Sinopse: A guerra entre os dois maiores packs dos Estados Unidos já durava centenas de anos, mas um lobo nascido ômega, que havia renegado a sua posição durante toda a vida, se vê obrigado a ser marcado pelo alfa do pack inimigo para que houvesse paz entre eles.
Entretanto ele não sabia que seu destino já estava traçado muito antes dele nascer.
Alfa e ômega precisavam se unir e gerar um filho, aquele que seria o alfa mais poderoso que já pisara na terra, aquele com o poder de unir todos os packs para evitar a Grande Extinção, profetizada cem anos antes, porém uma ameaça mais real e perigosa pode pôr tudo que o destino havia traçado a perder.
Wolves conta a história de um amor improvável entre dois homens que julgaram ser héteros durante a vida toda, mas, de repente, se viram obrigados a ficarem juntos e enfrentarem todas as batalhas pelas quais a Deusa da Lua os embrenhou

Nota 1: Essa história teve o começo inspirado em uma outra história aqui do site chamada The World, porém não será igual, coisas são inevitaveis, é claro, como os termos usados, mas a história em si não. Também me inspirei em True Blood, uma série maravilhosa da HBO que já teve seu fim há alguns anos. Enfim, boa leitura e não se esqueça de deixar seu review

Nota 2: Essa história começou sendo postada no site spiritfanfics . com, então se vê-la por lá, não é plágio, sou eu mesmo hehehe


Jensen andava de um lado para o outro dentro de seu quarto, passando as mãos pelo cabelo nervosamente e secando o suor das palmas na calça a todo instante. Steve Carlson, seu amigo de infância, estava ali também, sentado na cama e em silêncio, esperando que o loiro se acalmasse um pouco.

– Ele não pode me obrigar, não é? – Jensen perguntou, parando por um momento e olhando Steve, que o encarava de volta com um pesar.

– Na verdade, ele pode. Além de ser o alfa do pack, ele é seu pai.

Jensen bufou de raiva e jogou as mãos para o alto, voltando a andar de um lado para o outro.

– E se eu fugir? – Disse o loiro, parando mais uma vez e olhando Steve nos olhos, suplicando para que o outro concordasse e o ajudasse.

– Fugir para onde, Jen? Nenhum pack vai aceitar um ômega fugitivo, é contra lei. Sabe disso. E se tentar ficar na floresta o Alfa Roger vai montar uma equipe de busca e te achar rapidinho.

– Mas eu posso tentar, não é? Quer dizer, eu tenho alguma chance...

Steve rolou os olhos e negou com a cabeça.

– Eu não vou deixar você fazer isso. Os nightshifters estão por toda parte agora. É perigoso demais.

Jensen deu um grito de ódio e socou o espelho enorme da parede do seu quarto.

– Eu não acredito nisso, Steve. Aquele velho maldito disse que eu nunca precisaria fazer algo assim, ele me prometeu! E agora quebrou a maldita promessa... – O loiro virou-se de costas para Steve e colocou suas duas mãos sobre a cômoda que se encontrava atrás dele, deixando a cabeça pender entre os ombros e fechando os olhos com força. O bolo na sua garganta e a vontade de chorar ficavam mais fortes a cada minuto que se passava.

O loiro de cabelos compridos sentiu seu coração apertar diante da amargura que seu amigo emanava.

– Dá pra você parar de pensar tanto? Eu não tô conseguindo bloquear... – Jensen protestou com a voz quebrada. Os pensamentos de pena de seu amigo invadiam sua cabeça e o deixavam com ainda mais vontade de chorar.

– Desculpe. – O alfa disse e suspirou pesado.

Jensen permaneceu de costas para o amigo até ter certeza de que tinha engolido seu choro por completo, então se virou para ele e foi sentar-se ao seu lado na cama.

– Isso não é justo, cara, não é nada justo! Eu sou uma pessoa, não uma égua de troca. Aquele maldito não consegue fazer seus acordos de paz sozinho? Por que teve que me envolver e sem o meu consentimento?! – O loiro estava inconsolável. A três dias que o acordo de paz havia sido firmado e seu destino traçado.

