Eras conectadas

A terra parecia gritar seu desespero e tremia ante os poderes que eram lançados.

Essa seria a última batalha contra Naraku, era isso que o vento dizia ao tocar o rosto dos combatentes. A última chance, se não conseguissem iriam morrer. A vitória virou questão de sobrevivência.

Muitos estavam desvalidos devido ao cansaço e ferimentos. Sango tinha um dos braços quebrados e já não era mais capaz de arremessar seu osso voador. Miroku ao seu lado tinha o rosto trilhado por sangue e se lançava em sua proteção sempre que necessário. Shippou estava desmaiado e Kagome ao seu lado se mantinha em pé com o uso de muita força de vontade. Seus joelhos tremiam e sua boca se abria em um esgar cansado deixando a respiração pesada e cansada escapar.

InuYasha corria e brandia sua espada contra o inimigo que desviava de seus golpes com facilidade. As sobrancelhas arqueadas mostravam a frustração que sentia. Apenas Sesshoumaru se mantinha impassível atacando e acertando em pontos estratégicos.

Na mão de Naruku havia um brilho negro que irradiava poder.

A jóia de quatro almas estava completa novamente, mas sua pureza fora usurpada pela maldade que morava no coração do novo dono. Seu brilho agora era infame e corrompido.

Rin assistia a luta ao longe. Tinha gana de ir aos seus amigos ajudá-los nem que fosse minimamente, estaria disposta até mesmo a desobedecer a ordem do seu Senhor, mas Jaken segurava seu braço impedindo seu ato heróico.

_Você não pode ir lá! O senhor Sesshoumaru a proibiu!- disse nervoso apertando mais seu punho.

_Eu preciso Jaken sama. Eles estão em perigo.

_E o que uma menina como você pode fazer?Deixe que o senhor Sesshoumaru se encarregara de limpar esse lixo.

Ela abaixou a cabeça deixando de oferecer resistência. Jaken tinha razão, mesmo que quisesse ajudar o que poderia fazer? Era uma simples criança humana.

_Tem razão Jaken sama. – respondeu baixo se aquietando. Era triste não pode fazer nada.

Ele respirou aliviado.

_Fico feliz que tenha entendido.

O Yokai sapo relaxou o aperto. Os olhos de Rin estavam desanimados e não lhe ofereciam mais perigo. Ao menos foi o que pensou ao soltar-lhe a mão.

_Vamos para um lugar mais seguro aconselhou.

_Sim Jaken sama. – ele sorriu e lhe deu as costas certo de que ela o acompanharia.- E muito ruim não poder ajudar, mas não é pior do que ficar sem fazer nada ou ao menos tentar.

Quando o Yokai sapo voltou a fitar o rosto infantil ela largou a correr. Os olhos decididos encarando a missão a sua frente. A voz dele ficou distante e a única coisa que acompanhava a menina eram seus apelos e o barulho dos pés descalços afastando as pedras em meio a corrida desenfreada. Kagome olhou-a de maneira tensa e preoupada antes de ser lançada em direção á uma pedra por um dos tentáculos de Naraku. Gesticulou algo que ela mão pode identificar com perigo.

_Senhorita Kagome!

Mesmo não sabendo direito o que poderia fazer ela correu a ajudá-la e como em um passe de mágica viu algo se colocar entre as duas. Era grande e pesado e arfava violentamente fazendo seu peitoral deformado subir e descer em uma agonia sem fim. Ela recuou um passo ante a visão medonha tendo os olhos abertos de pavor.

Sesshoumaru se adiantou e cruzou o espaço entre eles velozmente. Iria arrancar a cabeça do desgraçado se ousasse tocar em sua protegida.

Porém não foi rápido o suficiente.

Naraku levantou a mão e Rin se afastou mais com medo do que ele planejava. Seu sorriso era macabro e cheirava a morte. Ela sentiu o coração bater desesperadamente. Esse seria o fim?O que era pior que morrer pela segunda vez?Ela sabia a resposta. Pior do que morrer novamente era a certeza que tinha de nunca mais poder ver seus amigos, ou senhor.

A jóia encravada na palma da mão do Yokai tinha grossas veias ao seu redor que pulsavam como se alimentassem-na de sangue. Na verdade estavam enviando sua energia maligna para o seu interior, dessa maneira não havia como se manter pura.

