tanto quanto água e óleo.
Kakashi costumava dizer que ela possuía uma capacidade meio camaleônica. Se adaptava conforme o ambiente. Ele provavelmente fora o primeiro a perceber esse dom na jovem. Depois de muito treino, aprendera a separar suas emoções como ninguém. Anos se reprimindo não gerariam outra coisa senão a perfeição. Assim sendo a forma que ela distanciava uma Sakura da outra.
Apenas duas pessoas tinham a Sakura inteira. A moeda completa, com cara e coroa. Seus queridos senseis. Tsunade-sama e Kakashi-sensei.
As duas pessoas que a colocaram nessa situação...
Tsunade-sama parecia finalmente ter resolvido recompensá-la pelo ótimo serviço. Não que ela não a pagasse por seus serviços... É claro que pagava. Mas nesse Natal ela ganhara uma gratificação especial, oferecida apenas aos melhores de Konoha.
Sua sensei dizia que, todos os anos, oferecia a gratificação ao Hatake, mas ele recusava veementemente. Sempre alegando algum tipo de coisa. Este ano, no entanto, não se dera o trabalho de oferecê-lo. A resposta era mais que certa. Por isso, resolvera entregá-la.
Sakura recebera 10 dias de estadia grátis em um hotel de luxo numa das mais belas montanhas do país da água. O primeiro pensamento que teve foi: "EU TE AMO, KAKASHI!! Obrigada por sempre recusar!" E quem não o teria em seu lugar... Mas foi ao abrir o envelope em que deveria conter a reserva que levou o primeiro susto. Não era apenas uma reserva, mas duas. DUAS RESERVAS!
Outras pessoas provavelmente ficariam extasiadas. Entretanto, outras pessoas teriam uma escolha óbvia. Quer dizer, outras pessoas teriam um namorado, um amigo, um familiar, enfim, alguém íntimo o suficiente para que pudesse convidar.
Pensando sobre isso, sua primeira escolha fora a 5ª Hokage. Ela era uma escolha perfeita! Ela conhecia a Sakura inteira. Conhecia seus dois lados. Logo, não teria de se esconder dela durante dez dias. Não teria de disfarçar seu "eu". Não hesitou em convidá-la. Esta, contudo, não podia se afastar da vila e se desculpara por isso com Sakura. Agradecera o convite e dissera que em outras épocas, a acompanharia com o maior gosto. Agora tinha responsabilidades.
Sakura compreendera e pedira desculpas por ter sido egoísta. Tsunade-sama apenas sorrira e dissera que era natural ser egoísta. Ela era humana. Logo, propensa a esse tipo de coisa.
A moça de cabelos róseos apenas tinha uma outra opção para passar o feriado de Natal sem mentiras, mostrando algum respeito ao significado dessa época do ano. E essa opção atendia pelo nome de Hatake Kakashi. Pensando bem, era uma idéia ridícula! Quer dizer, se ele passara tantos anos recusando o convite, não seria agora que, de súbito, ele mudaria de opinião e a acompanharia na maior boa vontade. Mais que depressa tirou essa idéia da cabeça.
Bem, se tivesse que passar o feriado fingindo, que fosse com os amigos mais próximos. Uma vez que um feriado não seria suficiente para que eles descobrissem a verdadeira Sakura por debaixo da carapuça.
Pensou em Ino. Então correu a convidá-la. Por mais que já fossem 23 de dezembro, talvez a amiga ainda não tivesse planos para o feriado. Contudo, recebera uma negativa... Bastante cautelosa e polida, mas ainda assim, uma negativa. Ino se comprometera a ajudar os pais na loja de flores pelos próximos dias, uma vez que estava em dívida com eles graças há algumas compras fora de orçamento que fizera.
Seu próximo contemplado, ou melhor, contemplada, era Tenten. Correu até sua casa. Dessa vez, ela iria achar alguém que a acompanhasse... Tinha certeza!
Mas como toda a certeza, esta ruiu diante dos seus olhos, graças a alguma brincadeira sádica do destino. Quer dizer, parecia que os deuses sempre tinham de provar que uma coisa que você tinha como certa, não era absoluta. Se não tivesse ganhado a estadia grátis, pensaria com toda a certeza de que a Lei de Murphy estava a sacaneá-la. Como já se percebe, Tenten fornecera o terceiro "não", para sua coleção. Essa também se desculpara efusivamente, lamentando por não poder ir, pois já se comprometera a passar o natal com Neji e os Hyuuga.
