NO YOU BOYS NEVER KNOW
1. Help!
– Oh, Scorpius... isso... Mais rápido, oh... assim!
Devo ter feito alguma coisa errada na vida e agora eu, Rose Weasley, no auge dos meus vinte e quatro anos, venho pagando o preço alto por isso. Eu não sei o que era, mas sabia que tive a consequência de não poder dormir sossegada numa sexta-feira à noite.
– Issoo... oooh... Scorpius!
Malditas paredes finas.
Apertei o travesseiro nos meus ouvidos, fazendo um esforço tremendo para não ir até lá e mandá-los calar a merda da boca deles. Stephanie Escandalosa fazia jus ao apelido que o pessoal do prédio havia dado para ela, carinhosamente, desde que Scorpius começou a fazer algumas visitas em nosso apartamento.
Começava a me arrepender por ter apresentado Stephanie a ele naquela festa.
– SCORPIUS! OOOOOHHHHHH!
Coloquei os fones fazendo a música quase estourar meus ouvidos. Eu ainda podia saber que aqueles dois iam voltar a transar, mesmo assim. Por mais que eu odiasse admitir saber disso, Scorpius durava metade da noite então era bom eu nem esperar que eles acabassem tão cedo. E não, eu não afirmo isso por experiência própria. Conheço Scorpius desde os tempos que ele ainda não sabia o que era uma vagina.
Ou seja, há muito tempo.
E aqueles dois estavam se encontrando há mais de um mês.
Ou seja, cheguei ao ponto de adquirir até uma playlist para não ficar ouvindo meu melhor amigo levando a escandalosa da minha colega de apartamento ao orgasmo. A porra da noite inteira.
Devia mandá-los calar a boca. Gritar lá para eles. Não consigo dormir!
Se eu não tivesse o coração mole e generoso que eu tinha, nada daquilo estaria acontecendo. Ao em vez de ouvirmos os gemidos da Stephanie Escandalosa, teríamos continuado a ouvir os choros dela, o que de certo modo seria também muito desagradável – mas menos constrangedor.
Acontece que Stephanie tinha sido descaradamente chifrada pelo seu antigo namorado. Depois de muitos dias chorando e se lamentando que ia virar tia, ela soltou para mim que estava afim de sexo sem compromisso. Não comigo, claro, ela só achou conveniente desabafar aquilo comigo. Então acontece que eu tenho esse amigo que só procura sexo sem compromisso. Há um mês mais ou menos, eu apresentei Scorpius a ela.
Resultado:
– OOOOOH SCORPIUS, OOOH... MAIS FORTE... AHH!
Eu dividi meu apartamento com Alice, melhor amiga da faculdade, durante quatro anos. Quatro incríveis anos. Agora meu primo James teve a brilhante idéia de juntar os trapos com ela antes de ficarem noivos até o final do ano. Ou com a pressa deles, casados mesmo. O que é uma loucura tremenda, na minha opinião, mas eles sempre foram loucos um pelo outro.
Com a mudança de Alice, sua prima Stephanie quis o apartamento. De todas as outras moças que tentou com certeza ela foi a melhor candidata. As outras que entrevistei já foram presas, roubaram dinheiro ou foram expulsas por brigarem com as outras colegas de apartamento.
O único problema da Stephanie era que ela gritava muito quando tinha um orgasmo.
E malditos sejam aqueles orgasmos!
Sim. Aqueles. Vários. Plural. Não um, nem dois, nem três. Foi a noite inteira só nos "OH!" irritantes daquela moça, que varavam as paredes. Então o prédio inteiro achava que Scorpius era um deus do sexo ou algo assim.
Eles só estavam se sentindo a vontade porque deduziram que eu não voltaria à meia-noite para casa. Eu não os culpava, realmente, também achei que voltaria lá pelas quatro horas, ou nem mesmo voltaria até a manhã seguinte, considerando que, ao contrário do que Scorpius achava, eu transava também. Mas brigar com namorado na noite de aniversário de três anos não faz a madrugada ser assim tão incrível, só faz você querer deitar na sua cama confortável e tentar dormir para ver se no dia seguinte as coisas melhorariam.
Ou escutar a trilha sonora de Mamma Mia para camuflar os gemidos da Stephanie Escandalosa do quarto ao lado.