_Morra. – ele sibilou.

Sesshoumaru apertou o passo além do impossível. Esticou o braço a fim de segurar a protegida e levá-la para um lugar seguro, mas segundos e centímetros o impediram e a sua mão pairou abandonada á meio caminho do destino.

O que veio no instante seguinte foi uma luz intensa seguida pelos som do rugir de um trovão.

Rin sentiu o corpo flutuar como se estivesse suspensa no ar. Teria morrido? Buscou contato com algo que pudesse lhe garantir segurança ou sustentação mas encontrava apenas o vazio que escapava por entre seus dedos. Houve uma força gravitacional a convidando para um abraço. Tentou desvencilhar-se dela, mas era impossível. A força pareceu ofendida e começou a ceder até lançá-la com brutalidade para baixo.

Tudo foi em questão de segundos.

Sentiu o corpo ir de encontro á um solo frio e duro. Seu rosto ficou colado no chão aspirando um odor desconhecido que parecia ter mil anos. Quando abriu os olhos pode ver várias silhuetas estranhas se desdobrando a sua frente.

Estava em um beco escuro e úmido, compartilhando sua imundície com os animais abandonados.

Em meio á escuridão havia apenas um faixa de luz que se desdobrava a sua frente como a luz no fim de um túnel.

Levantou e caminhou incerta para a luz que brilhava a frente. A estranha queda tinha lhe rendido um machucado no joelho que queimava. Seus amigos ainda deveriam estar lutando, porém algo fazia seu coração tremer. Tinha certeza de ter sido arremessada para longe, mas o som que vinha da luz era diferente, como se muitos animais rugissem apressados.

Nada porém podia prepará-la para aquilo. Luzes que vinham de troncos como magia, pessoas que passavam apressadas com as mãos nos ouvidos ou bebendo coisas estranhas de objetos estranhos. Mulheres em cima de sandálias com palitos finos de sustentação.

Uma língua que ela não conhecia.

O mundo novo e estranho se desdobrou sobre a figura pequena de Rin como um monstro ameaçador. Tudo era gigante e ameaçador, e as pessoas pareciam estar muito apressadas para notar uma criança atípica a paisagem natural.

O coração disparou como se quisesse pular para fora do peito e o sangue correu-lhe gelado pelas veias. O que era aquilo? Onde estava?Seu único movimento e reação foi correr como se assim pudesse escapar daquele estranho pesadelo.

_Senhor Sesshoumaru!- gritava a procura. – Jaken sama! Senhorita Kagome!InuYasha sama!Qualquer um!- chamou aflita sentindo o peito arfar pela corrida.

Levou alguns minutos para que percebesse que não estava mais em casa e que ninguém viria ao seu encontro. Estavam muito longe para que o coração pudesse se comunicar com eles. O mundo á sua volta parecia comprimir clautrofobicamente como se quisesse trancá-la para sempre.

Sem escapatória.

Completamente sozinha.

As lágrimas afloraram pesarosas. Não queria ficar sozinha, não de novo. Tinha uma nova família, um pouco diferente das demais, mas era dela, ela os escolheu.

Eles a escolheram.

Como poderia admitir a solidão que fazia seus pés se contorcerem novamente?Como iria suportar a saudade das pessoas que amava?

_Senhor Sesshoumaru, Jaken sama. – murmurou com a voz chorosa. Era um apelo silencioso como se os chamasse pelo coração.

Pelos olhos marejados ela podia vislumbrar os estranhos que passavam apressados, mesmo com uma criança chorosa e desesperada do lado eles pareciam incapazes de lhe lançar um único olhar de piedade. Os sapatos batiam no solo como uma marcha.

O barulho era descomunal e feria os ouvidos da menina, assim como as luzes que faziam seus olhos arderem. Estava em meio á uma multidão de pessoas sozinha. Como isso era possível?

Continuou a caminhar com a visão embaçada pelas lágrimas indo em direção a rua movimentada. O sinal estava vermelho e ela seguiu junto com um grupo de pessoas pela trilha branca e negra que parecia ser uma ponte em meio aquele mar de monstros que rugiam motores, mas se demorou mais que os outros pelo desalento da tristeza e o sinal abriu antes que pudesse alcançar a calçada em segurança.

