Poison Love
Capítulo 1
"A
vida sem freio me leva, me arrasta, me cega
No momento em que eu
queria ver.
O segundo que antecede o beijo,
A palavra que
destrói o amor
Quando tudo ainda estava inteiro
No
instante em que desmoronou.
Palavras duras em voz de
veludo. (...) Há um segundo tudo estava em paz"
O mundo estava em aparente paz. Os deuses pareciam ter acalmado sua fúria ante os mortais, depois que Atena e seus corajosos guerreiros subjugaram Hades. O Santuário não era mais ameaçado, e com o perdão da deusa, os cavaleiros de Ouro foram ressuscitados depois de provarem sua lealdade na grande batalha. No entanto, grandes deveres urgentes aguardavam a jovem deusa.
Sendo herdeira principal de Mitsumasa Kido, possuía a grande responsabilidade de controlar a Fundação Kido. Por ser ainda apenas uma menina, Saga e Camus, altamente capacitados em termos de finanças e administração, acabaram se tornando fundamentais para auxiliá-la, representá-la e aconselhá-la. Atena tinha de governar o Santuário, mas a jovem Saori Kido precisava constantemente se deslocar para o Japão, onde era a sede da Fundação. E é claro que nessas viagens pelo menos um dos dois cavaleiros era requisitado para acompanhá-la.
Quem gostava nem um pouco dessas "pequenas" viagens para o Oriente era Milo. O cavaleiro de Escorpião não podia abandonar a guarda das doze casas, muito menos podia contrariar a garota e impedir que Camus fosse. Aquilo o irritava profundamente, principalmente porque sabia que a menina, apesar de ser uma deusa, era estupidamente apaixonada pelo seu francês. É claro que o cavaleiro de gelo não percebia, e negava dizendo que era ridículo o que afirmava para ele, aquele idiota não enxergava um palmo diante do nariz.
E mais uma dessas viagens fora o foco do descontrole do grego de sangue quente, ainda mais pelo fato de que Saga ficaria no santuário, ou seja, Camus viajaria com a menina, sozinho. O francês enfrentava sua enxurrada de gritos como uma estátua de mármore, imóvel, sem dizer uma palavra sequer. Os olhos frios fitavam a figura tempestiva à sua frente, por fim dizendo que estava ficando histérico à toa. Pegou suas coisas e saiu do Templo de Aquário, deixando um Milo com os nervos à flor da pele.
Uma viagem que demorou mais do que o próprio francês tinha imaginado. Saori adiava a volta para o Santuário, arranjando programas nada convencionais ou profissionais. De repente começou a aceitar todo o tipo de festa da alta sociedade, arrastando Camus consigo. Ou quando achava que seus afazeres no Japão estavam encerrados, apareciam mais problemas a resolver.
Com tudo isso, passou-se sete longos meses fora da Grécia, o cavaleiro ficava cada vez mais ansioso, mas disfarçava bem. Afinal, sua função ali era servir a reencarnação de Atena, manter sua aparência serena e calma, sempre agindo como um cavalheiro. O que não imaginava era que isso só encorajava a moça.
Durante esse tempo, não importava onde estavam, ligava todo dia para o Escorpião. No início as conversas terminavam com o grego irritado. Logo elas foram ficando mais amenas, parecia que Milo já tinha se conformado de que ficar nervoso não ia resolver nada. Mas nas duas últimas semanas, o cavaleiro simplesmente não atendia mais o telefone. Estranhou, não estava tudo bem entre eles?
Era seu último dia no Japão, ajeitava a gravata em frente a um espelho, dentro de seu quarto de Hotel. Quando o telefone em cima do luxuoso cômodo tocou, atendera rapidamente antes mesmo que o segundo toque soasse.
- Milo? – seu sorriso se desfez – Claro Tatsume, estou descendo.
Desligou o aparelho melancólico, o que estava acontecendo? Respirou fundo. Com certeza não era nada, apenas sua imaginação querendo ir longe demais.
