Disclaimer: Além de uma imaginação muito fértil e erros de ortografia, nada aqui me pertence. Todas as personagens de Naruto pertencem ao mangaká e escritor Matashi Kishimoto.
...
KATASHIRO
Antigamente, acreditava-se que bonecas possuíam o poder de conter os maus espíritos.
No terceiro dia do terceiro mês de cada ano, em algumas regiões do Japão, ainda se pratica o Hina-nagashi, traduzido literalmente como ritual da boneca flutuante.
Durante este ritual, bonecas de papel em formato humano, chamadas de Katashiro, são esfregadas contra o corpo de seus donos, dessa forma transferindo as doenças e infortúnios destas pessoas ao Katashiro.
Estas bonecas depois são lançadas ao mar, supostamente carregando com si os maus espíritos.
PRÓLOGO
Na última vez que vi meu pai vivo ele estava amarrado a uma maca acolchoada da prisão, braços estendidos como se estivesse prestes a ser crucificado.
Todas as apelações haviam sido negadas, não haveria suspensão de execução de última hora.
Ele tinha um cateter em cada braço, os tubos IV's já conectados. Mas apenas um deles seria necessário, o outro era simplesmente um back-up. O monitor contava as últimas batidas de seu coração, que apesar das circunstâncias, era uma taxa constante e relaxada de setenta e cinco batimentos por minuto.
Havia um aglomerado de testemunhas na sala de observação. Pais das vítimas, oficiais penitenciários, um homem em um terno desgastado representando o governador da Califórnia. Todos sussurrando e se remexendo, procurando a posição mais confortável para assistir a atração principal, mas eu não estava prestando atenção ao me acontecia ao meu redor.
Mesmo através da grossa parede de vidro que nos separava, a intensidade de seu olhar cravado em mim conseguia me paralisar. E naquele momento, éramos apenas nós dois. Eu o encarei de volta, curioso em saber o que ele estava pensando. Eu havia conhecido e estudado psicopatas o suficiente para saber que ele não sentia um pingo de culpa pelo que havia feito, que era incapaz de sentir remorso por seus crimes.
Durante um período de doze anos meu pai assassinou pelo menos quinze garotas. Ele as abduzia e as levava para as imensas florestas de Oregon, onde ele as libertava e as caçava com um rifle de cano longo. Ele não poderia se importar menos com a vida destas meninas, para ele elas não passavam de um passatempo mórbido.
Eu fixei meu olhar ao dele. Seus olhos eram de um azul brilhante, como se fossem espelhos do céu limpo durante o verão californiano. Eram idênticos aos meus, sendo este apenas mais um dos muitos traços que eu havia herdado dele. Observá-lo sempre me fez sentir como se estivesse encarando meu futuro. O mesmo tipo físico, o mesmo cabelo num tom berrante de loiro.
Um breve sorriso apareceu e desapareceu em seus lábios num piscar de olhos. Mas aquele não era um de seus sorrisos relaxados que, juntamente de sua extrema inteligência, despistaram por muitos anos qualquer suspeita sobre o monstro que ali se escondia. Aquele foi um sorriso cruel. O sorriso de um sádico. Ele sussurrou três palavras e eu senti meu coração parar em meu peito. Estas três palavras eram direcionadas a uma parte de mim que eu mantinha escondida até de mim mesmo. Ele deve ter notado alguma mudança em minha expressão porque me direcionou mais um sorriso frio, e então fechou seus olhos pela última vez.
O diretor da prisão perguntou se ele gostaria de dizer suas últimas palavras, mas meu pai apenas o ignorou. Ele perguntou novamente, deu a meu pai pelo menos um minuto para se manifestar e, quando percebeu que ele nem se mexeu, sinalizou para que se desse início a execução.
Pentobarbital foi bombeado pelo cateter, o analgésico funcionando rapidamente, deixando-o inconsciente em segundos. Em seguida, ele recebeu uma dose de brometo de pancurônio, que paralisou seus músculos respiratórios. Por último, injetou-se cloreto de potássio para parar seu coração. Cinco minutos e quatorze segundos depois meu pai foi declarado morto.
Atrás de mim, a mãe de uma das vítimas chorava abertamente enquanto era consolada pelo seu marido. Ela tinha o olhar desfocado de alguém que depende de remédios para conseguir dormir. E provavelmente ela não era a única daquela sala em sua letargia. O legado deixado por meu pai causou e causaria muito dor e miséria pelo que parecia ser uma eternidade.
O pai de outra vítima sussurrava para si mesmo que ele tinha se safado muito facilmente, sentimento que era compartilhado por quase todos os ali presentes. Eu vi as fotos da cena do crime e li os relatórios das autópsias, então não poderia discordar. Cada uma das quinze garotas encontradas havia sofrido uma lenta e dolorosa morte, uma morte completamente oposta à oferecida pela sistema de justiça a Minato Namikaze.
Eu segui aquele grupo de pessoas até o estacionamento. Por algum tempo eu continuei imóvel, sentado dentro do carro que havia alugado, a chave já na ignição, tentando me concentrar em qualquer coisa além daquele sentimento terrível que inundava minha cabeça. Aquelas três palavrinhas sussurradas continuavam se repetindo em minha mente num eterno loop. Eu sabia que ele estava errado, que ele só queria ter a satisfação de destruir ainda mais minha vida, mas não consegui afastar a sensação que nelas havia um fundo de verdade. Mas se este fosse o caso, o que isso faria de mim?
Eu girei a chave, coloquei o carro em marcha e sai em direção ao aeroporto. Meu voo para Washington, DC, partiria às seis da manhã do dia seguinte, mas eu nunca cheguei a tomá-lo. Ao invés, continuei dirigindo, passando o aeroporto e seguindo assim até o estado da Virginia.
Não havia pressa. Eu não era esperado de volta em Quântico até a próxima semana, mas isso não me impedia de querer me afastar da Califórnia o mais rápido possível. Minutos se rastejaram em horas, horas que se transformaram em dias, dias que virariam anos. Mas não importava o quanto me distanciava ou o quão rápido eu dirigia enquanto tentava não pensar sobre meu pai. Eu não conseguia escapar daquelas palavras.
Mesmo agora, quase dois anos depois, aquelas três palavras me assombravam, aparecendo em minha mente quando eu menos espero. Às vezes, é como se eu escutasse meu pai falando claramente, com aquele mesmo sotaque californiano preguiçoso que encantava suas vítimas, como se estivesse do meu lado.
"Nós somos iguais."
N/A: A ideia dessa história meio que ergueu uma barreira na minha cabeça e parece que não me deixaria escrever mais nada até eu tentasse colocar ela no papel, então here we go again.
O que vocês acham? Eu nunca escrevi nada sob o ponto de vista de um personagem masculino, então não sei se está estranho mesmo ou é só impressão minha haha
Pode não ter muita ligação entre que aconteceu até agora com rituais de purificação e bonecas japonesas, mas vai fazer (...Believe it!) :D
