Disclaimer: Death Note não me pertence. Se pertencesse, haveria o triplo de YAOI

Notas da autora: Em homenagem aos meus 24 anos (sugestiva idade), posto aqui minha mais nova criação. L/Raito forever!!!

Essa história contém relação amorosa explícita entre duas personagens de Death Note, L e Raito, ambas masculinas. Se isso te incomoda de alguma forma, favor não prosseguir. Pra que se estressar?

Se a idéia te agrada, siga em frente, e espero que goste! Li o manga e achei que há uma forte "tensão" entre os dois... Acho que tem tudo a ver!

Por favor, reviews!

Abraços

Priscila

Capítulo I

Não sei porque o deixei fazer isso.

Se ele é quem eu penso que é, há 95 de chance de ele estar fazendo isso para obter alguma vantagem sobre mim. Meu nome, por exemplo. Além disso, a chance de ele ser quem eu penso é de 79. 79, eu digo, baseado em provas.

100 pela minha intuição. Mas também, minha intuição não conta aqui. Devo provar que Yagami Raito é Kira.

O que nos traz de volta à questão. Como pude permitir isso?

Começou como um teste. Da parte dele. Yagami Raito, meu principal suspeito do caso Kira, com praticamente todos os acontecimentos apontando pra ele como culpado. É claro que cada atitude dele será minuciosamente observada por mim. E é claro que ele vai tentar se inocentar. Até aí, tudo bem.

Mas ele vem com a mais suspeita das atitudes. Ele sinceramente crê que eu não desconfiaria?

Não, Raito é muito esperto. Talvez mais do que eu, e isso ainda não decidi. Não. Ele sabe o risco que correu, sabe que a chance de eu suspeitar de um ato desses era irredutivelmente 100...

Ele só não pensou que eu resistiria. Nesse aspecto, ele foi presunçoso, e falhou.

Falhou?

Não terá me deixado nem 1 de dúvida?

Seu estranho comportamento começou em uma noite. Deitados na cama, procurávamos descansar após mais um dia de exaustiva investigação. Exaustão que um provoca no outro, por sermos os únicos capazes de fazer o outro quebrar a cabeça.

Voltando à dita noite. Descansávamos. Mas ele sabe muito bem que eu pouco durmo. Poderia me levantar bem antes de raiar o sol, e só não o faço em respeito a ele, à sua idade, que lhe exige esse sono. Três, quatro horas por noite, me são suficientes. Todos sabem. Então, enquanto ele aparentemente ressonava ao meu lado, eu tinha meu laptop sobre o colo, e analisava cuidadosamente nossos avanços do dia, enquanto abria e mastigava, um por um, meus caramelos de café, que ficavam ao lado da cama.

E nessa noite, repentinamente, isto o incomodou.

- Você não dorme não?

E desde quando isso o incomoda?

Foi esta minha falha? Não confrontá-lo imediatamente? Apenas virei para ele. Virei, reparei que seus olhos tinham um brilho feroz no escuro. Considerei que apenas observá-lo nesse momento lhe abriria espaço para mais atitudes estranhas como aquela, as quais eu analisaria e tiraria conclusões. Fiquei olhando, quieto.

- Vai ficar me encarando com esses olhões de coruja? Se não vai dormir, então vira pra lá de novo!

O que ele pretende? Sempre dormiu tranqüilamente comigo acordado, desde que colocamos as algemas. Algum plano?Mas Yagami Raito não deixaria isso tão óbvio... Na verdade, toda essa cena não é nem um pouco típica dele.

Qual é a dele? Vou ter que entrar no jogo pra descobrir.

- Se Yagami-kun se incomoda, posso tentar dormir.

E vejamos o que acontece enquanto eu 'durmo'.

Dessa noite em diante, "minha insônia foi acabando". É claro que Yagami-kun sabia que eu estava fingindo. Achei que era isso que queria. Ele não é burro, não esperaria que eu de fato dormisse porque ele quer. Iniciamos um ritual. Todos os dias, durante nosso trabalho como detetives, eu bocejava. Diminuía a quantidade de café. Comecei a agir como se as longas horas de trabalho me cansassem, como qualquer um. Pelo canto dos olhos, Yagami Raito observava meu teatro, sem manifestar reação.

Na cama, era a parte mais difícil. Sem o menor sono, eu me revirava nos lençóis, como se quisesse muito dormir e não conseguisse. As noites passavam, eu ia me aquietando. 'Vencendo a insônia'.