O jato demorara mais do que o previsto para decolar, eram altas horas da madrugada quando o veículo finalmente pousou em uma arena transformada numa pista de pouso um pouco afastada do Santuário, mas com fácil acesso ao Templo de Atena. Camus sorriu intimamente enquanto retirava as malas e acompanhava Saori.
Sete meses. Sete malditos meses querendo um corpo, desejando apenas um homem. Resistindo arduamente ao ímpeto de abandonar Saori no Japão só para poder ver seu Escorpião, sorte ter sido treinado para manter um autocontrole elevado. Suspirou cansado, da próxima vez, daria um jeito de Saga ir em seu lugar.
Saori, um tanto constrangida, pedia desculpas por fazê-lo se ausentar tanto. Ele apenas sorria gentil, querendo se livrar de uma vez. Observou a garota subir em direção do Templo acompanhada de Tatsume, para então dirigir seu olhar para uma casa em especial.
Entrou sem cerimônia e percorreu os corredores da moradia de Escorpião, deixando displicentemente suas malas em um canto, desfazendo o nó da gravata enquanto se aproximava do quarto. Empurrou a porta entreaberta, chamando-o. Vazio.
A cama estava desfeita e algumas roupas estavam espalhadas sobre ela, o que era típico do cavaleiro bagunceiro. Tirou seu paletó, juntando-o à pilha e desabotoando os pulsos da camisa, com uma ruga na testa. Sentou-se na cama e conferiu o horário, quase três da manhã. Sabia muito bem onde estava, parecia até que o segundo nome de Milo era "farra".
O que esperava? Que Milo estivesse dormindo como um anjo esperando por ele? Além do mais, não sabia quando voltaria, já que passara duas semanas sem atender seus telefonemas.
Provavelmente estava enfiado em algum pub ou dançando nas casas noturnas da cidade. Não havia lugar melhor para quem adorava ser o centro das atenções, ser alvo de cobiça e beber até cair. Pegou uma peça de roupa da cama, amassando-a nos dedos e levando ao nariz, aspirando o perfume característico de Milo.
oOo
Pediu mais uma dose de uísque para o jovem garçom do outro lado do bar, precisava disso, vinho não subia tão forte à sua cabeça quanto queria. Sentiu o líquido escorrer queimando pela garganta. Mal percebeu o olhar do garçom sobre seu corpo enquanto despejava a bebida goela abaixo de uma vez. Não apenas dele, mas chamava a atenção de todos do lugar.
Sabia que era uma bela figura, com seus longos cabelos cacheados e loiros, cascateando soltos pelas costas, a calça apertada mostrando as coxas bem definidas, a jaqueta sobre a camiseta dando-lhe um ar rebelde e sexy. Mas aqueles olhares hoje não o envaideciam, queria só se afogar em álcool ao invés de ficar deitado em sua cama, lembrando dele.
Histeria à toa ele tinha dito, ahn? Estava mesmo acreditando nas palavras de Camus ao telefone, de que estava se entediando no Japão. Então ele mencionava as festas em que era obrigado a ir, e ao final não ouvia ao menos um: preciso de você. Ficava desanimado. O seu tom de voz era caloroso, mas... e se não fosse por sua causa?
Ora, Saori podia ser uma adolescentezinha mimada, mas não esquecia de que era Atena também. Podia fazer qualquer cavaleiro sob seu domínio ceder às suas vontades com facilidade, e ainda fazê-lo gostar! Socou a mesa à menção desse pensamento repentino.
Duas semanas atrás, a voz de Camus no telefone estava tão animada, diferente do que o costume. Para piorar havia algumas vozes femininas ao fundo, igualmente alegres. Fora a gota d'água. Não atendeu no dia seguinte, olhando para o aparelho tocando insistentemente. O telefone continuou tocando diariamente e Milo o ignorava sempre. Até que naquela noite, num ímpeto, retirou as roupas do armário e as vestiu, indo para a cidade e entrando no primeiro pub que encontrou.
