After The End

O Início de Tudo


Voldemort estava no centro da batalha, e parecia estar destruindo tudo ao seu alcance. Eu não poderia dar um feitiço certeiro nele, mas poderia lutar a minha maneira, uma vez que continuava invisível, e o Salão Principal parecia cada vez mais e mais cheio como se todos que pudessem andar tivessem sido forçados a entrar.

Avistei Yaxley sendo surrado no chão por Jorge e Lino Jordan. Dolovoh caía com um grito pelas mãos de Flitwick. O carrasco McNair, que foi jogado através do salão por Hagrid, bateu a cabeça na parede e deslizou inconsciente para o chão. Rony e Neville derrubavam Fenrir Greyback. Aberforth atacava Rookwood, Arthur e Percy derrotavam Thicknesse. Lúcio e Narcisa Malfoy estavam correndo pelo salão, alheios a batalha, gritando o nome do filho.

Voldemort duelava com McGonagall, Slughorn e Kingsley juntos, e havia um ódio frio em seus rostos quando eles se moveram e mergulharam em volta dele, incapazes de derrotá-lo.

Belatriz também duelava, talvez uns cinqüenta metros longe de Voldemort, e como seu mestre, duelava com três ao mesmo tempo: Hermione, Luna e Gina. Todas elas estavam dando seu máximo, mas Belatriz se esforçava tanto quanto elas, e ela não seria o braço direito de Voldemort se não duelasse bem.

Meu coração estava acelerado. Ver Gina, minha doce ruiva, no meio daquela luta mortal era aterrorizante e fascinante ao mesmo tempo. O modo como ela se desviava do raios coloridos, os cabelos vermelhos dançando em suas costas, o rosto sério e determinado... Ao mesmo tempo em que eu via beleza naquela dança mortal, eu sentia muito medo. Um feitiço lançado um centímetro mais próximo, e aquilo poderia custar não só a vida da garota que eu amava, como também de duas grandes amigas minhas, uma delas praticamente uma irmã.

Minha atenção se desviou para a luta de Voldemort, tentando achar uma brecha para lançar um feitiço e acabar de uma vez por todas com aquela guerra. Eu precisava de alguns segundos para fazer isso. E tudo acabaria ali. Todos poderiam voltar a viver como antes, sem medo. Quando levantei minha varinha para acabar de uma vez com todas com Voldemort, um grito cortou o Salão Principal.

- GINA! – era a voz de Hermione, desesperada e alta, pânico e terror audíveis na voz.

Parecia que todos haviam congelado. Quando me virei, senti meu coração parar. Tudo parecia correr em câmera lenta. Gina Weasley, minha ruiva, estava caída no chão diante de Hermione e Luna, seu corpo imóvel e os olhos abertos. Sem nenhum ferimento mortal. Apenas deitada no chão, lívida... para sempre.

Meu grito foi abafado pelas vozes da família Weasley e de amigos próximos. Belatriz parecia recuperada do choque, e estava sorrindo satisfeita. Minha visão ficou vermelha. Eu queria aquela mulher morta. Ela não só tirou a vida de Sirius, como agora havia arrancado a vida de Gina. Ela merecia pagar. Comecei a correr em direção a ela, esquecendo o fato de ter uma varinha. Nunca fui de brigar ao modo trouxa, mas queria enfiar meu punho na cara daquela mulher cruel. Outro grito cortou o ar.

- VOCÊ IRÁ PAGAR, SUA VACA! – essa era o grito de uma mãe em fúria. Se não compreendesse a fúria de Molly Weasley, me espantaria com suas palavras.

Belatriz quase não se defendeu do feitiço. Ela levantou um escudo nos últimos estantes, e sorria debochada. Molly parou diante dela, e quase não a reconheci. Ela sequer parecia a doce senhora que eu conhecia. Seus olhos castanhos cor de mel, iguais aos de Gina, porém um pouco mais escuros, deixavam claro sua mensagem: ela queria sangue. Ela vingaria a morte de sua filha.

