::: Notas inciais e disclaimer :::


Os personagens pertecem a Tite Kubo (c).

Gêneros: Drama, Lemon, Romance, Yaoi
Avisos: Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

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- Bem essa fic é uma história totalmente despretensiosa, simples, modesta, etc. Só queria fazer uma versão para explicar do meu jeito como o Renji devolveu o cachecol do Byakuya depois da luta entre eles, lá na saga Soul Society. Porque aquilo ficou sucumbido nos bastidores já que misteriosamente o Byakuya recuperou o cachecol, e não vimos COMO. sendo que ele estava com o Renji desde a luta. Então queria escrever sobre isso.
Já tinha a idéia faz tempo, mas só agora terminei.

- A fic vai ter dois capítulos.


...


Byakuya ainda não havia retornado ao trabalho.

As recomendações da capitã Unohana foram bastante claras e rigorosas. Faltava muito para que o Kuchiki pudesse retomar normalmente sua rotina. Enquanto isso, Renji se encarregava de tomar conta dos afazeres da sexta divisão. Havia toneladas de serviço acumulado, e as tarefas do esquadrão pareciam multiplicar num ritmo incompreensível.

Uma desordem homérica originou-se do cenário onde deveria ocorrer a execução de Kuchiki Rukia. No entanto, refutando as expectativas, a ocasião se transformara num palco de horrores onde diversas máscaras ruíram diante de soldados e capitães do Goteijuusantai. Respectivo à esse incidente, o seireitei vinha unindo forças para reparar os danos físicos e morais provocados pelo conflito contra os traidores.

Renji quase não dispunha de homens com tempo livre o suficiente para ajudá-lo a manter a sexta divisão dentro dos eixos, respeitando sempre o rigor e a seriedade de Kuchiki Byakuya quando o assunto era seus negócios. Isso porque em meio a esse caos, o tenente ainda encontrava um tempinho aqui e ali, para visitar o capitão internado nas dependências hospitalares do quarto esquadrão.

Só que... Já faziam três dias desde que Byakuya recebera alta.

Desde então, Renji não mais se atreveu a visitá-lo. Não é como se Renji fosse proibido de frequentar as propriedades da família Kuchiki; ele só não se sentia confortável suficiente para aparecer na casa do capitão, sem que a visita tivesse um significado especial, sobretudo profissional. Ainda mais nas atuais circunstâncias. Não queria que sua presença se tornasse um estorvo, enquanto seu taichou, – o homem nobre e reservado que era –, estivesse recobrando o estado de saúde física na paz cerimonial de seus aposentos.

Pensou em pedir Rukia para que ela criasse uma oportunidade, abrisse uma brecha, já que dividia o mesmo teto que o Kuchiki... Mas com a criatividade abalada dado ao acumulo de serviço, não conseguia sequer elaborar uma desculpa fuleira; quem dirá então, alguma convincente o bastante para incitar a amiga em ajudá-lo.

Porém, a luz no fim do túnel só foi mesmo aparecer numa noite de sexta-feira.

O trabalho era tanto, que parte dele era levado para ser finalizado em casa. Assinou, verificou documentos para serem arquivados, relatórios a serem apresentados diretamente para o comandante, e separou aqueles que cabiam apenas ao seu capitão tomar as devidas providências. Terminado isso, Renji bocejou sonolento e guardou o amontoado de papéis numa pasta sobre a mesa. Sorveu os últimos goles do chá de maçã, e em seguida se levantou para o merecido descanso. Já era madrugada, e a região residencial do quartel encontrava-se imergida na mais absoluta paz. Ele puxou a porta de correr do oshiire para apanhar o futon e as cobertas, quando um pacote despencou de dentro do móvel, em meio às tralhas de dormir.

Renji apanhou o embrulho com expressão de surpresa na face. Pretendia devolver o pertence do Kuchiki apenas quando o capitão voltasse para o trabalho. Havia gastado uma parcela considerável do seu salário exíguo, para bancar uma limpeza adequada no tecido fino, uma vez que não se atreveria em tirar as manchas secas de sangue sozinho, certo de que possivelmente arruinaria a nobre peça.

Voltou o pacote cuidadosamente para seu lugar, passando a mão sobre o embrulho para desamassar as dobras e—

Parabéns, Renji, seu lerdo.

—X—

Assim que acordou naquela manhã de sábado, Renji disparou ansioso para os anexos habitacionais do décimo terceiro esquadrão. Foi logo autorizado a entrar pelo próprio capitão Juushirou, quem usava de tempos agradáveis como aquele para caminhar e respirar o ar puro enquanto o sol não se erguesse a pino. Sua saúde delicada fragilizava-se com facilidade quando se expunha sob temperaturas elevadas por muito tempo. E, embora estivessem no outono, ainda assim não conseguia resistir debaixo do sol do meio-dia em diante.

