Título: Deep Love

Autora: Maralice-chan

Fandom: Padackles / RPS (Real Person Slash) / Supernatural

Disclaimer: Claro que nenhuma personalidade presente nessa história me pertence ou tem os relacionamentos apresentados aki.

Observação: Essa fic era postada em outro site, então vou repostá-la aqui aos pouquinhos, ok?

Avisos: Essa fic contêm cenas de sexo homossexual, possiveis palavrões e linguagem pesada. É possível que tenha cenas de violência. Ainda não sei... Então, só leia se estiver preparado.

Pink: I don't believe you: /fymtlj4kongw

I

Ele deixou o carro no estacionamento de sempre e foi caminhando até o escritório. Seus passos largos e retos o levavam sucessivamente para o mesmo lugar, sem desvios. Mas naquela manhã ele se permitiu parar em uma floricultura. Não levou nada, mas deixou encomendado um buquê de Amarílis brancas para buscar na volta. Gostava daquelas flores. Elas o faziam se sentir especial. Cumprimentou o porteiro e seguiu direto para o elevador sem esperar a resposta. Antes das portas se fecharem, o viu fazer uma careta. Ignorou-o. Estava acostumado.

Assim que entrou no escritório a conversa animada que enchia o ambiente cessou e todos se ajeitaram em suas mesas e fingiram trabalhar. Quando ia passando por um colega o ouviu murmurar: babaca. Também o ignorou, estava acostumado. Entrou em seu escritório após cumprimentar a secretária apenas com um leve mover de cabeça. Ela também o odiava. Todos no escritório o odiavam. Talvez até todos na empresa. Mas ele não se importava.

Jensen Ackles era o Diretor Administrativo mais jovem na história da empresa. Havia saído da faculdade direto para a Lorren. Começara como estagiário, mas seu talento e sua seriedade o fizeram alcançar o topo em tempo recorde, o que matava seus colegas de inveja. Se só isso não fosse o suficiente para torná-lo odiado, o fato de sua timidez ser frequentemente confundida com arrogância contribuía bastante para torná-lo pouco querido, senão nada querido no trabalho.

II

Jensen vinha de uma família destruída. O casamento dos pais havia sido um fiasco desde que ele se lembrava. O irmão mais velho saiu de casa muito jovem. A irmã mais nova, Mackenzie, vivia internada. Ninguém sabia o que ela tinha ao certo. Buscavam sem cessar um motivo para as crises, mas nada encontravam na filha do reverendo. Muitos a julgavam possuída. Mas Jensen sabia que se o demônio estava possuindo alguém, não era a sua irmãzinha. Ele passava exatamente pelo mesmo que ela, pelo mesmo que o irmão mais velho passara, mas ao contrario de Josh, ele não fugira, ao contrario de Kenzie, ele não surtara, apenas agüentara calado.

Antes de se deitar, ele trancava a porta do quarto, mas mesmo assim, ouvia a maçaneta girar

A mãe não via, não queria ver. Ela era a esposa do Reverendo. Ele era o marido ideal. Ideal... Quando ela voltou mais cedo de uma reunião de senhoras, encontrou o marido ideal na cama com a filha. Jensen não estava em casa na hora, mas relera o inquérito policial centenas de vezes. Sua mãe fora até a cozinha, apanhara uma faca de carne e matara o marido a facadas ainda em cima da filha. Depois foi até a biblioteca, apanhara a arma de caça do marido e estourou a própria cabeça. Kenzie nunca se recuperou. Jensen também não. Chegou em casa e mal havia passado pela porta quando ouviu os gritos da irmã. Quando se dirigia para as escadas viu o corpo da mãe na biblioteca. Subiu correndo, desesperado, encontrou Mackenzie nua, coberta de sangue, e o pai agonizando. Ligou para a emergência. Tentou acalmar a irmã. Tudo em vão. O pai não sobreviveu e Kenzie nunca mais saiu do hospício.

Nem assim, Josh voltou para casa. Jensen cuidou de tudo. Os pais tiveram que ser cremados. A mãe era uma suicida, a igreja não queria dar a benção. Quanto ao pai, quando caiu no conhecimento geral o que o gentil reverendo fazia com a própria filha, foi necessário proteção policial para impedir que a multidão destroçasse seu corpo. Então Jensen o cremou o mais rápido possível. Todos se sentiam traídos por alguém a quem amavam muito. Ninguém jamais suspeitara de nada. O reverendo Ackles era a pessoa mais gentil que haviam conhecido em toda a vida.