Estava tão disperso que pulou na cadeira ao sentir uma mão no seu ombro, quase atacando quem quer que fosse. Deparou-se com Shura vestido todo de negro, um cigarro pendurado no canto da boca, os olhos espanhóis levemente puxados transmitiam sarcasmo. Estava acompanhado do belo Afrodite, vestindo uma camisa branca e de tecido fino, com uma pequena abertura deixando ver a pele alva do seu peito, os cabelos perfumados estavam presos em uma trança frouxa.
- Amargando a vida sozinho, Milo? – Capricórnio soltou a fumaça de seu cigarro.
- Deve estar sendo difícil ficar tanto tempo sem aquele pedaço de mal caminho por perto.
Milo lançou um olhar ameaçador para Peixes, que não se abalou, apenas alargou o sorriso zombeteiro nos delicados lábios. Ah, não valia a pena brigar naquele lugar e muito menos com aqueles malditos. Abriu a carteira e deixou uma nota sobre o balcão, se desviou deles e se dirigiu para a saída. Os dois cavaleiros entreolharam-se e sorriram, e então o seguiram para fora do pub.
O grego se viu sendo puxado para um beco próximo e ser prensado contra a parede pelos dois. Gemeu ao sentir a mão de Shura entre suas pernas, pressionando o volume entre elas. A mão delicada de Afrodite rodeou um dos seus mamilos sobre a regata, seus lábios cheios deslizaram pelo pescoço do grego até a orelha.
- Você precisa de uma diversãozinha...
- Está louco por alívio, não está? – o espanhol apertou o volume entre seus dedos longos.
- Ugh... Me... me deixem em paz!
- Ora, vamos, Milo. Eu sei quanto fogo tem debaixo dessa pele, nada vai ser diferente do que era antes. – Peixes beliscou seu mamilo, fazendo-o soltar um leve gemido - Não é porque Camus sumiu com Saori que vai virar um celibatário.
Estremeceu ante as palavras do delicado cavaleiro, Capricórnio soltou uma risada, ainda massageando-o.
- Estamos indo para um lugar... hum... interessante. Será muito bem vindo se nos acompanhar.
Os dois cavaleiros se afastaram alguns passos, encarando Milo apoiado contra a parede, tentando controlar sua respiração. Os encarou por entre a farta franja, estreitando os olhos, um sorriso de vitória adornava o rosto de ambos.
oOo
Tinha-se passado mais ou menos uma hora até sentir o cosmo conhecido preencher o Templo. Os archotes foram se acendendo pelos corredores à medida que a presença se aproximava do quarto, o último revelou a silhueta de Milo, estacando surpreso. Foi recepcionado pelo cintilar dos olhos frios na escuridão.
- Camus? Quando...?
- Pouco mais de uma hora atrás.
Respondeu seco e direto, interrompendo a confusão do grego. A luz do corredor mostrava a figura de pé na sua frente o suficiente, e o que viu agradou-lhe nem um pouco. Vestia uma calça de vinil agarrada nas longas e perfeitas pernas, calçava uma bota de fivelas, de saltos finos e biqueira de metal. Uma coleira adornava seu pescoço, e uma camisa de seda negra aberta deixava ver as marcas no peito.
A raiva guardada uma hora atrás, quando tentava imaginar onde estaria voltou redobrada. Fervilhava seu sangue dentro de suas veias, ainda que sua aparência aparentasse uma terrível frieza e desprezo. Milo conhecia aquele olhar, raras vezes o via, mas o temia por demais. Tentou simular um sorriso em vão, seus lábios tremeram.
- Porque ninguém me avisou que...
- Saori resolveu voltar de última hora.
- Eu senti sua fal...
- Mesmo?
Estremeceu e com custo fitou o cavaleiro de gelo sentado em sua cama, que erguera uma sobrancelha, cortava qualquer tentativa sua de diálogo com suas respostas curtas e secas. Isso não era bom. Com as mãos trêmulas fechou a camisa, envergonhado, molhando os lábios.
- Podia ter me avisado assim que partiu do Japão.
- Eu tentei, mas ninguém atendia ao telefone. Engraçado, o aparelho parece estar em perfeitas condições.
