Era uma manhã de inverno gélida e cinzenta. As flores não mais brotavam, nem mesmo mais verdes eram as plantas, tudo parecia morto. O vento uivava por entre as árvores, dando uma sensação de perigo. As nuvens cobriam o céu, dando uma atmosfera ainda mais sombria. Por dentre essas mesmas árvores, de aspecto assustador, caminhava uma jovem moça dos longos cabelos negros e cacheados, com um grande casaco preto que lhe cobria todo corpo e luvas também pretas para proteger-lhe do frio. Ia em direção a uma mansão suntuosa que tinha ali por perto. Era uma mansão sombria, que combinava com o aspecto do tempo. Lá estava tudo mesmo morto.

Bellatriz aproximou-se da porta e deu-lhe um toque delicado com a varinha. Segundos depois apareceu em frente à porta um garoto, assim jovem como ela, porém de aspecto gorducho e medroso.

-Pettigrew, Lorde Voldemort está ai? –perguntou rispidamente, mantendo o nariz empinado e os olhos longe do servo. Bellatriz o desprezava.

-Srta. Black – falou o rapaz tremendo –Milorde está à sua espera.

Seguindo os passos de Pettigrew, Bellatriz adentrou uma sala pouco iluminada e aquecida pela lareira. Lorde Voldemort estava deitado em um divã, remexendo as pétalas secas do que havia sido uma margarida.

-Milorde –disse Bellatriz com uma longa reverência.

-Bellatriz, minha cara. –respondeu Voldemort, beijando a mão por sob a luva de Bella. A garota sorriu de regozijo.

-Precisando de mim, Milorde? –perguntou com um meio sorriso.

-Sempre preciso, minha querida, minha mais fiel e bela comensal... –respondeu o Lorde galanteador. Gostava de ouvir elogios do Lorde. Inflavam seu ego. Bellatriz retirou o casaco, a sala estava quente. A jovem usava um vestido rodado preto sem alças, o que valorizava seu busto, uma meia calça também preta e sapatos de salto alto. Seu rosto ruborizado pelo vento cortante de fora do castelo lhe dava um aspecto jovial, muito mais do que já era. Parecia uma mocinha que acabara de receber um lisonjeio mais ousado. Mas há tempos que Bellatriz não mais se ruborizava com elogios os mais vulgares, apreciava-os.

Bellatriz sentou-se em um sofá perto do divã, onde, outrora, Voldemort esteve deitado. Cruzou as pernas e acomodou-se o mais confortavelmente possível.

-Ainda estou curiosa, Milorde –continuou –O que exatamente quer de mim?

-Sabes o quanto aprecio a beleza, não sabes Bella? –continuou Voldemort, sentando-se ao lado de Bellatriz. A garota apenas respondeu que sim com um aceno de cabeça. –Há uma semana, tive o prazer de conhecer o espécime mais belo da espécie humana.

-E quem seria essa garota, Milorde? –perguntou Bella enciumada, franzindo o cenho.

-Garota? Não, não é garota. –respondeu Voldemort, no que Bellatriz fez uma expressão surpresa. –Eu disse que era o espécime mais belo... –continuou, Bellatriz assentiu. –Era um anjo, Bella. Uma beleza rara. Mas não tive oportunidade de conhecê-lo a fundo, não pude analisar-lhe a alma. Conheci-o na festa de casamento de sua irmã, Sra. Malfoy. Mas como você mesma deve ter percebido, Lucius e sua noiva não me deixaram gozar da festa à vontade, querendo apresentar-me a Madames com diademas, intelectuais fracassados e toda uma alta sociedade em decadência. Acham que isso aumentaria a popularidade deles. Sabes melhor do que eu, minha cara, como funcionam essas festas. E sabes mais ainda como são Lucius e sua irmã.

-Bem os conheço, Milorde. –respondeu Bellatriz. –Mas, foi um orgulho ter alguém como Milorde para festejar-lhes o casamento. Sentir-me-ia honrada com certeza, se Milorde desse-me o prazer de comparecer ao meu matrimônio. Sei que foi assim que Narcisa se sentiu.

-Bem sei que sim, Bellatriz. –continuou Voldemort. –Entretanto, o ponto a que quero chegar é que não tive o prazer de conhecer tão formosa figura. Inquietou-me demasiadamente seu jeito. Era quieto, Bella, no entanto sorridente e pueril. Deve estar na casa dos dezoito anos. Um jovem e parece-me sê-lo também de alma. Possuía um mistério que não sei explicar, minha cara. Causou-me uma impressão e tanto. Mudou-me a vida. Daria tudo para conhecê-lo.

-Posso consegui-lo para o senhor, Milorde.

-Não será necessário, Bella, logo saberás por que. Ele está mais perto do que eu poderia ter imaginado minha cara. Trata-se de um conhecido teu.

-Conhecido meu? –perguntou Bella inconformada. –Nunca vi tal beleza da qual divaga, Milorde.

-Ora, Bella, pense! Um garoto, entre dezoito e vinte anos, cabelos negros e sedosos, olhos acinzentados e oblíquos, tez alva e delicada, lábios vermelhos e carnudos, nariz fino e pequeno. Não te lembras ninguém?

Bellatriz tentava se lembrar. Já havia se levantado e andava de um lado a outro da sala, com a margarida morta que Voldemort esteve na mão outrora. A idéia que lhe passava na cabeça não lhe era satisfatória.

-Milorde, estás a me descrever um Black. São os caracteres de minha família: olhos acinzentados, cabelos negros e tez clara. Só pode ser um de meus primos. –concluiu.

Voldemort deu um sorriso enviesado.

-Trata-se exatamente de um de seus primos, minha cara. Como nunca houvestes percebido que andavas a falar com tal dádiva da natureza? –Voldemort riu da expressão chateada de Bellatriz.

-Ora, Milorde...

-Não te preocupa, Bella. Sempre soube que tu não te atentavas para tais detalhes da vida. Não sabes apreciar a beleza como eu sei. Mas não te preocupa, isso só te torna uma comensal ainda melhor.

-Então, diga-me, Milorde, de quem falas? Sirius ou Regulus?

-Tu mesma me respondas Bella. Achas que um traidor do sangue pareceria a mim apropriado como a maior beleza já existente? Acreditas que Sirius possa mesmo ser aquele de quem estou dizendo maravilhas, logo a mim, Bella?

-Claro que não, Milorde. Só pode ser Regulus.

-E de tal modo, tu já deves ter concluído que meu chamado se deu justamente por que o garoto encontra-se em sua casa devido ao falecimento do último de seus pais.

-Sim, Milorde.

-E desse modo, você me convidará para um jantar em sua casa, onde a presença do rapaz será imprescindível a fim de que eu possa ter com ele contato e quem sabe trazê-lo para a causa.

-Sim, Milorde. –respondia Bellatriz mecanicamente.

-Ótimo! –respondeu, abrindo um sorriso e acariciando o rosto de Bella. –Hoje as oito? –perguntou.

-Seria perfeito Milorde. –respondeu Bellatriz com uma feição indecifrável.

-Sorria, minha querida. –continuou o Lorde. –Terás tua recompensa se eu conseguir o que quero. Pensa nisso. Regulus pode ser teu caminho para constar para sempre ao meu lado como minha mais fiel comensal. Poder é o que te espera minha querida.

-Aguardo ansiosamente, Milorde. –respondeu Bella com um sorriso. –Regulus será um dos nossos custe o que custar.

-Acredite, custe o que custar. –respondeu Lorde com um sorriso.