Disclaimer: Kannazuki no Miko não me pertence, e sim a Kaishaku. Posto esta fic apenas por diversão, não pretendo lucrar nada com isto.
N/A: Esta fic também não me pertence, ela é uma tradução da fic "Mi Amor Siempre Te Acompañará", de Lauxan. A autora me autorizou a traduzi-la.
AVISO: Que dou pela terceira vez: esta fic é yuri. Se você gosta do gênero, seja bem-vindo. Se não é fã mas também não tem nada contra, também seja bem-vindo. Agora, se você não gosta do gênero de jeito nenhum, é melhor não ler esta e procurar outra fic ou tradução feita por mim. Bom, de falta de aviso ninguém pode me acusar...
MEU AMOR SEMPRE ACOMPANHARÁ VOCÊ
Eu me acordo.
Tento agarrar-me desesperadamente aos últimos resquícios de meu sonho, cruelmente destruído pela vigília, que corre apressadamente para quem não a chama e nem precisa dela, quem dera que eu não precisasse me acordar nunca mais.
Posso sentir em meu rosto o calor do Sol da manhã, que entra, projetando-se pela minha janela, ouço o alegre e despreocupado canto dos pássaros que pousam nos parapeitos da janela e saltam, como que incitando as pessoas para saírem e desfrutarem deste novo dia que nos é presenteado.
Mas em meu mundo o Sol já não brilha nem dá calor, os pássaros, longe de emudecerem, gritam de modo estridente e irritante, toda a alegria abandonou minha vida a partir do mesmo instante em que você abandonou este mundo.
Sem abrir os olhos, eu me esforço em tentar montar o enorme quebra-cabeça que se tornou o meu sono, antes tão claro e lógico. Vou perdendo lentamente os últimos vestígios que me permitiam encontrar a calma e a tranqüilidade, e vou afundando lentamente no desespero que está se tornando tão freqüente em mim.
Eu me esforço para tentar voltar unir os pedaços que se desfragmentaram, aquele sonho magnífico no qual eu era feliz, no qual ainda não me fora proibido, do modo mais cruel possível, sentir qualquer tipo de alegria. Nesse perfeito mundo de sonhos, no qual eu podia continuar vendo o seu lindo rosto ao acordar, no qual o simples fato de voltar a estar consciente do mundo ao meu redor não me fazia sentir quebrada por dentro, no qual, esticando o braço, eu podia acariciar o seu rosto, com ternura.
Nesse mundo dos sonhos, eu seria a primeira a acordar, como de costume, e só de abrir os olhos, eu poderia me deliciar com a mais bela vista que nenhum humano jamais teve neste mundo frio e cruel até limites inimagináveis, já que eu poderia contemplar o seu rosto junto ao meu, seu nariz perfeito a apenas alguns milímetros do meu.
Eu sou invadida pela dolorosa lembrança de seu corpo junto ao meu, em uma cama tantas vezes compartilhada, você ficava tão linda quando dormia. Com os cabelos em desalinho e os olhos fechados, mas com uma expressão de imensa felicidade no rosto, como se você estivesse vivendo o momento mais feliz de sua vida. Lembro-me de que eu sempre ficava intrigada e me perguntava com o que você estaria sonhando, que conseguia fazê-la tão feliz.
Com uma sensação de felicidade em meu peito, eu esticava lentamente o braço e começava a delinear com suavidade o seu nariz, com a ponta dos dedos, mal lhe tocando, mas fazendo rápidas cócegas, que não conseguiam tirá-la de seu sono, você simplesmente enrugava o pequeno nariz e continuava a dormir. Sem me deixar intimidar pela primeira derrota, eu continuava perfilando o seu rosto, sem deixar um só milímetro sem ser acariciado, e neste exato momento, você começava a resmungar enquanto dava socos no ar, tentando deter o avanço de meus dedos. Aqueles simples gestos tiravam de mim o primeiro sorriso da manhã, você sempre conseguia alegrar o meu dia sem nem mesmo perceber. Finalmente, você se virava, com um gesto para que eu a deixasse em paz, mas eu nunca me rendia facilmente, e muito menos eu me sentia desalentada por ter ao meu alcance as suas costas macias. Eu me aproximava lentamente, deleitando-me com aqueles segundos de silenciosa contemplação, amoldando o seu corpo ao meu, eu lhe abraçava gentilmente pela cintura, acariciando o seu baixo-ventre com minha mão direita, enquanto que, com a esquerda, eu afastava algumas mechas rebeldes de seu pescoço e beijava-o com devoção, descendo lentamente, de sua pequena orelha e percorrendo todo o seu doce pescoço até chegar ao seu ombro.
