1 - Névoa Sepulcral
Harry Potter abriu os olhos na escuridão quase total. Era cedo, muito cedo, não havia nem mesmo o menor vislumbre da aurora. As estrelas e a lua em quarto crescente forneciam uma luz escassa ao quarto.
Concentrou-se nos seus outros sentidos. Ele tinha dores, mas nada de grave. Já tinha passado por pior, estava simplesmente dormente e dorido. A dor foi o resultado dos efeitos prolongados da maldição Avada Kedavra, combinada com as muitas outras lesões que sofreu nos últimos dias. A dormência, percebeu, era porque esteve deitado na mesma posição por muito tempo. Pensou em quanto tempo esteve a dormir.
Harry ficou deitado por alguns minutos, movendo-se lentamente para tentar aliviar as articulações. Ele manteve os olhos abertos, olhando para a escuridão até que quase podia distinguir a forma das cortinas em redor da cama. Tentou sentir o que estava em seu redor, ouvindo, pensando.
Não estava sozinho. Ele podia ouvir outros a dormir, com as suas respirações regulares interrompidas por um suspiro ou ronco ocasional. O seu dormitório na Torre de Gryffindor estava vazio quando ele deitou ao chão as suas roupas e caiu na cama. Tinham passado apenas algumas horas após o meio-dia quando finalmente conseguiu escapar das multidões. Sorrateiramente, fez o caminho até ao dormitório, para descansar um pouco depois de mais de trinta horas sem dormir.
Harry ouviu atentamente. Ron... aquela era a respiração do Ron, ele dormia. Neville... aquele ruído, sem dúvida, ele estava aqui também. Havia outros, mais silenciosos, com respirações baixas. Dean e Seamus, interrogou-se, ou Hermione? Segurou a respiração e apurou a audição. Hermione não era, decidiu. Como compartilharam uma tenda muitos meses, ele podia facilmente reconhecer o padrão da respiração dela. Dean e Seamus suspeitava – esperava, porque então assim realmente estaria em casa. Quanto tempo passou desde que os cinco compartilharam o dormitório? Foi em Junho do ano passado, a noite antes do funeral de Dumbledore. O dia em que ele terminou com a Ginny, lembrou-se, mas também, se recordou feliz e esperançoso, a última vez que a beijou.
Devagar e silenciosamente, Harry puxou para o lado os lençóis e cobertores, e sentou-se na sua cama com dossel. Mexeu-se com cuidado, esticando as pernas para aliviar os músculos doridos dos movimentos. Quando se convenceu que não ia ter cãibras, alcançou com devagar a sua mesa-de-cabeceira e correu os dedos sobre a sua superfície familiar. Esta acção, no escuro, sem acordar os seus colegas de quarto, era uma segunda natureza para ele. Ele teve anos de prática. Apalpando, os seus dedos encontraram os óculos, três varinhas, o relógio e os restos secos da sandes que o Kreacher lhe tinha levado ontem.
Ele poderia facilmente distinguir as varinhas, mesmo no escuro. A Varinha de Sabugueiro, de alguma forma fria ao toque, a varinha de Draco Malfoy, para ele agora estranhamente familiar, e não para Draco, e, sentido o calor a espalhar-se por entre os dedos, a sua própria varinha de azevinho e pena de Fénix.
Harry colocou os óculos, pegou no seu relógio e varinha, e puxou as roupas da cama sobre a cabeça.
Lumos, pensou. A varinha obedeceu perfeitamente, emitindo um brilho baixo, apenas o suficiente para ver o seu relógio.
Passava pouco das quatro e meia. Ainda faltava uma hora para a Madrugada. Ele tinha dormido mais de 14 horas. Os seus colegas de quarto não o tinham perturbado, nem mesmo o habitualmente barulhento e desastrado Neville. Ele não fazia ideia de quando qualquer um deles tinha ido para a cama. De repente e despertando, foi atingido por uma ideia. Agora! Tem que ser agora!
