— Então o garoto de ouro terminou com você?
Kori levantou a cabeça surpresa deixando o marcador pender na página do livro aberto, absorvendo os traços do rosto do homem parado a frente dela.
— É bom ver você também. Você sabe as pessoas geralmente cumprimentam as outras primeiro depois de muito tempo sem se verem.
O homem instintivamente abriu um sorriso sarcástico.
— Nunca me importei com as regras de etiqueta.
— Não, você não – a ruiva murmurou fitando o famoso sorriso rebelde do tutelado de Bruce Wayne. — Quando você voltou?
Jason a frente dela parecia exatamente o mesmo que ela se recordava de ter visto na última vez, há um ano atrás. Impecável com aquele cabelo escuro e olhos azuis, com aquele seu sorriso de canto e embrulhado com roupas escuras e uma jaqueta de couro, que sempre parecia estar com ele, quase como uma segunda pele.
—Recentemente – foi o murmúrio que Jason ofereceu ao se acomodar sem nenhuma cerimônia no banco acolchoado da mesa da lanchonete em frente a ela.
Kori franziu o cenho sentindo-se ligeiramente perturbada pela a intensidade do escrutínio que ele manteve sobre ela. Sem graça a garota abaixou o olhar, fechando lentamente o livro como uma forma de se recompor. Desde o tempo em que conhecia a família Wayne, o segundo mais velho dos filhos adotivos de Bruce parecia olhar pra ela de uma forma arrebatadora como se pudesse desnudar todos os segredos mais indecifráveis da alma dela.
— Então - Kori olhou pra cima vendo Jason deslizar o polegar em círculos sob o gargalho vazio da garrafa de Coca que repousava sobre a mesa. — Você não respondeu a minha pergunta.
— Tenho a plena certeza que você já sabe a resposta pra isso – a ruiva permitiu esboçar um sorriso sarcástico. — Afinal de contas, você provavelmente já viu seu irmão mais velho de braços dados com a filha perfeita do Comissário.
— Dick é um idiota – Todd afirmou contraindo a mandíbula sem interromper a tarefa de tatear a garrafa. — E se você quer saber Bárbara é tão irritante quanto o imbecil.
Kori se permitiu suspirar.
— Eu devia ter visto isso chegando – por um momento ela se viu imersa nas lembranças do término. Dick entrando no quarto que ela dividia com Koma, ela retirando os olhos do relatório da faculdade para encontra-lo deslocado perto da porta. E então ela instantaneamente soube que algo estava errado, pois ele não era capaz de olhar diretamente nos olhos dela. E então, as palavras temíveis soaram da boca dele.
— Eu sinto muito Kori. Eu simplesmente não posso fazer isso mais – houve uma grave pausa até que ele respirou fundo, e olhou diretamente nos olhos dela. — Eu não estou mais apaixonado por você.
E Kori sentiu, como se o mundo passasse em câmera lenta, as palavras perfurando seu peito como punhais e destroçando seu iludido coração. Até que ele terminou a sentença, dando a punhalada final.
— Há alguém por quem estou apaixonado.
Mesmo que já houvesse passado seis meses, era doloroso recordar. Sentindo o olhar penetrante de Jason, Kori elevou os olhos encontrando os azuis dele. Ele tinha uma forma de olhar pra ela que a fazia se sentir como um pequeno camundongo sendo perseguido em um labirinto por um gavião faminto.
Corando violentamente a ruiva limpou a garganta deixando os olhos vagarem pela a extensão da lanchonete. A reação provocou um riso zombeteiro dele.
— Você não muda nada não é? Mas sabe o que Moranguinho – Jason se inclinou sobre a mesa a constrangendo ainda mais. — É bom estar de volta a Gotham – com isso, Todd piscou e se levantou colocando os óculos escuros ray ban que estava no bolso da camisa. — Vamos nos esbarrar por aí – sem mais palavras, o bad boy se virou rumando pelas portas duplas de vidro da lanchonete enquanto Kori, simplesmente se afundou no banco.
