"Omnia vincit amor" —Virgílio, Eneida
Chapter I (Prologue) – Drop Dead Demon
Sebastian sentiu cada parte de seu corpo arder como se estivesse em chamas. As dores erguiam-se cada vez mais sobre seu consciente, porém, ainda assim, continuou andando para longe o mais rápido que lhe era possibilitado. Estava grato que as únicas coisas que seus ouvidos potentes captavam era o barulho selvagem da mata que o cercava e os ocasionais animais que fugiam para longe; se algum Downworlder aparecesse, não seria muito bom. Mas não era com não-humanos que o garoto se preocupava – longe disso, na realidade. Temia que a qualquer momento algum execrado Shadowhunter pudesse aparecer de deus sabe aonde. E seu instinto de sobrevivência praticamente murmurava-lhe isso a todo o momento.
As árvores grossas e troncudas eram um grande empecilho em sua jornada e as raízes muitas vezes o faziam tropicar dolorosamente contra o chão, enquanto grande parte de sua extensão estava encharcada de um líquido rançoso e carmesim, adicionando aos poucos terra e folhas mortas. Mesmo com seu sentido debilitado, podia dizer que embrenhava vegetação adentro, uma área que desconhecia totalmente, a não ser os poucos mapas obtusos que havia visto junto de seu pai. Possivelmente haveria tocas ou cabanas escondidas por glamour; humanos ou não passeando por qualquer lugar próximo. Teve de se concentrar ainda mais em escutar cada mínimo som que lhe era possível.
O coração perfurado batia fracamente, mas Sebastian estava grato que, de alguma forma, estivesse se curando em uma rapidez enorme – ainda que não em uma velocidade o suficiente. Tinha de se esconder em algum lugar logo e se curar de suas feridas, ou sua vida estaria logo acabada. Continuou com seus passos afetados, desviando dos arbustos, ou qualquer coisa que bloqueasse seu caminho. Não tardou até alcançar uma clareira estranhamente limpa, o possibilitando sem dificuldades de enxergar o céu escuro lá em cima e ofuscando seus olhos acostumados a escuridão. O cheiro de madeira queimada foi o que lhe revelou a presença de algo a mais. Primeiro, teve de forçar uma parte de seu cérebro para contornar a magia de quem quer que tivesse tentando bloqueá-lo; depois, precisou afastar o fluxo de glamour que ainda o impedia de prosseguir ou enxergar normalmente. Nada que o ajudasse ainda mais nessa situação.
Agüente firme, seu idiota, Sebastian esbravejou em sua mente, empurrando-se para que continuasse a andar. A pequena cabana que estava se formando gradualmente a sua frente era grande o suficiente para que duas pessoas morassem de modo confortável, feita inteira de madeira, incluindo as jardineiras e a porta baixa. As janelas estavam escancaradas, e o odor delicioso de carne assando fez o corpo inteiro do Shadowhunter protestar contra a fome, o fazendo esquecer por um breve momento das dores corporais. Só mais um pouco, ele suplicou quieto. Sua visão estava turva, escurecendo aos poucos.
Demorou a notar seu corpo desfalecendo sobre o gramado bem aparado.
Não antes de escutar um grito alto de uma garota. Mas já era tarde demais.