Uma luz forte veio em sua direção a mil por hora e Rin paralisada pelo medo fechou os olhos antes do impacto.

Houve um som forte e estridente de algo sendo triturado e em seguida gritos.

Muitos gritos.

Olhos se abriram assustados. Um homem bateu a mão com força no volante e pôs a cabeça para fora da janela obviamente irritado.

_MENINA IDIOTA!SAI DA FRENTE!- Ele gritou.

Apesar de não ter entendido o que o homem falou ela compreendia o tom de voz ameaçador. O coração assustado e abandonado gritou para que corresse e ela obedeceu.

Em disparada abriu espaço pelas pessoas até parar em baixo de um viaduto. Sentou-se na parede úmida e fria que agora oferecia conforto e abraçou os joelhos chorando.

Durante dois dias não fez mais do que chorar a sua desventura e solidão sem se ausentar do abrigo para nada. Depois desse tempo porém foi impossível cabular a fome que fazia seus intestinos se contorcerem agoniados. Não sabia como procurar comida naquele lugar. Só havia pedra, e os raros ambientes verdes continham apenas grama baixa, seguida vez ou outra de uma árvore ou duas.

Esperou a noite quando estivesse mais tranqüilo e as luzes coloridas sobre o mar negro piscassem aleatórias indicando o inicio da passagem livre da madrugada. Saiu incerta em busca de algo para comer com a mão sobre o estômago vazio acariciando-o.

Uma luz se desdobrou a sua frente em uma das casas do subúrbio. Havia uma pequena portinhola de cachorros aberta. Rin analisou a sua situação e concluindo que nada poderia ficar pior do que já estava se aventurou pelo desconhecido.

Chegou a uma cozinha escura. Derrubou alguns utensílios que estavam sobre a bancada em sua gana de achar o que comer. Um pedaço de bolo estava sobre a mesa destampado e o cheiro atraiu a garota que depois de uma analise rápida o enfiou na boca com tudo. O sabor era novo e maravilhoso.

Ela quis mais e passou a vasculhar o ambiente que parecia vazio. Encontrou um pote de biscoitos e o jogou no chão para abri-lo. Os cacos se espalharam pelo piso branco indo se esconder em todos os lugares possíveis. Acabou cortando a mão ao pegar alguns biscoitos e se deliciou com o sabor que parecia desmanchar em contato com a língua. Uma sensação única e inigualável.

Quando eles acabaram, em questão de segundos diga-se de passagem, levantou a vasculha de mais alimentos. Encostou na bancada e tateou a geladeira. Se algo tão pequeno continha uma comida tão saborosa, o que dirá de algo grande assim?pensou ao passar os dedos pelo objeto em busca de um abertura.

Enquanto tateava uma das luzes foi acesa e pouco tempo depois estava sendo fitada por um par de olhos da cor do céu pertencentes á um rosto raivoso que segurava um porrete em uma das mãos.

Ante a visão do homem empunhando uma arma de madeira que prometia doer muito ela se lembrou dos maus tratos que sofria por parte dos aldeões ao roubar comida e se afastou com olhos assustados. Tropeçou em uma panela e caiu sentada. Alguns cacos rasgaram sua carne e o sangue começou a minar.

O coração acelerou quando os passos aumentaram, não devia ter se aventurado censurava-se mentalmente, agora iria apanhar uma vez mais. O corpo retesou ante o que viria, mas ao invés de lhe bater o homem falou em língua estranha.

_Emily desça aqui depressa!

Mais passos foram ouvidos e Rin se encolheu mais um pouco. O homem devia ter chamado outros para bater nela.

_O que foi...Meu Deus Edward!O que uma criança faz aqui?- uma voz feminina se alarmou.

_Eu também não sei, desci acreditando que ia encontrar um bandido e no lugar achei essa garotinha com a boca suja de farelos.

Os passos se aproximaram.

_Como será que ela entrou? Me lembro de ter fechado essa porta.

_Deve ter sido pela portinhola do Spike. Uma criança passa tranqüila por aquele espaço.

_Pobrezinha. Está assustada, você a ameaçou Edward?

