Capítulo I

Príncipe

Por Tay_Haruno

Toda história começa em algum lugar, e a que vou contar a vocês, caros leitores, se passa em Konoha, que não é nem muito longe e nem muito perto de onde estão agora.

Konoha era um pequeno vilarejo, situado nas províncias do reino Senju, onde só existiam camponeses, pessoas simples de vida difícil. E nesse vilarejo nem muito longe e nem muito perto, existia uma bela camponesa chamada Sakura Haruno, mais conhecida pelos habitantes de Konoha como Flor, por sua bondade e formosura. Era dotada de uma beleza exótica, tendo longos cabelos que se estendiam dois palmos e meio abaixo da cintura, e eram tão róseos que encantava a quem visse; os olhos verdes esbanjavam sensualidade, sendo considerados os olhos mais belos que uma moça poderia possuir; de mãos calejadas, resultado do trabalho árduo do campo, e mesmo levando uma vida dura e de muito trabalho, vivia alegre pelos cantos.

A bela Sakura morava com os pais, Kizashi; um homem bruto e pouco estudado, e Mebuki, uma mulher aparentemente jovem, também de poucos estudos. Tinha uma irmã mais velha, chamada Tayuya, essa por sua vez muito diferente da Flor; os olhos eram de um castanho escuro, o cabelo longo de fios ruivos caia-lhe até metade das costas, as mãos não eram calejadas e ao contrário da irmã mais nova, era uma mulher amarga, fria e maldosa. Vivia a maltratar a irmã, e tão amável que era a nossa Flor, acabava por perdoar os males que a irmã causava para si.

Havia muitos rapazes dispostos a casar com Sakura, viviam-lhe fazendo serenatas em frente sua humilde casa, enchendo-a de presentes caros que logo depois eram entregues para Tayuya, como trajes nobres e jóias.

-Deves casar-se com um homem de sabedoria – Aconselhava-lhe seu pai.

Mas a Flor não se importava, podiam encher-lhe de todo o ouro que existia no mundo, a moça só iria se casar com o seu tão sonhado amor verdadeiro; nada de arranjos ou casamentos forçados, ora, ela era romântica como qualquer outra jovem de sua idade.

E a história começa em um dia qualquer, nesses dias quase sem importância. O sol raiou no céu celeste sem nenhuma nuvem, e de tão quente que aquela manhã estava, tinham a sensação de que a qualquer momento tudo começaria a derreter.

Será que o sol havia se aproximado da Terra? Ninguém sabia responder.

E nesse dia sem importância, lá estava a nossa Flor, tão bela quanto qualquer manhã de céu aberto. O vestido longo de panos pobres, cobria seu corpo delicado; estava na frente do pequeno espelho pendurado na parede de seu quarto, entrelaçando três mechas de seu cabelo, deixando que a trança caísse na lateral direita de seu corpo. Calçou seus chinelos de dedos e saiu do cômodo, caminhando lentamente até a cozinha, onde sua mãe preparava o café. Sentou-se a pequena mesa redonda, junto ao pai que estava lendo o jornal concentrado e a sua irmã, que lixava as unhas bem feitas.

-Bom dia – Saldo-os com seu costumeiro tom baixo e doce – Sua bênção meu pai – Esticou a destra até Kizashi.

O homem beijou o dorso da mão da filha.

-Kami-sama te abençoe – Esticou a mão para que Sakura retribuísse o beijo.

Mebuki pousou a garrafa térmica sobre a mesa e distribuiu as xícaras para o marido e as filhas, em seguida servindo o café quente para cada um deles.

-Papai – Chamou Sakura, pousando sua xícara na mesa, após ter tomado um longo gole do café amargo – Posso passear pelo vilarejo após o café da manhã? – Indagou receosa, sabia que não podia sair sozinha.

-Acompanhada de quem? – Perguntou-lhe Kizashi, com seu costumeiro olhar desconfiado.

Sakura calou-se por alguns segundos, pensando em como dizer que iria sozinha.

-Bem... – Murmurou baixando o olhar – Sozinha.

O velho Kizashi franziu o cenho, não gostava que suas filhas perambulassem pela vila sozinhas, havia muitos perigos, principalmente para moças.

-Não – Disse Kizashi, recusando o pedido da filha mais jovem.

A Flor baixou a cabeça, tomando uma feição tristonha no belo rosto de menina.

-Eu vou com ela papai – Disse Tayuya, que até então havia permanecido em absoluto silêncio.

