Regina Mills queria dar um beijo no carteiro atrapalhado que entregava diariamente a correspondência no antigo edifício de um bairro de Boston, onde ela morava. Ele havia confundido pacotes mais uma vez.
Entre as cartas endereçadas a ela, do apartamento 325, havia um envelope pardo para E. Swan, do apartamento 235. Agora, Regina tinha uma nova desculpa para ver a irresistível da Emma Swan. Abraçou a encomenda, como uma adolescente apaixonada.
Bem, na verdade, era uma professora apaixonada. A vizinha do andar de baixo a fazia estremecer. Devia ser aquela combinação infalível do sorriso irresistível com o corpo escultural e os olhos verdes brilhantes e langorosos que a deixavam sem fôlego.
Havia muitos meses que o carteiro confundia os números de seus apartamentos e entregava-lhe correspondência de Emma. Em todas as vezes, percebera que as cartas, sem exceção, eram endereçadas apenas a ela. Também não notou qualquer sinal de homem ou mulher nas ocasiões em que tinha ido ao apartamento dela entregar as cartas. Parecia lógico deduzir que a moça era solteira.
Da mesma forma que ela.
Só de pensar em revê-la, Regina sentiu um calorão passar pelo corpo. O destino, personificado na figura do carteiro, os havia unido repetidas vezes e a atração física fora imediata e mútua, pensou. Nas últimas vezes, Emma a recebera na porta cheia de entusiasmo e com um olhar tão sedutor e penetrante que dava a impressão de que as duas tinham acabado de fazer amor. Ah, o poder que aqueles olhos exerciam sobre uma pessoa!
Então, por que, apesar dos olhares provocadores que trocavam nas rápidas e esporádicas visitas, Swan nunca tentava algo mais ousado? Ou fazia alguma tentativa para conhecê-la melhor? Será não deixava óbvio seu interesse por mulheres?
Regina mordeu os lábios, ao passar direto pelo elevador e subir as escadas até o apartamento da outra. Será que ela era tímida ou estava insegura quanto aos sentimentos dela ou suspeitava que ela não fosse solteira?
Talvez fosse o momento de tomar a iniciativa e acabar com qualquer dúvida que pudesse existir. Tinha que deixar claro que estava completamente desimpedida e caidinha pela vizinha.
A única forma de tirar aquela história a limpo seria convidando Emma para sair. Nada muito íntimo, um cineminha e depois uma pizza ou algo do gênero. Apenas um encontro sem compromisso para que se conhecessem melhor.
Ela iria até a casa da Swan como quem não quer nada, só para entregar o envelope extraviado. Aproveitaria e diria: "Então, estou indo comer alguma coisa na rua, quer me fazer companhia?
Era isso mesmo que ira fazer! Algo bem casual. Se Emma recusasse o convite, pelo menos, ela saberia onde estava pisando e acabaria de vez com as fantasias adolescentes que a consumiam fazia tempo. Bem, as fantasias, na verdade, não tinham nada de adolescentes ou inocentes.
Suspirou fundo e decidiu levar seu plano adiante. Responderia à altura as mensagens eróticas que ela lhe enviara com os olhos até agora. Iria convidá-la para sair.
E seria naquele dia à noite.
Uma olhada de relance no espelho a lembrou de que dar aulas para um bando de alunos do ensino médio não era bem uma atividade relaxante. Não poderia ir a lugar nenhum sem antes tomar uma chuveirada.
Depois de se secar, escovou os dentes, penteou os cabelos e aplicou uma leve maquiagem no rosto. Vestiu um jeans, mas mudou de idéia. Estava cansada de só usar jeans.
Uma saia sensual e elegante saiu de dentro do armário direto para os seus braços. Adicionou uma camisa vinho ao conjunto, brincos descontraídos, porém não exagerados, sandálias rasteiras e pronto. Não queria que a outra pensasse que tinha se arrumado para a ocasião. Não queria que percebesse o óbvio.
Apanhou o envelope e já estava de saída quando viu uma mancha na saia. Voltou ao banheiro. Deixou o envelope na beirada da pia e... bem, droga! Por causa da pressa, o sabonete acabou caindo no chão. Agachada, achou o bendito sabonete e se levantou. E perdeu o ar. Ao subir, deixou o envelope pardo cair na pia, molhando parte do pacote, mas não o suficiente para danificar o conteúdo. Parecia um livro.
Era melhor ir rapidamente ao apartamento de Emma e entregar a encomenda antes que a água encharcasse a parte de dentro. Limparia a saia depois.
Apanhou as chaves, a jaqueta de couro, o embrulho afogado e desceu correndo as escadas para o andar de baixo.