Não sei como, em algum momento, acabei pegando num sono profundo e consegui dormir. Na manhã seguinte a vontade de levantar estava num nível abaixo de zero, mas tive que fazer esse esforço porque meu dia nunca rendia quando acordava lá pelas duas da tarde. Levantei da cama sem me preocupar muito em pentear meus cabelos ruivos e armados ou com o fato de que eu deveria colocar alguma calça, pelo menos, mas eu estava tão acostumado a perambular pela minha própria casa de calcinha e uma blusa folgada, que não tive esforço para trocar de roupa.
– Bom dia, Rose – sorriu Stephanie quando me arrastei até a cozinha. Fiz um som, bocejando, e esperei que ela traduzisse aquilo para uma resposta educada. – Que horas voltou ontem?
– Um pouco depois das quatro – menti, olhando para a mesa feita. Não queria que ela soubesse que eu a escutei transando ou algo assim.
Antes de deduzir realmente que Stephanie havia aprontado o café da manhã sozinha para nós duas, a porta do quarto dela se abriu e, dois segundos depois, Scorpius apareceu nu da cintura até a cabeça, com a cara mais sonolenta de todas, e os cabelos loiros despenteados e caídos na testa.
– Rosie – cumprimentou com um aceno preguiçoso, roubando uma torrada do meu prato e depois vestiu uma camisa preta que estava jogada sobre o sofá.
Urgh. Rezei para que eles não tivessem usado o sofá.
Eu estava zangada com ele – e surpresa por vê-lo aqui naquela manhã, Scorpius nunca dormia literalmente com suas garotas –, então não respondi. Mesmo assim, a cena que se seguiu foi ainda mais surpreendente. Stephanie sorriu para ele e jogou os braços ao redor do seu pescoço; Scorpius a envolveu com as mãos na cintura esbelta da moça e retribuiu o beijo.
Eu tossi, girando os olhos.
– Vão a um motel – soou mais com uma súplica do que com uma provocação, mas eles estavam ocupados demais para me ouvirem, como sempre. Deu tempo de levantar, ir ao banheiro, colocar uma calça e voltar para a cozinha, e ainda os ver juntinhos.
Scorpius e ela estavam falando sobre a noite passada.
– Eu fico para o caféoutro dia – dizia Scorpius em um tom de desculpas.
– Então haverá outro dia?
Ele apenas sorriu e a beijou rapidamente. O sorriso de Scorpius era o tipo de sorriso que não fazia o rapaz precisar dizer nada, e já transmitia algum efeito louco.
– Preciso ir agora... tchau, Rose – ele disse por último, antes de se despedir mais um pouco de Stephanie e ir embora. Fiz um aceno, com a boca cheia de torrada.
Stephanie fechou a porta, tentando esconder o sorriso de felicidade e satisfação. Ao em vez de se empolgar, dizendo o quanto Scorpius era lindo e blá blá blá, ela pegou minha mão e agradeceu:
– Valeu, Rose, sério mesmo. Ontem tive a melhor noite da minha vida! Acho que a coisa pode ficar séria em algum momento... não sei bem, mas Scorpius é tão ótimo.
Eu sorri, mastigando a torrada.
– De nada, oras.
– Vou tomar banho agora... Obrigada de novo, Rose!
Ela saiu da cozinha e se trancou no banheiro.
Suspirei. A boa e velha Rosie fazendo sempre suas boas ações. Eu devia ganhar algum dinheiro pelo trabalho de cupido que eu sempre fazia. Já bastou James e Alice estarem noivando e a culpa disso também sendo minha. Malditos genes da minha mãe! Eu devia começar a exigir algo de volta, sinceramente.
Enfiava a faca na geléia quando o telefone tocou. Não estava a fim de atender, então deixei que a caixa eletrônica fizesse esse trabalho. Fiz um "graças a Deus" que eu não tinha atendido, pois a voz de Brian soava desesperada no outro lado da linha:
– Rose, precisamos conversar... Sobre ontem, aquelas coisas que eu disse sobre nós dois... não queria dizer... vamos, Rose, sei que está me escutando. Senti sua falta essa noite... você não devia ter ido embora! Não parei de beber depois... me encontraram caído na rua e-
– Patético, Brian – eu atendi para dizer isso e depois desliguei o telefone, irritada, na cara dele. Sempre me culpando pelas bebidas. Ele devia crescer.