Harry procurou no chão as roupas sujas que tinha despido ontem e silenciosamente pousou-as na cama. Enquanto as procurava no chão, ele também encontrou o seu manto de invisibilidade e o Mapa do Salteador. Ele lembrou-se vagamente de os empurrar para debaixo da sua cama ontem à tarde. Pela segunda vez ele puxou as cobertas sobre a cabeça e cuidadosamente examinou o mapa com a luz da varinha.
Verificou o seu dormitório em primeiro lugar. Ele estava certo, estavam todos lá, Ron Weasley, Neville Longbottom, Dean Thomas e Seamus Finnegan. Ele passou os olhos rapidamente pela torre de Gryffindor. Hermione Granger, Ginny Weasley, Parvati e Padma Patil estavam todas no dormitório de Hermione. Estranhou porque Padma estava aqui, e não no dormitório dos Ravenclaw.
Lavender Brown faltava, ele apercebeu-se! Ele tentou-se lembrar se a tinha visto após a batalha. Não tinha. Em pânico, verificou a Ala do Hospital. Não estava lá. Se não estava no mapa, estava morta. Sentiu um aperto no coração.
Voltando ao exame da Torre viu que George, Charlie e Percy Weasley compartilhavam um dormitório com Oliver Wood. Arthur, Molly, Bill e Fleur Weasley estavam noutro. O outro dormitório ocupado continha Angelina Johnson, Alicia Spinnet, Katie Bell e uma menina chamada Leanne Cowper, é amiga de Katie, lembrou-se. A Torre de Gryffindor, embora não completa, tinha um monte de moradores.
Harry vestiu-se no escuro. Pegou no seu manto de invisibilidade, nas três varinhas e nas sapatilhas e foi em ponta de pés até à porta. Gentilmente abrindo-a, desceu a escada em espiral para a sala comum de Gryffindor. À luz do fogo, ele verificou o mapa. Dois nomes desconhecidos, Edmund Byers e Dominic Strang estavam lá fora à entrada no quadro, alguns nomes desconhecidos patrulhavam os corredores. Aurores? Harry perguntou-se. Como ele poderia saber? Andou para a frente e para trás na sala comum por alguns minutos, pensando, e então...
"Kreacher", ele sussurrou. Com um pop, o seu elfo doméstico apareceu-lhe à frente.
"Amo". Disse Kreacher fazendo uma vénia, ao se levantar ficou em silêncio à espera de ordens.
"Obrigado pela tua ajuda", Harry tentou-se lembrar quando foi, "ontem?" disse com incerteza. Foi realmente só ontem que o Tom Riddle tinha morrido?
"O Kreacher fez simplesmente o seu dever", o elfo resmungou, inclinando-se novamente.
"Não, o que fizeste foi mais que isso, obrigado".
"É uma honra servi-lo". Kreacher fez novamente uma vénia.
"Kreacher" perguntou Harry,"podes dizer-me quem está lá fora no corredor?"
"Aurores, Amo Harry", respondeu, "para mantê-lo seguro". Harry fez uma careta, mesmo sob o manto ele não poderia deixar a torre. Os Aurores iriam ver o quadro a abrir, e todos sabiam sobre o seu manto. O elfo olhou atentamente para Harry, examinando as roupas sujas e suadas que ele usava.
"O Amo Harry não pode sair, não assim", disse Kreacher com desaprovação, "O Kreacher vai buscar roupas limpas".
"Espera," o Harry disse, uma ideia maluca atingindo-o, "Kreacher, podes levar-me à casa de banho dos prefeitos no quarto andar? Um banho e roupas limpas seriam maravilhosos." Kreacher fitou o seu Amo com os seus enormes olhos lacrimejantes.
"O Amo Harry deseja evitar os Aurores?" ele percebeu. Harry assentiu com a cabeça. O idoso elfo pegou-lhe na mão e desapareceu com Harry, aparecendo na casa de banho dos prefeitos, conforme solicitado.
"Obrigado Kreacher", disse o Harry, abrindo as torneiras e vendo a banheira encher-se rapidamente com água quente e espuma.