Kizashi estreitou os olhos, mas sabia que a filha mais velha era responsável, não deixaria a mais nova sozinha pelo vilarejo. Suspirou pesadamente, fechando os olhos por breves instantes.

-Está bem – Assentiu o homem – Mas não voltem tarde! – Ordenou.

O rosto de Sakura iluminou-se, sorriu para a irmã que não retribuiu.

-Vamos logo Sakura – Resmungou Tayuya, levantando da mesa e seguindo para a porta.

A Flor assentiu e rapidamente acompanhou a irmã.

(...)

Caminhavam lentamente pela vila, Sakura estava feliz, aquele era o seu primeiro passeio sem a companhia dos pais, sentia-se livre. Tayuya por sua vez, achava a alegria da irmã pura ignorância, afinal já estava acostumada a passear sem os pais em seu encalço.

Pararam em frente a uma velha loja de conveniências, Tayuya cruzou os braços abaixo dos seios e disse à irmã com seu tom arrogante:

-A partir daqui nos separamos.

Sakura a fitou confusa.

-Mas disseste a papai que me acomp...

-Eu disse – Gritou interrompendo a rosada – Mas eu preciso resolver alguns assuntos – Apontou para a loja – Me encontre aqui em uma hora, se não chegares, voltarei para a casa sem ti.

Antes que Sakura pudesse discutir, Tayuya adentrou a loja, deixando-a sozinha. Por um momento pensou em segui-la, mas não queria aborrecê-la, por isso resolveu prosseguir seu passeio, não iria muito longe, pois tinha medo de se perder.

Iniciou sua caminhada, seguindo a estrada de terra; olhava ao redor, observando cada detalhe das casas simples da região, e notou que em cada casa, pelo menos uma das janelas frontais tinha uma pequena faixa presa no peitoril, onde bordado estava o símbolo da realeza; aquilo significava lealdade ao reino Senju.

Chegou ao final da estrada de terra, onde adiante se seguia a floresta. Sakura permaneceu parada ali, observando a floresta serena; as árvores balançavam de um lado para outro conforme a direção que o vento tomava, os únicos pontos de luz que surgia entre as sombras eram dos espaços entre uma árvore e outra, por onde a luz do sol adentrava, como filetes iluminados, dando um ar mágico ao lugar.

Era tudo tão bonito, tão convidativo que a Flor não hesitou em seguir mata adentro. Ouvia os pássaros cantando, o barulho das árvores balançando e de seus pés pisando em folhas secas.

Seguia uma trilha estreita, passando pelas samambaias e flores que nunca havia visto, uma vez ou outra pisava em um punhado de terra mais úmida, sujando seus pés. Até que depois de muito andar, seus olhos encheram-se de brilho ao deparar-se com um lago de águas esverdeadas.

A rosada retirou os chinelos, subiu a barra do vestido até as coxas e sentou-se à beira do lago, afundando os pés descalços na água gélida. Inclinou a cabeça para trás, erguendo o rosto para que o sol esquentasse sua pele.

Ficou um tempo ali, desfrutando das sensações que aquele lugar trazia, até que sua tranquilidade fora interrompida pelo o barulho do bater de asas. Abriu os olhos e viu que um pássaro começava a pousar sobre as águas do lago.

Era um falcão.

Retirou os pés da água e levantou-se rapidamente, a ave preparava-se para pousar, e certamente morreria afogado. Tinha que salvá-lo, afinal era uma vida também.

Pulou em um mergulho de cabeça, afundando na água escura, bateu as mãos e os pés, em direção a superfície, retirando a cabeça da água e enchendo os pulmões de ar. Olhou em volta, procurando pela ave, que provavelmente saiu voando assustado com o baque de seu corpo contra a água. Pelo menos havia sido salvo, e isso permitiu que a Flor sorrisse.

Queria ficar nadando por mais algum tempo, mas um movimento estranho embaixo da água a assustou, era uma sombra que se movimentava rapidamente em sua direção. Preparou-se para sair da água, agarrando a margem e tomando impulso para subir, porém antes que pudesse retirar seu corpo do lago, algo agarrou seu tornozelo e a puxou de volta bruscamente.

A moça se debateu, gritando assustada, até que a coisa a soltou. Nadou mais que rápido para a margem e retirou-se do lago; trêmula, tossia uma boa quantidade de água que havia engolido, sentia seu corpo bastante pesado, o que a impossibilitava de ficar de pé. Arrastou seu corpo pela grama envolta da lagoa e lá se deitou, tentando se recuperar do susto, para então sair dali o mais rápido possível.