Pelo menos a negativa de Tenten servira para que evitasse de ouvir nova recusa. Se a kunoichi de cabelos castanhos passaria o Natal com Hyuuga, provavelmente estes dariam a maior festa! Se dariam a maior festa, com toda certeza Hinata não estaria livre.
KUSO*! SERÁ QUE ERA TÃO DIFÍCIL ASSIM FAZER ALGUÉM ACEITAR UMA ESTADIA GRÁTIS EM UM HOTEL DE LUXO?? Poxa, ela não estava metendo ninguém em roubadas! Não fizera nada ilegal para conseguí-las! Entenderia se fosse o oferecimento de um chalé aos pedaços no meio do nada, mas ela estava falando das belas montanhas do país da Água! Esse povo perdeu a noção do que é passar o natal em um hotel de luxo? Gente no seu pé rezando para te atender, banheiras de hidromassagem, inesquecíveis shows de fogos de artifícios, comida até não agüentar mais...
Por mencionar comida... Tinha ainda mais alguém. Ela não acreditava que chegaria nesse extremo! Céus! Onde ela estava com a cabeça? Bem, provavelmente naquele hotel acompanhada por um amigo! Já pensou? Passar o natal sem nenhum conhecido por perto? Deprimente.
E com esse pensamento ela foi até a casa de Naruto. Tomara que a palavra "ramen" colaborasse com sua sorte.
Bateu lá. E fez o convite. Naruto havia ficado realmente animado e parecia disposto a aceitar. Ela já sentia o assobio do alívio tocando uma doce canção em seu peito, quando...
-Ah, sinto muito, Sakura-chan... –Ele disse parecendo decepcionado com o pensamento que devia ter esbarrado com a euforia de ir a um hotel de luxo. Ele ficara assim ao que ela mencionara que partiriam no dia seguinte- Prometi a Hinata-chan que passaria o natal com ela. Amanhã oficializaremos o nosso compromisso.
"PUTA QUE PARIU! NINGUÉM!" Pensou consigo mesma, logo depois de sair da casa de Naruto e ouvir suas desculpas.
Recebera muitos "não"s para uma só pessoa em um dia! Era o suficiente para um ano! Nunca vira tantas pessoas na antevéspera de natal tão pouco receptivas. Será que ninguém entrara no espírito natalino? Será que todo mundo esqueceu que essa droga do natal servia para se passar com as pessoas que se gostam além de ser um argumento consumista para os comerciantes?
Sentou no meio fio, completamente emburrada... Só porque ela iria ver neve novamente... No país do fogo, no inverno não nevava. Mesmo porque seu solo era recoberto por florestas de porte médio, caducifólios sem dúvidas, mas ainda assim, um clima quente, de chuvas abundantes graças a alta pressão proveniente do país do vento – que era uma zona de alta pressão- expulsando todas as frentes frias e chuvosas para o país do Fogo. Isso provavelmente explica porque é uma área desértica. Portanto o país possuía um clima balanceado... Sem neve! Ela costumava se perguntar, porque o país da água tinha neve, se este ficava apenas a leste do país do fogo.
Bem, ela era ninja, não meteorologista... Mas se um dia encontrasse algum, pediria que, por favor, a explicasse.
Pensou por alguns momentos no que poderia fazer. Podia seguir sozinha. Quer dizer, no horizonte o sol se punha e ela nada de achar alguém que estivesse disposto a passar um tempo com ela.
Estava um pouco frio, sentia seus braços se arrepiarem com as rajadas de vento que surgiam aos poucos com a noite. O inverno era assim mesmo. Sempre trazia esse frio gostoso. Normalmente ela não se importava, pois sempre o passava aquecida na casa de alguém confraternizando o natal. Normalmente... Não agora. Não hoje! Tudo o que ela desejava era companhia! E era tudo o que ela não tinha!
