BURN IT TO THE GROUND
ShiryuForever94
Yaoi, MxM relationship, CDZ, Saint Seiya, Radamanthys de Wyvern e Valentine de Harpia, Songfic (Burn It To The Ground – Nickelback)
Advertências: Tortura, vícios, embriaguez.
Classificação: R
Capítulos: 1 (one shot)
Completa: [X] Yes [ ] No
Resumo: Ah, porque o juiz e seu seguidor não iriam apenas recolher almas. Iriam tentá-las com vícios, com perdição e com maldade. Talvez alguns se salvassem, outros não
Beta-Reader: Akane Mitsuko
Dedicatória: Presente de Sete Anos para Akane Mitsuko
Ouça a música, ela é parte integrante da fanfic, uma vez que é uma songfic.
BURN IN TO THE GROUND
O inferno fervilhava. Ânimos ainda mais letais, vozes mais altas, cosmos ascendentes, olhares de fúria, luxúria, intensa atividade.
O sangue escorria pelas fendas, pela terra, pelas pedras, um festim feito de comiseração, pecados e dor.
O Halloween estava apenas começando, trinta e um de outubro e, no momento, estavam todos os seres do inferno se reunindo para comemorar também o aniversário do perigoso e mortal Kyoto de Wyvern, que fora no dia 30 de outubro, mas isso era apenas um detalhe. A grande comemoração seria o Halloween, e já haviam começado a festejar o fato de poderem subir à terra e se misturarem com os humanos. Seria uma grande colheita para Hades.
Pessoas normais e calmas podiam se tornar muito exibicionistas e dadas a excessos no Halloween. Não era mais uma festa infantil, mas havia comemorações, bebida, muita bebida e alguns levavam a comemoração a outros níveis realizando rituais satânicos e orgias sexuais inenarráveis.
Terreno fértil para os espectros se divertirem com os vícios dos humanos, as fraquezas, as dores, os lamentos. E o melhor de tudo, não precisavam de fantasias, suas súrplices já eram aterrorizantes o bastante, suas almas negras já impunham mal estar e medo.
Não que fossem intrinsecamente ruins, mas os espectros não tinham piedade, acostumados que estavam a lidar com o lixo dos "santos" humanos.
Festivais de assombração, encontros de gente que se dizia com poderes psíquicos, festas regadas a doses nada prudentes de álcool. É, os humanos sabiam mesmo se perder em vícios, medos, torturas e pensamentos nada bons.
Era o dia de Samhain, marcava a chegada do inverno. Na antiguidade, era a data dos druidas executarem seus rituais em que um caldeirão simbolizava a abundância. Temporada sagrada de superstição e de conjurações de espíritos. Ou seja, haveria data mais perfeita para ceifadores de almas perdidas que o Halloween?
Para os druidas, 31 de outubro era a noite em que Samhain voltava com os espíritos dos mortos. Eles precisavam ser apaziguados ou os vivos seriam enganados. Acendiam-se enormes fogueiras nos topos das colinas para afugentar os espíritos maus e aplacar os poderes sobrenaturais que controlavam os processos da natureza. Era ocasião de infligir danos às propriedades, e consentir que se praticassem atos diabólicos não tolerados noutras épocas do ano.
Perdição.
Não em todos os lugares, nem em todas as famílias, mas para os fracos de caráter, viciados, perdidos em suma, era a época perfeita. E mais perfeita ainda se fosse uma colheita agradável a Hades e seus súditos.
O deus do submundo conhecia bem as entranhas da maldade. Ele era perito em saber que a humanidade evoluía, mas involuía e se perdia vezes sem conta. Era hora de libertar seus súditos para uma boa limpeza, aproveitando um período em que se misturariam com facilidade entre os habitantes do tal "mundo civilizado". A crença não era que bruxas, fantasmas, espíritos, fadas, e duendes saíam para prejudicar as pessoas? Será que pensavam que quem os prejudicava, realmente, eram eles mesmos, os humanos?