Desde que se descobrira ômega, aos treze anos de idade, temia que um dia isso poderia acontecer, mas seu pai sempre lhe garantiu que Jensen nunca precisaria se submeter a tal situação e isso o tinha tranquilizado pelos dezoito anos seguintes. Agora, com trinta e um, tinha a plena certeza de que sua vida seria boa e tranquila na sua alcateia natal, e que nunca seria mandado para outro lar para ser a cadela ômega de algum maldito alfa tarado, mas, de uma hora para outra, sua vida quase perfeita tinha virado de cabeça para baixo. O acordo de paz entre os packs de Tuskegee, seu lar, e Shawnee, o pack mais poderoso de todo os Estados Unidos, envolvia, entre outras coisas, água pelo ômega Jensen.

– Eu sei cara! Eu queria tanto poder ajudar... – Steve disse. Talvez isso seja o melhor para os packs, estamos ficando sem água e essa briga incansável já foi longe demais, por tempo demais.

Jensen se sentiu ofendido pelo pensamento de seu amigo e se levantou da cama, olhando para ele com o semblante furioso.

– E a custo do que? A minha vida?! – Ele acusou.

Steve se amaldiçoou por ter pensado aquilo, mas foi involuntário.

– Eu não quis...

– É claro que você quis! O que está dentro da nossa cabeça é sempre a verdade, você sabe muito bem.

Steve se levantou da cama quando viu as garras de Jensen começarem a brotar por cima das unhas humanas.

– Jensen, porra, você sabe que eu te amo pra caralho. Você é meu melhor amigo, nós crescemos juntos, o que eu quis dizer foi que talvez...

– Talvez eu possa parar o derramamento de sangue e fornecer água sendo uma puta para um cara que eu nem conheço? Eu não sou gay, porra, eu gosto de mulher! Sem falar que eu não vou ter nenhum direito lá. Nem falar na hora que eu quiser eu vou poder, mas tudo bem, não é? O que é sacrificar a minha droga de vida se for para acabar com a briguinha de poder entre os packs e salvar umas vidas! – Jensen gritou, mas se arrependeu assim que terminou.

Steve tinha perdido a filha pequena durante um ataque do pack Shawnee. Na verdade, ela não fora morta diretamente pelos lobos inimigos, o que aconteceu foi que ela estava no lugar errado na hora errada, mas se não houvesse a maldita briga entre os packs, não haveria hora errada nem lugar errado.

Steve sentiu seu peito apertar quando Jensen falou sobre derramamento de sangue e engoliu em seco.

– Você é a porra de um egoísta insensível. Espero que o alfa do seu novo pack tenha a porra de um monstro no meio das pernas e acabe com você!

Steve disse com raiva e saiu do quarto de seu amigo, batendo a porta com força e indo em direção a saída da mansão onde o ômega morava com a família.

Já faziam quatro anos desde a morte de sua filha, mas a ferida ainda não tinha se fechado. Queria tanto poder voltar no tempo e salva-la, mas aquilo era impossível. A culpa fora toda sua por não ter obrigado a garotinha a ficar em casa naquele dia. Os lobos inimigos não tinham nem chegado perto dela, era crime matar crianças inocentes em qualquer situação que fosse, um crime punível com a morte, quem tinha matado sua filha tinha sido o acaso. E não tinha como julgar e condenar o acaso.

Em seu quarto, Jensen se jogou pesadamente na cama e fechou os olhos com força, não queria ter tocado na ferida de seu amigo e nem soado tão egoísta daquele jeito, aquele acordo de paz poderia salvar muitas vidas, mas também acabaria com a sua.

Teria que abrir mão de tudo que um dia almejara, inclusive sua namorada Danneel, mas o que mais o deixava furioso e magoado era o pai ter traído sua confiança. Sempre o admirara como homem e alfa, ele era um exemplo para si, mas depois de tê-lo apunhalado pelas costas daquela maneira, Jensen nunca conseguiria perdoá-lo. Se bem que isso não faria muita diferença, uma vez que saísse fora do pack de Tuskegee, nunca mais retornaria.