Em um minuto, estava em frente à porta dela, ofegante. Respirou fundo, memorizou o convite que iria fazer e bateu na porta.
Silêncio.
Não lhe havia passado pela cabeça que Emma pudesse não estar em casa. Sabia pelas conversas breves que era jornalista. Já havia inclusive lido uma reportagem dela no jornal local. Foi apenas cogitar a possibilidade de que ela não estava para ouvir o barulho do trinco da porta se abrindo.
E então surgiu Emma Swan, com seu olhar erótico e irresistível, como sempre. Ela era, sem dúvida, a mulher mais sexy que já havia visto. Não importava quantas vezes a visse, aquela expressão facial sempre a deixava com as pernas bambas. E era o que acontecia naquele instante. O coração estava disparado, bombeando sangue para todas as zonas erógenas, possíveis e imagináveis do corpo de Regina.
Não era apenas o olhar magnético que a loira possuia, insinuando intimidades que nunca haviam compartilhado, mas que poderiam, facilmente ter. Também não era só a covinha quando ela sorria ou o cabelo loiro ondulado que caia até suas costas, às vezes meio bagunçado, que a faziam se lembrar das manhãs de sábado preguiçosas. Era, concluiu, a forma tão perfeita como todos aqueles elementos se combinavam.
Os lábios dela formaram um lindo sorriso ao ver Regina com o pacote na mão.
"Não vai me dizer que ele errou outra vez?" Não parecia irritada com a constatação, mas sim exultante.
Regina tentou conter o risinho ao entregar o envelope.
"Pois é, outra vez."
Ela sabia que tinha algo a dizer, mas o quê? Tudo o que havia planejado e memorizado se esfumaçara na memória. Apenas a olhava fascinada.
Emma a observou dos pés a cabeça, fazendo-a se sentir nua.
"Nossa, você está demais. Vai a algum lugar especial?" Ah, era isso. Voltou a raciocinar. Ia convidá-la para sair.
"Não, nada especial. Na verdade..."
Não conseguiu ir adiante. O som de papel molhado rasgando-se, seguido de algo caindo no chão, a interrompeu.
O livro havia caído pela extremidade do envelope. A capa dura, virada para cima. O título, com letras garrafais em néon, poderia ser lido a metros de distância: Sexo para idiotas completos — um guia prático para todas as sexualidades.
Não podia acreditar no que viam seus olhos. Suas bochechas logo ficaram vermelhas. Não podia ser verdade. Se Emma encomendava um livro daquele gênero, então... significava que... não!
Voltou a olhar o título tentando se convencer de que, na verdade, o que havia lido tinha sido Guia para trabalhos em madeira —faça você mesmo ou Estratégias financeiras para iniciantes. Porém, as palavras permaneciam inalteradas. Era realmente um guia prático para pessoas que não tinham idéia do que era sexo. Pelo menos, na prática.
Que decepção! Totalmente constrangida, não sabia se pela situação ou pela loira, o fato era que estava vermelha como um pimentão.
Depois de alguns minutos, que mais pareceram horas intermináveis, Regina tomou coragem e a encarou. Emma segurava o envelope, meio sem jeito, as bochechas levemente coradas.
"Me desculpa" falou em seguida. "A culpa foi minha... deixei o envelope cair na pia. Esqueci de avisar... estava lavando a louça e deixei cair..." Ai, era ela que agora falava como uma idiota completa. Pressionou os lábios para que parasse de gaguejar.
"Acho que..." Emma pigarreou encabulada. "Que se disser que encomendei esse livro para um amigo você não vai acreditar, não é?"
"Mas a encomenda está no seu nome" respondeu a morena, sentindo-se péssima um segundo depois de ter feito a observação.
A loira suspirou.
"É verdade."
O desconforto aumentou ainda mais entre ela, ali, de pé no corredor do edifício e Emma, parada na porta. Ela estava mesmo decepcionada. Apenas não entendia por quê, já que mal conhecia a vizinha e muito menos sabia se algum dia rolaria algo entre as duas. Bem, pelo menos, houvera até o momento uma ponta de esperança alimentada por ambas.
Será que tinha deixado a imaginação subir-lhe à cabeça? Em suas fantasias, a loira era uma amante experiente e sensual. Características improváveis para alguém que precisava de um guia sobre sexo.
Queria sair correndo dali e esquecer o incidente.
"Bem" forçou um sorriso. "Está na minha hora." Cruzou os braços, mordeu os lábios e torceu para que tivesse soado convincente.
"Claro. Obrigado pela... encomenda."
"Imagina!" Deu um aceno tímido e se virou de imediato, rumo às escadas, deixando uma Emma Swan sem palavras para trás.