Das primeiras vezes, ele apenas se manteve acordado ao meu lado, muito quieto, embora eu sentisse o peso dos seus olhos em minha nuca. Era constrangedor. Eu sabia que ele se mantinha acordado só por causa disso; os arrepios frios na nuca. A essa altura, eu não fazia idéia de suas intenções, mas queria pagar pra ver. Somente um fato me era certo: Yagami-kun tinha consciência de que eu não dormia coisa nenhuma. Se sua meta era de algum modo inocentar-se, teria que ser um plano terrivelmente genial. Se fosse isso e ele falhasse, grandes chances de eu pegá-lo.

Depois, Kira avançou mais um passo. O passo que deveria ter cortado a semente da dúvida.

Eu sentia, bem de leve, a respiração dele no meu pescoço. Não muito perto. Próxima o suficiente para roçar os pelinhos da minha nuca. Somente uma vez aproximou-se mais, e eu senti suas expirações, mornas, profundas como se ele dormisse.

Pretende me seduzir, Yagami Raito? Quer se incriminar até o último fio de cabelo?

No entanto, cortá-lo imediatamente era perder a chance preciosa de saber o quão longe ele iria com o plano. Era um plano? Certamente. Se houvesse dúvida, eu não teria admitido tal atrevimento. As longas noites sob a tortura daquela respiração leve e silenciosa. Depois, os dedos, inicialmente hesitantes, depois constantes, que deslizavam por entre meus cabelos, numa carícia tão leve, tão hábil, que me fez de fato dormir algumas vezes.

Quem diria que Kira possui uma mão tão leve?

Era pra isso que ele precisava do meu fingimento? Nunca vi plano mais absurdo.

Eu fico quieto e encolhido no meu canto enquanto você funga no meu pescoço? Interessante. O que espera, Raito-kun? Que um dia eu não agüente mais e me jogue nos seus braços?

Só podia ser. Se dependesse dele, as coisas continuariam exatamente como estavam. Quando acordávamos, a facilidade com que ele fingia que absolutamente nada havia ocorrido apenas aumentava minhas suspeitas. Quanto a mim, também agia naturalmente, não lhe dando motivo algum para cancelar qualquer que fosse o plano.

Ah, sim. Ele também deve ter notado o leve tremor de antecipação que me percorre quando o sinto se aproximar durante a noite. Isso não escaparia aos olhos dele. Só deve aumentar sua autoconfiança.

Tenho que me controlar.

- Experimente esse chá, é bom para o sono – disse ele um dia em que exagerei particularmente na encenação. Forcei um cochilo na cadeira mesmo, depois que todos já tinham ido. Despertei facilmente quando Yagami-kun desligou o laptop.

Aceitei a xícara que me era oferecida. Chá de camomila.

- Obrigado, Yagami-kun.

Ele me lançou um olhar desconfiado antes de fazer um gesto para que o seguisse.

- Vamos, você parece cansado, eu também estou.

Raito jogou-se na cama, lançou-me um olhar de reprovação por eu ter aberto o laptop, e logo caiu num sono pesado. Não era a minha intenção passar aquela noite parado e fingindo. O chá não tivera efeito algum sobre mim. E Raito estava aparentemente exausto demais para seus jogos. Então, decidi trabalhar. Ao meu lado, o pacote de caramelos de café esperava. Mastiguei um, enquanto tinha a atenção fixa no computador. Depois, abri outro. Quando eu desembalava o terceiro caramelo, ouvi um resmungo. Mal percebi que Yagami-kun tinha acordado, quando o pacote de caramelos foi arrancado de mim.

Uma luz de abajur acendeu-se.

- É por isso que você não dorme!

Espantado, só pude continuar mastigando o caramelo.

- Açúcar e café! Você é idiota, Ryuuzaki?

Mastiguei mais um pouco e engoli. Não entendia de jeito algum esse comportamento dele.

- Me desculpe, Yagami-kun, eu o acordei?

- É, com esse barulho de caramelo sendo aberto fica difícil mesmo. Mas a questão não é essa. Não pára de comer nem na hora de dormir?

- ...

- Isso é um vício, Ryuuzaki.

- Todos têm vícios, Yagami-kun. Os meus são doces e trabalho. Quais seriam os seus? Aparentemente, não vejo nenhum...

Ele estreitou os olhos.

- Meu vício é tirar boas notas. E para isso, preciso dormir.

- Naturalmente. Prometo não fazer barulho mais – encerrei a discussão, e peguei meus caramelos de volta.

