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Disclaimer: Harry Potter e todo seu universo e personagens não me pertencem; produto feito apenas de fã para fã.

História originalmente escrita com Sheila Farias.
Porque existem histórias que quando não são contadas ou finalizadas, ficam na sua mente lhe perturbando até que as deixem sair.


Prólogo – A viagem a Hogsmeade

É engraçado como a vida funciona, quase como se você ganhasse uma grande caixa cheia de coisas misteriosas e fosse puxando cada uma de lá e se surpreendendo cada vez mais. "Olha um amigo, aqui um amor platônico, aqui um primeiro beijo, aqui uma detenção escolar, aqui uma nota alta, aqui um braço quebrado..." Só que o que ninguém te conta é que nessa caixa também tem coisas desagradáveis, como uma traição, uma humilhação e, eventualmente, uma morte.

Em uma semana ela estava almoçando com o pai em uma confortável Trattorria perto de Madrid e contando como tinha derrubado um balde cheio de baba de lesma em Carmen - o que rendeu uma cara feia da amiga por uma semana - e como estava empolgada com a volta as aulas, e na semana seguinte ela ouvia barulhos ensurdecedores no andar de baixo da casa que dividia com o pai em Barcelona.

Mas estamos nos adiantando, para começar essa história, primeiro deveríamos voltar e apresentar quem seria, de fato, ela.

Seu nome era Sabrina, Sabrina Vandon Lair. E aparentemente não havia nada de absolutamente especial em si mesma que denunciasse um grande começo pra uma narrativa. Era uma garota de estatura mediana, ruiva como o fogo, os olhos castanhos escuros que eram disfarçados por lentes verde brilhante; pura estética. E sua pele possuía sardas delicadas, não daquelas que enfeiam, mas daquelas que decoram, e isso era a coisa toda sobre ela. Ela não tinha nada que a enfeiasse, de fato ela era extremamente bonita, bonita demais para seu bem, e humilde o suficiente para fingir que não sabia disso. Sua descendência era latina por parte de mãe, ao menos até onde sabia, mas inglesa por parte de pai.

E ela era uma bruxa, o que era comum em seu meio.

Não uma bruxa excepcional, com uma inteligência fora do comum, ou um dom descoberto que faria com que pudesse salvar o mundo. Sua família tinha sangue puro, é verdade, ao menos sua mãe costumava lhe contar isso...mesmo depois de morta. E tradicionalmente o pai teria sangue puro também, mesmo que o avô paterno tivesse sido um afamado amante dos trouxas. Aquilo, ser sangue puro, era raro naqueles tempos em que as famílias puramente bruxas começavam a deteriorar, mas isso não tornava ela um pilar da salvação. Este era Harry Potter!

Qualquer um que lhe perguntasse provavelmente receberia a resposta de que ela era apenas comum, uma garota de quinze anos que vivia na Espanha com o pai, órfã de mãe, e estudava na escola de bruxaria tradicional do país, a Corcions. Talvez quando ela dissesse que o pai era Angelus Lair, dono da loja de logros em crescimento, Penélop's Boom, ela arrancasse algum olhar animado, ou de desprezo por aqueles bruxos mais amargurados. Mas ela mesma não considerava isso um prodígio, e com certeza não conseguia explicar o fato de que em algum momento um terrível bruxo das trevas escolheu o pai como ameaça.

Porque em uma noite fatídica, fora isso que ela vira ao descer as escadas de sua casa, acordada dos pesadelos com o ex namorado morto, por barulhos de explosões.

Agora, sentada em um trem em direção a Inglaterra, ela suspirava cansada, fechando os olhos para reviver a cena que tinha presenciado, detalhe por detalhe. Uma atitude quase masoquista que repetira por muito tempo nos meses que se seguiram aquela noite.

Ela havia descido as escadas depressa e se deparara com seu querido pai, em um duelo por sua vida com um ser que ela só poderia definir como asqueroso. Olhos de cobra, fendidos e vermelhos, dois buracos por narina e um rasgo cortando a face no lugar em que deveriam estar seus lábios. A pele era rançosa e acinzentada, como se tivesse escamas - como uma pele de cobra - e ele ria. Ela nunca o havia visto, e não se decidira se acreditava nos boatos de seu retorno, mas sabia que aquele era Lord Voldemort, o maior bruxo das trevas de seu tempo. Até o som de seu riso era cruel, ecoando pelas paredes enquanto ele apenas se defendia dos poderosos jatos de luz que saiam da varinha de Angelus, acuando o belo ruivo de meia idade cada vez mais.

Como se fosse um tolerante, mas sádico, professor ensinando o aluno a duelar.