A única segurança que tinha era que não sofreria nenhum tipo de violência por parte dos membros do outro pack, mesmo sendo inimigos natos. Ômegas eram sagrados, moldados pela própria deusa da Lua em suas perfeições puras, ninguém ousava encostar um dedo sequer em um ômega.

Algum tempo depois, ele levantou-se da cama e resolveu ir atrás de Steve, tinha que se desculpar com ele, nem que precisasse pedir de joelhos. Não aguentaria partir brigado com seu melhor amigo.

Andando pelo corredor até as escadas que levavam para o andar de baixo, Jensen encontrou com seu pai e lhe fechou a cara.

– É bom que já tenha arrumado suas malas, caso contrário partirá amanhã sem nada e eu não sei se seu novo alfa será tão bondoso para lhe comprar roupas novas. – O velho alfa disse e Jensen bufou de raiva. Eu não queria ter de fazer isso, mas é inevitável. Mais cedo ou mais tarde teria que ser feito.

Pôde ouvir seus pensamentos, e eles pareciam sinceros, mas Jensen estava com tanta raiva que nem prestou atenção direito no que diziam e porque seu destino era tão inevitável, com ou sem acordo de paz, desde que nascera.

Geralmente Jensen se mantinha fora da cabeça das pessoas, seu dom poderia causar muitas encrencas e mágoas. O que as pessoas pensam em suas cabeças, na maioria das vezes, é melhor que fiquem só com elas mesmas, mas em momentos de muita tenção ele não conseguia se concentrar para evitar de ouvir o que as pessoas a sua volta sussurravam dentro da cabeça dele.

Saiu pela porta da frente ignorando sua madrasta, que lhe chamava simpática convidando-o para um café. Por mais que ela soasse como a melhor pessoa do mundo, só Jensen sabia o que aquela mulher pensava em seu íntimo.

A casa de Steve não ficava longe, a duas ruas da mansão do alfa, e em poucos minutos Jensen já estava batendo na porta de madeira.

Steve sentiu a presença do amigo antes mesmo dele bater na porta, a conexão entre os dois era forte por se conhecerem a tanto tempo. Abriu a porta para ele e suspirou pesado.

– Posso entrar? – Jensen pediu.

– Fique à vontade.

O loiro entrou e Steve fechou a porta assim que ele se encontrou dentro da casa, indo até a geladeira e pegando duas cervejas. Voltou para a sala, onde Jensen estava, e jogou uma das garrafas para ele.

– Me desculpe por ser um egoísta insensível. – Jensen disse e forçou um meio sorriso.

– Não se preocupe com isso, eu te entendo. No seu lugar também estaria pouco se fodendo com as relações entre os packs e me preocuparia em como a minha vida poderia ser um inferno.

Jensen bebeu um longo gole da cerveja e se escorou mais no sofá.

– Porque eu tinha que nascer um ômega? – Ele perguntou tristonho. – Justo eu, que gosto tanto de mulher. Você deveria ser um ômega, já é gay mesmo, tudo funcionaria muito melhor.

Steve riu, Jensen sempre lhe falava aquilo e até que fazia sentido.

– Deve ser alguma espécie de karma ou vingança da deusa. – Jensen completou e fez um bico, tomando mais cerveja da garrafa.

– Porque a deusa iria querer se vingar de você? – Steve perguntou rindo fraco. – Isso é uma grande coincidência, isso sim. Você garanhão e tarado por mulheres tendo que se render a um vibrador todo mês.

Jensen fechou a cara, sentindo seu rosto esquentar e lançou um olhar mortal para o amigo.

– O que? Não é verdade?

O loiro suavizou um pouco a expressão e teve que concordar.

– Mas não precisa ficar lembrando. Tenho vergonha disso, é uma merda não ter controle do próprio corpo. Parece que tem alguma coisa me possuindo!

E tem mesmo, um vibrador grande e grosso que nem eu aguentaria. Steve pensou e segurou o riso, esquecendo-se que Jensen não estava em seu melhor autocontrole. Jensen o respeitava e nunca entrava em sua cabeça sem que ele soubesse, mas com todo o stress era inevitável.