Mas, Molly que me perdoasse, eu queria fazer Belatriz pagar também. Por isso, enquanto as duas mulheres lutavam ferozmente, me aproximava cuidadosamente. Parado atrás de Molly, aguardava o momento certo.

- O que irá acontecer com seus filhos quando a mamãezinha morrer também? Ops, dois já morreram. – Belatriz gargalhou loucamente, do mesmo modo que fez quando Sirius atravessou o véu.

Molly foi mais rápida que eu; não sei qual feitiço foi usado, mas no segundo seguinte um raio atingia Belatriz Lestrange no peito, e a assassina arregalava os olhos, sua boca se abrindo em espanto. E, enfim, seu corpo caiu ao chão, imóvel.

Ao ver sua seguidora mais fiel desabando ao chão, e com o destino ao inferno, eu tinha certeza, Voldemort explodiu. Ele queria o sangue de Molly, mas ele não tocaria nela. As cenas e palavras do duelo final eram borrões em minha mente, parecia que minha mente e meu corpo continham vida própria, pois minha mente ainda estava congelada na cena de Gina caída ao chão. Quando Voldemort caiu ao chão, finalmente morto, minha mente e meu corpo voltaram a se unir e corri em direção a Gina.

Me joguei no chão empoeirado, agarrando o corpo dela em seus braços. Ao longe, ela parecia um anjo em repouso, com sua pele clara e os longos cabelos ruivos espalhados como um halo de fogo em volta dela. Mas quando a toquei, sentindo sua pele gelada, derrubei minhas primeiras lágrimas. E meus olhos se voltaram aos seus. Suas íris cor de mel, que sempre foram misteriosas, sedutoras e brilhantes, estavam sem foco, sem luz, sem vida. Toquei seu rosto com as mãos, o gesto mais delicado que fiz na vida, com medo de que ela pudesse se desfazer em meus braços e quebrar em milhões de partículas.

Eu havia falhado com ela. Me afastei dela para protegê-la, para garantir sua segurança. Ela já estava em perigo por ser uma Weasley, mas queria livrá-la do peso de ser a namorada do Menino-Que-Sobreviveu. Mas me afastar não adiantou nada. Pois, nesse momento, eu tinha Gina em meus braços, morta. Eu não pude protegê-la. Eu falhei com ela.

Um grito de dor rasgou minha garganta, o som quebrado ecoando pelas paredes do salão. Minhas lágrimas escorriam sem pudor, descendo pelas bochechas e caindo no rosto angelical da única garota que eu amei na vida. Meu coração parecia não bater mais no peito, sendo que a razão dele bater estava em meus braços, sem vida. Minhas mãos trouxeram seu corpo para perto do meu, como se eu tentasse protegê-la e esquentá-la. Mas era em vão. Eu havia falhado. Não protegi Gina, não a defendi quando ela precisava. Ela estivera batalhando, e morrera para proteger aqueles que amava. Eu estivera escondido, apenas esperando o momento certo e vendo todos que eu amava se arriscando por mim. Gina era a heroína; ela morrera como uma heroína. Eu era um covarde. Um covarde estúpido e que não tinha mais razões para viver.

Harry sentou-se abruptamente na cama. Suor pingava por suas costas, grudando sua camiseta na pele quente. Sua respiração estava descompassada, seu coração parecia prestes a sair pela boca. Ele fechou os olhos com força, limpando sua mente e forçando sua respiração e seu coração a voltaram ao ritmo normal.

Quando o ataque de pânico passou, Harry abriu os olhos lentamente e passou a mão pelos cabelos úmidos e bagunçados. Ele virou o rosto, observando o lado esquerdo da cama vazio e gelado, antes de se levantar. Seu sono havia desaparecido, e tudo que ele queria agora era um banho e uma xícara de café.