A voz de Scorpius apareceu atrás de mim. Ele tinha voltado segurando as chaves da moto dele.
– Você e Brian brigaram?
Dei de ombros.
– As coisas estão assim faz tempo. Não vou me surpreender quando voltar a ficar solteira. Vai ser estranho, não sou solteira há três anos. Esqueceu alguma coisa? Sua jaqueta? Está no seu corpo – falei depressa, porque não queria infernizá-lo com meus problemas. Ele obviamente estava de bom humor.
– Esqueci de perguntar se estava tudo bem com você. Dá para ver sua cara péssima lá da rua.
Permiti sorrir um pouco. Às vezes Scorpius tinha essa mania de ser extremamentefofo sem perceber que era.
– Não se incomode, sério.
– Beleza. Se precisar, não conte com meu ombro amigo. Odeio que chore por esse cara.
– Eu não choro por cara nenhum.
Ele sorriu mais despreocupado. E de repente mostrou o motivo de realmente ter voltado para falar comigo.
– Ei, lembra o que você disse sobre eu arrumar uma garota que me fizesse morder a língua com todas as coisas que penso sobre relacionamentos?
– Lembro – falei lentamente.
– Olha – Scorpius sentou de repente no sofá e pareceu meio alarmado que Stephanie fosse escutar lá do banho de meia hora que ela sempre tomava. – Eu realmente quero sair com Stephanie. Ter uma conversa, assistir a um filme idiota com ela. Zoar os outros casais com ela. Queria saber o que eu devo fazer para... fazer essas coisas com Stephanie.
Nunca vi Scorpius preocupado em ter essas coisas com alguém que ele via pelada, então franzi a testa.
– Você quer meus conselhos? – sentei no pufe em frente a ele.
– Seria ótimo, você mora com ela. Vocês conversam, certo? Sabe as coisas que ela gosta.
– Tenho certeza que você sabe mais sobre ela do que eu, sinceramente, Scorpius. Ela só se mudou para cá mês passado e você está com ela desde então.
– Na verdade – ele fez uma careta como se não se orgulhasse muito disso agora – a gente não conversa muito.
– A coisa é mais física – analisei, entrelaçando meus dedos sobre minhas coxas, sentindo-me como se estivesse falando com mais um de meus alunos. Que não passavam dos cinco anos e precisavam refletir sobre seus comportamentos.
– É.
– E você quer que isso passe de uma relação física?
– Eu não sei – ele coçou a testa. – Stephanie soa interessante. O olhar que ela tem, sabe? – Não, não sei mesmo. – Como se ela estivesse escondendo algum segredo. Eu gosto disso... além do corpo inteiro, claro.
Não vou mentir também. Stephanie era linda, morena, simpática e tinha os olhos sempre sonolentos, pesados. O corpo perfeito que Scorpius adorava, cheio de curvas necessárias. Não era nada tímida e tampouco parecia sentir vergonha de alguma coisa. Ela passou sua adolescência na França e agora tinha esse sotaque que a fazia soar toda presunçosa – embora não fosse. Depois que voltou para Londres, desesperou-se por um lugar para ficar quando conseguiu uma carreira de modelo numa revista aí de moda, que eu esquecia o nome sempre.
Scorpius e eu somos amigos desde a primeira série. Nunca nos afastamos, mesmo com nossas faculdades e trabalhos, e até hoje costumamos sentar na varanda do meu apartamento, bebendo e contando as novidades. Passamos a fazer isso constantemente desde que Alice se mudou para a casa de James, e os dois começaram a agir como casados responsáveis, mesmo sem estarem casados ainda. Eu o conhecia perfeitamente bem para poder dizer que ele não tinha uma amiga como eu era. Falávamos sobre esporte, televisão e sexo. Não tínhamos nada a esconder um do outro e, se brigávamos, era totalmente com palavrões. A gente voltava a se falar normalmente depois. Não era como as garotas que Scorpius dormia e nunca mais ligava para elas depois.
Eu conheço todo o seu histórico, digamos, sexual. Pelo menos das aventuras que ele já me contou – eu tinha medo de ouvir as que ele escondia de mim, porque deviam ser extremamente tensas.
