— Você poderia, por favor, sair de cima de mim? – disse Peter, percebendo que Wade era mais pesado do que havia imaginado e mais do que irritado por causa dessa mania estúpida do mercenário de entrar em seu quarto sem permissão e como uma bala, desesperando, derrubando tudo e fazendo questão de esmagá-lo para completar o pacote.

— Acho que eu quebrei alguma coisa…

— Sai de cima de mim, seu idiota! – o moreno juntou forças e empurrou Deadpool o suficiente para que ele rolasse de lado. Vendo-o de frente, Peter percebeu que seu corpo estava todo ferido e havia sangue por todos os lados. — O que diabos aconteceu com você?

Wade levantou mais ou menos o braço e agitou a mão como se estivesse pedindo que não se preocupassem com ele. Era óbvio que o mercenário não estava nada bem, mas este era o tipo de coisa que não alarmava mais Peter, a questão era quem o deixou naquele estado e por que esse filho da puta veio direto para a sua casa!?

Pensando na segurança de sua tia May e na de sua identidade secreta, Peter ergueu-se com dificuldade e, ignorando a dor de ter sido espremido momentos antes, fechou a janela e as cortinas. Evitando olhar também para suas próprias roupas sujas de sangue e as marcas deixadas nas paredes e nas almofadas, o jovem herói se voltou para Wade, que havia parado de balbuciar coisas sem sentido e parecia ter caído no sono.

Peter Parker suspirou fundo e deixou-se cair no chão pesadamente, apoiado na cama, com as pernas abertas viradas para o corpo inerte de Deadpool. Pelos rasgos da roupa Peter conseguia ver os cortes e os buracos (sim, buracos!) se fechando lentamente, e também a pele castigada do mercenário. Algum dia o super-herói reuniria coragem suficiente para perguntar o que aconteceu com ele… é claro que Peter poderia apenas pesquisar ou sair indagando os outros heróis, mas tinha algo de muito íntimo naquilo. Ele sentia que era como compartilhar um segredo e imaginava que Wade somente lhe contaria sua história quando confiasse nele.

Ao mesmo tempo, o Homem-aranha não queria ter a confiança desse lunático, irritante e pegajoso que era Wade Wilson. Ele não queria ter que conviver com situações como esta, um homem estirado em seu tapete, ou por ter assassinado alguém ou porque um de seus milhões de inimigos vieram atrás dele. Era a primeira vez que algo assim acontecia, mas na promessa de que ocorreria mais vezes. E Peter já se sentia milhares de anos mais velho.

E ele também já se sentia meio preso. Porque, olhando para Wade, o moreno conseguia ver certa serenidade, a prova de que o mercenário encontrava nele algum tipo de segurança ou, pelo menos, alguém para quem recorrer e sentir bem o suficiente para simplesmente dormir na certeza de que nada lhe aconteceria de mal. Isto deixava Peter aterrorizado, porque ele realmente jamais permitiria que algo de ruim acontecesse a Wade.

Era um sentimento tão maluco que ele não conseguia explicar em palavras. Nem pensar direito sobre o assunto ele conseguia.

O rapaz suspirou fundo e levantou-se. Sabendo que seria incapaz de tirar o outro do lugar, apenas improvisou um travesseiro e colocou-o sob sua cabeça, deu mais uma olhada e saiu, na intenção de dar um jeito em sua própria vida e sem saber por onde começar.