Bellatrix observava, seu corpo esguio apoiado na grande porta de cerejeira. Seu Lorde estava sentado em frente ao piano escuro, com os olhos fechados. Os cabelos negros - ela jamais imaginaria que em tão pouco tempo eles ficariam cada vez mais ralos até desaparecerem por completo - caindo em sua testa, lhe dando um ar de menino que a encantava. Clair de Lune, era o que ele tocava. A favorita de Bella, por sinal. Seus dedos magros percorriam o piano com uma rapidez, combinada com uma suavidade que era tão absurdamente oposta e ao mesmo tempo característica de Voldemort.

Com uma última nota - ele sempre acrescentava algo não-pertencente a melodia original, para dar seu "toque pessoal" - virou-se para Bellatrix rapidamente, a surpreendendo.

- Seus sentidos estão cada vez mais apurados, Srta Black.

- Sabe que reconheceria Debussy em qualquer lugar, Tom.

Os olhos de Voldemort se estreitaram. Veias vermelhas começavam a tomar conta de onde antes só havia o branco. Bellatrix não pode evitar o arrepio em sua espinha.

- Não me chame desse nome trouxa nojento.

Bella sorriu. Aquela mistura de medo e intimidade com alguém tão poderoso como Voldemort a deixava excitada.

- Tom, Tom, Tommy!

O sorriso se transformara em uma risada histérica. Desencostou-se da porta e foi a passos lentos até o homem, que ainda estava sentado. Ele não estava mais com raiva. Seus olhos – de um negro tão forte quanto o céu de Londres, quase nunca estrelado – acompanhavam com sede o movimento do quadril largo de Bellatrix. Direita, esquerda, direita. E ali estava ela, bem a sua frente, o sorriso de deboche tão típico em seus lábios. Voldemort apontou para o corset roxo apertando sua cintura e seus seios.

- Prefiro vermelho, Bella.

- Sinto muito, Milorde, não posso lhe satisfazer hoje.

O tom arrastado de Bellatrix desviou os olhos de Voldemort – que estavam quase fixos em seus seios – para sua boca pálida. Levantou-se lentamente, seus longos dedos gelados grudando na cintura de Bella, enquanto a outra mão procurava espaço entre seus cabelos para arrepiar seu pescoço. "Tiro-e-queda", pensou ele. Bella nunca resistia às mãos sempre geladas de seu lorde. A boca da mulher já se abrira, daquele jeito mudo de implorar por um beijo.

Ele era Lord Voldemort, o homem mais poderoso do mundo bruxo, mas nunca se sentia tão poderoso como quando estava com ela. Mais precisamente, dentro dela. Bellatrix era parte do que lhe fazia forte. Ela era tão... pequena, mas ao mesmo tempo tão audaciosa e sedenta por poder como ele. Ela poderia ser sua maior inimiga se acabasse no lado errado. Mas ele sabia que isso jamais aconteceria, e essa certeza se confirmava ainda mais enquanto ouvia os gemidos estridentes em seu ouvido.