Era um dia de máscaras e fantasias. Bem, nesse dia as máscaras eram visíveis, mas talvez não tão boas quanto a hipocrisia do homem que se dizia santo e escolhia garotas ou garotos abaixo de quatorze anos para sua cama, talvez não tão boas quanto o senhor antiquado que a todos julgava enquanto procurava alívio entre os lençóis de jovens rapazes ou de travestis, nem chegava perto de máscaras que enganavam sobre o caráter, a bondade, a decência e o comportamento "ilibado" de alguns.
Hades gargalhou em seu trono vendo algumas cenas do "andar de cima". Alguns grupos envolvidos com magia negra e bruxaria também usavam máscaras para "criar uma ligação" com o mundo dos espíritos. Em breve aqueles que sacrificavam animais e pessoas inocentes teriam que ver que o terror não usava máscaras e que o julgamento de Minos não precisava de enfeites.
O Senhor Supremo do Submundo não tinha religião, apenas conduta. Suspirou pensando que no passado não apenas os católicos durante as atrocidades da Santa Inquisição, mas também os seguidores de Lutero, durante a selvagem perseguição aos anabatistas, e os calvinistas em sua feroz intolerância, promoveram barbaridades e injustiças com a desculpa de estarem em "Guerra Santa".
"Guerra Santa?" Hades falou sozinho. Guerra Santa plena de pecados, isso sim... Adorava a capacidade humana de criar mentiras e armadilhas para dar vazão à sua cobiça, ódio, preconceito e inveja. Era impressionante. Que dizer das supostas bruxas de Salém e de tantos outros lugares? Quantas idosas inocentes haviam sido sacrificadas por corresponderem ao estereótipo de bruxa malvada? Que dizer da Europa, onde a figura de feiticeira era correspondente a moças lindas, porém perversas? Como se beleza fosse pecado. O que para muitos humanos arruinados de raiva e inveja talvez fosse. Muitas adolescentes e jovens haviam sido mortas por conta de sua aparência.
Hades finalmente convocou seus juízes e todos os seus espectros para uma reunião em Giudecca. Disse-lhes, novamente, que não era um deus injusto e que não deveriam, jamais, ceifar as almas não marcadas por ele, Hades. O bom de lidar com seres infernais era que beleza, dinheiro, posição social, nada disso importava, pois o humano era pó, apenas um amontoado de carbono que seria devolvido a seu lugar: pó. As almas? Ah, algumas seriam levadas para descanso, outras aprenderiam da pior maneira nos círculos do inferno que o que se faz a si ou aos demais é objeto de julgamento e pena.
Enfim, era hora de irem.
Subiram todos eles, para todos os lugares onde houvesse Halloween, pois essa era a noite deles.
Radamanthys seguiu com Valentine justamente para Salém, onde haveria múltiplas festas e maluquices. Não que todo mundo fosse vil, mas era nessas ocasiões que muitos inúteis, falsos, traidores, maldosos, podiam se mesclar com os ditos homens de bem e dar vazão a algumas psicoses.
Não demorou muito.
Um bar. Bonito, cheio de espelhos, álcool à vontade, músicas um tanto diferentes. Um sorriso vil na boca de alguns, corpos se mesclando num festim.
"Bebidas." Radamanthys vestia um impecável terno preto como a noite sem estrelas a que estava acostumado no meikai. Olhos de águia, talvez melhor dizer de dragão, vasculhando o território. Iria levar muitos dali, podia ver a marca de Hades em almas já tão negras que nem pareciam de humanos.
Valentine ouvira seu senhor, mestre e amante, e pegou dois uísque duplos. Precisavam se mesclar naquele lugar.
E fazer surgir a tentação...
Ah, porque o juiz e seu seguidor não iriam apenas recolher almas. Iriam tentá-las com vícios, com perdição e com maldade. Talvez alguns se salvassem, outros não.
Embriaguez. Era tão visível em pelo menos metade dos que estavam ali que Wyvern sorriu para Valentine vendo os movimentos trôpegos, os corpos sem juízo, conduzidos por mentes imersas em álcool. Ações sem medir consequências, palavras em vozes engroladas, atitudes impensadas.