Tinha a ligeira impressão de que alguém fazia questão de curtir com a cara dela. Quer dizer, quantas vezes na vida, se ganha viagens a hotéis de luxo de graça? E quantas vezes ficava só no feriado de natal? Não eram muitas, pra não dizer nenhuma.
É... Teria de ir sozinha, a menos que... A menos que... NÃO! É claro que esta não era realmente uma opção! Quer dizer, era mais fácil vender gelo a esquimó que recorrer a quem estava pensando... Ela era uma guerreira, ela batia, brigava, obrigava e não conversava e convencia! Era uma luta perdida. Estava desarmada. Tudo que podia investir era sua força, já que a argumentação não era uma das suas melhores áreas. Odiava a retórica. Mas o que fazer, quando seu suposto alvo é alguém tão ou mais forte que ela?
Respirou pesadamente. Se fosse para ir sozinha, não iria! Por outro lado, queria muito ir. Quer dizer, sua família nunca nadara no dinheiro e ela nunca havia estado em algo tão espetacularmente luxuoso como aquele hotel. Sempre fora seu sonho ser mimada e tratada como uma princesa. É bom de vez em quando ter o próprio ego inflamado. Faz com que as pessoas se sintam mais do que peças de joguete dos Deuses. Talvez por isso se convencera com o tempo que Sasuke nunca seria o cara certo para ela. Ele a ignoraria e não a daria todo o carinho que ela queria e precisava.
É, se estava determinada a ir, não havia outro modo... Queria que houvesse outro jeito! Queria não ter que apelar para o ninja de cópia, que ultimamente criara um hobby de desafiá-la verbalmente... Não precisava pensar muito para que se soubesse quem perdia num piscar de olhos. Ele vivia a dizê-la que aquela era mais uma lição para que ela melhorasse na arte da persuasão e, lógico, na retórica. E quem disse que ela se importava com a eloqüência? Ela batia e curava, só tinha que usar chakra e não a boca para falar alguma coisa!
"É, Kakashi... Finalmente entendi pra que serve a merda da retórica! Pena que se for por isso, você vai me passar a perna!" Ela pensou, enquanto caminhava a passos curtos, mesmo porque, não tinha pressa para ser derrotada mais uma vez em desafios verbais. Ao menos agora se convencera a tentar. Quer dizer, a pior derrota é aquela que sequer se foi lutada. Então, não custava nada. Ela ia lá, implorava e ficava tudo bem.
Mas isso a remetia ao primeiro pensamento que tivera, antes de refletir sobre toda a situação até o presente momento...
"Parece bem simples." Ela suspirou enquanto caminhava de um lado para o outro. "Vou lá, o convido para passar o natal comigo e pronto!"
Ela estava exatamente em frente a porta do apartamento de Kakashi. Fora até lá. Mas aí se iniciou outro problema. Como convidá-lo? Ela não podia chegar lá e simplesmente dizer:
-Oi! Eu vim aqui lhe tirar da paz e do sossego do seu lar para lhe levar para um hotel nas montanhas e no frio. Está a fim?
Se ele recusara por tanto tempo a gratificação, não seria com apenas este pedido, ridículo aliás, que ele se convenceria. Ela precisava de uma estratégia de convencimento. Algum argumento mais elaborado.
Ela olhou para o próprio relógio que marcavam quase oito da noite! Se estava pensando em realmente viajar no dia seguinte, devia se apressar. Só que ela não tinha argumento... CACETE! O que faria? Tocava a droga da campainha e contava com a sorte de algum argumento lhe surgir do nada, ou ia embora e pensava em algum, voltando apenas quando o tivesse.
Bem, já que estava ali... Aproximou seu indicador da campainha do imóvel de seu sensei. Repousou o dedo lá por alguns instantes, sem pressionar.
"Pensa! Pensa! O que você vai dizer, mulher? Hã... Oi, Kakashi! Eu tenho um pedido de vida ou morte pra lhe fazer?" Fez uma careta! Soava terrível! "Muito drástico! Daqui a pouco Hamlet pula gritando 'Ser ou não ser. Eis a questão!' Se bem que é mais capaz de surgir alguém gritando: Ir ou não ir. Eis a questão!"