Finalmente, meus esforços obtinham a recompensa esperada, e você acordava com um suave gemido de satisfação, abria os seus enormes olhos púrpuras e sorria para mim, conseguindo fazer com que eu me derretesse por você em um segundo. Você me beijava, e nós fazíamos amor com paixão e ternura, sem nenhuma pressa, mas percorrendo com desejo os corpos uma da outra, para que saciássemos a necessidade vital de nos sentirmos unidas. Uma vez satisfeita a nossa necessidade carnal, nós nos deitávamos na cama, abraçadas e felizes, naquele momento, você me cumprimentava e me desejava um bom dia, assim nós ficávamos partilhando a nossa intimidade e falando em voz baixa, até que chegava a hora de irmos para a escola. Naqueles momentos de prazer, eu lembro-me de ter perguntado a você, em mais de uma ocasião, com o que você estava sonhando, o que lhe fazia tão feliz, mas você sempre me dizia que não se lembrava, e apesar de minhas contínuas súplicas, para tirar-lhe esta informação, você sempre me respondia do mesmo modo.
"É verdade que eu não me lembro, Chikane-chan, mas tenho certeza de que, no sonho,eu estava ao seu lado, você é a única de quem eu preciso para ser feliz".
Com apenas uma frase, você tinha feito de mim a mulher mais feliz do mundo, deixando-me sem palavras. Você sorria para mim e me beijava com uma doçura e um carinho que eram indescritíveis, fazendo-me desejar mais, muito mais, mas ficando apenas na vontade, porque já era tarde e eu tinha de me aprontar para ir à escola.
Eu finalmente me rendo e abro os olhos, eu estou de frente para a janela, e posso ver os alegres pássaros dançarem e divertirem-se diante de mim, uma sensação de raiva se apodera de meu peito; como podem ser tão felizes ? Estarem tão alegres, quando a única boa e bela pessoa jaz sob a terra ? Sinto uma vontade terrível de apedrejar aqueles pássaros atrevidos. Enterro a cabeça no travesseiro, e grito com uma raiva desesperadora, de quem perdeu sua vontade de viver.
Continuo deitada na cama, sem forças para me virar e olhar para o vazio que continuo guardando para você. Me esforço pela milésima vez, em apenas uma semana, para me lembrar de qualquer detalhe de seu funeral e de seu enterro, mas é sempre em vão, a única coisa da qual sou capaz de me lembrar é de encontrar-me do lado de seu caixão, sem escutar nem falar com ninguém. Só e desesperada, porque você havia me abandonado, submersa em uma opressora e densa solidão que me prende, que continua a me prender a cada dia que se passa.
Eu me viro, e ali está o vazio que era ocupado pelo seu pequeno corpo, um vazio imensamente grande. Eu estendo a mão e acaricio o lençol que deveria estar sobre você, cobrindo o seu corpo. Uma lágrima solitária desce pela minha bochecha, sou incapaz de derramar outras, eu gastei todas no primeiro dia em que senti a profunda solidão que reina neste mundo.
Não seu como, mas me levantei, enxugo o rastro que a lágrima deixou em meu rosto com o dorso da mão e começo a me vestir, disposta a enfrentar a tortura de um novo dia de aulas e compromissos sociais.
Vou para a cozinha, mas não há nada preparado, há dias que eu estou sem apetite e sem comer quase nada, abro a geladeira e olho com nojo para o seu interior, o meu estômago se revira só de eu pensar em comer. Sem tomar nada no café da manhã, sigo para a escola, cabisbaixa e evitando o olhar de qualquer pessoa curiosa.