– Eu vou cortar a sua garganta se disser isso de novo.

Steve gargalhou, mas se conteve no ato quando Jensen rosnou para ele.

– Desculpe, eu só... – Explodiu de vez numa gargalhada e Jensen bufou de raiva. A amizade dos dois era baseada em amor e ódio constantemente.

– Se não for daquele tamanho, não funciona, já que não é o nó de um alfa. Não é como se eu gostasse, que saco!

Jensen exclamou e bebeu o resto da cerveja num gole só.

– Eu sei, desculpa, desculpa, desculpa. Não devia ficar te enchendo assim, são nossas últimas horas juntos.

– Eu ainda não consigo acreditar que nunca mais vou te ver, ou nunca mais vou ver qualquer um desse lugar. Minha irmãzinha e Josh...

– Também não é bem assim, poderemos nos encontrar de vez em quando se...

– Se a porra do meu dono permitir? Isso é um ultraje. Tantos anos se passaram e essas porras de packs ainda vivem como se fossem animais, com títulos de posse sobre outras pessoas. É inacreditável.

Steve se manteve quieto. Concordava com tudo que Jensen dizia, nem precisava dizer em voz alta para ele mais uma vez.

Pelo menos você não vai mais precisar do vibrador. Aliás acho que vou pedi-lo para mim, quem sabe um dia eu não consiga usá-lo... Steve pensou involuntariamente e riu.

– É todo seu. – Jensen respondeu automaticamente, denunciando que espionara a cabeça do loiro de cabelos compridos.

– Jensen, que porra! Sai da minha cabeça. – Steve corou intensamente ao perceber que tinha sido pego em flagrante pensando besteiras.

– Não é culpa minha, não tô conseguindo controlar direito. Até os pensamentos da vadia loira eu acabei ouvindo sem querer. Aquela mulher só pensa em cuidar da vida dos outros o tempo inteiro, é impressionante! – Jensen se referiu a madrasta e as fofocas que ouviu em sua mente quando passara por ela a alguns minutos atrás.

– Vai sair com a Dan hoje à noite? Para se despedir...?

Jensen colocou a garrafa sobre a mesa de centro e voltou a se recostar no sofá.

– Não, ela terminou tudo comigo hoje de manhã. Disse que se eu não podia ser forte nem para decidir sobre a minha própria vida, não a merecia.

Steve abriu e fechou a boca, chocado.

– Que vadia!

– Ei. – Jensen protestou, ainda nutria um sentimento pela ex namorada a qual sonhara construir sua vida junto.

– Ela é sim. É uma piranha de quinta categoria. Sempre disse que você merecia coisa melhor. – Steve expôs sua revolta em relação a Danneel. Nunca gostara da garota e nem sabia direito o porquê.

– Mentiroso, você sempre disse para ela que nós dois formávamos um casal perfeito!

Steve riu.

– Eu só não queria que ela tivesse motivo para querer te afastar de mim. Você estava bem apaixonadinho e poderia ia na dela, mas eu sei que às vezes fica estuprando meu cérebro e tenho certeza que ouvia todos os meus pensamentos a respeito daquela vaca. E eram todos a verdade.

Jensen concordou, por mais que negasse que invadia a mente alheia sem permissão, às vezes era tentador saber o que as pessoas pensavam verdadeiramente.

– Tudo bem, você não gostava dela. – Jensen disse e sorriu.

– O que acha de irmos dar uma volta na floresta hoje à noite para nos despedirmos?

Jensen ponderou sobre aquilo. Seu pai tinha lhe proibido de sair da vila com medo de que ele pudesse fugir, mas poderia dar um jeito de sair no meio da noite quando todos estivessem dormindo.

-J2-

Tudo já estava arrumado para a festa de boas vindas do ômega e a iniciação dele diante de todos do pack. Jared não podia estar mais nervoso e irritado, não podia acreditar que tivera que topar aquele acordo, tudo bem que era para o bem dos dois packs e evitaria muitas mortes desnecessárias, mas sua vida estaria acabada. Teria que se deitar com um homem e ficar só com ele para o resto de sua vida.