Revirou os olhos com estes pensamentos. Irritantes! Quer dizer, viajara! Aquilo não era nenhuma tragédia grega! E muito menos, uma brecha para pensar no chato do Shakespeare. Estava fazendo a maior tempestade num copo d'água. Talvez porque não agüentaria ouvir outra recusa. As pessoas eram assim mesmo. Era natural a um humano dar uma importância demasiada a coisas simples, por mais que não valessem um pingo de suor. Com certeza, culpa da tal da desgraçada da natureza humana, que parecia só surgir pra fazer cagada!
"Ok, eu volto depois! Primeiro eu invento alguma coisa e depois eu dou uma de maníaca suicida!"
Tirou o dedo com rapidez da campainha, como se tivesse levado um choque. Passou os dedos por seus cabelos e se virou pra sair, como se nada estivesse acontecendo.
-Sakura? –Alguém que acabara de dobrar o corredor por onde ela sairia, chamara-a. Sakura congelou! Ela reconhecia aquela voz... Aquele timbre leve e ponderado, agora, carregado com um certo tom surpreso... ERA ELE! Pior que não tinha nem como ela sair correndo. Quer dizer, se corresse, teria de passar por ele, no fim do corredor. Não havia janelas para que ela pudesse dar o fora. Destino filho da puta! Se ela não tivesse enrolado tanto e apertado a campainha, não teria encontrado-o nem em casa e nem no meio do caminho!
-Hãn... Er... Oi, Kakashi-sensei! –Sakura respondeu com um sorriso meio constrangido. Ainda dá pra escapar... Ainda posso escapar! Então resolveu se fazer de desentendida, ou ao menos tentar enrolá-lo. Iria colocar o cinismo em ação- Que surpresa encontrá-lo por aqui!
-Pera aí... Essa eu posso responder. –Ele respondeu vindo de encontro a ela, com uma sacola cheia de compras nos braços, um tom de voz falsamente pensativo e sério, ela sabia -Talvez porque eu more aqui, como você bem sabe, Sakura.
-Er... É mesmo! –Ela respondeu batendo na própria testa com um fingido ar de quem acabara de se lembrar de algo. Um sorriso sem-graça brotando nos lábios- Já que é assim é melhor eu ir andando...
"COVARDE! COVARDE! COVARDE!" Seus pensamentos gritavam em um tom de repreensão.
-Será que você não quer entrar e conversar? –Kakashi respondeu sem fitá-la, enquanto se postava em frente a porta e procurava pelas chaves em seu bolso. Ele a conhecia bem o suficiente para saber que ela estava a enrolá-lo. Ela decididamente tinha algo a dizê-lo. Algo pelo qual ela relutava. Isso o preocupava. O que poderia ter acontecido? Ela parecia abalada.
-Bem, se você faz questão... –"Cara-de-pau!" Pensou consigo mesma! "Eu aqui precisando dele, e menosprezando a ajuda que ele está me dando!" Realmente ele quebrara um galho ao convidá-la pra entrar. Isso a pouparia de ter de pedir pra entrar, já que o assunto era particular... Imagina se alguém ouve e espalha a história distorcida? Diriam até que ela o convidara para passar o natal vendo estrelas... Na cama! Argh! Realmente inadmissível esse tipo de atitude! É claro que ela jamais faria um convite indecente ao seu sensei! Era incapaz de fazê-lo para alguém como ele, que conhecera há muito tempo.
-É, eu faço questão... –Ele respondeu sarcástico, entendendo o jogo dela. Ela não queria parecer que precisava dele. Mas por algum motivo, precisava. E era isso que o preocupava.
Ao abrir a porta, ele deu passagem para que a moça entrasse, seguindo-a no momento seguinte. Ela permanecia em silêncio. Um silêncio anormal para a Sakura.
-Nossa! –Ela disse, interrompendo o silêncio pesado que sentia esmagando-a, mostrou-se completamente surpresa ao fitar o apartamento dele. Estava na mais completa ordem. Não condizia com a imagem de irresponsável que ele passava ao chegar sempre atrasado- Isto está muito arrumado para ser o seu apartamento!
"Ótima escolha, Sakura!" A kunoichi pensava com seus botões. "Casualidade! Primeiro a gente chega de mansinho pra depois dar o bote!"