Após a estranhíssima conversa, voltamos à antiga rotina. Ele dormindo, eu acordado a maior parte da noite.

E agora, Yagami Raito, que estou obstruindo seu plano? O que vai fazer? Não pode prosseguir sem que eu 'durma'? Não consegue me seduzir cara a cara?

Estou esperando por seu próximo passo.

E então, um dia, acordei com Yagami-kun abraçado a mim. Dormindo. Sacudi-o de leve, esperei ele piscar algumas vezes para espantar o sono dos olhos, e apontei o braço dele em minha cintura.

Ele se assustou. Por um instante muito curto, mas foi. Posso perceber mínimas alterações naquela expressão sempre inabalável. Não que o autocontrole de Yagami Raito não seja admirável. O milésimo de segundo em que suas pupilas se dilataram, eu captei.

Pego desprevenido?

Como se nada estranho houvesse ocorrido, Yagami-kun sentou-se, vestiu a camisa, levantou e caiu sentado na cama. As algemas. Eu ainda estava lá, parado, observando-o fixamente. Ele me encarou com impaciência.

- Vai ficar aí deitado?

- Não. Yagami-kun só precisa me explicar o que acabou de acontecer.

- Aconteceu que eu me mexo demais enquanto durmo! O que mais?

É como se isso estivesse fora de seus planos...

Não, impossível.

Sem tirar os olhos dele, fui levantando e saindo da cama. Toda a situação era atípica. Yagami Raito não costuma me evitar. Se minha teoria está certa e ele é de fato Kira, então a rotina dele é um teatro constante, de olhar diretamente nos meus olhos, convencendo a mim e ao time de sua plena honestidade. E agora, lá estava ele, desviando dos meus olhos, agindo como se eu não estivesse lá.

A possibilidade de Yagami-kun ter me abraçado por se mover muito à noite é positivamente nula. Pode-se ter certeza disso pelo embaraço dele ao me responder. Logo, há duas possibilidades: tal embaraço foi fingido, ou não.

A mais provável, sem dúvida, é a primeira.

No entanto, os dias foram passando, e a frieza que ele direcionava especificamente a mim era notável. As poucas palavras que trocávamos, eram durante o trabalho. Quando tínhamos que discutir alguma teoria, evitava teimosamente me encarar, olhando exclusivamente para o laptop.

Yagami Raito atua. Quando chama atenção, é unicamente porque quer.

E ele chamava atenção. Matsuda, sempre indiscreto, chegou a perguntar ao meu ouvido se havíamos, por acaso, discutido. E as rugas de preocupação na testa deYagami-san dobraram em número.

A sós, não interagíamos. Mal terminávamos o trabalho, ele já queria dormir. Nem sempre eu consentia. O resultado era ambos calados, eu mexendo no computador, Yagami-kun com os braços cruzados, sentado em sua postura perfeita, sem expressão. Qualquer palavra minha dirigida a ele resultava em um olhar de lado, impaciente, e ouso dizer, hostil.

Quando deitávamos, ele se virava para o canto, colocando entre nós a maior distância permitida pela corrente. E não parecia se importar se eu dormisse ou não.

Age como se eu o tivesse ofendido. Não entendo...

A tensão entre nós crescia notavelmente. Uma tensão diferente daquela entre L e seu maior suspeito do caso Kira. Que, se dependesse de mim, não se quebraria. Cada passo deve ser de Raito. O jogo é dele, eu só observo. E ele sabe disso. Sua autoconfiança é assustadora.

Eu continuava a levar o pequeno jogo em frente. Embora este se tornasse cada vez mais estranho. Embora os métodos de Yagami-kun fizessem cada vez menos sentido, eu não o interrogava. Não o pressionava.

Não o interrompia.

Não mesmo? Não estava dificultando as coisas para ele? Esse jogo está parado desde que eu parei de fazer a minha parte.

Talvez ele não queira jogar sozinho.

Talvez esse jogo dependa de mim.

- Yagami-kun, conhece algum chá bom para o sono?

- Sim, o de camomila. Já lhe dei, e não adiantou nada.

- Talvez, se eu bebesse com mais freqüência.

Ele interrompeu o que estava fazendo e me encarou. Olhou pra mim como não fazia há tempos. Estudou-me por um bom tempo. De repente, abriu um sorriso sarcástico.

- Ora, Ryuuzaki. Você não consegue decidir se quer dormir ou não!

- Yagami-kun, essas coisas a gente não decide. Tenho me sentido cansado. Vou preparar esse chá agora e tomá-lo todos os dias.