"O Kreacher irá trazer-lhe roupas limpas", disse o elfo desaparecendo. Harry despiu-se e deslizou na água quente e reconfortante.
Depois de vinte minutos de molho, ele estava fresco, limpo e completamente relaxado, as dores nos músculos acalmaram um pouco. Ele olhou ao redor da sala e viu, ao lado de uma toalha branca limpa, uma pilha bem dobrada de roupas limpas, as suas roupas sujas tinham desaparecido. As sapatilhas lamacentas e arranhadas tinham sido limpas. Harry arrastou-se para fora da banheira e secou-se rapidamente. Ele reconheceu as calças de ganga pretas, boxers e meias como as suas, a t-shirt, no entanto, era nova. Era de um vermelho brilhante, com o leão de Gryffindor bordado à mão em linha de ouro sobre o coração. Um cartão estava por cima. Dizia: "ao Amo de Kreacher um Feliz Natal". Melhor do que uma caixa de vermes, Harry pensou, sorrindo para si mesmo enquanto vestia a t-shirt.
"Kreacher", ele disse, aparecendo o seu elfo novamente, apreensivo, Harry pensou.
"Obrigado pela t-shirt. Peço desculpa de não ter estado em casa no Natal", Harry disse, "eu devia-te ter oferecido alguma coisa também, peço desculpa".
O Kreacher quase ia ficando sem palavras.
"O Amo Harry deu a Kreacher isto", os seus longos dedos acariciaram o medalhão pendurado ao pescoço, "O Amo Harry é um bom Amo, tão bom como o Amo Regulus".
Harry percebeu que este foi realmente um grande elogio vindo do Kreacher.
"Obrigado Kreacher", Harry fez uma pausa, "Kreacher, pensei em voltar para casa hoje, de volta a Grimmauld Place, é seguro?"
"Devoradores da Morte foram lá no dia em que foi ao Ministério, Amo. O Kreacher fugiu, ele seguiu as ordens anteriores do Amo Harry, e voltou a Hogwarts".
"Fizeste bem Kreacher, foi a melhor coisa".
O elfo doméstico fez uma vénia de seguida, permaneceu em pé e inclinou a cabeça, primeiro para um lado e depois para o outro, com suas orelhas se contraindo.
"Sua casa está vazia, Amo", o elfo anunciou,"O Kreacher vai limpá-la para o seu regresso".
Antes de esperar por uma resposta, Kreacher desapareceu. Harry considerou chamá-lo de volta, mas opôs-se. Ele não queria depender dum elfo doméstico sempre à sua disposição. Já se estava sentindo culpado por dar ao idoso elfo tantas ordens.
Harry abriu o Mapa do Salteador de novo e olhou para ver se havia mais alguém para além dos Aurores em redor de Hogwarts. Apareceu um ponto em movimento fora do castelo, caminhando pelos jardins em direcção à entrada principal. O ponto foi rotulado ~Kingsley Shacklebolt~. Harry não podia acreditar na sua sorte. Uma das duas pessoas que ele mais queria ver percorria o caminho para o castelo. Harry cobriu-se com o manto, e correu através da escola usando cada atalho que conhecia.
Os corredores em que passou estavam marcados das maldições, e, em algumas ocasiões, teve que saltar sobre escombros ou armaduras desfeitas. Quando chegou ao hall de entrada, Kingsley Shacklebolt, o ministro interino de Magia, resplandecente em vestes de vermelho e azul, estava cumprimentando os Aurores.
"Tudo calmo", uma baixa e gorda feiticeira em vestes azul-marinho estava dizendo a Kingsley, Harry, sob o manto de invisibilidade, entrou no hall de entrada por de trás de uma tapeçaria. "Os curandeiros têm todos os corpos preparados para a recolha, tudo para além de Você-Sabe-Quem. O que vamos fazer com ele?"
"Ainda não sei", Kingsley respondeu. "Talvez seja melhor perguntar ao Harry". Com isso, o ministro interino de Magia olhou directamente para o local onde Harry estava. Harry tirou o manto, sorrindo. Os dois Aurores que estavam com Kingsley saltaram de surpresa e viraram as varinhas para ele.