Estreitou os olhos felinos ante o tom zombeteiro. Saiu do batente da porta do quarto, sem acender a luz, para que não visse mais do que queria. Foi em direção do armário, sendo interceptado pelo francês, que segurou firmemente seu braço. Não tentou se soltar, apenas baixou a cabeça, escondendo o rosto atrás do cabelo longo.
- Onde estava?
- Num pub... – sua voz falhou um pouco.
- Com quem estava?
- Com Shaka... – sentiu a mão que segurava seu braço estremecer – e Ikki. Só estava os acompanhado em algumas bebidas, o que há de mal nisso?
- Uma roupa um tanto extravagante para se freqüentar um pub, não acha?
Passou a mão pelo tecido da camisa negra. Milo não respondeu, estático, preso pela mão de ferro do cavaleiro. De repente ela aumentou a pressão sobre seu braço, numa clara expressão de fúria incontida.
- Eu conheço esse perfume, só um cavaleiro o possui... E você está impregnado dele!
O sangue do grego gelou, lentamente, fitou o cavaleiro de gelo, temendo seu olhar. O rosto inalterado, mas estava lá, chispando, sob seus olhos a dor da descoberta. O soltou e se afastou um pouco, olhando-o de cima a baixo com desprezo.
- Não me admira essas roupas, eu já sei em que tipo de inferno esteve metido. – viu o grego arregalar os olhos, surpreso. – Não é muito segredo as atividades favoritas de Afrodite e companhia, e levando em consideração seu passado Milo, não me surpreende que tenha aceitado entrar em um clube S&M. (1)
Escorpião ruborizou, coisa que raramente acontecia, e baixou o olhar, incapaz de encarar seus olhos frios e suas acusações, e eram todas verdadeiras. Acenou a cabeça afirmativamente. O outro deslizou o dedo pela pele de seu peito suavemente, até encontrar uma ferida recente e deslizar a unha comprida nela, causando um gemido de dor no grego.
- E pelas marcas profundas, foi o submisso da noite. Diga-me, Milo, como é se sujeitar? Até onde sei, pelos boatos que corriam pelo santuário, há alguns anos você era Dom... Por que a mudança súbita? (2)
- Camus... por favor... – com uma expressão de súplica, tentou tocar o braço do francês.
- Não me toque!
Com um safanão violento, lançou Milo ao chão, fazendo-o bater as costas já doloridas contra a parede. Encolheu-se pela dor. Camus finalmente se alterava, emergindo um pouco da raiva que agitava seu interior. Olhando-o de cima, cruzou os braços e em pouco tempo seu cosmo se manifestou, e o ar frio tomou conta do lugar. Escorpião abraçou o próprio corpo, esfregando seus braços, tremendo até a alma. A temperatura não parava de cair.
- Porque está fazendo isso? – choramingou.
- Quantos mais além dele?
- O q-que?
- Com quantos mais você esteve?
Gemeu mais alto, sentindo seus ossos doerem com o frio intenso. Começava a respirar com dificuldade, o ar saindo vaporizado de sua boca ressecada e as lágrimas desciam e congelavam pelo rosto moreno.
- No-nove... – sua voz saiu fraca, quase falhando.
- E com quantas?
- Uma...
- E quantos eu me deitei? Com quantos eu o traí quando estava no Japão, cumprindo meu trabalho, cercado de pilhas de contratos, tendo que servir de babá para uma criança de quatorze anos?
Ao ouvir as palavras de Camus, mesmo que ditas sem emoção alguma, Milo elevou o olhar para aquela figura no meio do quarto, de braços cruzados, branco e firme como uma estátua de mármore de um deus julgando um simples mortal. O que ele tinha acabado de dizer?
- Ne-nenhum...
- E por que não? Se eu sei que posso ter quem eu quiser, porque eu não o fiz?
- Porque você me ama, Camus... – choramingou mais uma vez.
Uma pausa. Camus continuava imóvel no meio do quarto, na mesma posição, dardejando-o com os mesmos olhos mortalmente gelados. Continuava sentindo as dores no corpo causadas pelo frio do cosmo de Aquário. Se continuasse crescendo desse jeito, logo os outros cavaleiros de ouro iriam perceber.