-O que a fez pensar que eu fosse relapso com minhas coisas? –Kakashi perguntou inocentemente.
-Talvez o seu desprezo pelos horários... –Sakura sorriu como se pouco desse importância ao fato, quando na verdade, era a que mais o criticava por isso- Ou quem sabe as desculpas esfarrapadas que você dá. Se você sequer se dá o trabalho de inventar uma desculpa convincente, imagina arrumar o apartamento? Eu mal consigo realizar você de avental passando a vassoura no chão...
-Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia. –Kakashi respondeu com um sorriso. Sabia perfeitamente o ódio mortal que Sakura tinha a Shakespeare. Não se sabe porque, mas a menina de belas lagunas verdes não era encantada por ele, como as outras adolescentes.
-Pare, Kakashi-sensei! –Ela admoestou, ao ouvir a maldita citação -Não me fale coisas desse baka*! Ele era tão sonso que não pode ser filósofo! Nem sequer admitia a supremacia da mente! Ao invés disso matava personagens inocentes que só queriam encontrar sua cara metade... Pobre Romeu e Julieta!
-Você e a sua bendita obsessão pela filosofia... –O ninja de cópia sorriu por baixo da máscara ao ouvi-la implicar com o pobre autor. Nunca vira ninguém brigar desse jeito por um bando de homens que já morreram e levaram seus ideais com eles.
-Você e seus livros de sacanagem! –A jovem redargüiu no mesmo tom pejorativo que ele empregava. Vê se o deixaria falar mal dos seus queridos filósofos? Eles eram como os próprios deuses para a garota. E suas obras, como bíblias. Lia-as afoita. Talvez tanto quanto o sensei com seus livros indecentes. Mas pelo menos ela acrescentava alguma coisa aos seus conhecimentos quando lia livros de Platão. E ele? O que ele ganhava lendo livros eróticos? – Têm mais ou menos a mesma relação que eu tenho com meu Platão... A diferença é que eu tenho um crescimento intelectual e mental e não em uma outra cabeça...
-Implicante! –Ele respondeu mal-humorado, tentando ignorar o fato de que devia estar corado por debaixo da máscara. Como ela podia? Precisando dele e criticando-o! Será que ninguém nunca ensinaria boas maneiras a Sakura? Não se consegue nada criticando a pessoa de quem se quer ajuda! Sentiu-se levemente irritado. Costumava ser muito paciente. Só não gostava que falassem mal de sua leitura. Era algo que o fazia esquecer das preocupações. Que o aliviava. Aquilo não podia ser ruim! Enfim, enjoara-se desse jogo de palavras. Queria saber de uma vez o que Sakura viera fazer em sua porta. Achava que ele já colaborara demais com ela. E ela não muito com ele! Poxa, ele preocupado e ela implicando? Intolerável!- Diga-me de uma vez o que você fazia na minha porta, Sakura?
-Quem? Eu? –Ela perguntou fazendo-se de desentendida. Ela o irritara. Céus! O que fizera? Será que não conseguia manter sua maldita boca fechada por alguns instantes? Talvez assim não se prejudicasse tanto. Era melhor enredá-lo um pouco até que ele esquecesse a besteira que ela dissera. Para o seu bem e o de sua viagem! Tudo pela viagem! –Muita pretensão a sua pensar que eu só conheço você por aqui. Talvez eu estivesse visitando uma outra pessoa...
-Ok! Talvez eu acreditasse se você não tivesse ficado tão embaraçada quando a encontrei no corredor. –Ele disse mantendo um tom paciente, embora ela acreditasse que logo ele perderia sua calma. Seu olhar era quase irritado. Nossa! Ferira mesmo o orgulho masculino dele! "Comecei com o pé esquerdo, sem dúvidas!" Pensou a jovem.
-Tá bom! Você me pegou! –Ela disse em um sorriso fraco, tentando passar algum ar divertido, que nesse momento, ela não possuía. Como um caubói, levantou os braços, mostrando-se desarmada -Eu realmente vim falar contigo.
Sakura se calou, esperando a reação dele. Apenas viu-o erguer a sobrancelha à mostra, mas sem esboçar qualquer gesto em palavras. Isso a deixou levemente nervosa! "PUTA QUE PARIU! DA PRÓXIMA VEZ, MORDE A LÍNGUA, BAKA!" Engoliu em seco. Sua viagem estava ameaçada! Kuso!