_Claro que não! Porque faria isso com uma criança. – disse ofendido. – Quando me viu ela se afastou, caiu e ficou assim.

A mulher se abaixou na frente dela.

_Cuidado que tem muito caco de vidro no chão Emily.

_Sim, eu vi. Chega a estar tremendo de medo. Acha que é alguma criança abandonada?

_Não sei, mas essas roupas que ela usa são muito estranhas.

Rin se encolhia cada vez mais. Sabia que falavam algo, mas não era capaz de compreender. Uma mão gentil tocou-lhe o rosto e ela levantou os olhos ante o gesto carinhoso. Uma mulher de cabelos amarelos como margaridas sorria e falava amavelmente. Jamais havia visto alguém tão estranho ou belao. Os olhos eram azuis da cor do céu como os do homem.

_Who are you?- ela perguntou. – Have family?

O medo dela sumia com os olhares preocupados e sorrisos calorosos. O homem já não segurava mais nada e estava ao lado da mulher.

Mesmo não compreendendo o que eles falavam decidiu tentar se comunicar, afinal eram as primeiras pessoas que lhe davam atenção em mais de três dias. Ela falou, contou se caso, mas eles também não conseguiam entendê-la.

_De que país essa menina é?- Edward perguntou.

_Não sei, talvez coreana, ou chinesa... ou japonesa, eles são tão parecidos que não dá para diferenciar muito.

_Acho que devemos chamar a polícia. – homem disse se levantando.

_Ainda não. – a esposa o segurou pelo pulso.

_Porque isso Emily? Se não estamos conseguindo entender o que ela fala, nem ela nos entende o melhor a fazer e chamar as autoridades. Eles vão cuidar dela.

_Por isso mesmo. Eles também não vão entende-la.

_Emily, sei que gosta de cuidar das pessoas mais desfavorecidas, e que não suporta ver uma criança pobre e abandonada, mas não pode fazer nada, devemos deixar os policiais tomarem conta dela.

_A nossa vizinha Sayki Edward, se não me engano ela é japonesa, pode ser que nos ajude.

_São três da manhã Emily, não podemos importuná-la agora.

_Faremos isso amanhã então, tudo bem?

Os olhos dela brilhavam pedindo a aprovação que o marido não pode negar.

_Tudo bem. Mas amanhã depois que a Sayki vier, mesmo entendendo o que ela fala, vamos chamar a polícia. É o certo a se fazer.

_Tudo bem, só quero ter a certeza de que ela não vai se assustar mais.

_Deveria ganhar o cargo de Papa Emily. Nunca vi pessoa mais compadecida.

_Quem sabe Deus me conceda um milagre?-disse brincando.

_Se boas ações contam pontos, acho que já pode reclamar isso.

Rin continuou a fitá-los. Os sorrisos cúmplices e meigos pareciam ser confiáveis, e mesmo sem entender o que se passava era possível sentir um ar caloroso cobrir o ambiente e conseqüentemente seu coração amedrontado.

Deixou-se ser guiada pelas mãos macias e carinhosas da mulher que lhe afagava os fios sujos com olhar maternal e voz suave. Foi levada á um pequeno rio com bordas brancas que continha água morna como um banho termal e bolhas coloridas que cheiravam a flores. Foi esfregada, espumada, e lavada de todas as maneiras possíveis. Depois de um tempo as mãos macias a ajudaram a sair da banheira e cobriram seu corpo com um pedaço de pano macio e branco como as nuvens. Rin nunca havia experimentado nada igual e se sentiu estranhamente protegida por aquelas pessoas estranhas.

Quando fez menção de colocar de volta seu quimono laranja, a moça balançou a cabeça negativamente e apontou para a roupa abanando nariz e dizendo estar suja. Rin corou de vergonha e foi levada quase no colo para outro cômodo.

Olhava abismada a coloração estranha das paredes que eram belamente decoradas. As luzes que vira na cidade estavam espalhadas pelo teto da casa e pareciam ser mais bonitas e brilhantes. Notou curiosa que a mulher as acendia ao apertar um botão ao lado da porta.

Acabou de secá-la como se o fizesse com uma criança de três anos e lhe colocou uma roupa estranha que apesar de estar mais larga era mais confortável que a antiga. Rin não gostou muito de estar usando uma calça masculina mais curta que a moça chamou de "short".

