Título: Matizes
Sinopse: As de Lily mudavam constantemente.
Avisos: Contém uma pitadinha de SiRem, claro.


Tudo dependia da posição do sol. Às vezes, do ângulo dos raios nos fios ruivos em movimento. Também variava sob a luz tremeluzente das velas do Salão Principal. E ele ainda suspeitava que o humor dela tivesse certa influência na coloração das íris verdes. Em dias de sol, como aquele, ela se assemelhava a um vitral, onde a luminosidade refletia e projetava inúmeras cores ao redor.

Sentados sob a árvore habitual, James acompanhava com o olhar os movimentos de Lily. Seus cabelos ruivos refulgiam quando ela os balançava. Se pudesse enxergar seus olhos dali, teria certeza de que brilhavam em um verde esmeralda intenso. Mas sabia que quando a claridade os atingia, a íris verde mostrava-se mesclada a um marrom muito discreto. Formava um verde folha-seca que o lembrava das tardes que passava com os Marotos na orla da Floresta Proibida.

Sirius sabia muito bem o que ele estava olhando, e sabia também que não adiantava tentar interferir. Remus tinha a cara afundada em um livro qualquer sobre Plantas e Suas Propriedades Mágicas, que parecia especialmente maçante. Wormtail cochilava livremente.

Ao fim da tarde, sob um céu rosa algodão-doce, Lily subiu a encosta em direção ao castelo. Passou pelo grupo sob a árvore, e James inclinou o pescoço para vê-la. Ela ria com as amigas, jogando o cabelo para trás, que agora parecia acastanhado. Sua pele parecia mais morena debaixo do céu laranja e rosa, diferente de horas atrás, onde o sol revelava a brancura de sua tez. Embora não precisasse ver, sabia que quando ela ria daquele jeito, seus olhos verdes pareciam ganhar vida. Quando ela sumiu de vista, James suspirou.

– Acho melhor entrarmos – comentou, erguendo-se do chão e limpando as vestes. Nenhum dos amigos, no entanto, se moveu. Remus adormecera também, com a cabeça encostada ao ombro de Wormtail. E Sirius os observava com o cenho franzido – Ei, Padfoot!

Sirius levantou de prontidão, sacudindo os outros dois com os pés, exatamente no mesmo segundo que o céu tornava-se escuro. Correram perante a possibilidade de chuva, que realmente caiu inesperadamente antes de alcançarem o castelo. Ao longe, James viu Lily correndo e espalhando água com a barra das vestes. Seus cabelos molhados pareciam castanho-escuros agora.

Mas foi durante o jantar que James teve a oportunidade de analisa-la direito. Sentara-se displicentemente perto dela, e como esperava, seu cabelo parecia variar de ruivo para castanho, de acordo com o bruxulear das velas. Já estava seco e impecavelmente liso. Seus olhares se cruzaram por um breve segundo, e ela foi a primeira a desviar. James teve certeza de que suas bochechas tornaram-se tão rosadas quanto as nuvens do fim da tarde.

E essa análise silenciosa seguiria até o final da noite, e continuaria no dia seguinte, se ele não pegasse Sirius encarando Remus, que comia em silêncio nas cadeiras da frente. Seu cenho estava novamente franzido, como se pensasse muito profundamente em alguma coisa.

– Padfoot, você está com cara de quem está com dor de barriga – comentou, passando seus olhos de Remus para Sirius continuamente. Não conseguia entender o que ele tanto observava no lobisomem.

– Você já reparou... Que tem horas que o cabelo do Moony parece meio loiro? Mas acho que é só a luz das velas – e sacudiu os ombros, voltando a atenção para o próprio prato.

James observou Remus. Para ele, os fios continuavam castanho-claros como sempre. Ele tornou a olhar para Lily. Seus cabelos ainda refulgiam em uma mescla de cores vacilantes. Mas tinha certeza de que para o resto da mesa, ela continuava tão ruiva como sempre.

James sorriu.


NA: Primeira James/Lily da minha vida!