- O que o faz pensar que eu o amo? – a voz saiu num sussurro – O que o faz merecer meu amor, Milo?
Se seu coração não tinha sido atingido ainda pelo frio do cosmo de Camus, acabara de parar apenas com aquelas palavras. Como podia dizer aquilo? Então por que...
Seus pensamentos cerraram assim que percebeu algo mudar na firme posição de Aquário, as pálpebras tremiam levemente. Os braços cruzados com convicção, mas as unhas fincadas na carne do antebraço abriam feridas profundas. Camus estava fervendo de raiva, ódio, e segurava tudo aquilo com custo, o mesmo cavaleiro de gelo que sempre conhecia, querendo controlar as emoções que seu coração teimava em criar.
"Camus?". Apesar do frio dilacerante, Milo engatinhou até o francês. Esse só percebeu quando foi tocado na perna, cego pelos próprios conflitos. Afastou-se bruscamente, desenterrando as unhas na pele, o sangue escorrendo livremente das feridas, que ele parecia não sentir. Sentou-se na cama, escondendo o rosto entre as mãos.
Milo novamente engatinhou em sua direção, a face coberta de pequenos cristais de gelo provenientes de suas lágrimas. Hesitante tocou o joelho de Camus, buscando seus olhos. Ele precisava vê-lo... Precisava encará-lo, precisava... Não sabia do que diabos precisava! Sua cabeça estava dando voltas e o corpo tremia violentamente, mas ele precisava dos olhos de Camus... Precisava de sua voz calma lhe dizendo que tudo estava bem. Os olhos amorosos que apenas ele tinha acesso. Ele precisava...
Desenterrando o rosto das mãos, Camus olhou para seu joelho e viu sobre ele a mão quase roxa de Milo. Ergueu lentamente os olhos para o rosto, notando os lábios parcamente azuis e o rosto que perdera violentamente a cor dourada tão característica.
O corpo estava parando de tremer lentamente, se rendendo ao frio.
Em momento algum Milo elevou seu cosmo para manter-se aquecido. Os olhos pesavam e, ao respirar, a boca desprendia pequenas nuvens de fumaça. Mais alguns segundos e desmaiaria, provavelmente.
- Camus, por favor... Me... desculpe... – a voz vinha tão carregada de culpa, tão arrependida.
Camus manteve o olhar gélido sobre o cavaleiro de Escorpião. A raiva ainda fervilhava em seu íntimo e junto com o desejo acumulado de todos os meses que passara sozinho em companhia apenas daquela pirralha que mal saíra das fraldas, as idéias que lhe vinham à mente não eram as melhores nem as mais puras.
Deixou a mão escorregar por sobre o rosto dele, tocando-o com a ponta dos dedos sobre os lábios e murmurando:
- Quando você vai aprender que é só meu?
Milo o encarou confuso.
- O que? – conseguiu murmurar.
- Eu vou ter que te marcar para que os outros saibam a quem pertence?!
Milo estremeceu ante a idéia. Marcar? Ele estava falando de... De repente todos seus pensamentos racionais pareceram desaparecer – o frio havia ultrapassado a barreira do suportável, mesmo para um cavaleiro de ouro. Sentiu um grande estremecimento e em seguida tudo ficou negro. Conhecia a sensação, estava desmaiando. Algo o amparou, uma mão. Uma mão delicada e extremamente gélida. O ar frio ao seu redor se dissipou e ele pôde sentir seu corpo sendo aquecido gradualmente pelo calor que reinava no santuário. Ainda assim os sentidos demoraram a voltar e quando tornou a abrir os olhos a mão de Camus não estava mais em suas costas e ele tampouco estava sentado. Estava de pé novamente na sua frente. A mão que antes lhe segurara estava sobre o zíper do jeans, acariciando lentamente a protuberância que se estirava sob o tecido. Diante da cena estremeceu. Com certeza a ira de Camus ainda não havia abrandado e ele, sem sombra de dúvida, não estava disposto a tomá-lo carinhosamente naquele momento. Encolheu-se com medo do que viria.