Jensen fora para Los Angeles tentar esquecer o ocorrido, mas algo assim não pode ser apagado, não com facilidade. Tentara de todas as formas encontrar uma mulher que o completasse, mas nenhuma conseguia fazê-lo sentir mais que medo e o relacionamento não durava muito tempo. Isso o fizera ganhar fama de galinha, mas não era isso, era apenas medo. Com homens era simplesmente impossível. Depois do que passara com o pai, a mera idéia de compartilhar a cama com um homem o aterrorizava. Isso até conhecer Jeffrey Dean Morgan, o vice-presidente da Lorren. Morgan o atormentara desde a primeira vez que se viram. Ele implicava com o corte de cabelo, com os óculos e com as roupas de Jensen, isso fora o seu comportamento. No principio, Jensen não dera muita idéia. Era odiado por todos mesmo, que diferença fazia mais um?

Mas Morgan era diferente. Estava sempre procurando desculpas para olhá-lo, tocá-lo, estar perto dele. Jensen fugia o máximo que podia, mas Morgan era insistente. Logo na primeira vez em que Morgan o obrigara a sair para beber com o pessoal do escritório, Jensen ficara bêbado. Morgan o levara para casa e tentara seduzi-lo. Ficou boquiaberto com a reação de Jensen ao ser abraçado e beijado por um homem. Ele tremeu, chorou e se descontrolou totalmente. Morgan recuou e foi embora. Depois disso manteve distância de Jensen, ao menos até conseguir as informações que queria. Uma noite, intimou Jensen a jantar com ele. Antes da sobremesa ele abriu o jogo e disse que sabia dos acontecimentos em Dallas. Jensen engasgou com o vinho. Morgan sorriu e disse com toda meiguice:

–Vou esperar até que você esteja pronto para mim. –Sorriu oferecendo o guardanapo para Jensen se limpar.

–Mas por que você faria isso? –Jensen simplesmente não compreendia.

–Por que eu te amo!

E fora isso. Depois de seis meses Morgan finalmente conseguira beijá-lo sem fazê-lo chorar. Após um ano ele já podia abraçá-lo sem medo de um descontrole total por parte de Jensen. Dois anos depois, eles compartilhavam a cama tão apaixonadamente que era impossível reconhecer o Jensen cheio de medos do começo do namoro.

Cinco anos de namoro fizeram de Jensen outro homem. Ele continuava terrivelmente tímido, continuava a vestir-se e comportar-se como o pai, um perfeito e respeitável homem de família, mas quando estava entre quatro paredes com Morgan ele era outro. Jensen era alegre, sensível, meigo, feliz.

Apenas Morgan conhecia o sorriso sincero de Jensen, apenas Morgan sabia o quanto ele era gentil e honesto. No escritório ele continuava sendo visto como um cretino pomposo, mas Morgan sabia quem ele era realmente. Morgan era a única pessoa que importava em sua vida.

Antes de Morgan, Jensen nunca se permitira ser feliz. Sentia-se culpado por ter deixado o pai abusar dele e da irmã. Sentia-se culpado por não ter contado para a mãe e pela situação ter chegado ao extremo que chegou. Sentia-se culpado por Mackenzie estar em um manicômio. Sentia tanta culpa que nunca se permitira ser feliz. Trabalhava mais do que qualquer um, não fazia amigos, não procurava se divertir. Era como se a vida fosse sua penitência.

Mas Morgan o fizera ver que ele era criança demais para fazer o que quer que fosse para impedir seu pai de molestar os filhos, ele era muito criança e estava com medo demais para contar para a mãe, ele era criança demais pra ter que lidar sozinho com a morte dos pais e a loucura da irmã e mesmo assim fizera o melhor possível.

Jensen já começava a ver a vida de outra forma. Sentia que seu tempo de expiação passara e ele até ousava a perguntar a cada amanhecer ao lado daquele homem: Posso ser feliz agora? Posso mesmo ter esse homem?

Então, Morgan acordava e o saudava com um belo sorriso e de repente Jensen tinha certeza de que o tempo do castigo havia passado.