"Ouso perguntar como saíste da torre de Gryffindor sem alertar os guardas colocados lá para a tua segurança?" Kingsley perguntou despreocupadamente.
"Não se importa que conte mais tarde?" ele perguntou. "Há algo que preciso de fazer, e gostaria que você e a Professora McGonagall me ajudassem".
"Como quiseres, Harry, eu ia a caminho de falar com Minerva", disse Kingsley. "Ela está à minha espera, por que não te juntas a mim?"
Harry caminhou em passo largo ao lado do Ministro interino de Magia. Como eles subiram para o primeiro andar, Harry virou a cabeça em direcção ao escritório da Professora McGonagall.
"Não é por aí, Harry", disse Kingsley. "A Minerva está no escritório dos directores. Seja temporariamente ou permanentemente, é claro, será uma questão para o Conselho de Administração da Escola".
Harry girou nos calcanhares e continuou até o sétimo andar e para o escritório do director (da directora... ele se interrogou?). A gárgula que guardava a entrada tinha sido reparada.
"Harry Potter", disse Kingsley, a gárgula rodou para o lado. Confuso com a senha que a Professora McGonagall tinha escolhido, Harry seguiu Kingsley. Subiram as escadas até ao escritório para encontrar a professora McGonagall à espera na porta.
"Bom dia Kingsley," disse ela, "e bom dia, Potter. Como estás?" Se ela se surpreendeu ao ver Harry, não o demonstrou.
O Harry lutou para responder: como ele estava? Isso era realmente uma pergunta tão difícil de responder? Ele hesitou.
"Eu realmente não sei", respondeu honestamente, "eu ainda estou vivo!", ele observou a surpresa na sua própria voz enquanto falava.
"Muitas pessoas não estão", continuou com tristeza.
Ambos Kingsley e a professora McGonagall aproximaram-se e colocaram uma mão reconfortante no seu ombro. Ele endireitou-se e olhou-os nos olhos sorrindo com tristeza.
"O Harry pediu para o ajudarmos, Minerva", explicou Kingsley, "o que podemos fazer por ti, Harry?"
"O Tom Riddle invadiu o túmulo de Dumbledore, e roubou a sua varinha", Harry tirou a Varinha de Sabugueiro de dentro das dobras do seu manto de invisibilidade, "eu quero devolvê-la, e voltar a selar o túmulo. Eu gostaria de fazer isso antes que as pessoas acordem no castelo".
"Ah", disse Kingsley, "então acredito que a nossa conversa possa esperar Minerva".
"A Varinha de Dumbledore", Kingsley perguntou: "tens a certeza Harry?" A Professora McGonagall , observava-o com cuidado.
Ele olhou Kingsley nos olhos.
"Sim, é a do Professor Dumbledore. E o Tom Riddle roubou-a. Foi a sua escolha final de arma: a última varinha que ele escolheu para usar contra mim. A sua própria varinha não funcionou contra a minha, e a minha partiu a do Lucius Malfoy".
O Ministro observou o Harry por alguns momentos.
"Tom Riddle", estranhou Kingsley, "porquê chamá-lo assim, Harry?"
"Foi o seu nome, pelo menos foi o nome que a mãe lhe deu", disse Harry, "Tom Marvolo Riddle, não Voldemort, nem Você-Sabe-Quem, nem nada dessas parvoíces. Tom Riddle! Tom Riddle já não é assustador".
Harry olhou em redor do escritório do director, as pinturas estavam todos ouvindo atentamente. O retrato do Professor Dumbledore sorriu para ele.
"Podemos falar a caminho do túmulo?" perguntou o Harry.
"Com certeza Potter", disse rapidamente a Professora McGonagall, "vamos".
Harry caminhou entre Kingsley e McGonagall enquanto desciam as escadas. Muito rapidamente, ele explicou sobre as Horcruxes. Passaram por bocados de armadura, e, Harry viu tristemente ao longo dos corredores as cicatrizes da batalha no castelo.