No momento em que houve um relampejar verde Sabrina gritou. Um grito angustiado, partindo do fundo de seu peito, porque Angelus parou por um momento no ar atingido em cheio no peito, para em seguida escorregar lentamente para o tapete. E imediatamente as lágrimas começaram a correr pela face delicada e morena dela enquanto corria para o corpo do pai sem se importar com mais nada. Quando olhou naqueles olhos castanhos claro sempre tão brilhantes, e agora vidrados, ela quis seguir junto com o pai, porque não ia poder suportar lembrar de tudo o que eles haviam sentido e feito juntos, não ia suportar sentir que nunca mais eles fariam algo assim.

Mas Voldemort era cruel, e não importou o quanto ela lhe implorasse para que acabasse de vez com sua vida, ele renegou esse pedido, desaparatando com o som de sua gargalhada cruel e farfalhante ecoando na sala silenciosa. Com toda certeza ele sabia que era mais doloroso deixa-la lidar com a cena que vira para sempre.

No dia seguinte Sabrina foi encontrada ainda enroscada ao pai, em estado de choque, chorando copiosamente e conversando com ele, como se ele estivesse vivo e ela só estivesse com medo de dormir. Mercedez, a empregada trouxa que sempre vinha uma vez na semana á casa elegante e antiga, ficou chocada com a cena e imediatamente afastou a menina a sentando no sofá espaçoso da sala, enquanto o olhar triste ia em direção ao bondoso senhor Lair.

Com um telefonema e alguns minutos a avó de Sabrina e mãe de Angelus, Penny Lair, estava aparecendo na lareira - para espanto da pobre Mercedez que teve que ter sua memória obliviada depois - acompanhada de uma dúzia de aurores.

Fora assim que sua tragédia pessoal terminara, sua caixa de surpresas da vida, trancada por um tempo. Ela era uma garota comum, o pai o dono comum de uma loja de logros, e mesmo assim, Voldemort escolhera ele para aumentar seu tão grande catálogo de mortes. Para sua avó, sobrara preparar o funeral e os documentos com a guarda de Sabrina, a transferência para a Inglaterra e mais milhões de coisas burocráticas que tomou os dois meses seguintes.

Para Sabrina sobrou a depressão.


A garota olhou as árvores passando rápido, como borrões pela janela do trem em que estava e decidiu tentar espairecer a mente. Pegou uma revista que jogara no banco ao lado e se concentrou nela por uns segundos. Estava feliz por passar um tempo com sua avó. A Senhora Penny Lair era uma velhinha meio gorducha, de cabelos brancos, muito espirituosa e divertida, que sempre achava um jeito de animá-la. Ela pensou com carinho nas vezes que a avó a havia consolado de suas lágrimas incessantes. Talvez houvesse despencado se não fosse por esse apoio, e não estava desanimada porque ia morar com vovó Penny. Só o que não gostava era da situação em que ia morar na Inglaterra.

O mais engraçado – na verdade trágico – era que Voldemort tinha tirado duas pessoas importantes para ela num período muito curto. A ruiva começava a achar que era perseguição, o que era ridículo, afinal, o que ela poderia ter feito ao Lord das Trevas? Nunca sequer o havia visto antes da morte do pai.

Ele tirara primeiro seu namorado, Cedrico Diggory e agora seu pai. Era absurdo e incompreensível, além de doloroso, e ela que achava que tinha sentido o máximo de dor possível com a morte do Ced, sentiu seu coração se dilacerar mais ainda com a morte de Angelus.

De repente, lágrimas começaram a rolar por sua face. Lembrar de tudo era tão difícil, mas ela continuava fazendo isso, revivendo e pensando, tentando achar alguma explicação razoável. Primeiro Cedrico... Aquele Cedrico que sempre lhe vinha a mente sorrindo, acariciando seu rosto e dizendo o quanto tinha tido saudades dela enquanto estudava. Aquela morte era fácil de explicar, a família dele de alguma forma sabia e acreditava no que dizia Harry Potter. Cedrico era uma vida inocente pega num fogo cruzado.

Ela passou os dedos sobre o colar mágico em forma de meio coração que trazia ao pescoço e lembrou de quando ele o tinha dado logo no começo do namoro. Naquele dia eles estavam numa praça, antes dele voltar para Hogwarts.

- Este é o meu coração. - disse ele - Você vai ficar com um pedaço dele quando eu partir, quando estiver com saudades, é só ir se deitar e antes de dormir olhar para ele que eu estarei sempre aqui te esperando. Ok?

- Isso se você não estiver muito ocupado com outra garota... - dissera ela em tom divertido.

- Sá, NUNCA vai existir nenhuma outra garota.

- Ah tá que você, bonitão desse jeito, não vai arranjar nenhuma substituta para passar o tempo não é? Hahaha.

- Você sabe que é insubstituível.

- Olha que assim eu vou ficar convencida, hein? Mas falando sério, eu vou olhar para esse colar toda hora, porque eu vou ficar com muitas, muitas, muitas, muiiiitas saudades...

Silêncio...Então Cedrico a puxara para si e a beijara doce e amavelmente.