-Er... Bem... É que... –Sakura começou, ainda temerosa por ouvir outra negativa, além de despertar ainda mais a ira dele. Nunca o vira nervoso e não era hoje, que tinha um pedido pra fazê-lo que queria vê-lo -É que eu resolvi vir te entregar seu presente de natal.
-É? –O homem de cabelos prateados perguntou descrente. Devia fazer parte do jogo dela. Já não acreditava mais que a jovem fosse inofensiva –E onde está?
-Bem aqui... –Sakura respondeu se armando de toda a cara de pau que possuía. Começara, agora vá em frente! Ponha as cartas na mesa! -Minha companhia será o seu presente de natal!
A primeira reação que ele teve foi de arregalar os olhos... O que diabos ela queria dizer com aquilo? Será que ela queria passar o natal nos braços dele? Nunca esperou isso de Sakura! Não a Sakura que ele vira crescer! Noite de revelações...
-NÃO!! –Ela se apressou a gritar, assim que percebeu a reação que ele tivera e parara para analisar o duplo sentido de suas palavras. Eita! Decididamente tinha que tomar um curso intensivo sobre como persuadir -Eu quis dizer... Será que você não gostaria de passar o natal comigo?
Ela em nada aliviara, pois ele novamente a olhara com estranhamento! Essas palavras tinham tanto sentido dúbio quanto as primeiras.
-Droga! Eu não estou te convidando pra ir pra cama comigo! –Ela resolveu simplesmente ser direta! Esse negócio de enrolar não funcionava mesmo!
O homem apenas sorrira ao vê-la corar tão fortemente ao pronunciar estas palavras. "É, Sakura! Sua retórica continua terrível!" Pensou consigo. Ela devia apenas estar convidando-o para passar a ceia de natal na casa dela com outros amigos, como todos os anos.
-Entendi, Sakura. –Por fim ele resolveu cooperar e deixá-la a vontade para fazer seu convite. Por mais que ela tivesse dito aquilo. Ela ainda era a Sakura que conhecia e adorava. Com certeza não falara aquilo para magoá-lo, mas para defender seus velhos defuntos, quer dizer, filósofos -Então me conte onde será a ceia. Terei o maior gosto em comparecer.
-Er... Num hotel de luxo no país da água? –Sakura arriscou incerta, armando-se de uma falsa naturalidade. Fez a maior cara de inocente que conseguiu. Tomara que não tenha colocado tudo a perder com isso!
-Ah, não! –Ele respondeu revirando os olhos, deixando visível sua irritação. Então ela viera para tentar convencê-lo a ir pro fim do mundo no frio inóspito e largar seu livro! -Tsunade-sama lhe mandou aqui para me oferecer isso de novo?
-NÃO! –Ela novamente se pôs a gritar. Teria que desfazer aquele engano. Tsunade-sama lhe fizera um favor em dar-lhe aquelas estadias, não podia metê-la nessa confusão, que diga-se de passagem, ela mesma criara! "Ai, ai! Lá se vai a minha viagem..." -Dessa vez eu vim por conta própria. EU ganhei esses convites!
-Hum... –Pela parte que ela pode perceber descoberta pela máscara, ele franzia o cenho. Devia estar duvidando das palavras dela! Que droga! Nem dizendo a verdade ele acreditava. Precisava do que para convencê-lo? Amarrá-lo em uma cadeira e fazer um strip? Sakura quase riu dessa cena! Impossível! Nunca aconteceria...
-É sério! –Ela respondeu parecendo nervosa ao tentar explicar tudo a ele, por mais que aquele pensamento fosse engraçado, não superara a perspectiva da ameaça sobre sua viagem -Ela os deu a mim justamente por saber que você iria recusar.
-Se ela havia lhe dito que eu sempre recuso, por que veio até mim? –Ele interrogou levemente curioso, ainda pouco convencido da história de Sakura. Era divertido colocá-la em uma má-situação. Ela ficava muito engraçada quando envergonhada. Sem dizer, linda, como todos aqueles tons de rosa, fazendo par com as mechas de seu cabelo.