Estava feliz agora e começava a não ter mais medo da felicidade. Morgan havia marcado um jantar em seu restaurante favorito e embora não fosse nenhuma ocasião especial insistira muito para que ele não marcasse nenhuma reunião para aquela tarde com medo de que perdessem o jantar. Jensen estava empolgado. Tinha esperança de que Morgan o pedisse para morar juntos. Há bem pouco tempo a idéia o aterrorizava, mas no momento ele sentia-se preparado para mais essa etapa de seu relacionamento, mais uma importante etapa de sua vida.

–Jen... –Morgan metera a cabeça pela porta meio aberta da sala de Jensen.

–Sim?–Jensen sorriu.

–Não marcou nenhuma reunião para essa tarde, não é?

–Não, senhor. –Jensen disse sério sabendo que a secretária mexeriqueira estaria bebendo cada palavra que saia de suas bocas.

–Excelente. –Morgan sorriu radiante.

Após Jeffrey sair, Jensen levou um tempo para voltar a se concentrar na papelada que estava analisando. Não parava de sorrir bobamente para o nada.

Quando o expediente terminou, ainda ficou mais uma hora relendo alguns relatórios. Depois foi até a floricultura, apanhou suas flores e guardou-as no carro. Respirando prazerosamente o ar da noite que começava a cair sobre a cidade, Jensen caminhou até o restaurante. Não era muito perto, mas Jensen estava com tempo e sempre gostara de caminhar. Isso ajudava a clarear a mente.

O jantar foi agradável e embora Jeffrey parecesse um pouco ansioso fez tudo para agradar Jensen. Escolhera seu prato favorito, o vinho que mais gostava. E como Jensen já esperava, deixara para tratar dos assuntos sérios antes da sobremesa.

–Bem, Jen... –Jeffrey começou sem jeito. Jensen sorriu. Nunca o vira tão embaraçado. –Preciso te dizer uma coisa, mas eu te imploro, por favor, não faça escândalo...

–Escândalo? –Jensen estreitou os olhos. Por que ele faria escândalo sobre o que quer que fosse?

–Tente me entender, querido... –A voz de Morgan era suplicante.

–Jeffrey, diga de uma vez. Está me deixando nervoso. –Jensen já começava a se inquietar. Jeffrey não podia estar assim apenas por pedi-lo para morar juntos.

–Você sabe que a Alicia está em fase terminal, não é?

Jensen sabia. Alicia Hart era a fundadora e presidente da empresa. Ela montara a empresa com o que herdara dos pais e quando começava a se firmar no ramo de construções chamou seu amigo de faculdade, Jeffrey, para ajudá-la. Os dois juntos haviam transformado a Lorren na grande empresa que ela era. Alicia era a única pessoa sobre a face da terra que era mais viciada em trabalho que Jensen. Apesar de ter sido uma mulher muito bonita, nunca se casara. Há algumas semanas a noticia de que ela estava com câncer pulmonar em estado avançado se espalhara tanto pela empresa quanto pelo mercado fazendo as ações da empresa despencarem. Alicia não tinha herdeiros e sua morte criaria uma terrível disputa entre os acionistas da empresa.

–Sim, eu sei. –Jensen respondeu sem saber onde Jeffrey queria chegar.

–Alicia me pediu em casamento. –Jeffrey disse sem olhar para ele.

–O quê...? –A voz de Jensen mal passava de um sussurro.

–Entenda, Jen... –Jeffrey suplicou –Eu sou dono de 10% das ações e ela de 45%. Se nos casarmos teremos 55%, isso acalmará o mercado e tranquilizará todos os funcionários, não é mesmo?

–Jeffrey... –Jensen respirou fundo antes de perguntar –É um casamento de fachada, não é?

–Jen, sabe... Não, não. Isso não é um bom começo. Jensen se apavorou. Morgan o olhava nos olhos – A Alicia nunca havia se casado por que gostava de mim, mas nunca teve coragem de dizer. Eu me casei antes mesmo de entrar na faculdade, ela e minha falecida esposa eram amigas e ela sempre foi uma segunda mãe para o meu filho...

–Jeffrey, o que você está tentando dizer? –A voz de Jensen ia quase desaparecendo. –O que você quer dizer com isso tudo?

–Eu também... –Jeffrey o olhou como se pedisse desculpas –Eu também sempre gostei dela. Todo esse tempo eu sempre a amei.