- Milo... – a voz de Camus soou rouca.
O corpo do grego retesou-se e ele baixou o rosto. Camus realmente estava pensando em... Não, seu amante nunca faria isso! Faria?
- De joelhos, Milo!
Erguendo novamente o olhar encontrou os olhos de Camus sobre si. O olhar não refletia mais a habitual frieza, mas algo forte, que nunca tinha visto antes no seu rosto... Luxúria.
Um arrepio percorreu sua espinha quando teve certeza do que teria que enfrentar. Já havia passado por isso uma vez – não com Camus – e jurou para si mesmo que nunca mais deixaria acontecer novamente. Ninguém mais iria tocá-lo daquela forma e caso ocorresse este morreria por entre seus dedos. Mas quem estava a sua frente era Camus. Seu amado Camus. A ele não poderia negar anda, especialmente quando sabia que realmente merecia.
Lentamente Milo colocou-se de joelhos, o rosto baixo, o olhar fixado num ponto do chão.
Camus aproximou-se ainda mais, lambendo os lábios inconscientemente e tomou o queixo de Milo entre seus dedos, cravando fundo na pele delicada suas longas unhas. Puxou o rosto pra cima, não conseguindo, contudo, elevar seu olhar. Com a outra mão Camus abriu com rapidez o zíper da calça, expondo sua ereção diante dos olhos de Milo. A ordem veio rápida e certeira:
- Chupe.
Lentamente Milo tomou o membro por entre os lábios, lambendo devagar, aplicando uma leve sucção. Instintivamente Camus lançou os quadris pra frente fazendo o grego engasgar e se afastar tossindo.
- Mandei você parar? – a voz veio junto com os dedos retorcendo e puxando seu cabelo.
Milo controlou-se para não gritar, mas sua boca abriu-se num grito mudo e o membro de Camus logo foi socado dentro dela novamente. Os fios loiros se desprendiam do couro cabeludo às dezenas, fazendo Milo gemer alto e contorcer-se sob os dedos do francês.
- Camus... Dói...
Surpreendentemente Camus soltou os cabelos loiros, tornando a mão a sua ereção, acariciando-a novamente.
- Fique de quatro, de costas pra mim.
A voz inexpressiva destruiu o que ainda restava do coração do grego. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde Camus o tomaria, mas pensou que conseguiria adiar ao máximo este momento e que, quando o fizesse o francês estivesse mais calmo e fosse até carinhoso como costumava ser sempre. Entretanto ali estava Aquário, um perfeito esquife de gelo o encarando com desdém e exigindo seu corpo.
Milo acabou por menear a cabeça uma única vez. Não. A rapidez com que todos aqueles pensamentos lhe passaram na mente foi tanta que o deixou tonto. Contudo mais rápido ainda, desceu o punho de Camus sobre seu rosto, fazendo-o tombar pro lado enquanto a têmpora inchava.
- Eu mandei que ficasse de quatro, Milo!
A solução era resignar-se. Paciência. Deixaria Camus fazer o que quisesse com seu corpo e depois com sorte conversariam.
Relutante virou-se de costas espalmando as mãos no chão frio.
Ajoelhou-se atrás dele, baixando as calças até o meio das coxas e deslizou as mãos sob o corpo de Milo, localizando e abrindo o zíper. Puxou a calça e empurrou a blusa, fazendo voarem os botões, desnudando o grego.
Observou a imagem diante de si, respirando fundo para não perder o controle e acabar com tudo cedo demais. Tinha planos para que Milo jamais esquecesse daquela noite. Acariciou a bunda branca, marcada por pequenos vergões, que se empinava diante de seus olhos, acalmando as reações de seu corpo. Deveria prepará-lo? Não, nada de preparações. Aproximou-se e segurando-o pela cintura, começou a penetrá-lo.