-Porque todo mundo já tinha planos para o natal! –Ela respondeu cabisbaixa, levemente desabonada por ter de admitir aquilo. Isso só a deixava em uma situação pior. Ele podia pensar que ele fosse uma alternativa para sua falta de opção... o que não deixava de ser verdade.
-Certo... Você quer dizer que só veio até aqui por que não tinha mais ninguém para ir com você? –FOGO! Ele acertara em cheio! Droga! Isso parecia tê-lo chateado. Reparara em como a voz dele hesitara um pouco. Kuso! Precisava consertar isso logo! Dar um jeito de reverter essa situação. Ou se não... Ja ne*, viagem querida!
-Não é isso! –Sakura mais uma vez tentou consertar as coisas. Afinal, já que estava perdida mesmo, se conseguisse algo dele agora, era lucro. O jeito seria contar a verdade. Por mais que ele não acreditasse, ao menos teria a consciência limpa por ter dito a verdade -Você foi a segunda pessoa em que pensei. A primeira foi a própria Tsunade-sama. Só que eu não vim até você por que contava como certo a ocorrência de uma recusa sua. Então fui até os meus outros amigos. Eu tinha como fato consumado que um deles me acompanhassem, entretanto quebrei a cara! Todo mundo já tinha onde passar o natal.
-E o que a faz pensar que eu também já não tenha onde passar o natal? –Kakashi cortou-a. Esse era o jogo dele! A arte expressar e redargüir. "Vamos, Sakura, se quer ir com ele, é melhor melhorar de argumento!" Já que estava se utilizando da sinceridade, que continuasse com ela!
-Er... Todo ano eu lhe convido para a ceia de natal e acho que este ano você também contava que eu fosse convidá-lo e não fez nenhum plano. –Sakura respondeu calma e francamente. Realmente fora uma bela escolha, para não dizer a sua melhor!
-E o que lhe faz crer que eu vá aceitar ir com você? –Ele disse com tranqüilidade no momento seguinte. Ele era irremediavelmente o melhor. Já a pegara de novo! Decidiu falar o que primeiro lhe veio a cabeça.
-A minha insistência? –Ela perguntou descontraidamente, tentando passar um pouco de segurança. Só o que não precisava agora era que ele soubesse de sua hesitação em relação ao que se seguiria. Se conseguiria ou não levá-lo consigo. "Eu tenho que conseguir! Tudo pela viagem!"
-Não! –Ele respondeu com firmeza. Ele a encarava ligeiramente pétreo. Será que nada o comovia?
-Ora, Kakashi-sensei... Você não pode fazer isso comigo! –Ela respondeu um tanto indignada. Essa era a hora de se fazer de rogada! Talvez um pouco de ameaças psicológicas funcionasse. Se não ela entregava os pontos! Desistiria da viagem na hora! A tal da sinceridade só funcionara no começo... É, o jeito é recorrer as ameaças! -Como você vai poder repousar sua cabeça em um travesseiro e dormir em paz, sabendo que deixou sua aluninha querida partir de Konoha completamente só em busca do desconhecido? E se eu me perder no caminho? E se eu for seqüestrada? E se eu for acometida por alguma doença séria de efeitos alucinógenos que me faça jogar-me da janela? E do jeito que eu sou estabanada, já pensou se eu ponho fogo acidentalmente no quarto, trancada por dentro e não sei onde meti a chave? E se...
-Chega, Sakura! –Kakashi tentou interrompê-la.
-Não! Não chega! –Ela respondeu, tristemente. Quase histérica. Era apostar tudo ou nada nessa! Mesmo porque já começava a sentir sua viagem cada vez mais longe de si! Ele sequer se importava com que ela considerava digno de algum apreço, sequer se importava em fazer a vontade dela em nome da amizade deles... -Estou muito triste em perceber isso, mas você nem liga pro que possa me acontecer... Shuif, shuif.