Ao longo do caminho, vez por outra me vem à mente a única imagem nítida que eu tenho de seu funeral, e eu vejo o seu caixão fechado com o seu jovem e pequeno corpo dentro dele, condenado a passar ali o resto da eternidade.
Chego à escola esquivando-me das garotas tagarelas, para as quais a vida não mudou, evito todo tipo de contato físico ou visual com quem quer que seja, eu não quero falar e nem que falem comigo. Passo toda a semana evitando escutar palavras pesarosas de todo mundo, ninguém pode sentir mais do que eu, por mais que me consolem.
Vou para a nossa sala antes da hora, paro em frente à porta fechada e me preparo para o próximo choque. Abro-a de uma só vez e respiro fundo. De cabeça erguida, eu entro na sala, com passos firmes e decididos, dou três passos, sempre olhando para frente, até à mesa da professora, e paro. Fecho os olhos e respiro mais calmamente, para me preparar para o próximo golpe a ser recebido, volto a abrir os olhos e viro a cabeça para a esquerda. Ali está a sua mesa, a última ao lado da janela, com uma pequena coroa de flores em cima dela, para lembrá-la, pelo menos durante um tempo. Meu corpo treme, descontrolado, essa simples coroa me afunda no mais absoluto desespero, me confirma, a cada segundo do dia, que você não está aqui, e não permite que eu relaxe nem um pouquinho e nem tente me esquecer de sua ausência. Embora isso me seja muito difícil, eu não posso ficar com raiva daqueles que querem honrar a sua memória, de modo que, fazendo um esforço sobre-humano, eu caminho com lentidão pelo corredor e sento-me em minha mesa, bem diante da sua.
A campainha toca e eu tento parecer serena e sossegada, ainda que, desde que eu entrei na sala, eu não tenha feito nada mais além de reparar em seu suave perfume. Parece que você está aqui, ao meu lado, acompanhando-me nos bons e nos maus momentos, como sempre. Continuo indo à escola porque é o local em que eu a sinto mais próxima, e apesar do enorme buquê de flores, que me lembra de sua ausência, há pequenos detalhes que me fazem sentir sua presença de modo inequívoco, como o seu perfume, sua suave fragrância continua ali, para mim, e, durante as aulas, noto pequenos movimentos na cadeira que não são produzidos por mim, ou das canetas e cadernos. Sei que você está aqui, comigo, e me sinto mais feliz do que durante o resto do dia.
Eu deixo a manhã passar sem prestar atenção a ninguém nem a nada que não sejam as pequenas mensagens que recebo de você, uma colega se aproxima e murmura algo incompreensível para mim, eu não lhe respondo e ela vai embora. A professora e os meus colegas não tentam me tirar de meu mundo, quero acreditar que eles entendem a minha condição e não querem me obrigar a quebrar o meu escudo, pelo menos não ainda.
A hora do almoço chegou à sala de aula, e você fica comigo me fazendo companhia, meu coração e minha alma me dizem que você está próxima, e, até o fim das aulas, não vai sair daqui.
Finalmente as horas de tranqüilidade terminam para mim, a campainha toca, e todos os meus colegas vão correndo para casa, eu recolho minhas coisas sem vontade, e saio da aula, que me deixa tão feliz.
Eu tinha de ir diretamente para casa, mas me entretenho no parque no qual nós costumávamos passear.
Enquanto estou passeando, meu coração é submerso em uma nuvem escura, eu começo a ter um mau pressentimento, que, a cada passo que dou, torna-se mais e mais forte, minha mente está bloqueada, e eu não consigo saber o que está acontecendo, mas minha pele e meu coração me advertem. Detenho-me exatamente naquele lugar em que eu estava parada, algo havia acontecido bem ali, onde os sentimentos de medo e de dor eram muito maiores, algo havia acontecido, mas o quê ?
Desconcertada, eu fiquei parada, olhando ao meu redor, e de repente eu vejo. Nas juntas dos azulejos, há restos de sangue seco. Minha mente voa por entre as vagas lembranças daquele dia, e eu me esforço para saber exatamente o que foi que aconteceu.
