Seis meses após a derrota de Hades...
Os cavaleiros de ouro mortos em confronto com o Imperador do Inferno Hades tinham tido suas vidas reivindicadas por Athena e Zeus atendera ao pedido. A Batalha mais importante havia sido ultrapassada e agora os tempos eram de paz. Saori passou a residir no seu templo onde começou a comandar também a fundação, que teve sua sede transferida para Atenas, na Grécia. Seiya ainda se encontrava debilitado pelo golpe final de Hades e ficava com Atena a maior parte do tempo, enquanto os demais cavaleiros de bronze haviam voltado para seus locais de treinamento com exceção de Ikki e Shun que optaram por viver no Santuário.
O sol já estava alto, o dia estava quente e Milo de Escorpião especialmente agitado naquela tarde. Os cavaleiros de ouro treinavam sob o calor da tarde no Coliseu, mas nada parecia abalar o animo do defensor da casa oitava.
- Vamos Kamus! – provocou – Agulha Escarlate!
O aquariano transpirava e xingava mentalmente aquele sol absurdo na sua cabeça em pleno meio dia. O treino já estava no fim, o que alegrava Kamus, mas não melhorava aquele calor infernal e nem a alegria excessivamente irritante de Milo naquela tarde. Decidiu que era hora de acabar com aquilo; já deixara o escorpião brincar demais com ele por um treino. Desviou do golpe com graciosidade para depois contra atacar o escorpião numa rasteira que o levou ao chão. Kamus se adiantou montando na cintura de Milo, imobilizando-o, e levantando rapidamente seu punho até o rosto do amigo, porém parando o golpe bem próximo ao nariz.
- Morto. – afirmou com sua típica voz rouca, fria e sexy – Muito morto.
Milo ainda processava o que acontecera, pois a um segundo atrás estava vencendo Kamus e agora contemplava o aquariano por cima. Sim, a palavra é contemplava, já que Kamus era um homem lindo e ficava assustadoramente mais másculo e desejável montado no seu quadril com o sol atrás de si e o suor descendo por seu sério e atraente rosto e peitoral.
- Ok, morto. – concordou Milo ainda com o punho apontado para seu nariz – mas morto por um gostoso... – e sorriu malicioso.
- Tsc... – Kamus torceu a expressão de forma reprovadora soltando Milo e afastando-se dele.
Milo sorriu divertido e continuou lá, deitado, divertindo-se com a falta de esportividade e, porque não, de senso de humor do amigo.
- Hey, Milo! – Máscara da Morte que treinava com Afrodite chamou-o de forma estridente – Atena quer falar conosco... Vamos logo.
- Hum...? – o escorpião olhou de forma interrogativa – quem disse isso?
- Shion? – Afrodite respondeu com obviedade e apontou para o grande mestre parado na borda do Coliseu – mas você estava interessado demais no Kamus para ouvir. – constatou ao passar por ele acompanhado do canceriano.
Não é o que parece; Kamus e Milo não têm um relacionamento entre quatro paredes. Pelo menos não constantemente. É bem verdade que uma vez, embalados por algumas taças de um delicioso vinho francês, a conversa casual foi esquentando e se tornando cada vez mais intima até que ambos acabaram fazendo confissões e transando na escrivaninha da biblioteca do aquariano. Mas fora este reservado incidente eram muito unidos e cada vez mais confidentes. No dia seguinte nenhum deles comentou o fato; o escorpião simplesmente tomou banho e foi para sua casa como se nada tivesse acontecido. Milo transara por pura luxuria e diversão. Enquanto Kamus, longe de ser mulherengo como o amigo, estava carente de um corpo colado ao seu. Uniram o útil ao agradável e só. Todavia isso não o poupava das investidas do escorpião e dos boatos.
O defensor da oitava casa se apressou para alcançar Afrodite e Máscara, com quem conversou coisas banais até chegar ao salão do grande mestre onde uma Atena atípica os esperava. Estava sentada no trono, mas sua expressão carregava cansaço e sua veste não era o típico vestido branco. Usava um terno preto de fina alfaiataria com uma camisa branca por baixo e um pequeno laço de fita rosada no lugar da gravata. O cabelo preso num rabo de cavalo alto, o terno e o sapato de salto alto caiam-lhe muitíssimo bem, porém ela parecia outra pessoa. Não havia báculo em suas mãos e Shion estava ao seu lado direito com o rosto serio, mas sereno, de sempre. O fato é que todos estranharam a situação e acharam ainda mais intrigante que aconteceria a seguir; afastando a cortina roxa atrás do trono de Atena saiu ninguém mais ninguém menos que o Imperador dos Mares, Poseidon, acompanhado de Sorento. Ambos elegantemente vestidos e imponentes.
- Cavaleiros. – cumprimentou o deus – É bom conhecê-los na condição de aliados, claro.