"Pelo visto alguns cairão no poço sem nem precisar de convite." Valentine murmurou demorando tudo que podia para beber o líquido âmbar que tinha em seu copo. Não era muito forte para bebida e, perto do uísque que Radamanthys costumava servir, aquele era horrível.
"Sim, bastará abrirmos o caminho. Não é de todo mau que estejam sem nem saber o que fazem. Talvez confundam o meikai com uma alucinação induzida por álcool." Wyvern virou de uma vez a dose dupla e um esgar de ardência apareceu em seu rosto esculpido em formas anglo-saxônicas. "Bebida horrível. Quero meus bons uísques escoceses."
Um sorrisinho maroto surgiu no rosto do ruivo espectro de harpia. Radamanthys não era enjoado com muita coisa, mas com seu uísque, era. "O que gostaria de beber, posso tentar arrumar." Valentine perguntou solícito.
"Não vamos nos demorar aqui. Não se preocupe." O juiz do inferno observou mais um pouco as pessoas ao redor. Notou o assédio indevido de um "cavalheiro" a uma moça que não parecia muito feliz de estar ali e riu. "Luxúria. Vaidade. Vá contando, vamos encontrar todos os pecados por aqui."
"Só pelo nível de embriaguez da maioria já podíamos apenas recolhê-los e ir embora." Harpia desistiu de sua bebida e viu o Kyoto virar outra dose dupla. Aquele inglês derrubava qualquer um em se tratando de beber... Era impressionante. "Ei, não disse que a bebida estava ruim?"
"Estou apenas aquecendo a garganta. Vamos trabalhar. E me lembre de lavar meu estômago depois de tomar essa droga. Péssimo uísque, mas é o que tem aqui. Prepare-se, não vai ser bonito." Um sorriso sardônico e o juiz começou a andar por entre as mesas, observando os marcados por Hades por haverem cometido atos nefandos. Não que seu senhor fosse um ceifeiro da morte, mas havia muitos que morreriam naquela noite e era apenas recolher os restos.
Well it's midnight, damn right,
Bem é meia-noite, maldita certeza
We're wound up too tight
Estamos machucados e estamos apertados
I've got a fist full of whiskey, the bottle just beat me
Eu tenho o punho cheio de uísque a garrafa me atacou
That shit makes me bad shit crazy
Essa merda me faz mal, merda maluca
We've got no fear, no doubt, all-in, balls out
Não temos medo, sem dúvida, tudo dentro, com as bolas fora
Valentine observou o jeito de andar e o olhar frio de Radamanthys. Viu-o encostar a mão em um bêbado que falava sozinho e a alma daquele homem era suja, era podre. Um pedófilo. É… Ver essas coisas não era agradável. O corpo sem vida tombou para a frente na mesa e Radamanthys segurou a alma pelo pescoço, os olhos arregalados daquele que teria muito o que sofrer no meikai.
"Pegue, Minos vai gostar desse." Radamanthys atirou para Harpia o ser invisível aos demais naquele antro e voltou a andar. Encostou-se numa parede suja e suspirou.
Valentine apenas prendeu a alma com seu cosmo, ele ficaria meio que pairando, atordoado, acima de sua cabeça, como um balão de hélio. Somente os espectros viam e ouviam aquelas almas. O tal pedófilo começou sua cantilena de medo e dor, sendo completamente ignorado.
A noite foi avançando e mais almas foram sendo capturadas. Radamanthys já tomara mais alguns uísques e parecia meio ébrio, mas não cabia a Valentine dizer ao juiz quando ele deveria parar. Ainda mais que agora as almas presas ao corpo do espectro de Harpia já totalizavam mais de dez e o murmúrio delas estava começando a incomodar um pouco.
Meia noite.
O festim do diabo iria começar.
Nota: deixei de publicar esta fanfiction no ffnet embora tenha sido publicada em janeiro deste ano. Achei o tema um pouco pesado e geralmente minhas oneshot não recebem comentários, afinal já estão completas. Assim sendo, parti-a em dois pedaços. Boa leitura.