"O Professor Dumbledore percebeu que se Riddle sabia que estávamos à procura das Horcruxes, ele aumentaria as suas protecções, ou simplesmente movia-as de sítio. Quando nós invadimos Gringotts, ele finalmente percebeu o que estávamos a fazer. Tínhamos de encontrar a última, e rapidamente. Ele estava aqui, por isso vim aqui, e o Riddle seguiu-me, peço desculpa".
"Potter," disse a professora firmemente, "tu e os teus amigos são heróis, e já é tempo que o percebas".
"Não quero ser herói, nunca quis, eu apenas queria que as mortes terminassem… cheguei demasiado tarde para o Fred, Lupin, Tonks… todos os outros", disse Harry combatendo as lágrimas.
"Harry, tu não és o culpado por essas mortes, e, quer queiras ou não, és o herói do mundo feiticeiro", Kingsley respondeu. "Vê isto". Ele mostrou-lhe uma cópia do Diário Profeta. A manchete dizia: "Voldemort morto – É Oficial!", e abaixo, "Harry Potter triunfou," Harry resmungou.
"Anda lá Harry", Kingsley disse gentilmente, atrasando o passo para deixar a professora McGonagall assumir a liderança, enquanto caminhavam através do hall de entrada. "Vamos fazer este trabalho, é melhor acabar com isso agora, enquanto não há ninguém de pé. Então eu devo falar com a Minerva sobre o futuro da escola... ".
"Você não pode fechá-la, não pode", Harry interrompeu, horrorizado com a possibilidade. Kingsley olhou para a professora McGonagall.
"Também penso assim, Harry", ele assegurou. "Uma vez que nós discutirmos isso, eu acho que tu e eu: ou tu sozinho, se preferires, devemos fazer um comunicado à imprensa expondo a opinião".
"Eu não dou entrevistas!" insistiu Harry.
"Não precisas, se fizermos uma declaração" aconselhou solenemente Kingsley.
"Julgo que sejas a favor da reabertura da escola?" Kingsley perguntou enquanto caminhavam através do hall de entrada. "Houve uma sugestão de que ela seja permanentemente fechada e que uma nova escola seja construída num novo local".
Harry sacudiu a cabeça. Ele parou e olhou ao redor do salão. Estátuas foram partidas, o corrimão e balaústres rachados ou desfeitos, mas a imponência do edifício permanecia.
"Houve muitas mortes aqui, eu sei, mas Hogwarts já viu muitos conflitos, e outras mortes ao longo dos séculos. Mas ela ainda está aqui, um testemunho dos fundadores. Ela deve voltar a funcionar".
"Obrigada pela tua opinião, Potter", disse a professora McGonagall. "Eu mesma não tinha a certeza. Alguns dos Governadores são a favor do encerramento, mas eu acredito que estás certo. Devemos voltar a abrir. Vais voltar, para acabar o último ano?"
"Ou, posso perguntar algo?" Kingsley interrompeu antes que Harry pudesse responder. "Tens alguma carreira em mente, qualquer ideia do que querias fazer a seguir?"
"Eu queria ser um Auror", disse Harry, pensando por um minuto, "quero ter certeza que não existam mais Voldemorts e mais mortes".
"Acho que podemos arranjar isso para ti", Kingsley sorriu, "podes começar amanhã, ou, possivelmente, um dia depois. Haverá uma reunião extraordinária amanhã do Wizengamot. Ficaria muito grato se concordasses em participar comigo".
"O Potter perdeu o seu último ano", apontou vigorosamente Professora McGonagall, "ele não tem as NEWTs necessárias para se tornar um Auror".
"Minerva", respondeu Kingsley, "atendendo às circunstâncias, achas realmente que alguém se irá importar?"
"Professora", Harry disse, percebendo que a directora o queria de volta à escola, "após estes últimos meses não tenho certeza que poderia lidar com o voltar para a escola, ou que a escola pudesse lidar comigo. Eu sinto muito". Ele virou-se para enfrentar o ministro.