- Chamei-os aqui para dizer que, a partir deste dia, somos oficialmente aliados. – informou Atena ao levantar-se – Hades tem Thanatos e Hypnos ao seu lado, já está mais que na hora dessa aliança acontecer para nos beneficiar em conflitos futuros.
Não é preciso dizer que a elite de Atena estava chocada; eles (Atena e Poseidon) nunca foram inimigos declarados, mas é um grande equívoco dizer que morriam de amores um pelo outro. A idéia, porém, realmente não era ruim e nenhum dos cavaleiros se manifestou em oposição. Fizeram uma reverencia ao deus e limitou-se a ouvir o que as divindades tinham a dizer.
- E como ajuda na formação dos Generais Marinas três aprendizes de Julian virão ao santuário serem treinados por alguns de vocês, cavaleiros de ouro. Então... – ela fez uma pausa longa olhou para todos os dourados, um a um, como se estivesse decidindo ali mesmo – Máscara da Morte, Kamus, Shaka! Estou incumbindo vocês dessa tarefa.
O cavaleiro de câncer pensou em protestar, nunca tivera um aprendiz e nem queria, mas Afrodite deu-lhe uma leve cotovelada antes que ele abrisse a boca e falasse alguma asneira. Shaka e Kamus continuaram da mesma forma, não moveram nem se quer uma sobrancelha, porém não se sabia se era pela surpresa ou se realmente não ligaram para o fato de receberem tal responsabilidade de uma hora para outra.
- Pois bem... Venham cá. – chamou Sorento e três garotas sairão detrás das cortinas.
A primeira não era muito alta. Sua aparência sugeria fragilidade, pois seria bom se ela comesse um pouco mais; era magra até demais para alguns e não possuía um corpo totalmente amadurecido. Sua pele era extremamente branca e seus cabelos eram de um loiro claríssimo acinzentado. Estes desciam lisos ate seu bumbum, mas hoje estavam presos numa trança embutida que deixava seu belo rosto em destaque. Seus olhos eram prateados e bastante expressivos. O nariz delicado e a boca mais parecia a de uma boneca antiga de porcelana. Aparentava uns 14 anos, porém tinha 16 e chama-se Galatea. Usava um vestido longo azul pálido, pouco chamativo, de manga comprida e larga.
- Diga algo! – a segunda garota exclamou – não liguem ta? – Disse voltando-se para os cavaleiros de ouro – Ela é tímida mesmo e se chama Galatea. E eu sou Pércia, muito prazer em conhecê-los.
Pércia era a típica baixinha invocada. Sua pele era branca, mas não tinha aparência abatida como a da anterior. Tinha traços marcantes no rosto, olhos cor de âmbar num formato felino e um sorriso dúbio nos lábios carnudos. Cabelos castanhos avermelhados cortados num chanel repicado sem franja. Corpo cheio de curvas, pernas fortes e seios de dar inveja; podia-se dizer que era gostosa. Sua idade era a mesma de Galatea, porém ela aparentava até mais que isso. Usava uma toga marfim bem curtinha presa apenas no ombro direito por um belo broche dourado e sandálias estilo gladiador sem salto algum.
- Não deixe-a constrangida, Pércia. – reprimiu a terceira ao ver Galatea corar levemente – Sou Ira. – e fez uma leve reverencia em sinal de respeito aos cavaleiros e a deusa.
Ela era a mais alta e um ano mais velha que as outras duas. Tinha compridos e lisos cabelos negros como à noite e olhos azuis claros como o céu mais radiante do verão. Corpo esguio, delgado e delicado, mas não chegava nem perto das curvas de Pércia. Seu rosto digno de uma pintura era adornado pela franja cortada acima dos olhos, rente às sobrancelhas. Usava um lindo vestido tomara que caia vermelho ate os joelhos e sandálias iguais as de Pércia, porém as suas possuíam um generoso salto.
- Cuidem bem delas rapazes! – disse Saori sorridente.
A deusa levantou-se de seu trono e foi reverenciada por todos, menos Poseidon. Retirou-se logo em seguida junto com o deus dos mares e Sorento. O grupo seguiu um corredor que se estendia atrás do trono e sumiu de vista rapidamente. Shion sentou-se no trono e perguntou:
- Vocês já sabem quem será o mestre de cada uma, certo?
- Já sabemos tudinho! – Pércia respondeu animada – sei que nos daremos muito bem, Mestre Shaka!
E o virginiano estremeceu... Algo lhe dizia que ela era a pior das três, mas ordens eram ordens e aquela jovem de sorriso travesso faria parte do seu dia a dia agora.
- Senhor Kamus. – Ira desceu as escadas com graciosidade e caminhou ate o aquariano que estava entre Milo e Dohko. – É um prazer conhecê-lo.
- Igualmente. – foi categórico.