Desceram as escadas em silêncio. Rin já segurava a moça pela mão afeiçoada ao tratamento carinhoso que não lembrava ter recebido de outra pessoa que não a própria mãe que perdera. Era bom poder ser tratada com zelo por alguém, mesmo que essa pessoa fosse desconhecida para ela.

Voltaram a cena do crime. O homem havia limpado a bagunça e os cacos de vidro e não parecia de maneira nenhuma irritado, pelo contrário, trazia em uma das mãos um prato com um sanduiche e o colocou na mesa.

Rin foi instruída a se sentar. Levou a comida macia a boca imitando os dois e se deliciou com o sabor. Comeu depressa e a mulher lhe ofereceu outro. Bebeu o suco e saciou a fome de três dias com alegria.

No fim foi levada até uma cama confortável para dormir. As luzes foram apagadas e ela sentiu-se solitária novamente. Novamente as coisas tinha acontecido mais depressa do que podia absorver, mas felizmente haviam sido mais calorosas do que as anteriores.

Será que nunca mais veria seus amigos?

Encontrou um objeto macio ao seu lado e o abraçou sentindo os pelos roçarem gostosamente em seu rosto. Esse mundo estranho parecia conter uma variedade de objetos macios e reconfortantes e esses objetos em particular a faziam se lembrar da pele branca e sedosa que Sesshoumaru carregava em seu ombro.

Foi acordada com afagos e uma voz doce. Fitou os incríveis olhos azuis e calorosos que pareciam derreter de meiguice e bondade e a acompanhou até a sala.

Sentada em um sofá uma pessoa menos estranha a fitava curiosa.

Levada pelos traços finos e familiares da nova estranha e pelos cabelos azul índigo que ela ostentava Rin se aproximou com menos medo. Os olhos se mesclaram por alguns segundo antes que ela se pronunciasse.

_Ohayo!

Os olhos da menina se encheram de expectativa ao reconhecer a palavra.

_Ohayo Gozaimassu!- respondeu entusiasmada.

O casal olhava surpreso. Pelo visto as duas seriam capazes de se comunicar.

_Qual o seu nome garotinha?

_Rin.

_E sobrenome?

Ela fechou os olhos pensativa.

_Eu não sei.

_Quantos anos tem?

_Eu não sei.

_Onde está a sua família?

_Morta.

Sayuki olhou pesarosa para os amigos.

_Quer dizer que está sozinha?

_Não! Eu tenho o Senhor Sesshoumaru e Jaken sama.

_E onde eles estão? Onde moram?

_Não temos casa, andamos pelas florestas atrás do Senhor Sesshoumaru, apenas o seguimos.

_Você trabalham em algum circo?

_Circo?O que é isso?

_Não sabe o que e um circo?Como veio parar aqui?

Rin começou a contar sua trajetória. A luta com Naraku, o desaparecimento, o mundo estranho e novo, a chegada a casa dos dois estranhos de olhos cor de céu.

Passaria o ano inteiro recontando-a diversas vezes sem que alguém acreditasse em suas palavras. Seria adotada por Sayuki e seu marido, ganharia irmãos novos, uma casa, um sobrenome, uma escola, mas ninguém jamais acreditaria em uma palavra sua.

Seu passado seria dado como incerto, e sua história como algo duvidoso, apenas criação da mente traumatizada de uma criança órfã. Sesshoumaru, Jaken e tudo o que conhecia foi considerado fantasia. Ela nunca os encontraria porque eles simplesmente não existiam.

Ela passaria horas em salas com psicólogos que balançariam a cabeça como se a entendessem a medida em que as palavras avançassem sem dar um pouco de crédito que fosse. Seria ridicularizada pelos colegas de classe até se dar conta de que era impossível fazê-los acreditar. Cresceria cercada por um novo mundo que nunca levaria a sério o seu passado e por fim se daria por vencida e aceitaria seu destino.

Mas não desistiria de reencontrá-los. Nunca.

Mesmo que ninguém acreditasse, mesmo que fosse desencorajada ou chamada de louca, iria reencontrar aqueles que foram sua família.

Encontraria Sesshoumaru sama.