Era uma lembrança que em outros tempos lhe dava aquela sensação boa de nostalgia e inocência, tipicamente infantis. A lembrança do beijo dele a fez chorar mais ainda; seu hálito doce, seus lábios macios, o jeito com que ele a abraçava. Cedrico havia sido seu primeiro e único namorado e para ela era como se cada segundo dos dois fosse uma promessa de amor eterno. E Voldemort a quebrara.

- Maldito. - sibilou a garota com raiva. As unhas penetrando a carne macia das mãos pela a força com que ela as cerrou.

Ela jurara, assim que pudera compreender que seu pai não voltaria e que tão pouco Voldemort a mataria, que se vingaria e estava pronta a se sacrificar, dando o melhor de si nas aulas para isso. Seria aurora, era isso, e o caçaria.

Olhou para uma mancha escura na vegetação e franziu o cenho.

- Nem que eu tenha que desafiar o mundo ou qualquer outra coisa para conseguir. - Disse com mais ódio ainda. Depois se calou, porque o velhote com quem dividia a cabine a olhou estranhamente.

Virou a página da revista e ergueu a sobrancelha para a foto em movimento ali: A própria família Summers. Os responsáveis por ela ter conhecido Cedrico em primeiro lugar. A única pessoa que ela conhecia que, igual a ela, não tinha medo de falar o nome do tal Lorde das Trevas - e de dar algumas risadas as custas dele também - era Morgana Summers, que apesar de morar bem longe, na Inglaterra, era sua melhor amiga - e não só pelo fato de ser prima de Cedrico. Aliás, fora ela que o apresentara a Sabrina. As duas já se falavam há muito tempo, quando Morgana foi fazer sua quarta visita à Sabrina e levou Cedrico junto. Foi amor à primeira vista – pelo menos da parte dela.

As duas se divertiam muito quando se visitavam, e pareciam irmãs, apesar da grande diferença tanto de aparência – já que Sabrina era realmente uma beleza, enquanto Morgana era morena de olhos castanho-escuros, usava uns óculos quadrados para seus muitos graus de miopia, e aqueles aparelhos tipo capacete. Sim, um aparelho estilo capacete, no mundo bruxo! Por algum motivo os medibruxos haviam decidido por aquele terrível aparato por um tempo. Sabrina achava que alguém odiava o Sr. Summers. Morgana se conformava. E não se podia dizer que ela era bem...exuberante como Sabrina, seu tipo físico estava mais para em forma de balão.

Mas a personalidade, nesse campo a diferença era ainda maior. Morgana vivia a ponto de explodir, era o exemplo clássico de temperamental. Já Sabrina...era um doce de pessoa, animada e sempre extrovertida, o que tornava a amizade ainda mais equilibrada.

Claro, a vida era uma enorme caixa de surpresas, e ali, naqueles dois meses que haviam tentado superar a morte de Cedrico e logo após a de seu pai, Sabrina encontrara na ajuda á amiga, que havia finalmente tirado seu aparelho – talvez porque realmente descobrira que algum medibruxo odiava sua família – trocado os óculos por lentes singelas de contato, e decidido varrer da vida os quilos a mais com regime e malhação, a ajuda necessária para tentar superar tudo. Parecia fútil? Claro! Mas no fundo era o apoio que as duas precisavam para superar suas dolorosas perdas. Morgana era louca pelo primo, e conhecia o Angelus a tempo o suficiente para considerar que havia perdido um tio muito querido.

E ai estavam, reinventadas, e com cicatrizes, mas ainda assim era por causa da proximidade á amiga que ela se animava um pouco mais para voltar para a Inglaterra. Seriam a "dupla imbatível", como seu pai costumava dizer, lembrou-se, retornando a chorar.

- Estação Hogsmeade, por favor não esqueçam seus pertences nas cabines, não nos responsabilizaremos por objetos perdidos ou extraviados. Tenham uma boa tarde. - disse uma doce voz de mulher ampliada com o feitiço Sonorus. Sabrina juntou suas coisas na nécessaire e enxugou suas lágrimas enquanto se preparava para descer e descobrir sua nova vida.


Nota das autoras: Capítulo bem morninho, só com uma introdução de Prólogo mesmo. E gente cadê os personagens familiares a todos nessa história? KKKK Tirando o Cedrico e Voldemort só citações mesmo, mas calma, prometemos que melhora. Ainda que os nossos chamados P.O's sejam o foco da narrativa, era a moda a muitos anos atrás, não? KKK Bom, de fato vocês podem perceber que existem coisas nessa fic não tão profundas, que beiram a comédia pastelão...o que dizer? Fizemos essa fic a 10 anos ou mais, e por mais que reescrevamos tem coisas que por pura nostalgia – nem que seja para pensar o quanto éramos bobas – não dão pra mudar. Por isso ela está sendo reescrita. De qualquer forma acho que dá pra se divertir sem compromisso, então...postando.