As dolorosas lembranças vêm a mim lentamente, com parcimônia, enquanto eu me exaspero e tento fazê-las chegarem com mais rapidez. Por fim, consigo me lembrar de tudo, já não há nenhuma dúvida. Aquele sangue seco é seu.
Lembro-me, com a dor atingindo o meu coração, aquele dia, há uma semana, aquela tarde em que o destino nos separaria para sempre. Até aquele momento, eu não tinha conseguido me lembrar do que havia acontecido, eu ficara em estado de choque por todo este tempo, mas ao ver esta mancha no chão, ao sentir aquela maldade e dor daquela tarde, as lembranças retornaram à minha mente como uma torrente incontrolável.
Posso ver com toda a clareza o seu rosto alegre me pedindo para que nos esquecêssemos por algum tempo dos deveres, e relaxássemos tranqüilamente, dando um passeio pelo parque. Apesar de os exames estarem próximos, você não parecia nem um pouco preocupada, você sabia, com absoluta certeza, que nós seríamos aprovadas sem problemas, e que eu, inclusive, conseguiria a melhor classificação da escola. Você sabia o quanto os meus estudos eram importantes para mim, e sempre respeitava as minhas horas de reforço, mas precisamente naquela tarde você quis dar um longo passeio, e precisamente naquela tarde, eu concordei com os seus desejos, quem poderia nos dizer a respeito do destino que nos aguardava entre aquelas árvores frondosas.
Passeamos despreocupadamente, pela sombra agradável que ofereciam os galhos, conversando sossegadamente, de mãos dadas. Aproveitamos a tranqüilidade que oferecia o parque praticamente vazio, respirando o perfumado aroma das árvores e ouvindo o suave canto dos pássaros, desfrutamos da mútua companhia, até que chegamos a este ponto. Foi aqui onde tudo precipitou-se em um vazio sem precedentes.
Nós caminhávamos tranqüilamente, quando cinco rapazes obstruíram a nossa passagem. Sem minha katana, tentei negociar com eles, para que nos deixassem passar, tentamos fazer com que nos deixassem em paz, mas não foi possível. Tentavam arrancar você de meus braços, de me separarem de você, enquanto proferiam contra nós todos os tipos de insultos homofóbicos. Abracei-a com força, e consegui impedir, por aproximadamente um minuto, que nos separassem. Lembro-me de nossos gritos, clamando por ajuda a qualquer pessoa que andasse por ali, mas sem resultado. Talvez tenham nos escutado, mas tenham decidido fazer ouvidos de mercador.
Começou uma briga, e nós nos defendemos o melhor que pudemos, mas nossa inferioridade era muito grande, nos batiam asperamente, embora eles não fossem tratados de melhor forma. Com uma enorme pedra, consegui afugentar a três dos selvagens que nos atacavam, mas quando me virei, vi você estendida no chão, com uma navalha cravada no ventre. Tomada por uma raiva sem limites, lancei-me contra aqueles dois degenerados que tinham lhe ferido, e parti a cabeça do que estava mais perto, comecei a correr em direção ao outro, e bati nele repetidamente, eu tentava proteger a cabeça, mas os fortes golpes com os quais ele investia me impediam de fazê-lo. Finalmente, eu caí desmaiada e sem sentidos, e acordei, no dia seguinte, em minha cama, em minha cama vazia, na cama em que eu desejaria não acordar nunca mais.
Eu não sei o que aconteceu a partir do momento eu que eu te vi no chão, eu apenas tenho consciência de estar batendo naquele grande filho da puta, eu ouvi centenas de vezes as perguntas ao meu redor, mas não consegui contar, um estranho mutismo se apoderou de meu ser, eu não sou capaz de expressar a minha dor em palavras e nunca falo com ninguém além de mim mesma, talvez minha dor esteja me jogando no abismo da loucura, mas, se não for com você, eu não quero voltar a falar com mais ninguém.
Ajoelho-me e acaricio os azulejos sobre os quais o seu corpo ferido repousou pela última vez, outra de minhas solitárias lágrimas percorre lentamente o meu rosto, mas não vou detê-la, eu nunca as detenho porque quero que todos saibam da tristeza que me causa a sua ausência.