Ouviu o barulho agitado da água, virou seu rosto, vendo que algo surgia lentamente sobre a superfície do lago. Apesar da sua visão turva, conseguiu distinguir exatamente o que surgia.

Era um homem.

Seu coração pulsou forte, sentiu um arrepio ruim pelo seu corpo, tinha que sair dali, mas quando tentou levantar, o seu corpo não a obedeceu, estava pesada demais.

O homem nadou até a margem, sendo observado por dois olhos esmeraldinos arregalados de pavor, entretanto assim que saiu da água, Sakura fechou os olhos, percebendo que ele estava completamente nu.

-Você está bem? – Uma sombra tapou o sol que queimava-lhe a pele, ouviu a voz grossa e firme próxima de si.

Sakura soltou um grito desesperado e finalmente conseguiu se mexer, se afastando do homem. Fez um pouco de esforço e conseguiu levantar, com as pernas bambas, correu. Caiu umas duas vezes ao enganchar seus pés na barra do vestido, se arrastou pela terra umedecida da floresta, para logo levantar e voltar a correr.

Olhou para trás, para ver se o homem a seguia, porém não viu nada mais que as árvores que eram deixadas para trás. Voltou o rosto para olhar adiante e de repente sentiu seu corpo se colidir contra algo duro, levando-a ao chão. Bateu as costas com força, soltou um grunhido de dor, mas tratou de levantar, estava com medo do homem estar a seguindo. Olhou para sua roupa completamente suja, teria que inventar algo para sua família, afinal havia saído limpa de casa.

Ergueu o rosto e empalideceu ao ver que em sua frente um rapaz a observava.

Recuou dois passos, sentiu seu calcanhar enroscar em um ganho e caiu sentada.

-Ei moça – O rapaz se aproximou lentamente para que não a assustasse – Você está bem? – Perguntou a ela, estendo-lhe a destra.

Sakura se arrastou no chão coberto de folhas, se distanciando.

-Não se aproxime de mim! – Gritou a Flor com a voz trêmula.

Um sorriso surgiu no canto dos lábios do rapaz, que emaranhou os dedos nos fios negros de seu cabelo e soltou um breve suspiro.

-Perdoe-me – Murmurou – Não farei mal algum a senhorita.

Sakura o encarou desconfiada, não poderia baixar sua guarda para um estranho. Levantou do chão lentamente, observando o rapaz com os olhos estreitos, caso notasse algum movimento ameaçador, correria para longe.

-Quem és tu? – Perguntou a rosada ao rapaz, ainda mantendo uma distância segura.

-Eu me chamo Sasuke – Respondeu-lhe gentilmente – Uchiha Sasuke.

A Flor arregalou os olhos. Um Uchiha? Ali? Conversando com ela? Impossível.

-Uchiha – Sussurrou abobada – Da família real? – Indagou descrente.

Sasuke assentiu.

-Príncipe Sasuke – Confirmou.

Sakura percorreu seus olhos pelo o corpo do dito príncipe, suas bochechas coraram ao finalmente notar que ele trajava apenas uma bermuda de pano surrado, deixando seu corpo bastante forte exposto. Ele não calçava nada nos pés, firmando-os descobertos na terra úmida do bosque. Voltou a erguer o olhar para o rosto dele, observando a pele alva, cabelos negros molhados e olhos escuros. O que mais causou-lhe curiosidade e certo espanto, foram suas orelhas pontiagudas. Ele era bastante bonito, realmente nunca havia o encontrado perambulando pelo vilarejo, mas isso não significava que pudesse acreditar que aquele homem – vestido em trapos – seria o príncipe.

-És um elfo? – Perguntou a ele.

Já havia escutado algo sobre a família real serem seres mágicos, mas nunca acreditou nessa lorota, afinal serem mágicos não existiam... Não é?

-Ah – Sasuke tocou a própria orelha – Sim, sou um elfo – Confirmou ele – Vejo que duvidas de minha nobreza, mas posso provar que sou realmente um membro da família real – Ergueu a destra – Vê essa marca – Estendeu-lhe o braço, tocando seu pulso, onde o símbolo da realeza estava gravado em sua pele – Só integrantes da família real possuem este símbolo gravado na pele – Informou a ela, que olhava para o seu pulso atentamente.

Sakura observou a marca por alguns instantes, não era o que chamávamos de desenho, semelhava-se a uma cicatriz. Após muita análise, a jovem curvou-se respeitosamente diante de Sasuke, numa reverência. Estava constrangida, mas ele era um príncipe, integrante da família real, não podia-lhe faltar com o respeito.

