O vazio de todos os cantos
Por Teka Prongs
Então era sábado novamente, e logo Rose entraria correndo pelo quarto e pularia na cama, dizendo a Ron que o café estava pronto. Hermione em breve passaria pela porta com Hugo no colo e o entregaria a Ron, que encostaria as costas na cabeceira da cama e receberia o filho, que já estendera seus bracinhos para o pai. Hermione se sentaria com Rose ao seu lado, e lhe daria um beijo de bom dia, enquanto Rose brincaria de contar as sardas da mão do pai. Ron olharia para Hugo fixamente, só para constatar mais uma vez que seus olhinhos eram da mesma cor dos olhos de Hermione, assim como os de Rose eram os seus. Desceriam todos juntos para o café da manhã, que seria pontuado pelas risadas da família divertida com os truques da varinha de Ron, enquanto saboreavam as melhores panquecas que ele já provara na vida, porque foram feitas por Hermione. Rose brincaria na sala enquanto Hugo dormiria no carrinho, então Ron aproveitaria o momento para enlaçar Hermione pela cintura e beijá-la pela enésima primeira vez. Passariam a tarde pintando os cômodos que faltavam da casa recém comprada sem magia, porque Hermione queria que aquele momento fosse memorável. Ron reclamaria a demora e inventaria momentos de cansaço só para abraçar a esposa pela cintura e beijar seu pescoço, fazendo-a se arrepiar. De noite, após colocarem as crianças na cama, suas roupas seriam esquecidas pelo chão, e algum tempo depois seus gemidos apaixonados seriam substituídos pelos batimentos acelerados de seus corações. Hermione deitaria a cabeça em seu peito, e acariciaria seu tórax com o indicador, enquanto Ron a traria para mais perto. Hermione trocaria os dedos pelos lábios e descreveria uma trilha de fogo até alcançar os lábios de Ron. "Eu te amo", e então eles dormiriam abraçados até o dia seguinte. Ron gostaria que todos os dias fossem sábado.
Abriu os olhos, a claridade o castigava. Quase fora capaz de ouvir a voz desafinada de Rose chamando por ele no corredor, e quase viu Hermione entrando com Hugo pela porta aberta do quarto. Mas tudo que o cumprimentou naquela manhã fora o que lhe cumprimentava todas as manhãs há quase um ano: o silêncio do vazio. Rose não correria mais para a cama e bagunçaria os lençois; o lado de Hermione continuaria intacto, como sempre. Não aninharia Hugo em seu peito e Rose não contaria mais as sardas de suas mãos. Hermione nunca mais lhe beijou os lábios pela manhã. Ron nunca mais comeria panqueca no café da manhã, e agora todos eles pareciam estranhamente curtos, porque não havia mais risadas, nem motivos pelos quais sorrir. A casa não cheirava mais tinta fresca, e de repente ela começou a lhe parecer estranhamente grande. Não havia mais "Eu te amo" pelas noites, e Ron nunca mais sentiu o doce gosto da primeira vez, só o gosto amargo do vazio em todos os cantos. Para Ron, o grisalho de seus cabelos provava que já esperara muito tempo, tempo demais. Porque não havia Hermione sem Ron. Nem Ron sem Hermione.