"Kingsley, as pessoas vão falar se eu for tratado como um caso especial. Eu poderia estudar para o meu NEWT ao fazer a minha formação de Auror, sem voltar para a escola? Assim então eu ficaria totalmente qualificado. Sei que isso não irá apaziguar todos os críticos, mas sentir-me-ia melhor".
A professora McGonagall olhou pensativa para Harry.
"Faço intenção de pedir ao Conselho uma excepção e agendar uma série de exames para os alunos logo após o Dia das Bruxas, para os alunos que quase foram aos exames finais deste ano. A maioria das disciplinas foram ensinadas correctamente", ela franziu os lábios enquanto falava, "se trabalhares arduamente nos próximos seis meses deves estar pronto para os exames. Tenho a certeza de que qualquer professor a quem perguntares vai estar preparado para te ajudar. Agora, vamos continuar?"
Eles caminharam através do Hall e saíram para o jardim. O castelo exterior estava cheio de buracos. Os campos estavam cobertos com escombros. Harry avaliou os danos da batalha. Minerva McGonagall notou o choque de Harry.
"Estaremos abertos para o início do ano lectivo, Potter", Professora McGonagall disse com certeza. "O ministro interino assegurou-me de que, se decidirmos reabrir, tudo estaria pronto para o início do período. Temos quase quatro meses para arrumar o sítio, para deixar tudo pronto. Nós podemos fazer isso".
Harry olhou para a devastação, e depois para a determinação do rosto de Minerva McGonagall.
"Se há alguém que consiga, é você", ele respondeu.
Eles caminharam em direcção ao lago, em direcção ao túmulo de Albus Dumbledore. Longas sombras estavam fluindo através dos jardins do castelo. Um coro do canto dos pássaros desceu das árvores como o sol nascente espiando timidamente por cima da Floresta Proibida. Uma fina névoa do amanhecer deslizava através do Lago Negro. A cena era estranhamente bonita. A névoa criou uma palidez húmida ao redor do lago. Era como se o lago se tivesse transformado em nuvens e subido 10 metros. A névoa efectivamente servia como contraste ao túmulo branco.
Era apenas a névoa do amanhecer, Harry sabia, mas quanto mais se embrenhavam na envolvente névoa, era como se ela escondesse este acto privado da escola e do mundo. O ar húmido arrefeceu e acalmou Harry preparando-o para o dever que ele agora devia desempenhar.
Ele parou na frente do túmulo branco e puxou a Varinha de Sabugueiro de dentro das dobras do manto. Ele virou-se para enfrentar o ministro interino e a directora. De repente, sentiu-se muito jovem e muito tolo. Estou prestes a dar ordens ao feiticeiro e à feiticeira mais importantes, e provavelmente mais influentes, do País, ele pensou.
E eles vão fazer o que lhes pedir, sem me questionar, ele percebeu.
Nervoso, engoliu em seco e pensou cuidadosamente sobre o que ia dizer. Kingsley Shacklebolt e Minerva McGonagall esperavam educadamente, observando-o.
"Tom Riddle usou várias varinhas diferentes contra mim, nenhuma delas funcionou. Finalmente, ele decidiu roubar a do Professor Dumbledore: também não resultou. Eu não quero esta varinha, eu quero que ela volte para de onde veio, onde pertence. Eu gostaria de ter certeza de que ela está protegida, e que o túmulo seja reparado. Podem ajudar-me?"
Kingsley e McGonagall assentiram com a cabeça.
"Claro Harry", concordou Kingsley.
"Certamente, Potter", afirmou McGonagall.
"Obrigado".
Harry aproximou-se do túmulo lentamente. Ele usou a Varinha de Sabugueiro para alargar a fenda na parte superior do túmulo, apenas o suficiente para expor o cadáver parcialmente desembrulhado de Albus Dumbledore. Com a Varinha de Sabugueiro ainda na mão ele cuidadosamente alcançou o interior do túmulo. Gentilmente colocou a varinha nas mãos do Professor. Quando fez isso, olhou para baixo, pela última vez, para o corpo do homem que o tinha guiado e olhado por ele durante tantos anos. Depois de soltar a Varinha de Sabugueiro de volta ao cuidado do seu verdadeiro dono, ajeitou os óculos ao Professor, feito isso pegou na sua própria varinha.