Enquanto eu estou ajoelhada, escuto um trovão distante, já que eu não consigo derramar mais lágrimas, parece o que o céu o fará por mim, e chorará a sua perda juntamente com minhas lágrimas secas. Continuo ali, escutando como a tempestade se aproxima gradualmente. De repente, cai uma gota no rastro seco de sangue, escurecendo-o levemente. Logo a fraca chuva torna-se uma forte tempestade, as lágrimas do céu são frias e grandes.
- O mundo todo chora por você, meu amor - digo para a mancha de seu sangue e me levanto, pronta para caminhar de volta para casa. Aquela casa enorme e sólida, que perdeu toda a sua calidez.
Ando sem pressa, já não me importo de me molhar, porque estou ensopada desde que começou a tempestade. Enfim chego em casa, deixo os sapatos na entrada e caminho até meu quarto, deixando um rastro de água atrás de mim. Percorro a mansão de ponta a ponta, verificando se não estou completamente só, mas não há ninguém. De modo que eu dirijo-me ao meu quarto, para preparar para mim mesma um longo e relaxante banho.
Estou preparando uma banheira de água bem quente quando sinto o seu cheiro; de um salto, como se tivesse uma mola, eu me levanto.
- Himeko ? - eu murmuro, insegura, o longo silêncio quebrado apenas pelos trovões da tempestade, cuja fúria aumenta mais a cada instante que se passa.
Começo a me despir lentamente, insegura quanto ao que está acontecendo. Não posso permitir que uma simples tempestade me assuste como se eu fosse uma pobre criatura. Por isso, já nua, eu mergulho na água quente.
Bem nesse momento, em que eu mergulho o meu corpo na banheira, um relâmpago ilumina até os mais distantes recantos do banheiro. Durante uma fração de segundo, eu te vi na mesma banheira que eu, mas à minha frente, só que você está vestindo o nosso uniforme escolar.
- Himeko ! - eu grito para a tempestade, enquanto me precipito para o lado da banheira em que eu a senti, há um segundo, mas você não está ali, não há ninguém, e ninguém responde ao meu chamado. Talvez você não possa me responder ?
Tento me tranqüilizar respirando pausadamente. Não pode ser, é completamente impossível que meus olhos tenham lhe visto na banheira, talvez fosse o meu fervoroso desejo de ver você ao meu lado.
Volto a me sentar e relaxo um pouco, mas, nesse momento, outro relâmpago ilumina o quarto. Desta vez, sim, eu lhe vejo com clareza. Você está deitada na banheira, mas ela está vazia, e você segura uma faca em sua mão, parece estar tentando suicidar-se, mas como ? Como pode suicidar-se uma pessoa que já morreu ? De repente, uma certeza atinge o meu confuso cérebro, as partes das quais eu não conseguia me lembrar ou das quais não queria me lembrar a respeito dos últimos cinco dias, explodem em minha memória com brutalidade.
Eu me lembro da briga, lembro-me de arrebentar a cabeça daquele desgraçado, mas, às minhas costas, eu escutei um forte estrondo, e de repente a escuridão fez com que meus olhos se nublassem, e eu não conseguia acordar. Eu grito que não posso partir, suplico por minha vida, rogo a todos os deuses para que não nos separem, para que não permitam que eu me vá, eu só quero permanecer ao seu lado para sempre, não podem me arrancar de você.
Então eu acordo em minha cama, com poucas memórias do que aconteceu, sem saber porque ninguém me olha nem fala comigo. Levada pelo hábito, eu me levanto e corro até o necrotério. O caixão do qual eu sempre me lembrava estava aberto, e ali estava o meu corpo, que jazia entre flores e pêsames, e ao lado de meu caixão está você, chorando silenciosamente e sem se separar por de mim por um só segundo.
Minha mente retrocede, incrédula, e eu volto à nossa aula, aquela aula em que nem mesmo a professora me perguntava como eu me encontrava. Ali, na última mesa, continua a estar a silenciosa e perfumada homenagem à sua memória, mas não é à sua memória, e sim à minha. Aquela era a minha mesa durante as longas horas da escola, e por isso eu podia sentir tão fortemente a sua presença na sala de aula, porque eu me sentava sobre você, eu me sentava através de você. E, já que você tampouco saía na hora do almoço, eu posso intuir que você também me sentia, que você sabia que eu estava ali, ao seu lado.