– Renji-kun, não deveria estar aproveitando o sábado para descansar até mais tarde? Ouvi dizer que tem se esforçado bastante no sexto esquadrão, com a ausência do Byakuya.

– Bem, na verdade não vim aqui a trabalho. Eu tenho um assunto importante para conversar com a Rukia, queria saber se o senhor me dá permissão de ir até––

– Rukia? – Ukitake interrompeu o tenente sem querer, estampando o rosto com um sorriso. – Renji-kun, pensei que soubesse. Ela não tem passado as noites no quartel. Recebi um pedido escrito do capitão Kuchiki solicitando minha autorização para que eu a liberasse, de modo que pudesse permanecer em casa até que se recuperasse por completo dos danos sofridos no mundo material.

E lá se vai a oportunidade. Acabou acordando cedo para nada no fim das contas. Mas Renji já estava acostumado com esses infortúnios. Afinal, a sorte nunca gostou muito de caminhar ao lado dele. Então, o episódio era só mais um para a coleção dos fatídicos fiascos em série do tenente Abarai. Nada muito fora da rotina habitual.

– Err... Não tava sabendo disso não. Da última vez que eu e a Rukia nos vimos ela parecia bem. O Kuchiki-taichou também não chegou a comentar nada comigo.

– A saúde da Rukia está bem, Renji-kun. Mas ela ainda não recuperou seus poderes por completo. – Ukitake fez um gesto convidativo com as mãos, como se sugerindo que conversassem enquanto caminhavam. – Por que não faz uma visita? Rukia deve estar disponível no final de semana.

– Pois é, Ukitake-taichou. É que o senhor sabe... – Renji foi ficando sem jeito. – Essa gente rica é cheia dos compromissos, tem horário para tudo. Não quero aparecer de repente, e incomodar.

– Renji-kun, não precisa ser tão modesto assim. Byakuya, apesar da aparência intimidadora, é seu capitão. E Rukia antes disso era, e ainda é sua amiga, não vai ser um incômodo se aparecer para uma visita.

– Mesmo assim... – O tenente coçou os fios presos no alto da cabeça. Não dava para tentar fazer os outros compreenderem como ele se sentia a respeito daquilo. – Enfim, melhor deixar pra lá.

– Ei, então por que não manda um recado antes?

– Huh?

– Você pode mandar um bilhete. Diga que gostaria de aparecer para uma visita, mas que não sabe qual melhor horário para fazer isso. – Ukitake deu umas batidinhas de incentivo no ombro do rapaz, notando o semblante dele desanuviar. – Então é só aguardar uma resposta.

Ora, se a tal dita sorte teimava em bater na porta de Abarai Renji, não custava nada mexer os próprios pauzinhos e ir até ela, certo?

—X—

O sol começava a se por no horizonte por detrás das montanhas, quando o capitão Kuchiki foi interrompido em sua caminhada pelos jardins da mansão. As folhas dos bordos começavam a adquirir aquele tom amarelado de outono, forrando a grama bem cuidada com um tapete acobreado. Byakuya adorava caminhar por entre elas, especialmente naquele horário da tarde que precedia o anoitecer. Os últimos raios de sol refletiam nas folhagens, criando a ilusão de serem dotadas de um vermelho intenso. O ambiente inspirador era perfeito para restaurar o espírito debilitado, uma vez que o corpo já estava em ótimas condições; apesar de que a capitã Unohana ainda insistia para que permanecesse afastado do trabalho por mais uma semana.

O capitão deteve os passos ao sentir aquela pressão espiritual retraída, típica dos empregados, seguida do farfalhar de pés amassando as folhas secas pelo caminho.

– Kuchiki-sama. – A jovem disse, curvando-se imediatamente para o patrão. Estava um pouco ofegante, já que gastara muito tempo para chegar até ele, visto como era fácil de ser perder nos jardins da mansão. As trilhas pareciam um imenso labirinto formado por paredes de hera que cresciam se agarrando aos ramos de médios arbustos. Os empregados reclamavam que a planta dificultava a locomoção, mas Byakuya recusava-se em apará-la. A empregada então arfou para recobrar a respiração, e voltou a falar. – Tenho algo para o senhor. É do Abarai-fukutaichou.

Byakuya se aproximou inexpressivamente, tomando o pequeno envelope nas mãos estendidas da garota. Virou frente e verso, mas não havia remetente. Apenas uma sobrecarta simplória. Lançou um olhar incisivo para a jovem a sua frente, fazendo-a entender que estava dispensada.

