Minhas memórias mais preciosas começam com nós dois juntos.

São tão preciosas que sinto como se o que vivi antes não tivesse a menor importância.

Com se minha vida tivesse começado no momento em que nossos olhares se encontraram.

E de certa forma, foi exatamente assim.

E eu achava que seria assim pra sempre.

Eternamente.

Mas nada é eterno.

E eu aprendi isto da forma mais dolorosa

Cap 1

Acordo com a chuva batendo na minha janela.

Meu coração está disparado, como se algo tivesse me assustado.

Não sei se um sonho ruim, ou o simples barulho da chuva.

Suspiro, jogando as cobertas para o lado e caminho até a janela, a
abrindo..

–Bom dia, Forks. – murmuro, ao ver a manhã fria e chuvosa com seus
vários tons de Cinza.

Há alguns anos aquilo teria me desanimado.

Não agora.

Eu estava finalmente em casa.

Aspiro o ar puro, estremecendo de frio, mas adorando sentir o cheiro de
mato molhado.

Deixando a nostalgia tomar conta de mim.

Anos vivendo em outro país nos curavam de certas implicâncias.

E agora eu podia concordar com Doroty: não há nada melhor do que o
nosso lar.

Observo que o carro de polícia ainda está parado no jardim, indício de
que Charlie ainda estava em casa também.

Fecho o vidro da janela antes de congelar e me troco rapidamente, ainda
querendo ver Charlie antes de ele ir trabalhar.

Ele está na cozinha e sorri ao me ver.

Meu coração se aquece de algo bom, doce e nostálgico.

–Bom dia, pai.

Ele franze a testa.

–Está sorrindo.

Eu dou de ombros.

–Por que o espanto?

–Está chovendo. Você costumava acordar de mau humor.

Pego um prato e encho de cereal.

–Acho que estava com saudade de casa.

-Até da chuva, do frio...

–Até disto. Mas o senhor esquece que eu vivi em Londres nos últimos
anos. Lá o tempo também é horrível.

–Ainda acho estranho que tenha escolhido viver lá. Sempre achei que se
fosse mudar de país, seria algum lugar como o Brasil. Muito sol o ano inteiro.

Eu rio e encho minha boca de cereal.

–Já ligou para sua mãe? – Charlie pergunta por cima do jornal.

–Hum hum. – murmuro de boca cheia. – Alguma notícia interessante?

–O de sempre. – Charlie fecha o jornal e se levanta.

–Já vai? – há uma certa decepção na minha voz, e quando o encaro, vejo
uma certa incerteza em seu olhar.

Por um momento me parece algo mais que um simples lamento por ter que
ir trabalhar quando eu estou em casa depois de tanto tempo.

Mas a sensação desaparece do mesmo jeito que apareceu.

–O dever me chama. – ele fala com voz solene.

–Claro, chefe Swan. – falo no mesmo tom.

–Vai ficar bem sozinha?

Rolo os olhos.

–O que acha que poderia acontecer?

–Acho que ficará entediada aqui.

–Eu acharei algo para me distrair, não se preocupe.

–Deveria ir a La Push.

–Farei isto, mas quando não estiver chovendo.

–Jacob vai gostar de te ver.

–Eu também. – respondo sorrindo, me lembrando que parece um tempo
infinito que não vejo Jacob Black, meu melhor amigo.

E sinto um certo receio desta expressão, "melhor amigo", não caber mais
entre nós.

Afinal, fazia dois anos que eu estava fora.

Charlie se despede e sai.

Fico olhando as gotas de chuva na janela e o carro se distanciando, até
restar apenas o silêncio rivalizando com a chuva lá fora.

Me sinto sozinha de repente.

Arrumo a cozinha. Arrumo meu quarto.

Desfaço as malas.

Sorrio ao ver meus velhos livros na estante.

Como senti falta deles em Londres. Folheio as folhas amareladas de meu
velho exemplar de Orgulho e Preconceito.

Talvez eu faça isso esta tarde. Ler Jane Austen para passar o tempo.

Mas ao terminar de almoçar sozinha, já me perguntando o que faria para
Charlie jantar, olho pela janela e vejo que a chuva finalmente deu uma trégua.