A água quente do chuveiro removeu a tensão de seus ombros, e Harry ergueu o rosto, deixando as gotas limparem o suor de seu rosto e se misturarem com as lágrimas. Não importa que tenham passado 17 anos desde a Batalha de Hogwarts, Harry ainda sentia a dor de ter perdido Gina Weasley como se fosse ontem.

Aqueles pesadelos, recordando cada segundo da morte da caçula da família Weasley, seguidos de ataques de pânico, já eram comuns para Harry. Ao menos duas vezes por semana ele tinha esses pesadelos. Não importava o que ele fizesse, eles não paravam. Era quase como se sua mente quisesse que ele revivesse a memória, para zombar de sua falha. Por alguns meses, quando ele estava se recuperando da batalha, ele tentou tomar diversas poções, mas ele desistiu após algum tempo. O uso prolongado só iria deixá-lo viciado nelas, e não o ajudava com sua culpa e dor por ter perdido a mulher que amou.

17 anos haviam se passado desde aquele fatídico dia. Harry havia conseguido derrotar Lord Voldemort e trazer paz ao Mundo Bruxo novamente, mas pagou um preço terrível: além da morte de amigos queridos, ele perdeu sua namorada. E ainda foi obrigado a assistir quando a vida deixou o corpo de Gina.

Os primeiros meses após a batalha, onde Harry estava se recuperando dos ferimentos de guerra, dando entrevistas e sendo agradecido por ter salvado o mundo, foram os piores. Seus pesadelos ocorriam todas as noites, ele alucinava e diversas vezes foi obrigado a tomar doses altíssimas de poções para deixá-lo inconsciente. Ele foi levado a diversos curandeiros e lhe fora receitado diversos remédios. Mas nada adiantava. E ele mesmo se recusou a continuar tomando as poções. Elas o livravam de sua dor durante as noites, mas durante os dias não havia nada para impedir o vazio de seu coração.

Ele não era egoísta a ponto de pensar que era o único a estar sofrendo. Os Weasley tinham perdido dois filhos durante a batalha, Gina e Fred. A família tinha sofrido um abalo muito grande. Durante o enterro de Fred e Gina todos haviam quebrado e chorado, até mesmo aqueles que não eram tão próximos aos dois.

Harry fechou o registro do chuveiro e pegou uma das toalhas que Monstro tinha pendurado naquela manhã. Ele substituiu seu pijama encharcado por uma calça de moletom e uma camiseta qualquer, e desceu para a cozinha em busca de uma xícara de café forte. O Largo Grimmauld estava silencioso, uma vez que Monstro estava em seu dia de folga. O único som na casa eram os passos de Harry no carpete. Chegando a cozinha ele preparou seu café, e olhou para o relógio. Eram 04h30min da manhã. Mais uma noite mal dormida, mas ele já estava acostumado com isso. Pegando sua xícara Harry se dirigiu até a sala de estar, sentando-se no sofá azul escuro. Sua xícara foi pousada na mesa de centro, e seu olhar nos porta-retratos acima da lareira. O casamento de Rony e Hermione, ele e Teddy no aniversário de seis anos do pequeno, o Natal na Toca do ano retrasado, uma foto de sua graduação como auror, e uma foto de Gina na época em que eles namoravam. Harry se ergueu e andou até a lareira apagada, e pegou a foto de Gina nas mãos. Na ocasião ela estava distraída, com os cabelos voando ao vento, seu rosto virado para o lado e um sorriso leve nos lábios. Seus dedos acariciaram as feições emolduradas, e Harry fechou os olhos com força, reprimindo as lágrimas de aparecerem mais uma vez.

Conseguindo conter as lágrimas Harry recolocou a foto do lugar novamente e voltou a se sentar. Ele gostaria de poder conversar com alguém, mas ele não queria perturbar nenhum de seus amigos, apesar de já ter sido dito milhares de vezes que eles estavam disponíveis a qualquer hora do dia, especialmente se Harry tivesse tido um pesadelo.

