Outono, inverno

...Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes,

precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas,

reservando-os para o juízo...

–2 Pedro 2:4

Eu caminhava lentamente pelos corredores do Internato Delphic.

Eu sequer podia crer que eles realmente tinham feito isso: Mandaram-me para um internato em outro estado. Definitivamente minha ausência não era algo que os incomodaria. Mas de qual quer forma o que eu poderia esperar da minha família? Nosso relacionamento não era exatamente bom .

Eu também nem queria lembrar nos motivos infundados que levaram minha mãe a tomar essa decisão; não que ela realmente precisasse de um motivo.

Eu não tinha tido tempo de sequer arrumar minhas coisas. A diretora havia me dito que apenas colocasse no quarto meus pertences e fosse direto para a primeira aula. Então eu apenas me dirigi à ala das salas de aula olhando as placas para ver onde era a maldita sala.

Enfim, entrado atrasada na minha primeira aula.

- Com licença- eu disse batendo na porta.

-Senhorita Haruno? Pode entrar - disse um senhor alto e magro. Observei discretamente a sala. Constatando que ali deveria ter no máximo 20 alunos. E que os assentos eram de duplas. E eu torcia para não ter que conviver com alguém muito animado que conversava o tempo todo ou alguém tão silencioso que eu passaria todo o tempo como se estivesse só.

-Srta. Haruno, Dirija-se ao fundo da sala.

Caminhe lentamente até a última sala de fileira ao lado da janela.

Olhei para meu colega e confesso que fiquei abalada com a aparência dele. Como era possível alguém ser tão lindo assim? Ele tinha a pele muito clara, com cabelos negros que emolduravam o rosto de traços perfeitos, a boca, ah uma boca que com certeza deixava muitas garotas acordadas a noite, pensando em como seria ser beijada por aqueles lábios, os olhos dele eram tão... Eu não saberia descrever, eram olhos que não demostravam nada, mas pareciam capazes de ir até seu íntimo e arrancar todo de você sem qualquer esforço.

-Oi, eu sou Sakura- eu sorri.

Seus olhos ônix me cortaram. Meu coração errou uma batida e naquela pausa, um sentimento de triste escuridão pareceu deslizar como uma sombra sobre mim. O sentimento sumiu em um instante, mas eu ainda estava encarando-o. Seus olhos pareceram me encarar com desprezo. E seu olhar inicial me pareceu durante menos de um segundo um olhar de surpresa, mas que logo foi camuflada em uma expressão neutra.

Ele sorriu um pouco com ironia.

Seu sorriso não era amigável. Era um sorriso que soletrava encrenca. Como uma promessa.

-Hn- ele disse resmungou um som baixo e cauteloso-Olá

Sua voz me pareceu forte, firme e bastante baixa e cautelosa. Ele me olhou eu reparei que seus olhos se demoraram um pouco mais de tempo nos meus cabelos, quem poderia culpa-lo? Afinal não era todo dia que se conhecia uma garota com cabelos cor-de-rosa naturais.

-E qual é o seu nome?-perguntei mais incerta ainda.

-Sasuke - ele disse e se virou para a frente e voltou a prestar a atenção na aula.

Eu realmente não esperava que ele me tratasse exatamente bem e fosse muito simpático, mas ele me ignorou completamente durante o período da aula, sem olhar para mim em nenhum momento.

E logo constatei que nesse dia essa era a única aula em que estávamos na mesma sala.

E eu detestei ter que me apresentar em todos as outras salas pelas quais passei.

Entediante. Sim essa seria a palavra ideal para descrever tudo isso

Eu estava no quarto colocando minhas coisas, e roupas no armário, quando a porta abriu e uma garota loira entrou, eu lembrava ela da sala de aula de Inglês.

-Oi, você é a Ino não é?

-Oi, sou sim é um prazer Sakura. Precisa de ajuda?- ela falou se referindo a minha mala.

-Não, obrigada já quase acabei- e coloquei a mala já vazia no armário.

-Vamos jantar, já está na hora de irmos para o refeitório- disse ela

-Vamos sim.

Conversamos bastante e descobrimos que tínhamos muito afinidade, o que era bom já que passaríamos um ano inteiro no mesmo quarto.

O refeitório não estava agitado, mas a calmaria logo acabou quando duas garotas começaram a gritar e a se pegarem xingamentos tapas e gritos, puxões de cabelo.

Até que algumas pessoas foram apartar as duas.

-Qual será o motivo?-perguntei

-Não que elas precisem de um- disse Ino- Mas o que poderia ser além dele? Sasuke Uchiha.

Fique boa parte da noite pensando apenas pensando sem realmente fazer sentido e então após algum tempo decidi sair para tomar um ar. A propriedade escolar possuía um imenso jardim. O lugar estava em ótimas condições, poderia ser um pouco assustador vendode outro ângulo.

Tinham canteiros de flores estranhas e estátuas de anjos, demônios e gárgulas. As peças pareciam te encarar.

Mas eu até que gostava de lugares assim, com uma aparência um tanto sombria. Sempre combinava com meu estado psicológico.

E é claro eu não deveria estar aqui sozinha há essa hora.

-O que faz aqui há essa hora?-me virei assustada.

Estava tão imersa em meus pensamentos que não ouvi a aproximação.

Ele estava encostado em uma árvore a vários metros de distância, ele veio andando até mim, sentou ao meu lado.

-O que você faz aqui sozinho há essa hora?- rebati

- Eu não estou mais sozinho.

-Perdeu o sono?-perguntei já falando asneiras.

-Bobagens não me deixaram dormir.

Ei não conseguia compreende-lo, em um momento ele me ignorava firmemente e em outro falava comigo como se nada tivesse acontecido.

-Achei que o regulamento não permitisse alunos fora de seus dormitórios após às 22 horas.

-Eu não sigo o regulamento-ele disse em sua voz baixa.

-Que bobagem te impediu de dormir?

-Suicida, Sakura? – perguntou ele

Meus braços que estavam enfaixados a palma da mão e os pulsos.

-O que? Pulsos abertos, suicídio? Eu nunca faria isso

Ele segurou meus pulsos e eu me senti incomodada como se algo ardesse tornando tudo sinistro.

-Não diga nunca- ele me olhou de forma estranha, e eu podia jurar que tinha visto nos olhos dele um lampejo de dor, sofrimento, mágoa e ódio, mas meio segundo depois os olhos ônix voltaram a ser duros e frios.

- O que veio fazer no Delphic?

A pergunta seria considerada casual se tivesse vindo de outra pessoa. E pelo pouco que eu pudera observar dele e ele não perguntava apenas por fazer.

Eu poderia estar julgando muito rápido alguém que conhecera há apenas algumas horas, mas que culpa eu teria se a peculiaridade dele levava a tirar-se conclusões?

-Delphic, nome estranho para um colégio. Esse lugar é estanho-falei mais para mim mesma.

-Pessoas estranhas estão aqui.

-E por esse motivo você esta aqui-rebati.

-Garota esperta.

Um estranho silencio se instalou. Eu estava começando a ficar constrangida, e Sasuke nem se quer parecia perturbada.

-Você ainda não me disse que bobagem não te deixou dormir. -falei procurando um assunto sem obter muito sucesso.

E a resposta que eu não esperava ouvir.

-Você.