E agora você está aqui, em minha casa, em uma tarde que a tempestade transformou em noite, na banheira vazia de meu banheiro, e com uma faca nas mãos e as lágrimas cruzando-lhe o rosto. Sem saber como, eu ponho-me a gritar e vejo você levantar a cabeça. Eu não sei exatamente como, mas parece que você está me ouvindo.
Eu noto como a tempestade cai com mais força do lado de fora, eu tenho de gritar mais alto do que ela, para que você possa me escutar e me entender.
- HIMEKO ! - eu grito, desesperada, finalmente você parece ter me entendido, e murmura, sem nenhum resquício de medo na voz.
- Chikane-chan ? - eu vejo a alegria em seus olhos - Eu estou vendo você, Chikane-chan.
Você sorri para mim, e me sinto morrer, mas não há tempo, parece que a tempestade está me usando como amplificador, e, desse modo, você me vê e me escuta.
- O que você acha que vai fazer ? - eu lhe pergunto.
- Vou me reunir com você, meu amor - em seu rosto, havia um amplo, mas triste, sorriso - Eu não consigo viver sem você, por mais que eu tente, eu não consigo.
- Mas você não pode se suicidar, Himeko, não quero que você deixe de viver por minha causa.
- Mas... eu quero fazer isso, Chikane-chan, eu não faço nada além de pensar em você, e, se eu morrer, nós estaremos juntas.
- Não faça isso - eu peço a você, entre lágrimas.
- Você está... está chorando ? - ela me pergunta, com expressão de dor no rosto..
- É claro que eu estou chorando, você tem que viver por mim e por você. Não quero que você venha a este mundo de sombras, quero que você seja feliz e aproveite a vida - eu grito, com as lágrimas ensopando o meu rosto - Viva e seja feliz, eu sempre esperarei por você, e quando chegar o dia da última viagem, nós partiremos juntas e poderemos reencarnar juntas, já que, mesmo que nossos corpos estejam longe, nossas almas sempre estarão juntas, e nós seremos capazes de encontrarmos uma à outra, entre os bilhões de pessoas que habitam a Terra.
- Mas eu quero que comecemos já a nossa viagem de reencontro - você me murmura, chorando baixinho.
- Eu posso esperar o tempo que for necessário, meu amor, não cometa nenhuma loucura.
Eu me aproximo de você, a tempestade está perdendo força, e eu percebo que você está deixando de me ver. Sei que não posso tocá-la porque nossos corpos estão em planos distintos, mas eu me aproximo e deposito um suave beijo em seus lábios, ainda que você não possa perceber os meus lábios, nem eu aos seus, eu percebo o seu fôlego dentro de mim. Agora eu estou disposta a esperar pelo tempo que for necessário, e, então, nunca poderão me separar de você.
Epílogo:
O destino parece querer que você e eu estejamos juntas, já que, apenas um mês depois de minha morte, você sofreu um trágico acidente de trânsito. Eu vi como o seu corpo foi atropelado por um caminhão, mas ali, me esperando na calçada em frente ao sinal verde, estava a sua alma imortal, esperando por mim, para que nós começássemos a nossa nova viagem, e enfrentássemos tudo aquilo que o futuro nos reservasse.
De mãos dadas, nós avançamos sem medo pelo caminho para a eternidade.
N/T 2: Primeira fic de Kannazuki no Miko que eu traduzo, e terceira fic yuri traduzida por mim. De longe, a mais sofrida delas, aliás. Foi triste, mas também muito bonita, e por isso gostei de tê-la traduzido. Espero que gostem, e, se sim... reviews, please ?
N/T 3: A parte final da fic me surpreendeu, eu admito que não esperava por aquela reviravolta. De certo modo, quando Chikane percebe de que quem está morta é ela, e não Himeko, isso me fez lembrar um pouco da reta final do filme "O Sexto Sentido".