Como alfa, Jared teve que fazer o acordo para o bem de seu povo, mas aquilo não o agradava nenhum pouco. Nunca tinha transado com um homem em toda a sua vida e não sentia a mínima vontade de fazer aquilo.

Ele até poderia ter quantas amantes desejasse, ninguém iria apontar o dedo para o alfa e dizer que não, mas seus valores morais ensinados pelo pai o impediriam de fazer uma coisa assim. Seria fiel ao ômega e faria herdeiros com ele, mas amor mesmo nenhum dos dois nunca teria.

– Está na hora, Alfa. – Chad, seu conselheiro pessoal e amigo de longa data, colocou a cabeça para dentro do quarto e avisou.

– Tudo bem. Estou pronto.

O dia escolhido era com noite de lua cheia, para receber assim a benção da Deusa. A cerimônia do elo seria feita durante o primeiro cio do ômega após sua chegada em Shawnee.

Jared ajeitou sua blusa e secou o suor das mãos na calça, indo até a porta e então seguindo Chad para o andar inferior da casa.

Seus tenentes estavam todos postados em duas filas, uma de cada lado das portas de entrada no saguão principal, e do lado de fora, de um SUV preto, dois homens abriam a porta, um de cada lado. O que desceu do lado do carona era mais velho, tinha o cabelo grisalho e uma barba falhada, mas era forte e tinha um semblante de impassividade que poderia assustar qualquer lobo, mas não o poderoso e jovem alfa de Shawnee.

Ambos andaram pelo corredor formado por lobos negros, Jared se encontrava no final dele, com seu conselheiro ao lado observando os dois lobos dourados caminhando confiantes e sem nenhum medo.

Deveriam ter, estão bem na toca do seu inimigo. Se quiséssemos poderíamos acabar com os dois agora mesmo e tomar aquela alcateia que chamam de pack.

Jensen ouviu o pensamento do alfa, mas não se abalou por nenhum instante. Sabia de alguma forma que aquele homem alto de cabelos compridos era honrado em suas palavras, mesmo que não quisesse acreditar naquilo.

Os pensamentos dos outros lobos eram todos de ódio a respeito dos dois lobos dourados, quase espumavam em suas mentes dizendo que se pudessem estraçalhariam a garganta daquele alfa velho e senil que propôs o acordo de paz envolvendo mandar um de seus espiões para a base inimiga, mas Jensen também ignorou a todos. Sentia-se incapaz de bloquear os pensamentos dos outros homens ali, eles eram diferentes dos lobos dourados tinham uma força mental mais agressiva e bruta que esgotavam o telepata na tentativa de deixá-los fora de sua cabeça.

Aquele pequeno caminho pareceu interminável para Jared, e quando os dois homens finalmente chegaram até ele, sentiu um certo alívio.

– Alfa de Tuskegee.

– Alfa de Shawnee. – Cumprimentaram-se, ignorando completamente a presença de Jensen, que fechou os punhos irritado e desobedeceu seu pai, que lhe mandou ficar quieto até alguém falar com ele antes de saírem de casa.

– Sou Jensen Ackles.

– O ômega. – Jared observou, conseguia sentir o cheiro doce dele intoxicando seu corpo todo desde que pisou fora do carro.

– Prefiro ser chamado pelo meu nome, é por isso que tenho um.

Abusado, vai dar mais trabalho do que imaginei. Jared disse em seu subconsciente, e Jensen ouviu, dando um risinho debochado de lado e respondendo a ele sem se dar conta de que era um pensamento que ele tecnicamente não deveria ouvir.

– Pode apostar que sim. – E então mordeu o lábio, praguejando internamente por ter dito.

Jared franziu a testa desconfiado e o alfa de Tuskegee olhou para o filho. Jensen, fique quieto agora mesmo.

– O acordo está aqui. Meu filho ômega pela paz entre nossos packs e o território do rio yellowstone.