–Você... O quê? –Jensen o olhava pasmeficado. Aquilo não podia estar acontecendo. Não naquele momento. –E eu? E eu, Jeff?

–Não é que eu não goste de você. Quando você entrou na Lorren me fez lembrar dela quando era jovem. Tão bonita, tão decidida, tão obcecada pelo trabalho e cheia de traumas...

–Jeffrey, você está querendo dizer que... –Só naquele momento, ao se lembrar da figura de Alicia Hart, Jensen se deu conta de que o cabelo dela era loiro como o dele e quase tão curto quanto o dele. Seus olhos eram verdes e por baixo da fina camada de maquiagem era possível ver as sardas por todo o seu rosto. Muitos, logo que entrara na Lorren, pensaram que ele era filho dela.

Jensen balançou a cabeça, chocado, enquanto fazia força para não chorar.

–Você não fez isso, Jeff...? –Ele murmurava. –Você disse que me amava... Você disse. Você me abraçou tantas vezes quando tive pesadelos, você me fez ser feliz de novo...

Jensen tentava por algum juízo na cabeça de Jeffrey. Aquilo não podia ser verdade. Simplesmente não podia. Jeffrey o amava. Ele tinha que amá-lo.

Jeffrey colocou uma chave sobre a mesa.

–Eu já peguei as minhas coisas. –Disse. –Também já devolvi as suas. –Como viu que Jensen não se movia, ele prosseguiu. –Pode devolver minha chave quando quiser.

Jensen continuou calado. Ele tremia levemente por causa das lágrimas que se obrigava a conter.

O garçom aproximou-se com a sobremesa e depositou-a em frente a Jensen.

–Coma. –Disse Jeffrey. –Vai se sentir melhor.

Jensen balançou a cabeça e as lágrimas despencaram.

–Jen, eu espero sinceramente que você não saia da Lorren. Você é um excelente Diretor Administrativo e não gostaríamos de ter que abrir mão de você.

"Gostariamos". Jensen reparou. Jeffrey já estava falando no plural. Então, ele e Alicia já estavam juntos.

–Como? –Jensen sussurrou –Como você espera que eu passe o dia todo olhando para vocês dois...? Como acha que vou me sentir? Como acha que estou me sentindo?

–Eu e Alicia seremos discretos, prometo. –As lágrimas rolavam livremente pelo rosto de Jensen e Jeffrey já começava a ficar nervoso com os olhares que as pessoas lhes lançavam. –Olha, Jen, eu juro que não queria magoá-lo. A culpa é toda minha e eu sei disso. Se eu pudesse...

Jensen levou as mãos ao rosto e curvou-se quase todo sobre a mesa.

–Acho que estou me sentindo mal... –Murmurou.

–Vou levá-lo para casa. –Jeffrey pediu a conta, pagou e conduziu Jensen para fora do restaurante.

–Meu carro está no estacionamento de sempre...

–Você não está em condições de dirigir. Eu levo você... –Jeffrey disse tentando forçar Jensen a se virar para entrar no carro que o manobrista acabara de estacionar diante deles.

–Não. Chame um táxi.

–Jen, eu levo você!

–Não, por favor... –Jensen agora chorava abertamente.– Por favor, não seja gentil comigo. Não seja gentil comigo se você não me ama. Só piora as coisas...

Jensen se soltou de seus braços e afastou-se sinalizando para um táxi que passava. Quando abriu a porta ouviu Jeffrey gritar.

–Ligue-me quando chegar em casa!

Jensen se atirou dentro do carro e fechou a porta com força. O taxista olhou feio para ele. Jensen não se importou.

–Para onde?

–Para... –Jensen fez força para colocar um pouco de firmeza na voz e deu o endereço ao taxista que agora o olhava com compaixão. Seguiram em silêncio até o prédio em que Jensen morava. Ele pagou o táxi e subiu sem cumprimentar o porteiro que o olhou torto.

Quando abriu a porta de seu apartamento era como se Jensen pudesse sentir aquele abandono pesando no ar. Ele cambaleou até a sala e viu duas sacolas de roupas sobre o sofá, pilhas de cd's e dvd's, um Playstation 3, dezenas de jogos, dois quadros e seus óculos reservas.

Jensen se agachou no chão e chorou convulsivamente. Parecia que seu tempo de castigo ainda não tinha chegado ao fim.