PRÓLOGO
A primeira coisa que notei ao abrir meus olhos foi:
a)Meus óculos estavam quebrados
depois
b)Meu pulso esquerdo estava doendo horrores e
c)Minha perna direita estava doendo mais do que meu pulso, além de sentir algo úmido saindo dela.
Ah, outra coisa, algo estava me apertando tanto que eu mal conseguia respirar.
Era o cinto de segurança.
Tentei me desvencilhar usando a mão esquerda, mas tava tudo doendo TANTO, que não consegui me mexer.
"Merda!", pensei. Abri a boca para sorver algum ar, mas meu peito parecia ter se comprimido tanto, que não consegui nada. Enquanto eu pensava em mais um palavrão, tentei lembrar o que poderia ter acontecido.
Meus pais tinham ido me buscar na festa de Natal do colégio. Amigo secreto, canções de Natal, pronunciamento da diretora, todas as bobagens de sempre. Música! Acho que ouvi alguém comentando que ia postar no Youtube o vídeo da galera dançando ao som da Lady Gaga... coisa ridícula! Ah, Seth, meu melhor amigo, estava lá, superentediado. Estava desgostoso do presente de amigo secreto que ganhara, e que ele não quis me mostrar de jeito nenhum. Como castigo, puxei ele pra pista de dança. Nesse momento, meus pais chegaram e me levaram embora. No carro, eles falavam alguma coisa sobre alguma notícia de jornal sobre a Itália e sobre passar no aeroporto, quando de repente alguma coisa aconteceu, e eu não sabia o que era.
Senti um pingo no rosto. Outro. E mais outro. Foi quando eu percebi.
Eu ainda estava no carro. E ele parecia estar na vertical.
- Pai... mãe... – falei com dificuldade. Tentei tocá-los mas aí...
Os pingos que caíam no meu rosto vinham da direção deles.
Não era água, como pensei de primeira. Água não tem gosto.
Era sangue.
Eu estava banhada em sangue.
Sangue dos meus pais.
-AAAAHHHH!!! – gritei, com todo o ar que ainda havia nos meus pulmões.
.....
Eu acordei suando.
Era incrível como, passado alguns meses, eu ainda podia me lembrar de tudo muito nitidamente. O gosto permanecia na boca, o cheiro também. Meu estômago se revirou. Droga!
Peguei a bengala e apertei o passo o máximo que podia para chegar ao banheiro.
Sempre acontecia quando eu sonhava com aquela noite. Eu sempre vomitava. Mesmo quando eu não tinha nada para vomitar a não ser água.
Encostei a cabeça na privada, sem me importar em achar nojento, e chorei.
O chão estava frio, mas deitei nele assim mesmo.
Então fechei os olhos e desejei sumir.