Analisou-a e contatou que, pelo menos, era educada. Enquanto Milo constatou que era linda. Muito linda. O escorpião olhou-a de cima a baixo varias vezes e Kamus percebeu de imediato as segundas, terceiras e ate quartas intenções Milo. Pensou que o amigo não tinha conserto e riu internamente já imaginando que ele não perdoaria uma mulher tão bonita.
Afrodite sorriu para a jovem que parecia tímida e não havia dito palavra se quer ainda. E ela lhe sorriu de volta; timidamente, mas sorriu. Galatea era bela, delicada e frágil como uma rosa. Mas, por experiência própria, o cavaleiro de peixes sabia que alguém como ela não deveria ser subestimada. Jamais.
- Não seja rude com ela, câncer. – avisou, ou melhor, ordenou.
O canceriano bufou. Odiava quando Afrodite chamava-o de câncer. Odiava mesmo. E o pisciano sabia muitíssimo bem disso. Trocaram olhares pouquíssimo amistosos por alguns segundos e, por fim, o defensor da ultima casa suspirou.
- Então parece que sobrou você. – Máscara da Morte manifestou-se a contra gosto – venha cá... Galatea, não é?
A jovem limitou-se a caminhar até o novo mestre e nada disse; ele passava-lhe certo medo, insegurança, e por um momento invejo as amigas por terem caído com cavalheiros que lhe pareciam mais amistosos, ou pelo menos, menos grossos. Aquela dupla parecia prometer problemas, pois tato não era a especialidade do canceriano.
O grande grupo se retirou e logo todos estavam em suas respectivas casas.
EM AQUARIO
Ira estranhou a baixa temperatura e o chão espelhado de tão limpo. Uma neblina baixa parecia cobrir todo o lugar de forma que as pilastras pareciam não terminar nunca. Estava bem atrás de Kamus quando chegaram a uma porta dupla de madeira com o símbolo de aquário bem no meio. O cavaleiro estendeu apenas uma das mãos e a porta que parecia tão pesada abriu-se dividindo o símbolo da constelação revelando uma bela e aconchegante sala. Ele entrou e ela não ficou para trás. Em meio às mobílias escuras e imponentes de Kamus estavam duas malas que não pareciam fazer parte da decoração.
- Creio que você morará aqui. – concluiu ao ver a bagagem da jovem em sua sala – me acompanhe, por favor.
Foi gentil o suficiente para não deixar que a aprendiz levasse a bagagem. Guiou-a pela sala, entrando num corredor e abrindo a segunda porta a esquerda.
- Este é seu quarto. – informou ao colocar as bagagens no chão com delicadeza. – Me quarto é a ultima porta no fim do corredor. A primeira porta é o banheiro e a cozinha fica do outro lado da sala.
- E a porta a direita? – perguntou num momento de distração, mas logo se deu conta de que se ele não tinha mencionado era porque não havia necessidade. Concluiu que perdera uma bela oportunidade de ficar quieta.
- Biblioteca. – desta fez foi seco.
Ira era mais baixa que Kamus, fato que contribuiu para aquele olhar frio que acabara de cai sobre ela fizesse-a se arrepiar por inteira. Os olhos do novo mestre eram azuis esverdeados, gélidos e absurdamente sedutores para a jovem de cabelos negros. Ela encarou o aquariano de volta com a expressão mais serena que conseguiu no momento; e não foi muito convincente, acreditem.
- Começamos amanhã. – informou ao cortar contato visual dando as costas para Ira – Pela amanhã na casa de aquário seremos eu e voce e a tarde no coliseu o treino é coletivo, mas creio não participara dele agora.
- Sim senhor. – respondeu e logo depois a porta se fechou.
Suspirou e jogou-se na cama já feita com lençóis brancos e uma grossa manta azul marinho. Ela era macia e o cheiro da roupa de cama recém lavada confortou-a um pouco. O quarto era aconchegante e tinha tudo que ela precisava de forma muito elegante, sem contar com o fato de ser razoavelmente grande. Afundou a cabeça no travesseiro e decidiu que arrumaria tudo mais tarde. Tirou as sandálias e adormeceu pensando em como seria sua vida daquele momento em diante.
EM VIRGEM
Ela não parava de olhá-lo de forma analítica; parecia reparar em cada milímetro de seu corpo, tudo! Enquanto ele falava, ela deixava transparecer mais interesse nos lábios rosados e convidativos do cavaleiro do que nas palavras em si. De fato, Pércia estava encantada pelo loiro e sem a menor intenção de esconder seu interesse. Shaka, por outro lado, sentia-se comido com os olhos e não pode evitar corar em certo momento; não tivera muita experiência com mulheres, para não dizer que não teve nenhuma, já que desde sempre se retirou da vida comum para meditar, meditar e meditar. Todavia, não podia negar que aqueles olhos felinos eram realmente belos, sem contar o corpo, a cor do cabelo... Maldição! Pensou por fim. Sabia que não seria bom ter a jovem por perto e seu pressentimento se confirmava a cada segundo. Após mostrar toda a casa e onde seria seu quarto ele a deixou só, dizendo que não queria ser incomodado pelo resto do dia. Deu passadas largas até a sala das arvores gêmeas para meditar, meditar e, que surpresa, meditar!
