Dies Irae

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Le Chevalier D'Éon me pertence. Tentem negar. #Pega porrete#

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Eu me lembro da lâmina rasgando minha carne, perfurando meu peito e trespassando meu coração. Expulsando minha alma do meu corpo. A lâmina da espada traiçoeira, empunhada contra mim por ordem de alguém que representava a força magnânima e una a quem jurei lealdade perpétua. Minha vida sendo retirada no sagrado solo de uma igreja. O choque da felonia anestesiou meu espanto. Eu me recordo do torpor que tomou conta de mim. Era a morte tocando minha melodia particular. Eu também me lembro de ver a cúpula de vidro da igreja refletir a luz do Sol em meu rosto, e de Maximilien. Maximilien, meu amor e minha perdição... Eu vi o pesar em seu rosto. Eu vi minha morte, refletida em seus olhos, aproximar-se devagar e roçar suas asas em minha face.

Mas eu não pude seguir para meu repouso. Paraíso ou Inferno - pois minhas mãos também carregam manchas de sangue (e ainda mais sangue carregarão), e meu corpo carrega um grande pecado que cometi sem ciência - me são negados por perplexidade e ódio. O Limbo não é meu destino, pois me recuso a ser absorvida pela História e esquecida, dissipada no tempo como a fumaça de uma vela ao ser apagada se desvanece no ar.

Não.

Eu me condenei a vagar perdida por esse mundo ensombrecido e decaído, até descobrir a verdade sobre meu assassinato e reclamar Justiça. Eu não ficarei em paz até que a verdade seja revelada ao mundo.

Então encontrei uma embarcação. Meu amado irmão D'Éon. Sua indignação e seu desejo pela verdade e justiça sobre minha morte me chamaram. Sua dor por me perder atraiu meu espírito. E quando D'Éon cai eu me levanto. Sua espada se torna minha lâmina e suas mãos, tornadas minhas, executam a vingança contra os conspiradores. E eu não me deterei até o fim. Eu estou em ti, D'Éon.

Sit nomem Domini benedictum. Enquanto eu empunhar estas palavras estarei amparada por Ele, e abatidos serão meus inimigos.

Meu espírito está tomado de cólera divina; minha lâmina nada mais é do que o fogo do da ira do Senhor. Ele punirá os ímpios, e eu empunharei a espada. Encarnei em meu próprio irmão e o utilizo como uma simples ferramenta de vingança. D'Éon, meu querido D'Éon... Você não merecia macular seu espírito puro em minha busca. Sua alma é inocente. As portas do Paraíso estarão abertas para você, tenho certeza.

A verdade trará dor e sofrimento para seu espírito, mas você sempre teve tanta fé quanto eu, e sua fé o confortará nos momentos nebulosos que virão, pois eu não poderei fazer o mesmo. Sou a fúria encarnada, o fogo da vontade absoluta e irrefreável que consome meus sentimentos e também minha compaixão. Minha lâmina é veloz e precisa. Sua busca é minha vendeta.

Eu sou Lia de Beaumont, e eu terei minha vingança em você.

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Dies Irae – Do lat. 'O dia da cólera'. São as palavras iniciais da evocação do dia do Juízo Final em um famoso hino atribuído ao monge Tomás Celano. Na missa de réquiem, cântico que a segue.

(Informações retiradas do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.)

Sit nomem Domini benedictum - Seja bendito o nome do Senhor. Inscrição que aparece escrita em sangue na lâmina da espada de D'Éon quando Lia se manifesta.

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N/A: Essa é só a primeira.