Jared concordou com a cabeça.

– O templo é por aqui. – Disse ele, saindo por uma porta lateral e sendo seguido por Chad, Jensen e Roger, assim como mais dois de seus tenentes para garantir sua segurança, apesar dele não precisar de ninguém para cuidar de si mesmo. Sendo o alfa do pack, Jared era naturalmente o mais forte.

Os dois alfas entraram sozinhos no templo sagrado da Deusa, que nada mais era do que uma construção feita de pedras moldadas pelo tempo, com um pequeno altar no fim.

Dizia a lenda que aquele templo tinha sido construído pela própria deusa da lua e era um lugar de grande espiritualidade. Por causa dele que, a centenas de anos atrás, os nômades Creek haviam fundado o pack Shawnee.

Jared e Roger ajoelharam-se diante do altar e sentaram sobre os próprios calcanhares, dobrando-se para frente e estendendo os braços em palmas abertas para frente e então começando a recitar o acordo, logo seguido pela jura à deusa. Um contrato feito perante a Deusa da Lua e jurado em seu nome nunca podia ser quebrado.

Logo após os dois terem jurado paz enquanto vivessem, saíram do templo e voltaram para dentro da mansão, passando pelo grande jardim de festa. Jensen gostou daquele lugar, parecia puro e muito alegre, tinha uma energia boa, diferente do saguão principal, que emanava ódio e desconfiança.

– A cerimônia do elo será feita no próximo cio do ômega.

– É Jensen, caramba!

Jared o olhou feio e estreitou seu olhar, se aproximando do menor e o olhando nos olhos. O loiro não se intimidou nenhum pouco, e estufou o peito.

– Eu o chamo como quiser. Não está em posição de falar, ômega. Os homens estão discutindo o acordo.

Jensen sentiu seu sangue esquentar ao que Jared insinuou que ele não fosse homem, e partiu para cima do alfa, lhe acertando um soco no rosto com toda a força que tinha. Para sua infelicidade, Jared apenas virou o rosto com o impacto, mas nem um gemido de dor expressou.

– Nunca mais ouse insinuar que eu não sou homem, seu moleque de merda!

A tensão crescia cada vez mais no lugar, os outros lobos negros estavam atentos a cada movimento feito pelo alfa e ômega, e agora estavam mais próximos.

– Jensen Ross Ackles. – O alfa do pack Tuskegee disse e Jensen automaticamente sentiu seu corpo endurecer sob o comando da voz de alfa do pai. – Jared é seu alfa agora e é bom respeitá-lo.

– Ou o que? Ele vai me bater? – Jensen se esforçou para dizer, saindo do controle do pai.

Jared sorriu de um canto ao outro de seus lábios.

– Não, bater não. Eu não seria o homem a cometer tal abominação, mas tenho outras formas de punir ômegas arrogantes e malcriados como você. Sugiro que não queira experimentar.

Jensen calou-se e emburrou a cara mais ainda, a sua estadia naquele lugar seria uma guerra constante com aquele alfa metido a besta que era mais novo que ele e pensava que tinha alguma autoridade sobre o seu corpo.

– Como eu estava dizendo, a cerimonia do elo será feita no próximo cio do ômega Jensen. – Jared ressaltou o nome dele. – O senhor, como pai e primeiro alfa poderá vir assistir para se garantir do acordo, se quiser.

Jensen ficou nervoso, seu pai não podia vê-lo sendo humilhado daquele jeito, sendo submetido a uma exposição na frente de todos aqueles lobos negros, os não mais inimigos que com certeza ririam dentro de suas mentes ao ver o lobo dourado sendo fodido pelo lobo negro alfa. Jensen escutaria cada uma das risadas, e nada poderia fazer para cala-los.

A cada segundo que se passava Jensen ficava mais tenso, o alfa de Tuskegee pensou seriamente em aceitar o convite de Jared para garantir que o acordo estava realmente selado, mas ao sentir todo o medo e vergonha de seu filho pela possibilidade de ser humilhado na frente do pai, Roger decidiu que não. Também não aguentaria ver seu filho naquela situação.