Mas nunca, nunca, nunca Scorpius Malfoy pediu ajuda minha para conseguir manter um relacionamento. Scorpius nunca teve sequer uma namorada.
– Deixe-me ver se entendi. Quer que eu diga a você o que dizer, como dizer e quando dizer?
– Você tem bom senso nisso.
Dei um suspiro, relembrando minhas desventuras amorosas.
– Meu namorado é um alcoólatra patético. Eu tenho muita bagagem que diz exatamente como eu me saio com relacionamentos, então minhas palavras sobre isso serão apenas coisas que aprendi em livros de romance que deram certo no final.
– Eu não quero dicas de romance, Rose – ele sentou bem ao meu lado. Lembrei de uma vez que ele me contou que conseguiu uma garota só sorrindo para ela. – Stephanie teve esse ex-namorado e eu não quero ser idiota como ele foi para ela. E se tirarmos a parte do sexo, eu realmente não sei o que ela gosta.
– Garotas adoram sexo – eu me levantei, pois pensava melhor em pé. – E, sinceramente, acho que você está indo muito bem nisso. Por que atrapalhar a relação de vocês querendo conhecer defeitos? Sexo é beeeeem melhor. Sem essa coisa de compromisso, certeza de que alguém vai acabar sendo ferido e...
Scorpius ergueu uma sobrancelha.
– Eu sei, Rose. Mas você mesmo vivia me dando sermões. Eu nunca ligava para uma garota depois de dormir com ela, nunca realmente conhecia elas antes de tirar a roupa, blá blá blá. – Ele viu minha expressão. – Você acha que estou sendo patético agora, é isso.
– Não – eu disse depressa. Eu tirei meu cabelo do rosto, segurando o braço dele e ficando mais séria. – Longe disso, Scorpius. Então a coisa está ficando séria entre vocês?
Ele pareceu frustrado.
– Eu vejo Albus namorando a Kate há sete meses. James vai se casar com Alice. Os caras estão felizes. A gente sempre achou que isso nunca ia acontecer. Não é legal ver seus melhores amigos falando sobre dar bombons de dia dos namorados para suas namoradas, enquanto você aí... acordando sem lembrar o que diabos aconteceu e de quem era aquela calcinha no colchão.
Eu fiz uma expressão compreensiva. Eu ia me arrepender disso, mas fui a velha e boa Rose Weasley de sempre:
– Vou ver o que posso fazer por você com a Stephanie. Certificar-me de que ela não saiba sobre seus casos passados, principalmente.
Desde sempre tive esse distúrbio de ajudar as pessoas em qualquer coisa que fosse à minha altura e capacidade. E esse tipo de coisa que eu tinha é o que nos tornou grandes amigos por muito tempo.
– Valeu, Rose, estarei te devendo – ele deu uma batidinha na minha coxa antes de se levantar. – Quando quiser saber o que os homens gostam, é só perguntar.
– Acho que homens não são difíceis de decifrar.
– Vocês, mulheres, que acham que sabem tudo sobre nós.
– Vocês que não sabem nada sobre a gente. Nem sobre o que a gente acha que sabemos sobre vocês.
A testa dele franzia de um jeito engraçado e expressivo quando não pegava o raciocínio da frase. Mas depois abanava a cabeça para mim, rendido a discussões. Já discutimos muito em nossas vidas. Ele já sabia que sempre ia perder.
O telefone voltou a tocar. Conhecendo Brian há anos, saberia deduzir que o telefone não ficaria sossegado o dia inteiro até ele perceber que estava sendo impertinente e de que não havia mais coisas para serem discutidas entre nós.
Tirei o telefone do gancho, então.
Desde aquele dia me senti esquisita, como se aquela conversa com Scorpius tivesse causado essa sensação. Ajudar Scorpius a ter um relacionamento? Como assim? Era eu que estava precisando de ajuda para salvar meu relacionamento! Minha mente jogava pensamentos involuntários contra mim. E um suspiro foi acompanhado por esse depois que Scorpius saiu do meu apartamento:
Não, rapazes nunca sabem nada sobre nós.
Eu não soube dizer ao que essa afirmação se referia. Mas iria descobrir.