-Perdoe-me por duvidar de vossa nobreza senhor – Disse após endireitar-se.

Sasuke franziu o cenho, fazendo uma breve careta.

-Senhor? – Indagou – Me achas velho? – Perguntou a ela, recebendo um gesto negativo como resposta – Então me chames apenas de Sasuke – Pediu.

-Sasuke – Murmurou envergonhada por tratá-lo informalmente.

Sasuke curvou levemente a cabeça, aprovando a forma como ela o chamara. Mantinham-se em silêncio, e nesse meio tempo Sasuke aproveitou para percorrer seus olhos negros – e para Sakura um tanto intimidadores – pela moça a sua frente, medindo-a dos pés a cabeça, notando o quanto aquela plebeia era bela.

-Qual é o seu nome? – Perguntou a Sakura, que desviou os olhos dos dele, virando o rosto para outra direção que não fosse a do príncipe.

-Haruno Sakura – Respondeu baixinho.

O jovem rapaz ao vê-la desviar os olhos dos seus, imediatamente agarrou o queixo feminino com os dedos da destra, erguendo o rosto da moça, fazendo com que olhasse diretamente para si.

-Não desvie o olhar quando estiveres respondendo a alguém – Disse gentil, sorrindo ao ver o rosto dela ruborescer.

Sakura assentiu.

-Desculpe – Sussurrou.

-Shh – Levou o polegar sobre o lábio inferior rosado e carnudo, pressionando levemente – Não precisa desculpar-se, deixarei passar dessa vez – Sorriu galanteador.

A Flor ao tomar consciência do quanto estavam próximos, imediatamente recuou um passo, afastando-se do rapaz.

-Preciso ir – Avisou-o – Foi uma honra conhecê-lo senhor... – Viu a cara que Sasuke fez ao tratá-lo formalmente, reprovando-a – Sasuke – Corrigiu-se, curvando-se novamente.

Antes que ela desse-lhe as costas, tomou a mão pequena, erguendo-a na altura do rosto.

-Espero vê-la novamente – Murmurou enquanto depositava um beijo sobre o dorso.

Sakura sentiu um leve arrepio ao sentir o contato dos lábios dele contra sua pele, era tão estranha aquela sensação.

Assim que exibiu a ele um sorriso tímido, recolheu sua mão, recuando alguns passos, logo seguindo para a saída da floresta, caminhando lentamente entre as plantas e árvores. Quando estava prestes a sair da floresta, olhou para trás, mas não encontrou ninguém.

Já devia passar do meio-dia, apressou os passos, parando em frente ao estabelecimento onde antes sua irmã havia entrado, devia ter se adiantado, pois depois de longos minutos esperando-a debaixo da sombra de uma árvore, finalmente a avistou, mas Tayuya não havia notado a sua presença até então.

-Tchau Sasori – Despediu-se do rapaz que saia da loja ao seu lado.

Sasori tocou-lhe a bochecha com as pontas dos dedos, vendo Tayuya fechar os olhos, apreciando o carinho. Curvou-se até a moça, unindo seus lábios aos dela em um beijo sutil.

Sakura arregalou os olhos ao ver o rapaz beijar sua irmã nos lábios, ao mesmo tempo em que estava surpresa, estava encantada com aquela cena. Nunca havia visto alguém beijar, nem mesmo seus pais e nunca fora beijada nos lábios, mas vivia a imaginar esse momento.

Foi despertada de seus devaneios quando uma voz estridente chamou-lhe pelo nome, ergueu o rosto, devia estar tão dispersa em pensamentos que não percebeu que Tayuya já havia a visto.

-Vamos embora – Disse a mais velha – Por que estás toda suja? – Analisou a mais nova enquanto esta se levantava.

Sakura olhou para o seu próprio corpo, realmente estava muito suja.

-Eu... – Mordeu o lábio inferior, tentando arrumar alguma desculpa – Fui arrastada por um cachorro.

Tayuya franziu o cenho.

-Que seja – Resmungou se pondo a caminhar.

Sakura sorriu discretamente, agradecendo por Tayuya não se importar com ela. Seguiu pela estrada de terra logo atrás da irmã, por todo o trajeto até a sua casa, pensou no príncipe Uchiha, da forma como ele era gentil e absurdamente bonito; da voz grossa e firme chamando-a pelo o nome, de seu toque, de seus lábios em sua... Mão.

Parece que teria muito a fofocar com Ino e Hinata assim que chegasse em casa.