– O acordo já foi jurado para a deusa, que é o que importa. Marcar o ômega é só um meio de garantir que vocês possam procriar, e isso não me interessa nenhum pouco. – Ele disse com ar de poucos amigos, disfarçando a sua tristeza por abandonar o loiro naquele lugar hostil.

– Certo. A festa de boas-vindas será logo mais. Que tal celebrar conosco? – Jared convidou, como fora instruído pelos outros membros do concelho. Diga não, e saia da minha casa agora mesmo, seu maldito bastardo. Pensou.

Jensen fechou os punhos e travou a mandíbula, mas não foi para cima de Jared. Já tinha percebido que teria que se conter para não sair com ele no soco a todo momento.

– Tenho compromissos a tratar pelas redondezas. – Roger disse para Jared e, se virando para o filho, disse. – Você agora pertence a ele. Não se esqueça disso, Jensen.

– Eu não pertenço a ninguém além de mim mesmo, alfa. Ninguém é meu dono!
Jared riu baixo e Jensen o olhou com raiva.

– Ainda não, mas assim que eu te marcar você será minha propriedade.

Jensen rosnou baixo e seus pelos se eriçaram.

– Nunca. Pode me morder como for, mas eu nunca vou ser seu. – Rechaçou ele, com os dentes trincados.

– Diga o que quiser, ômega. Os fatos não mudam e o seu destino é um só.

Roger rolou os olhos e limpou a garganta.

– Se os dois terminaram essa discussão estupida, eu tenho mais o que fazer. – Roger se afastou dos dois. Queria te abraçar, mas não posso parecer fraco e sentimental na frente do inimigo. Sussurrou em sua mente, sabia que Jensen ouviria. – Espero que a paz entre nossos packs seja garantida de hoje em diante.

Alheio ao momento pai e filho, Jared se aproximou de Jensen e passou um braço por cima de seus ombros, apertando-o cinicamente.

– Da parte do pack de Shawnee ela será com certeza.

Claro, sempre pensando em seu título primeiro, não é mesmo? Jensen disse magoado na mente do pai. Apesar de estar com raiva dele por ter feito aquele acordo, sabia que não veria muito em breve e um abraço de despedida não seria negado.

Roger manteve sua mente vazia e então despediu-se de Jared, voltando para o carro e dando partida logo em seguida. Jensen viu quando o carro perdeu-se na distância.

Quando se deu conta do braço do alfa sobre os seus ombros, tratou de se esquivar dele e se afastar rapidamente.

– Vou te mostrar o seu quarto para você se instalar e se lavar para a festa de boas-vindas. – Jared disse, já saindo na frente e pegando as malas do ômega, que tinham sido abandonadas no chão do saguão.

Os outros lobos já tinham se dispersado, cada um voltando para as suas tarefas

– Eu não quero ir para festa nenhuma. – Protestou o loiro, seguindo Jared escada a cima.

– Mas vai. A festa é para você, não há nenhuma chance de você não comparecer.

– Que porra, será que eu não posso ficar sozinho? Vocês todos me odeiam e acham que eu sou um espião mesmo!

Jared parou no fim da escada e olhou para Jensen, analisando suas feições franzidas de irritação.

– Quem disse que nós achamos que você é um espião? – Perguntou desconfiado.

Jensen ponderou sobre contar sobre seu dom tão prematuramente, mas aquilo não poderia ser evitado. E também não era nada que ele quisesse esconder.

– Todos disseram. Eu ouvi em suas mentes. – Contou o loiro e eles voltaram a andar.

– Então seu dom é a telepatia? – Perguntou curioso. – O que mais sabe fazer?

O alfa parou em frente a uma porta e tirou uma chave de seu bolso, abrindo a porta e então entrando dentro do enorme e luxuoso quarto.

– Nada que seja do seu interesse.

Jensen disse distraído, olhando ao redor e avaliando seus aposentos. A cama era grande e parecia muito confortável e uma televisão enorme estava postada em frente a ela. Uma porta lateral dava a entender que aquele era o banheiro e mais uma ao lado da cama, inteira de vidro, sugeria uma sacada. Todo o lugar era decorado em nuances de preto e branco.