Animada, visto o casaco e pego as chaves da minha velha caminhonete.

Ontem à noite, ao me buscar no aeroporto, Charlie me contara que a
minha velha Chevy vermelha ainda funcionava. Graças a meu amigo mecânico Jacob
Black.

Faço uma nota mental para me lembrar de agradecê-lo por isto.

Dirijo pelas ruas de Forks por um tempo.

A cidade continua a mesma, como se parada no tempo.

A loja dos Newtons, onde trabalhei quando era adolescente, ainda parece
exatamente igual.

Me pergunto se devo parar e dar um oi. Será que Mike Newton ainda está
por ali?

Me indago também se ele ainda tem aquela paixonite adolescente por mim.
Provavelmente não.

Sempre achei que ele iria se casar, mais dia menos dia, com Jessica
Stanley.

Precisava me lembrar de perguntar ao meu pai as fofocas da cidade.

Decido por fim voltar para casa.

Mas encarar novamente minha casa vazia, me parece meio deprimente
agora.

Tenho vontade de rir de mim mesma. Desde quando eu me tornara carente
daquele jeito?

Sempre fora uma garota independente. Criada com uma mãe avoada, a
muitas milhas dali, na ensolarada Phoenix, eu me tornara madura bem cedo.

Renée era ótima e eu a adorava, mas ela nunca fora uma mãe comum.

Ou talvez eu não fosse uma
garota comum.

"Uma alma de meia-idade", Renée costumava falar.

Paro o carro no meio fio, com uma vontade súbita de caminhar.

O bosque parece convidativo. As folhas molhadas fazem barulho sob meus
pés e eu me embrenho na mata verde.

A chuva deixou um cheiro bom no ar.

Cheiro de casa.

Nunca me perdi naqueles bosques, mas também não me lembro de ter me
embrenhado muito antes. Mas desta vez eu caminho sem intenção de parar.

Não tenho nenhum rumo enquanto caminho mata adentro.

Mesmo assim, era como se em meu íntimo, eu soubesse onde estava indo.

A mata é escura, densa e fria. Não consigo ver o céu.

Mas então de repente algo quente e inesperado toca minha pele.

Sol.

Paro estupefata e prendo a respiração.

Estou numa clareira no meio da floresta.

E ali surpreendentemente tem sol.

Um sorriso deliciado se forma em meus lábios e eu olho para cima,
adorando sentir os raios esquentando meu rosto frio.

Era como um paraíso.

Um paraíso escondido e só meu. Saboreio aquela sensação de ter
descoberto algo especial, enquanto caminho distraída por entre as flores no
chão.

Até que meus pés tropeçam em algo no chão e eu solto uma imprecação.

Mas então escuto uma outra voz também xingando baixinho e olho para o
chão entre surpresa e assustada, ao ver que o algo não era uma pedra e sim um
cara que agora olhava fixamente para mim.

Minha garganta se abre num grito abafado e meu coração dispara
assustado.

Coloco a mão sobre a boca, dando vários passos para trás
automaticamente, me perguntando que diabos um cara estava fazendo deitado no
chão no meio de uma clareira que até poucos minutos estava vazia.

A minha clareira especial.

Ele se senta também me encarando surpreso.

Então em meio ao meu aturdimento, reparo que ele tem os cabelos cor de
cobre bagunçados, o rosto pálido e a camisa aberta.

Ainda estou assustada.

–Deus... da onde você saiu, me assustou! – consigo falar por fim,
tentando voltar a respirar normalmente.

Ele está fechando a camisa agora, mas ainda me encara.

–Me desculpe, não foi minha intenção... Acho que adormeci... Não
percebi... – ele se levanta.

Eu dou um passo atrás.

–Não se assuste.

Eu solto uma risada nervosa.
Constrangedora.

Mas até onde eu podia saber se aquele estranho podia ser algum
assassino, psicopata ou tarado em potencial.

Tento não demonstrar meu medo enquanto o estudo e, ao mesmo tempo,
penso se conseguiria correr se precisasse.