Andou até onde o espaço fechado se abria para o grande lago do jardim. O céu começara a escurecer, porém, sabendo da presença do capitão no local, as chouchins foram devidamente acesas pelos criados anteriormente. Byakuya caminhou sob a luz pálida das lanternas, até a taiko-bashi que permitia o acesso ao outro lado do lago. Gostava de ficar ali observando o movimento das carpas, apreciando a rotina constante da natureza ao seu redor. Ele apoiou os cotovelos sobre lateral da ponte, e retirou um pedaço dobrado de papel de dentro do envelope.

Pelo jeito, convidar Renji para praticar a arte do shodo com outros capitães não adiantou muita coisa para que a caligrafia desleixada dele adquirisse ares mais estéticos. Byakuya logo tomou nota do detalhe, ao passo que lia o conteúdo.

"Kuchiki-taichou, estive pensando se talvez não fosse muito atrevimento da minha parte, me oferecer para ir até a casa do senhor para uma visita. Também tenho uma coisa que queria te entregar pessoalmente (acho que deve saber o que é). Como eu não sei quando seria mais adequado para aparecer, então achei mais educado mandar este aviso antes."

Respeitosamente, Abarai Renji.

Logo depois do jantar, já de volta à mansão, Byakuya mandou que chamassem um de seus empregados disponíveis. Minutos antes, encontrava-se ajoelhado de frente à escrivaninha do quarto, terminando de bebericar seu gyokuro enquanto escrevia ele mesmo uma resposta para Renji. Havia feito vários rascunhos e tentativas de parecer um pouco amistoso, mas o resultado era catastrófico. Não se dava bem em tentar fazer uso desse tom sem soar artificial. Acabou por fim, decidindo escrever apenas o essencial.

Poderia esperar até amanhã para pensar numa resposta melhor, levando em conta que era uma noite de sexta-feira, e provavelmente o Abarai poderia muito bem não estar em casa. Sabia que o tenente costumava sair nesses dias com os amigos, para diversões do tipo "malvistas" pelos bares e estabelecimentos suspeitos no rukongai. Não o repreendia por isso, embora não lhe agradasse nem um pouco a idéia acerca desse tipo de diversão.

Mas a verdade é que o bilhete de Renji havia mexido com ele. Sentiu falta do rapaz nos três dias que voltara para casa, quando as visitas dele cessaram de vez. Gostava de vê-lo ali, sentado ao seu lado. Mesmo que não dissesse nada; ou mesmo que soltasse a língua desenfreadamente contando suas histórias, até que o capitão adormecesse embalado pelo som daquela voz estabanada. A companhia do ruivo simplesmente o fazia se sentir uma pessoa melhor. Sua benevolência apaziguava o coração; ou melhor dizendo, fazia-o lembrar de que ainda era dono de um, e que ele ainda batia dentro do peito, mesmo que solitário na maior parte do tempo.

E ainda tinha aquele cuidado que Renji tinha ao se dirigir a ele. Não o mesmo cuidado que todas as pessoas em volta de Kuchiki Byakuya tinham ao se aproximar. Ainda mais depois de toda a meia-tragédia envolvendo Rukia. Parecia que todo o seireitei lhe lançava olhares repreensivos, cochichando julgamentos pelas costas, espalhando o quão perverso o líder da família Kuchiki era capaz de ser. Mas Renji era diferente porque não havia mais medo, desafio, ou qualquer rancor reprimido por trás do seu olhar. Era tão sincero, tão verdadeiro, tão livre de reprovações; o capitão se sentia querido na presença dele.

Talvez estivesse sendo egoísta, desejando usar a companhia do Abarai apenas para seu conforto e bem-estar. Ou talvez só estivesse se deixando iludir pelo antigo fardo da solidão. Mas estava longe de admitir qualquer uma das duas coisas. Fosse como fosse, havia escolhido deliberadamente levar a vida dessa forma. Pensava ser melhor assim, livre de emoções, livre do amor, livre de tudo que não somente causou sua ruína pessoal, mas também quase levou sua própria família precipício abaixo. Bastava carregar cicatrizes incuráveis pelo resto da vida, ter fechado seu coração para o mundo; não precisava chegar ao ponto de deixar o nome Kuchiki estampado no mural da vergonha por conta de sua obstinada indisciplina.

Entretanto, estava cansado. Terrivelmente cansado dessa existência vazia. Queria um sentido, se sentir acorrentado à algo que o motivasse, que desse significado aos detalhes ordinários de seu dia-a-dia. Não poderia seguir adiante sem isso. Não mais. Queria a certeza palpável da qual os sonhos não poderiam oferecer. Porque quando abria os olhos, a realidade intragável estava de volta, e os sonhos se transformavam em lembranças amargas, intangíveis. Acumulava aquilo dentro de si, colecionava memórias que nunca existiram, sentia saudade de todas elas, de tudo que nunca viveu.