Sakura, vendo que não parece ter nenhum jeito, não pode conter as lágrimas que começam a surgir em seus belos olhos, como se fosse tempestade sobre suas lagunas verdejantes. Ele a privaria da primeira e única oportunidade de aproveitar tudo o que um hotel de luxo podia oferecê-la. De provar o que era ser tratada como alguém relevante. Como se o mundo realmente fosse sentir falta dela se um dia partisse... Seus lábios começaram a tremer, e ela mordeu-os, tentando contê-los. Não queria mostrar a sua decepção a ele. Tanto tempo escondendo suas emoções para nada... Ele a conhecia por completo e só por isso estava se permitindo mostrar emoções perante ele! Mesmo porque, não conseguia se conter.
Morreria sem saber o que é ser significante a algo de alguma forma! Que droga! Pra que a vida servia se não podia nem mesmo experimentar um pouco de seus prazeres? Será que ela nascera sempre pra sofrer e amargar apenas as desgraças dessa ingrata vida?
-Não, Sakura! –Kakashi disse fitando-a como se estivesse sendo seriamente torturado- Faça qualquer coisa, me bata, me chute, grite comigo. Mas por favor, não chore!
A primeira lágrima rolou por suas feições belas, manchando com a tristeza a beleza inocente de seu rosto. Sua pureza era quase inacreditável. Kakashi suspirou, sem saber o que fazer. Sabia que se aceitasse, atrasaria em muito a sua leitura. Afinal sempre tirava os feriados para se pôr em dia com seus livros sacanas. Contudo, não podia deixar a moça naquela situação. Não podia ver uma sombra nublando os maravilhosos olhos da menina que vira crescer. Não podia deixá-la partir decepcionada consigo, pois não agüentaria vê-la olhando para si de alguma outra forma que não fosse feliz. Ele a encontrara feliz quando a conhecera, não podia vê-la ir de outra forma, por sua causa. Nada no mundo justificava a infelicidade que os humanos causavam as pessoas de quem gostavam. Os meios justificavam os fins.
Ao ouvir um pequeno gemido dela, apenas pôde suspirar e tomar uma decisão.
-Certo, Sakura! –Ele respondeu, dando-se por vencido. Coisa que não agüentava era ver uma mulher chorando! Ainda mais, uma mulher que conhecia desde criança -Eu vou!
De súbito, ela parou de chorar, para a surpresa dele. Limpou as lágrimas com rapidez com as costas das mãos. CONSEGUIRA!! ELA IA!! "KAKASHI, EU TE AMO!" Um dos sorrisos mais lindos que o jounin já vira em sua vida lhe era oferecido. Por um instante, ele ficou a admirar aquela visão. Sua bela aluna, com os olhos ainda brilhando pelas lágrimas, sorrindo-lhe perfeitamente, como se a única criatura do mundo fosse ele. Como se o paraíso, de súbito, abrisse-se e um anjo o convidasse para morar nele.
-Esteja às cinco da manhã no portão principal de Konoha. –Ela disse num ainda lhe sorrindo daquela forma, que quase lhe tirava o ar -E, por favor, não se atrase!
Kakashi a viu girar nos calcanhares e sair dali apressadamente, com pequenos pulinhos de felicidade. Então o choro fora um jogo estratégico de persuasão! "É, Sakura, parece que andou melhorando... Esta viagem pode ser interessante!" Contudo, isso ainda não apagava o fato dela tê-lo tapeado e o forçado a aceitar. Ela sabia muito bem que ele jamais voltava atrás em suas palavras! Maldita! Fechara o cerco direitinho! Tanto que lá estava ele, parado, ainda descrente da capacidade de fingimento dela.
-Cínica! –grunhiu, chateado, enquanto ia em direção a porta, fechá-la, bastante contrariado!
CONTINUA...
N/A: OI! Bem, eu pretendia fazer uma fic especial de natal e ano-novo, mas pelo que vejo, não conseguiria aprontá-la a tempo nunca! Então vou fazer o possível para que os capítulos saiam logo. Isso é, a medida que eu puder, já que tenho mais outras três fics para atualizar nessas férias.
Essa fic eu dedico a Mirela, minha priminha querida, que me ajudou e muito no enredo dessa fic e a Evelyn, minha maninha que quebrou o galho de não me perturbar durante o processo de criação, além de palpitar aqui como ninguém.
E é isso aí! Obrigada por acompanharem. E vou fazer o possível por essa fic! XDD
