The dead man's coming
Você já está morto.
Enquanto o sol nasce no horizonte e as pessoas levam a sua vida normalmente, você carrega um fardo entre os ombros – e por mais clichê que pareça, não sabe se vai conseguir agüentar.
O martelo bate, bate, bate em sua cabeça esperando a mesma resposta: sim.
E você já está morto.
Foi quando ele disse adeus, você acha. Quando você sentiu que ele iria embora e que a vida dele não dependia da sua. Mas talvez você sempre soube que Sam não nasceu para essa vida. E talvez isso doeu tanto ao ponto de te partir em mil pedaços que você precisou ajuntar sozinho naquelas noites de insônia.
E você já está morto.
Só que as coisas não acontecem assim, do nada. Segundo Lúcifer, sempre esteve predestinado, desde o início do mundo e blá, blá, blá. Você continua de pé, negando, simplesmente porque não quer aceitar. Você não pode aceitar; pelo seu bem, pelo bem de Sam. E mesmo que você continue negando, apenas está esperando que eles apertem na ferida certa para que consigam o que querem.
Você já está morto.
Quando seu pai desceu pro Inferno em troca da sua vida, você se sentiu péssimo. Foi um preço alto a ser pago – e você tem certeza de que nunca valeu tanto assim. É egoísmo, você sabe. Dói pensar em seu pai queimando por lá, dói entender que a culpa é sua e dói mais ainda perceber que você fez exatamente a mesma coisa. Você sempre foi um egoísta considerável, um abuso da realidade, uma força fora do eixo.
Só que você culpou Sam por ser egoísta – e quis muito que ele gritasse de volta que você era um grande hipócrita por isso.
E você já está morto.
Acreditou e acreditou na própria força. Idiota. Idiota. Idiota. Você foi um inocente cegado por um punhado de convicções errôneas. Você sempre acreditou nas coisas erradas – sempre tentou não pensar no assunto, mas com certeza sempre esteve errado. E você sabia disso. Em todas as vezes que acreditou estar certo, você sabia que estava errando. Mas tinha aquela esperança dos idiotas de que, talvez, esta vez, seria a certa.
E você já está morto.
Quando gritou com Sam. Quando o mandou embora. Você morreu com o abandono dele – porque depositou tudo de você naquele cara. Você deixou um bocado de coisas para trás por ele. E não queria nada de volta – a não ser um pouco de arrependimento e companheirismo.
E você já estava morto quando foi para o Inferno, já estava morto quando se acidentou diversas vezes num mesmo dia, já estava morto quando enfrentou seus medos, já estava morto quando conversou com Tessa, já estava morto quando viu todos morrerem.
Você sempre esteve morto, por mais que sentisse, que respirasse, que sofresse. Um corpo podre por dentro e uma alma vazia. Era mesmo um bom receptáculo sem nada que pudesse ser aproveitado.
A Fome acertou em cheio quando viu você: apenas um homem morto.