Mas Byakuya não era ingênuo a ponto de achar que Renji fosse a cura dos seus problemas. Só queria sentir ao menos mais uma vez a ausência do vazio quando o tenente estava por perto. Só isso bastava. Não era um crime desejar uma coisa dessas, era?

– Quero que leve este recado para o Renji. – O Kuchiki ordenou, estendendo o envelope com o emblema da família gravado nas costas.

– Vou providenciar para que seja entregue amanhã bem cedo.

– Amanhã? – Byakuya cerrou os olhos admirados para o criado – Pensei que houvesse sido claro suficiente quando pedi que me chamassem alguém disponível.

– Ah, err... Então... Perdão, Kuchiki-sama. Vou imediatamente entregar o recado para o Abarai-fukutaichou.

—X—

Deveriam ser quase umas dez da noite quando os guardas mandaram chamá-lo na sede do sexto esquadrão. Como durante o outono as noites ficavam mais frias, Renji vestiu um haori cor de terra bem comprido por cima do yukata de dormir; amarrou o obi na cintura, e prendeu a zabimaru bem firme entre as faixas para ir lá fora verificar o que queriam com ele.

Ao chegar à avenida ladrilhada que dava para o portão principal, um rapaz novo postava-se encolhido entre os dois soldados imponentes responsáveis pela guarda noturna da região. O jovem não usava vestes de shinigami, o que logo estranhou.

– Quem é você? – Renji perguntou bruscamente; estava um tanto mal humorado. Acabava de se preparar para dormir quando Rikichi esmurrou a porta da sua casa fazendo alardes desnecessários. Preferiu o sossego do lar naquela noite de sexta-feira, apesar da insistência de Shuuhei para que saíssem a fim de encher a cara, e relaxar do trabalho exaustivo dos últimos dias.

– Perdão pelo incômodo, Abarai-fukutaichou. Não queria vir até aqui tão tarde da noite para atrapalhar, mas o Kuchiki-sama é tão––

– O que tem o Kuchiki-taichou? – O ruivo atravessou sem esconder a exaltação.

– Ele insistiu para que eu viesse lhe entregar esse recado.

Renji tomou o envelope abruptamente das mãos do sujeito, sentindo onda de arrepio atravessar a espinha. Mal acreditava na rapidez da resposta do capitão. Na sequência despediu-se apressadamente do empregado dos Kuchiki, mandando Rikichi escoltá-lo de volta para casa. Não que fosse perigoso, mas o rapazinho estava visivelmente com medo de andar por aí naquela hora da noite.

De volta à sua residência, Renji sentou-se no futon sob a luz frouxa de uma única chouchin ao seu lado. Inseguro feito um moleque mal saído da infância, ele abriu delicadamente o envelope rebuscado, tomando todo o cuidado para não danificar o papel. Era bonito demais para ser rasgado, além do que, havia sido lacrado e redigido pelas mãos do próprio Byakuya. E pensar que ele se dera ao trabalho... Deveria ter o cheiro dele impregnado no papel e...

Pelo amor de Deus, quanta pieguice!

Ele tinha quantos anos? Onze? Francamente, era apenas um bilhete!

Renji sacudiu a cabeça livrando-se desses pensamentos estúpidos, e começou a ler o conteúdo para acabar de uma vez com aquela tortura. A caligrafia do capitão era fina, traços elegantes e eminentes. Ao contrário da dele, toda desleixada e esculhambada. Sentiu vergonha por uma fração de segundo, poderia ao menos ter se esforçado para escrever algo mais ajeitado, mas, tarde demais para arrependimentos.

"Estarei disponível amanhã depois das 15h00."

Kuchiki Byakuya.


...


NOTAS FINAIS:

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oshiire: É um tipo de "guarda-roupas", que serve especialmente para guardar as coisas de dormir. Futon, cobertas, travesseiros, essas coisas.

chouchin: São lanternas japonesas feitas de armação de bambu ou arame (de formato variado) coberta de papel ou de seda.

taiko-bashi: São aquelas pontes arqueadas que existem bastante nos jardins japoneses. Tem significado simbólico. Representa uma evolução para um nível superior em termos de amadurecimento, engrandecimento e auto-conhecimento.

shodo: É a caligrafia japonesa; arte de composição de traços e pontos, geralmente escrita por pincel no papel washi, utilizando a tinta sumi.

gyokuro: Uma variedade sofisticada e cara do chá verde japonês.

haori: Ao contrário do que muitos pensam, não é somente o nome aquela "capa branca" que os capitães de Bleach usam. O nome serve pra designar qualquer peça daquele estilo.

yukata: Vestimenta própria para o verão. Também é usada como roupa pós-banho, e para dormir.