O que era uma piada. Do jeito que eu era desastrada, provavelmente
cairia na primeira curva.

–Eu realmente não a vi se aproximando. Me desculpe. – a voz é bonita.
Tenho que admitir.

Bom, ele todo é bonito.

Com seus cabelos cor de areia perfeitamente bagunçados e suas roupas
sob medida. Ele agora veste um casaco por cima da camisa. Parece absurdamente
caro.

São simples, mas parecem cair perfeitamente sobre seu físico.

Perfeito. É a palavra que salta em minha mente.

–O que faz aqui sozinho? – indago desconfiada, ainda tentando avaliar
se ele não era um serial killer.

Ele sorri.

E de repente eu estou deslumbrada.

Deus do céu.

Mordo os lábios com força para não suspirar.

–Eu sempre venho aqui. –
responde.

–Ah... eu... – tento organizar meus pensamentos caóticos. – Estava
caminhando... nunca vi este lugar... fiquei... fascinada pelo sol.

Seu sorriso se alarga e eu sinto borboletas dançando em meu estômago.

E sim, agora eu sinto medo.

Não mais dele. E sim de mim.

Eu estou no meio de uma floresta, conversando com um estranho há cinco
minutos e me sinto deslumbrada.

–Eu também me sinto deslumbrado. – as palavra dele parecem fazer eco
com meus pensamentos e por um momento louco, eu acho que ele está falando de
mim, até entender que está se referindo certamente à clareira.

–É lindo. – murmuro.

"Você é lindo"

Ele passa os dedos por entre as mechas quase claras sob o sol.

Fecho minhas mãos tamanha é a vontade de fazer o mesmo.

–É meu esconderijo. – ele diz, e eu dou uma risada sem graça.

–E eu achando que tinha achado meu esconderijo.

–Podemos dividir.

Ah, eu gostaria daquilo, penso, com vontade de rir feito uma colegial
boba e não como uma pessoa de 22 anos que sou.

–Tudo bem... Não sei se conseguiria chegar aqui de novo... na verdade
não tenho certeza se acharei o caminho de volta...

Ele ri.

E eu estremeço. Ok, já está ficando patético.

E o pior é que eu não sinto a menor vontade de parar seja lá o que
tenha começado.

–Bom, eu posso te ajudar nesta parte, te acompanhando de volta.

Mil negativas passam pela minha mente, todos os motivos pelos quais não
era nem um pouco seguro aceitar a companhia de um estranho naquela floresta,
mas eu jogo fora todas elas.

E fico com o perigo.

Naquele momento eu me sinto bem atraída pelo perigo na verdade.

–Certo. – murmuro.

Seu sorriso agora é algo deliciosamente inebriante, enquanto ele se
aproxima e eu prendo a respiração.

Ele estende a mão.

–Acho que não me apresentei... Edward Cullen.

Eu seguro sua mão.

–Bella Swan.

–Bella e não Isabella. – ele diz. É uma afirmativa.

Ele solta minha mão e começamos a andar lado a lado.

Ainda sinto meus dedos formigando onde ele tocou.

Quero formigar inteira.

–Sim, prefiro Bella.

–Suspeitei.

Saímos da clareia e adentramos na floresta escura.

Quase sinto uma tristeza infinita por estar deixando a clareira pra
trás.

Um vazio inexplicável.

–Como descobriu este lugar?

–Caminhando.

Eu o encaro de soslaio. Minhas mãos estão no bolso e eu caminho com
cuidado com medo de cair.

–Você mora em Forks? Achei que conhecesse todo mundo da cidade...

–Não. Meus pais moram. Há alguns anos nos mudamos pra cá, mas eu estava
fazendo faculdade em Dartmouth.

–Mora aqui agora então? – tenho vontade de morder a língua por esta
sendo tão curiosa.

Mas eu preciso saber.

Sinto que preciso saber tudo sobre ele.

Edward Cullen.

–Por enquanto... – ele deixa no ar e eu sinto como se ele não quisesse
falar sobre isto.

Ou não quisesse falar comigo.

–E você. Nunca a vi por aqui.

–Eu estava na Inglaterra estudando.

–E veio pra ficar.