– Você não sabe qual é o meu interesse, ômega. – Jared largou as malas no chão e se virou para Jensen. – Organize suas coisas e se arrume com a roupa apropriada. Dentro de duas horas eu voltarei para busca-lo.

– Nem fodendo que eu vou usar vermelho. Nem tenho nada com essa cor...

– Não se preocupe – Jared sorriu debochado. –, dentro do armário existe uma infinidade de túnicas vermelhas. Vista-se com uma delas, isso é uma ordem.

O ômega bufou.

– E se eu desobedecer? – Disse ele com os olhos estreitados e batendo o pé.

Jared perdeu o resto de paciência que tinha e foi para cima de Jensen, chegando tão perto que sua respiração pode ser sentida no rosto dele. Por mais que Jensen não quisesse, se encolheu contra a parede. Não sentia medo de Jared, mas a força que o alfa dele exercia sobre o seu ômega era enorme, mesmo eles ainda nem tendo sido ligados.

– Eu já estou cansado de você querendo me desafiar. Eu sou o alfa, e não vou aceitar esse tipo de insubordinação, ainda mais na frente dos meus tenentes. Então é bom você parar com isso, ou eu vou te mostrar o quão criativo eu posso ser para te punir sem encostar um dedo nessa sua pele de porcelana intocável.

O loiro pôde ver que Jared falava sério e resolveu não responder. Aquelas provocações e discussões não levariam a lugar nenhum. Na verdade, só tornariam a estadia ali um inferno mais insuportável, mas era difícil para o ômega conseguir aceitar ordens de um completo desconhecido que agora seria seu alfa.

– E mantenha-se fora da minha cabeça. – Jared disse antes de sair do quarto e Jensen rosnou.

O loiro andou pelo quarto o avaliando e estudando, como se para garantir que era seguro, quase um instinto natural. Constatando que sim, foi até o banheiro e sorriu largamente ao avistar uma banheira enorme lá dentro.

Vinte minutos depois, ele saiu de dentro do banheiro um pouco mais relaxado. A água sempre lhe acalmava, por isso ele gostava tanto de nadar no lago de Tuskegee.

Abriu o armário e suspirou ao ver as túnicas vermelhas de vários tons e cortes. Ele odiava aquela cor, mas era tradição o ômega vestir a cor vermelha em cerimônias especiais, então acabou escolhendo a que achou menos ridícula e a vestiu, avaliando-se no espelho e rindo de si mesmo.

Desfez as malas e, quando o tempo que o alfa deu acabou, ele apareceu na porta de seu quarto e deu duas batidinhas, entrando logo em seguida.

Jensen olhou para ele e não pode deixar de notar que estava bonito, mesmo o loiro sendo totalmente hétero.

Jared vestia uma túnica vinho, tão profunda que parecia quase preta, que destacava seus olhos misteriosos, com alguns detalhes dourados.

– Está pronto? – Jared perguntou e se aproximou do outro, avaliando-o de cima abaixo e sorrindo com o que via. Jensen era um homem bonito, apesar de Jared ser totalmente hétero. – Você fica bem de vermelho. Porque não gosta da cor?

Jensen rolou os olhos.

– Porque significa submissão. Só os ômegas usam vermelho em uma cerimônia...

O alfa riu e deu de ombros.

– Não significa só isso. Significa também amor, paixão, calor, aconchego. Não sente isso?

Jensen negou com a cabeça.

– A única coisa que eu sinto é desconforto porque todos vão ficar me olhando e ainda por cima vou ter que ficar ouvindo o que elas pensam sobre mim.

– Não aprendeu a bloquear pensamentos? – Jared alteou uma sobrancelha.

– Aprendi, mas os lobos daqui são diferentes dos do meu pack. Vocês parecem uns animais selvagens...

Jared riu.

– Nós somos. Está na nossa natureza de lobo, não dá pra controlar. – Jared explicou. – Vamos? Está na hora.

Continua...