Claro, dizer que todos os seus sonhos com Gina eram os pesadelos de sua morte era mentira. Ele sonhava com freqüência sobre seus momentos com Gina na escola, e até mesmo momentos que ele nunca teria na vida, como casamento e filhos.

Alguns diziam que ele era fraco por não ter seguido em frente, afinal haviam se passado 17 anos. Mas Harry duvidava que ele conseguisse seguir em frente algum dia. Ele poderia ter saído com algumas mulheres e ter tido um pequeno namoro, mas ele jamais deixou de amar Gina. E ele não queria esquecê-la. Por isso deixava que falassem como ele era fraco. Aqueles que falavam aquilo com certeza nunca haviam perdido alguém querido na vida.

Suspirando Harry levou a xícara aos lábios, deixando o gosto amargo e forte do café descer por sua garganta. Houve uma época em que, após um pesadelo, ele tomava uma garrafa de Uísque de Fogo. Mas depois do sermão que ele recebeu de Hermione e Molly, ele resolveu trocar o álcool pelo café amargo. Era melhor para sua saúde e para seus ouvidos também.

Ele deitou a cabeça no sofá, fechando os olhos e limpando a mente, tentando relaxar. Não adiantaria nada ele ir para o trabalho com a mente cheia das imagens vívidas do pesadelo. Harry já sabia que Rony conseguiria enxergar através de sua máscara, e saberia que ele havia tido um pesadelo. E aquilo levaria a uma série de perguntas que Harry já havia ouvido milhares de vezes, e que ele queria evitar ao máximo possível. Por isso ele vinha praticando meditação, um dos únicos métodos que serviam para acalmá-lo depois de um dia estressante. Ou um pesadelo. O método continuava eficiente.

Algum tempo depois, Harry não sabia precisar, sua xícara de café estava fria (ele sempre se esquecia de colocar feitiços aquecedores) e ele se sentia mais leve. A meditação sempre trazia um sentimento de leveza e tranqüilidade a ele, o suficiente para ele poder ir trabalhar em paz e se concentrar no trabalho. O qual ele deveria estar se arrumando a essa altura.

Harry voltou ao quarto para fazer a barba e vestir sua roupa de trabalho, pegando a capa preta e jogando-a no braço. Por fim ele pegou sua maleta de trabalho e desceu as escadas. Saindo da casa, ele fez uma pausa para lançar alguns feitiços de proteção (a guerra poderia ter passado, mas ele ainda era considerado um alvo para os seguidores remanescentes de Voldemort). Olhando para o céu nublado e sentindo a corrente fria mesmo com as camadas de roupa, Harry suspirou fundo e saiu andando, colocando uma máscara profissional e séria no rosto. Ele deveria ser o Auror Chefe Potter agora, não Harry Potter, o salvador do Mundo Bruxo e o homem que ainda não superou a perda de seu primeiro amor.


Disclaimer: a saga Harry Potter não é minha, quem tem esse imenso privilégio é a JK Rowling.

Nota da Autora: Então pessoal, essa atualização foi mais rápida. Esse é o projeto que eu me referi no primeiro capítulo da Inspirations, que é um projeto que eu venho trabalhando a mais de um ano e só estou postando agora porque acho que está na hora de postar (e porque meus amigos me matariam se eu não postasse logo).

O universo se passa após a Batalha Final de Hogwarts, e essa fic será bem diferente das que eu escrevo, mas espero que vocês acompanhem ela e gostem também. Ela será terminada, mesmo que eu possa demorar semanas para postar o próximo capítulo.

Espero que todos acompanhem e gostem dessa fic, reviews não matam ninguém e eu gosto de saber o que vocês estão achando do meu trabalho.

Até o próximo capítulo,

Gigi W B Potter