— Caramba, o garoto problema voltou – Garfield, um garoto de constituição franzina, com cabelos castanhos com um topete construídamente esculpido e pintado de verde deslizou para o banco vazio na frente de Kori que antes, havia sido ocupado. — Como se já não houvesse Wayne´s suficientes nessa cidade.
— Menos murmúrio e mais trabalho – a voz monótona de Rachel comandou enquanto a gótica se acomodou ao lado de Kori, depositando a mochila na mesa.
— Sim senhora – Gar retrucou retirando os livros da própria mochila. Mas ele foi incapaz de ficar quieto. — O que ele te disse Kori?
A ruiva olhou para o amigo sem saber muito bem o que responder.
— Acho que foi a forma dele de dizer oi.
— Mas ele não disse tipo NADA?! Onde esteve, com quem estava, o que esteve fazendo, e com quem estava – Gar enumerou os dedos indignado.
— Não nos interessa saber onde ele estava, com quem estava, e o que esteve fazendo – Rachel foi quem respondeu pausadamente, a cada uma das perguntas de Garfield.
— A qual é? Rae, Rae. Vamos lá! Você não tem curiosidade? – O garoto juntos as mãos empolgado balançando as sobrancelhas.
Uma veia da testa de Rachel pareceu pulsar enquanto seu olho direito se contraia como se tivesse vida própria.
— Não me chame assim – ela disse mordazmente. — E não, não me interessa em absoluto.
Gar bufou pronto para contratacar ao passo que Rachel olhou pra ele lançando punhais pelos olhos, como se o desafiasse a continuar. Kori prontamente ergueu a bandeira da paz da ONU.
— Amigos – ela interveio com um sorriso amarelo. — Por que não discutimos ao que fazer quanto ao trabalho?
Rachel respirou profundamente se acalmando com técnicas de meditação, enquanto Garfield coçou a cabeça como um chimpanzé antes de puxar o pacote de batatas Chips de dentro da mochila.
— Tudo bem – Rachel inalou. — Podemos começar transcrevendo trechos importantes dos pontos de vistas dos autores e... – ela tentou prosseguir firme no raciocínio, mas a forma barulhenta como Garfield mastigava com cada croc, croc, croc, croc pareciam roubar qualquer sinapse que os neurônios dela pudessem fazer.
Kori suspirou derrotada, deixando cair à cabeça na mesa. Esse trabalho não ia acabar tão cedo.
X-X-X
Jason entrou pelas pesadas portas duplas de carvalho da mansão, o vestíbulo imponente parecia desprovido de qualquer vida. Até que Alfred surgiu de um dos corredores arrastando atrás dele, aquela monstruosidade enorme de cachorro.
— Que diabos é isso?
— Ah, Mestre Jason – o mordomo proferiu em tom de reconhecimento puxando com certa dificuldade a coleira do cão preto. — Temo desde que o senhor chegou ontem á noite não ter sido apresentado a Titus – o cachorro latiu quase que imediatamente depois do nome ter sido proferido. — Titus é o animal de estimação do Mestre Damian.
Todd franziu o cenho elevando as mãos para o cão o barrando de pular nele.
— Ah então o pivete tem um cachorro. Bruce deve ter amolecido mesmo.
— Mestre Bruce pode ter uma aparência externa dura, mas por dentro é um homem bom – Pennyworth prontamente defendeu.
— Tá, tá. O que quiser - Jason desdenhou fitando Titus com extremo desgosto, que punha os dentes para fora como se sorrisse pra ele.
— Você sabe quem eu vi? – Jason perguntou deixando de observar o cachorro do ''irmãozinho''.
— Não acredito que eu tenha as habilidades de vidência, senhor.
Jason prontamente sorriu zombeteiro com a resposta espirituosa de Pennyworth.
— Mas mesmo de você tiver, eu vou te dar uma colher de chá - o jovem deu uma palmadinha debochada nas costas do mordomo. — Eu vi o que pode me manter aqui camarada – e sem explicar mais, o rapaz manobrou o mordomo e subiu os degraus da sinuosa escada da mansão de dois em dois.