- Só isso não basta. Tem que parar com a cafeína.

Olhei para a grande xícara de café quente que tinha na mão e sorri, enquanto o arrastava para a cozinha.

- Isso é impossível, Yagami-kun. O café estimula minha mente. Sem ele, minha capacidade dedutiva pode se reduzir.

- Sua mente vai trabalhar melhor quando descansar direito.

- Muito obrigado pela preocupação, Yagami-kun.Pode deixar, que eu vou dormir.

Novamente, ele me olhou de um jeito estranho.

E foi assim que retornei ao me canto, na cama, encolhido, inspirando e expirando devagar, como alguém que dorme tranqüilamente.

Olhos abertos e arregalados a noite toda. Meus braços em torno de mim mesmo, contendo meus ombros trêmulos.

Porque essa expectativa?

Mas não durou muito. Logo ele retomou, como eu esperava, suas atividades noturnas. As mãos no meu cabelo. A respiração quase colada ao pescoço, e às vezes, chegava quase ao ouvido, e parecia então mais intensa.

Durante o dia, a indiferença de sempre.

Em minha sã consciência, isso não teria futuro.

Mas nem sempre estamos em nossa mais sã consciência. Parece estranho eu dizer isso. É que é a única explicação plausível. Por que mais teria eu estremecido, quando no meio de uma noite, Yagami Raito aproximou-se tanto, que senti não só a respiração, mas todo o calor do corpo dele me envolvendo, como uma aura?Na hora, deitado de lado como estava, devo ter me encolhido mais ainda. Ele respondeu pressionando sua forma um pouco mais contra a minha. Não com força. Apenas o suficiente para que sua presença se fizesse ainda mais forte. Eu contive os tremores que ameaçavam me trespassar o corpo, e simulei mais enfaticamente um sono profundo.

Tarde demais.

A respiração deslizou lentamente de minha nuca ao pé do ouvido. Ofegava levemente. Como eu.

- Não acha que chega de fingir, L?

O arrepio frio que me subiu pela espinha deve ter sido percebida por ele. A boca permaneceu ainda um instante, colada à minha orelha, antes de se afastar. Então, me virei, engolindo em seco.

- Pensei que o jogo fosse obra de Yagami-kun.

No escuro, nada se via, salvo alguns vagos contornos, e um pálido brilho, vindo dos olhos dele. Se nessa hora as luzes estivessem acesas, eu poderia me esforçar, e enxergar a malícia tão bem oculta ali. Mas não havia luz, como eu disse, nem eu busquei.

Então, um suave barulho de correntes quebra o silêncio. Vejo erguer-se a mão de Yagami-kun. Ela toca meu rosto. Percebo que está trêmula. Resisto ao impulso de deitar o rosto naquela mão.

- Então?

A outra mão em meu rosto. Ambas, agora mais firmes, o puxam para cima. Estou olhando nos olhos dele. Brilham muito, fixos em mim, de modo doentio.

- Você é obsessivo, Ryuuzaki.

Bem, a proximidade do rosto dele já me dava boa idéia do que ele pretendia. E eu não o impedi. Não o impedi, simplesmente porque eu não quis. É essa a pura verdade. Tudo o que houve a partir daí – o beijo (batalha de línguas, que Yagami-kun ganhou por experiência), os braços dele me puxando para perto, e eu indo sem resistência. As mãos no meu rosto, no cabelo, puxando e afagando (suspeito contraste) – tudo aconteceu comigo sabendo que estavam me enganando.

Sim, ele estava.

Se é assim... porque, ao final, pousou a cabeça em meu peito, e eu tive que abraçá-lo, pois tremia da cabeça aos pés? E quando toquei os lábios em sua testa, estava fria, gelada, embora tivéssemos...

Naquela noite, deitamos abraçados sem trocar palavra. Yagami-kun, cabeça apoiada em meu ombro, adormeceu logo, parecendo exausto. Eu permaneci acordado, olhos abertos, perdido em pensamentos. Quanto ao que houve entre nós... eu não voltaria atrás. O que se começa, vai até o fim. Continuo sabendo o que estou fazendo. Esse ainda pode ser um instrumento para a captura de Kira... Agora, devo continuar.

Quero continuar.

Ao meu lado, Yagami Raito ressonava. Assim rendido a esse sono tão sereno, emana inocência. Se for Kira, agora deve achar que me tem em suas mãos. Talvez, esse rostinho perfeito esteja agora sonhando com a minha destruição.