Um fraco gemido surgiu nos lábios de Milo e Camus entrou dentro dele com uma única estocada, violenta, que o fez lançar-se para frente, tentando desesperadamente quebrar o contato. Mal havia se restabelecido da primeira estocada e outra se seguiu, com o dobro de força. Um grito escapou:
- Camus! Pára com isso!
Um tapa desceu em suas nádegas, respondendo ao grito. Em seguida outro e mais outro, a força aumentando gradativamente, não só na bunda, mas nas coxas e nas costas. Milo gritava ainda mais, se contorcendo de dor, com o corpo, inevitavelmente, respondendo aos violentos estímulos. Era Camus que o tomava, era impossível resistir. E os tapas não eram tão fortes assim... Estava gostando daquilo, afinal.
Camus parou subitamente, fazendo Milo soltar um grunhido de frustração.
- Então está gostando disso Milo? – perguntou fazendo clara referência ao fato de Milo estar quase gozando a sua frente – Pois não deveria... – tomou o membro de Milo entre seus dedos e o apertou com força fazendo-o gemer alto – traidores não têm direito ao prazer...
Lágrimas de dor e vergonha desceram pela face de Milo enquanto murmurava um pedido de desculpas.
- Você é meu Milo, a partir de hoje levará na pele a marca de quem pertence.
Escorpião sentiu quando Camus afastou um pouco o corpo e, em seguida, a dor latejante do sangue fluindo para fora do corpo. A unha de Camus havia penetrado sua carne e agora dançava sob ela, desenhando algo. Letras. Um nome. Camus.
Nome gravado, Camus voltou a estocá-lo com força, puxando os quadris contra si. Milo acabou por gozar num espasmo, levando o francês consigo, lançando-se ao chão ofegante. Sentiu o sangue e o sêmen fluindo livremente de dentro de si quando Camus o deixou, mas não se importou. Continuou deitado no chão, enquanto ouvia o som do tecido das roupas, Camus se arrumava silenciosamente às suas costas. Seu rosto continuava molhado pelas lágrimas que vertera, seu coração acalmando as batidas aos poucos. Só então percebera que o quarto voltara à sua temperatura normal.
Notou que Camus voltara a se aproximar de si, e estremeceu um pouco de antecipação. Mas mãos gentis terminaram de retirar sua roupa, ou o que restara dela no ataque. Fora erguido com cuidado e depositado na cama. Aquário o cobriu e então se inclinou, beijando-o suavemente, fechou os olhos ao sentir os lábios novamente macios contra os seus.
Quando os abriu, viu Camus sentado na borda da cama, esfregando o rosto. Franziu as sobrancelhas, preocupado, e tocou levemente no braço do outro, chamando baixinho. Camus apenas virou o rosto na direção oposta.
- Durma bem hoje, você precisa... – levantou-se – Te espero amanhã, na arena, ao pôr-do-sol.
O francês estacou no batente da porta e disse num tom alto o suficiente para que Milo ouvisse:
- Esteja lá, ou matarei você aqui mesmo.
oOo
Continua...
Maio/2004
1 - S&M - Sadomasoquismo
2 – Para quem não sabe, submisso é aquele que se submete e dom é o que domina .
- Trecho de "Cuide bem do seu amor", do Paralamas do Sucesso.
- Camus está ruivo e Milo loiro nessa fanfic, para quem não sabe, eles são assim no mangá de Kurumada. Camus também tem unhas compridas, mas isso deixa quieto -.-'
N.A.:
Senhorita Mizuki: Devo deixar bem claro que a idéia dessa fanfic é da dona Mudoh. Reclamações e cobranças é com a mocinha aí. Ela queria que eu escrevesse uma fanfic dark lemon em que Camus fosse o seme, como estava difícil de sair, acabou virando uma espécie de trabalho conjunto, meu primeiro. -.-' Até que foi muito bom, me dou muito bem com ela.
Mudoh Belial: Crianças ! Essa é minha primeira fic yaoi! Como a Mizu disse, eu praticamente a obriguei a escrever comigo, mas foi tão legal! Se quiserem reclamar, me xingar ou qualquer coisa fiquem a vontade, só deixem minha mãe fora disso, ok? ò.Ó