- Huhuhuhu! – Pércia sentou-se no parapeito da janela, olhou a bela paisagem e riu. Um riso pervertido e doado de certo sadismo – Isso vai ser tãããããão divertido!
EM CANCER
O clima no templo era pesado, e Galatea percebeu isso antes mesmo de entrar. Um calafrio correu por todo o seu corpo fazendo com que se arrepiasse por inteiro. Ela hesitou, não queria avançar de jeito algum. E Mascara da Morte percebeu isso de imediato. Pediu para que os gêmeos, Aldebaran e Mu seguissem pela casa sem ele e a discípula. Quando o quarteto já não estava mais visível ele inquiriu com o típico ar casualmente debochado:
- Você fala?
- Si... Sim. – por algum motivo ela estava nervosa.
- Ok, você fala palavras com mais de uma silaba? – ele encarou-a sarcasticamente, mas ela olhava para os pés do cavaleiro.
- Claro que sim. – foi um pouco mais firme, mas ainda pouco convincente.
Aquilo estava irritando o canceriano muito mais do que ele esperava. Ele colocou a mão direita na cintura e respirou profundamente duas vezes com os olhos fechados, em seguida simplesmente ordenou:
- Me olhe.
- Estou olhando pra você. – respondeu ainda mirando seus pés.
A paciência dele se esgotou e, sinceramente, até que ela rendeu bastante desta vez. Deu um passo largo e segurou o queixo da jovem de forma pouco gentil - poderia ter sido mais delicado no ato - mas mesmo assim ela teve de encarar a força aquele par de olhos escuros de tom tão incomum: azuis arroxeados. Ela nunca vira nada igual. Nunca. E nem ele vislumbrara olhos prateados como os dela... São perfeitos, pensou de inicio, porém sua irritação logo tomou conta novamente.
- Eu sou seu mestre e eu mando aqui, entendeu bem? – foi rígido e até ameaçador. Segurava a face da jovem ainda pelo queixo e a cada palavra aproximava mais o rosto dela do seu – Não sei o motivo pelo qual você não quer entrar, mas você vai entrar e vai me olhar nos olhos quando eu falar com você. Quer que eu repita, desenhe?
- Como quizer. – respondeu encarando-o, mesmo que sem muita escolha.
O guardião da casa soltou o queixo da moça para segura-la pelo pulso direito e, quase que a força, levá-la para dentro do templo. Ela não resistiu e acompanhou os passos largos do cavaleiro. Seu braço livre levantava a barra do vestido para que ela não tropeçasse nele próprio.
- Você tem cabeças por toda a parte! – ela exclamou atordoada diminuindo o passo – por que...?
- E não é que ela fala de verdade! – debochou sem parar de andar, puxando-a mais ainda – mas eu que faço as perguntas aqui. Vamos logo.
Ela estava assustada por motivos que não cabe contar agora, mas logo vocês saberão. Felizmente nem todas as paredes eram forradas de cabeças e a sala do cavaleiro de câncer, assim como os quartos e os demais aposentos, escapavam desse gosto macabro para não classificar como bizarro. A mobília era gótica, escura, e muito vistosa. As paredes eram de um tom vinho frio e não havia quase janelas. E ela pensou que um vampiro poderia morar ali sem o menor problema. Começou a entender o motivo pelo qual ele era chamado de Mascara da Morte, e, embora estivesse curiosa para saber seu verdadeiro nome, não ousou perguntar.
O anfitrião mostrou os cômodos rapidamente e, ainda segurando-a pelo braço, guio-a até o quarto já preparado para ela pelas servas da casa.
- Até suas malas já estão aqui... – falou mais para si mesmo que para a aluna – Bom, se precisar de qualquer coisa peça as servas. Mas se você quiser um servo eu talvez possa conseguir.
Galatea sentou malícia na oferta do mestre e corou diante da situação. Definitivamente não se daria bem com ele, pensou tristonha.
- Assim está ótimo. – desta vez pareceu mais firme, olhando profundamente para o novo mestre e usando um tom pelo menos audível – Agora poderia me dar licença? Quero me trocar.
Mascara apenas crispou os lábios e deixou o quarto batendo a porta. Ela achava que seria problemático tê-lo como mestre e a recíproca era verdadeira, mas ordens eram ordens e seriam cumpridas; ela sairia dali uma verdadeira general ou ele não se chamava Máscara da Morte de Câncer.
