CAPÍTULO I

O DESTINO BATE À SUA PORTA

Era apenas mais uma manhã e nada de anormal parecia ocorrer. O mundo continuava seu incansável movimento. Alguns chegavam, enquanto outros partiam...

Tudo parecia absurdamente rotineiro, a não ser por certo apartamento no mais nobre bairro de Londres. Pela janela, entravam os primeiros raios solares, invadindo, sem cerimônia, o apartamento. Vinham ressaltar o loiro da extensa cabeleira delicadamente espalhada pela confortável cama.

Lucius parecia tomar consciência do amanhecer, não que fizesse isso de muito bom grado. Abria vagarosamente os olhos, e as pupilas, já contraídas pela incidência de intensa luz, revelavam o infinito mar de suas íris.

Aos poucos, o loiro aceitava o fato de TER que levantar e encarar mais um dia dividindo seu palco com a jovem e "promissora" atriz Hermione Granger.

- Depois de tantos anos, ainda tenho de agüentar essa garota insolente! Se já não bastasse, como trouxa ela é ainda mais insuportável! – dizia Lucius, referindo-se a sua "colega" de trabalho.

- "Nossa, estou tão emocionada! Vocês foram uma platéia maravilhosa! Eu devo todo meu sucesso a vocês! Muito obrigada! E eu desejo a paz mundial!" – o loiro, agora, afinara a voz e falava em um tom ridículo, imitando a jovem atriz. (n/a: praticamente a Claudia Shiffer! Hahahahaha).

"Promissora? Até parece... Sei muito bem a técnica que a insolente usou pra subir na carreira! Muitos e muitos sofás..." – ele colocava, em seu rosto, um sorriso debochado.

– Patética! Pelo menos, o meu salário é maior que o dela! – soltou um risinho enquanto acabava a fala.

Com a visão ainda embaçada, porém com considerável dose de coragem acumulada, Lucius notou certa pressão em seus pulsos. De inicio, julgou ser apenas alguma ilusão de sua mente. Talvez ainda estivesse confundindo seus sonhos com a realidade. Não sabia o quanto iludido estava.

Em seguida, notou semelhante sensação em seus tornozelos, porém, a pressão parecia ser exercida de forma diferente. Novamente, cogitou a possibilidade de ser apenas um sonho (ou pesadelo!).

"Não seja imbecil, Lucius! Isto realmente está acontecendo e você sabe muito bem disso. Pare de fugir como um covarde!" – pensou Lucius, estranhamente referindo-se a si próprio na 3ª pessoa.

Pela primeira vez naquela manhã, ele estava certo. A pressão era tão real que podia sentir em sua própria pele. E, diga-se de passagem, não gostava nada daquilo...

Finalmente recuperado do sono, Lucius conseguiu se encontrar naquela situação. Via seus pés amarrados por rudes cordas e, apesar de não conseguir enxergar, sabia que suas mãos estavam presas por algemas. Na verdade, Lucius nunca se sentira tão perdido e confuso.

Olhava ao seu redor, analisando cada milímetro de seu próprio quarto: nada, ninguém... A não ser pela enorme teia de aranha que, até agora, havia passado despercebida.

"Definitivamente, tenho de despedir aquela maldita faxineira!" – pensou Lucius, por alguns instantes.

Embora tentasse manter algum controle, tinha de admitir que um pouco de pânico se espalhara por seu corpo. Mentira, já estava completamente ansioso: o coração acelerado, agitado, com o olhar desesperado (desespero digno das clássicas tragédias cômicas).

Começou a se debater com força, na tentativa de desfazer os nós que atavam seus pés ou se livrar das algemas que pressionavam seus pulsos. Em pouco tempo, sua imagem já se assemelhava a de um homem completamente fora de si, num balançar insano.

Depois de alguns minutos, Lucius que o desespero de nada valeria. Havia apenas machucado seus membros imobilizados. E isto ele não queria, pois, acima de tudo, preservava sua aparência. A beleza tão admirada, e não apenas por mulheres.

Ficou, então, imóvel. Olhava para os próprios pés e parecia tão concentrado no trabalho de observar cada curva destes, como alguém prestes a descobrir o grande assassino de um livro de suspense (que, inevitavelmente, acaba sendo o mordomo).

"Nossa! Estas cordas são incrivelmente deselegantes. Presumo que este seqüestrador barato não tenha a mínima noção de elegância." – mergulhava Lucius em mais uma reflexão sem futuro.

"Se bem que o nó parece ter sido feito com muito cuidado. As amarras são bastante simétricas, parecem feitas por alguém com muita noção de cálculos e proporções..." – mais um pensamento do loiro, que tentava fazer o tempo voar.

De repente, um barulho tornou-se nítido. Claramente, era o som da porta principal sendo aberta. Restava, porém, uma pequena e insignificante dúvida: Quem diabos estava entrando em sua casa???

- Está aí uma coisa que eu nunca imaginei ver! Lucius Malfoy, desprovido de toda sua pompa, algemado e desalinhado. Como esse mundo dá voltas, não?! – soava uma voz rouca, perto da porta.

Lucius voltara seu olhar para a porta, encontrando lá uma silhueta já conhecida que carregava, porém, uma máscara no rosto. Uma máscara preta e grande que deixava apenas sua boca à vista.

- Pare com estes comentários estúpidos e me desamarre logo! O que pensou quando fez isto comigo, afinal? Esqueceu quem eu sou?

- Não sei do que está falando! Realmente não entendo. Você é que não faz idéia de quem eu seja. – disse o mascarado.

- AHHHHHHH! Faça-me o favor... Você realmente enlouqueceu, Severus? Vejo que esqueceu quem você é!

"Desgraçado! Porque nunca se pode esconder nada dele? Parece conseguir ler minha mente, algumas vezes..." – lamentava silenciosamente Severus.

- Olhe, não leve a mal. A máscara até seria uma boa idéia para um disfarce, se não nos conhecêssemos desde a adolescência! Agora, me solte!

- Lucius, você pode ter adivinhado a minha identidade, mas isto não significa que está livre!

- Severus, se isto era pra ser uma brincadeira, saiba que eu realmente não estou achando a mínima graça! Pare de palhaçada e me desamarre logo!

- Não, pelo menos, não agora. Só estou seguindo ordens!

- Ordens? Que ordens? Ordens de quem?

- Na hora certa, você saberá.

- Nossa, Severus, seu ar misterioso é um fracasso! – e não conseguiu segurar um riso.

- Cuidado com o que fala, Lucius. Estou avisando... E, se eu fosse você, não acharia nada engraçado.

Lucius não conseguia parar de pensar nas atitudes de Severus. À primeira vista, elas pareciam tão estranhas, quase como aquele seu medíocre cabelo oleoso. Nunca havia visto o amigo daquele jeito, nem nas épocas de escola mágica (tempos pra lá de passados!).

- Espera! Será que ele ainda é meu amigo? Depois de tanta coisa que ocorreu naquele último ano! – sussurava Lucius.

- Shuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Silêncio!

- Mas já se passaram dez anos desde que a guerra acabara. É tempo suficiente para superar as antigas mágoas. – novamente sussurava o loiro.

- O que foi, Lucius? – Severus perguntava impaciente.

- Nada! – respondeu Lucius, julgando prudente não provocar o outro.

- Se não é nada, faça um favor, cale a boca!

"Talvez todos aqueles anos, naquele lugar, tenham realmente feito mal a Severus. Talvez ele realmente tenha enlouquecido."- foi o último pensamento de Lucius, antes deste se entregar a um sono profundo.

Sim, talvez fosse verdade...