Eu dou de ombros. Também deixando no ar.

Mas eu não sabia o que ia fazer agora mesmo.

Ficar em Forks nunca fora uma opção desejável pra mim.

Forks era apenas a cidade onde meu pai morava e onde eu era obrigada a
vir passar todas as minhas férias.

O lugar frio e chuvoso onde eu passara um tempo antes de ir pra
faculdade.

Mas desde que eu voltara me sentia meio diferente.

E agora...

Agora era o lugar onde morava Edward Cullen.

por enquanto.

De repente Forks parecia cheia de possibilidades.

Uma chuva fina começa a cair de repente e eu me encolho dentro do meu moletom
fino.

–Devia estar usando um casaco.

–Está no meu carro.

Ele tira o próprio casaco.

–Não, não precisa...

–Vai congelar.

–E você também.

–Não sinto frio.

Eu pego o casaco relutante e o coloco.

Tem um cheiro gostoso.

Único.

Contenho a vontade de levar o tecido ao nariz e cheirar Edward Cullen.

–Obrigada...

-Não deveria andar sozinha por aqui. – ele diz e eu o encaro com
ironia.

–Se você pode, eu também posso. E por favor, não diga "mas eu sou um
homem".

Ele ri.

–Apenas pode ser perigoso. Eu conheço este lugar.

–Eu também. Morei minha vida inteira aqui. Eu e... – eu ia dizer "eu e
Jake", mas algo me fez parar. De alguma maneira eu não queria citar outro cara
na frente de Edward. Mesmo este outro cara sendo apenas meu amigo. – Eu e meu
pai às vezes também fazemos caminhada por aqui. Meu pai é o xerife da cidade.

–Chefe Swan.

–Conhece meu pai?

–Todos conhecem.

–E será que eu conheço seus pais?

De novo sei que estou sendo curiosa, mas não me contenho.

–Acho que não. – responde evasivo.

Avisto minha caminhonete parada no meio fio e sinto um pesar por meu
encontro com Edward Cullen está chegando ao fim.

Procuro maneiras de prolongar aquele momento.

Quero parar o tempo e segurá-lo ali para sempre.

–É seu carro? – detecto uma certa desaprovação na sua voz e me irrita
um pouco. Levanto o queixo em desafio.

–Sim, é meu carro.

–Ele ainda anda?

Agora eu fecho a cara.

–Quer uma carona? Posso comprovar pra você que ele ainda é melhor que
muito carro novo por aí.

Edward ri.

E eu descubro que é impossível me manter brava quando ele sorri daquele
jeito.

Eu tenho simplesmente vontade de ficar na ponta dos pés e devorar seu
sorriso com minha boca.

-Não, prefiro caminhar.

–Tem certeza? Está começando a chover... – tenho consciência que estou
meio implorando, mas neste momento eu não tenho muito senso de proteção.

Talvez mais tarde eu pense nisto e me arrependa, ardendo de vergonha,
mas agora...

Agora eu quero apenas que não acabe.

–Tenho sim... – ele abre a porta do carro pra mim.

Me parece bem cavalheiro. Eu gosto disto.

Gosto de muitas coisas em Edward Cullen.

Entro na minha caminhonete e ele fecha a porta.

Por um momento nós não falamos nada.

E era como se realmente o tempo tivesse parado.

Ele me parece perfeito parado sob a chuva fina, que molha seu cabelo
cor de areia.

Eu dou partida no carro, e rezo para que meu chevy não me deixe na mão.

–Até mais... Edward Cullen. – murmuro.

–Adeus... Isabella Swan. – ele diz por cima do barulho do motor velho,
enquanto deslizo pela estrada molhada.

Fico olhando sua imagem ir diminuindo no espelho retrovisor.

Suas palavras parecem inadequadas pra mim.

Não porque ele me chamou de Isabella.

Edward Cullen podia me chamar do que quisesse.

Eu não me importava.

Mas porque ele dissera Adeus.

Como se não fôssemos nos ver de novo.

Mas um pequeno sorriso se forma em meus lábios.

Nós nos veríamos de novo.

Afinal, ali era Forks.