"Professor… onde quer que esteja agora, não é aqui. Mas isso é tudo o que resta de você, e todos nós temos que o recordar", Harry disse.
Ele foi surpreendido com a calma que sentia, mais espantado porque, de alguma forma, ele sabia exactamente o que devia fazer.
"Esta varinha é sua, mantenha-a segura", disse.
Ele tocou na ponta da varinha do professor com a ponta da sua própria varinha. Concentrando-se em usar o poder mais concentrado da Varinha de Sabugueiro para criar um poderoso e perfeito feitiço disse:
"Protego".
Um escudo cintilante, lançado pelas duas varinhas, envolveu tanto a Varinha de sabugueiro como o corpo que a segurava. Ele retirou a sua varinha e afastou-se do túmulo.
"Posso pedir a algum de vocês que tente tirar varinha de Dumbledore?" Harry perguntou.
A Professora McGonagall abanou a cabeça.
"Não há necessidade Potter, esse foi um feitiço brilhante. Tens um conhecimento notável de wandlore. A varinha de Albus continuará a gerar esse escudo de protecção por si própria. Eu nem sei por que precisas de nós".
"Eu… eu não tinha certeza que iria funcionar, Professora", Harry gaguejou, elogios vindos da Professora McGonagall eram bem raros e preciosos.
"Se pudesse aumentar a protecção, selar e reparar o túmulo eu ficaria agradecido", disse ele, "eu acho que não poderia reparar aquela rachadela, certamente não perfeitamente".
Depois de uma breve troca de palavras, tanto Kingsley e McGonagall lançaram uma série de feitiços de protecção adicionais sobre o túmulo. Finalmente, Minerva McGonagall com cuidado e mestria reparou o túmulo rachado.
Harry deu um passo em frente até ao túmulo branco e colocou a mão esquerda sobre ele. Sentiu um formigueiro nos seus dedos das protecções mágicas.
"Descanse em paz, Professor", disse ele. "O seu plano não funcionou da maneira desejada, mas funcionou. O trabalho que você me deu está feito, e você ajudou-me até o fim. Mesmo... mesmo depois da morte me ajudou".
Com lágrimas nos olhos, Harry estava prestes a dar um passo para atrás do túmulo quando a Professora McGonagall deu um passo ao lado dele. Ela colocou uma mão no seu ombro, e a outra sobre o túmulo branco.
"Albus", Professora McGonagall disse, "eu duvidei de ti, eu duvidava da tua confiança no Harry Potter. Perdoa-me". Harry estava atordoado, a Professora McGonagall parecia à beira de lágrimas, ela virou-se para falar com ele.
"Potter… Harry, devo-te um pedido de desculpas. Na noite em que o Albus morreu, perguntei-te o que estavas a fazer. Fiquei um pouco chateada quando te recusaste em dizer-me. Agora percebo que tu estavas, como dizes-te, seguindo as instruções do Albus, essa garantia deveria ter sido suficiente para mim".
Harry não conseguia pensar em nada para dizer. Ele foi salvo do embaraço quando o ministro falou atrás deles.
"Adeus, Albus, velho amigo, vou tentar fazer o meu melhor para seguir o teu conselho".
Juntos, afastaram-se do túmulo.
"Minerva, Harry, podemos fazer uma breve reunião no escritório? Precisamos discutir a reparação da escola e, em seguida, se não te importares Harry, podemos aparecer no Ministério e trabalhar numa declaração oficial sobre a batalha de ontem".
Harry assentiu com a cabeça, de repente, ficou com medo de encarar os seus amigos. Ele queria estar nalgum lugar longe de Hogwarts. Ontem todos lhe davam parabéns e o felicitaram. Hoje percebeu, seria mais do mesmo, mas misturado com introspecção e luto. A batalha foi ganha, mas a que custo? Ele não poderia enfrentar e ver Molly, ou George, ele percebeu, ainda não.
