Todas as personagens que você reconhecer pertencem a J. K. Rowling. Eu não quero e nem vou lucrar com o que escrever.
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TOUJOURS PUR
Nobreza e Plebe
Gabrielle Briant
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I
A UNIÃO DESFEITA
"Querida Bellatrix,
"Espero que você saiba o quanto eu aprecio a nossa amizade. Eu sempre lhe vi como uma irmã, e me alegrava a perspectiva de assim ser, agora aos olhos da lei. Mas por lhe ter tão cara, tenho que revelar o que presenciei em minha casa.
"Meu irmão, Augustus, estava em seu quarto com a vadia da Alexandra Parkinson. Não quis entrar para ver o que acontecia, mas eles passaram muito tempo lá dentro e ela estava mal penteada quando saiu. Não vou acusá-los de nada; apenas apresento-lhe o que eu vi, e nada mais, para que você tire as suas próprias conclusões.
"Minha estimada amiga, a última coisa que eu quero é lhe ver presa num casamento infeliz. Converse com o meu irmão; ponha as cartas na mesa. Eu sei que ele deseja que esse casamento se realize, e tenho certeza de que vocês podem ser felizes juntos, se você puder perdoar essa pequena falha.
"Com amor,
"Charlotte J. Rookwood."
Bellatrix Black releu a carta pela terceira vez, analisando friamente cada uma das palavras da sua grande amiga Charlotte. Ela não podia dizer que a notícia de que o seu noivo estava lhe traindo era uma grande surpresa – ela lembrava bem que Augustus tivera um caso com Parkinson no último ano deles em Hogwarts, e, desde que soube que os dois trabalhariam juntos, Bellatrix passou a prever a infidelidade. Ainda assim, a confirmação fez com que as suas mãos tremessem por puro ódio.
Talvez aquela reação fosse devido à ocasião em que a revelação aconteceu: no momento da última prova do seu vestido de noiva.
- Srta. Black? Más notícias?
Ela olhou de relance para Madame Guisterd, a estilista que, agora, bordava o tecido branco.
- Não. Não é nada.
Bellatrix era a herdeira mais velha da "Mui Antiga e Nobre Casa dos Black". Ela sabia bem que a sociedade esperava que ela se portasse de forma condizente com a nobreza do seu sangue. Então, por mais que tudo que ela desejasse fosse rasgar os trapos brancos e cancelar o seu casamento, ela sabia que não poderia: ela estava solteira aos dezenove anos – um escândalo – e... bem, ela já tinha conseguido fugir de dois matrimônios antes deste. Dar fim a um terceiro noivado não era uma opção realista.
Então, ela poderia ignorar uma pequena falha do seu querido noivo, não?
Claro que poderia – ela pensou. Ele apenas passara uma noite com a vadia da Parkinson; aquilo não era nada, tendo em vista que Augustus se submetera a passar os últimos dez meses sem nenhum contato íntimo. Homens tinham certas necessidades, certo? Ele ao menos respeitou a vontade de Bellatrix de se guardar para a noite de núpcias – Augustus jamais tentou persuadi-la a ir para a cama com ele.
Bellatrix se olhou demoradamente no espelho. O vestido branco tinha gola alta e colava-se a cada centímetro do seu corpo até o joelho, onde se abria numa cauda sereia. Naquele momento, a estilista usava a sua varinha para colar no tecido cristais e pérolas.
Antes dela, a cabeleireira já havia penteado os seus cabelos, prendendo-os elegantemente e deixando alguns cachos castanhos soltos, delineando o seu rosto. A maquiagem também estava pronta, de forma que Bellatrix poderia ver exatamente como ela ficaria no dia do seu casamento.
Ela sorriu – seria uma noiva deslumbrante.
Naquele momento, a porta do seu quarto abriu e as suas falantes irmãs, Andromeda e Narcissa, entraram.
- Pelas barbas de Merlin! – Andromeda exclamou, correndo para perto da irmã mais velha. – Bella, você-! Eu estou tão feliz por você!
Narcissa sorriu, recostando-se à porta.
- É, Bella! Você está linda! Sabe você deveria usar o seu cabelo preso mais vezes... pelo menos lhe diferenciaria da Andy!
- Nós não somos tão parecidas assim, Cissy! – Andromeda disse. – Mas, se somos... eu pelo menos sei que, um dia, serei uma noiva muito bonita!
Bellatrix apenas assentiu, sem tirar os olhos da sua imagem no espelho. Ela não estava escutando as irmãs: sua mente estava muito ocupada tentando se convencer de que ela deveria continuar com aquilo tudo – que deveria cumprir o seu papel e casar-se. Com Augustus. O Augustus que dormira com outra mulher.
O Augustus que sempre quis uma noiva pura! Mas, se ele queria se casar com uma mulher virgem, não era justo que ele também se abstivesse dos prazeres carnais? Sim, homens têm necessidades... mas mulheres também as têm! A prova viva daquilo era a vadia da Alexandra Parkinson!
Alexandra Parkinson! – Bellatrix bufou irritada e, sem perceber, amassou violentamente a carta que a irmã do seu noivo a enviara.
Bellatrix sabia que era infinitamente mais bonita que Alexandra! E mais inteligente! E mais interessante! E sua descendência, Black e Rosier, sequer poderia ser comparada com algo tão vulgar quanto Parkinson! Se Augustus não conseguia entender aquilo, como poderia apreciar ter uma mulher como Bellatrix ao seu lado?
E, o mais importante de tudo: Bellatrix não o amava!
- Bella? – Ela escutou, ao longe, a voz da irmã do meio. Saindo lentamente da sua discussão silenciosa, Bellatrix olhou para Andromeda. – Você não estava escutando a uma só palavra, não é verdade?
- Não, eu... Andy, eu não posso fazer isso!
Andromeda deu um sorriso apreensivo.
- Você está só nervosa, Bella!
- Não! Eu não estou nervosa! Eu estou furiosa! Eu-
E Bellatrix não disse mais nenhuma palavra. Ela apenas empurrou Madame Guisterd e desceu do banquinho que impedia que o seu vestido arrastasse no chão. Rapidamente, ela desviou das irmãs e saiu do seu quarto.
- O que-?
O rosto de Narcissa logo ficou preocupado, enquanto ela se aproximava de Andromeda.
- Ela vai cancelar mais um casamento, não é?
- Eu não sei... Eu... – Andromeda abaixou-se para pegar o pedaço de pergaminho que a sai irmã tinha deixado cair. Rapidamente, leu a carta que há menos de meia hora fora entregue a Bellatrix. – Oh, Merlin! Augustus traiu Bella!
- Eu sabia! – Narcissa exclamou. – Eu disse que ela deveria ter se casado com Herbert McMillan!
Andromeda estudou a irmã mais nova, sem querer acreditar no que tinha ouvido.
- Cissy, Bella não amava Herbert! Todos sabem disso!
- Ela o amaria eventualmente, Andy! O fato é que Bellatrix já tem quase vinte anos! Ela não pode mais jogar pretendentes fora! E Herbert era louco por ela! Jamais a trairia, como Augustus!
- Sabe, Narcissa, nem todas as pessoas têm toda a vida planejada aos quatorze anos de idade, como você! E eu não acho que uma mulher de vinte anos que não esteja casada deva ser considerada uma solteirona!
- Você só diz isso porque você está caminhando para esse destino, Andy! Vai para o seu último ano em Hogwarts, e não tem um namorado!... Depois vocês duas ficam chateadas por eu ser a favorita de nossos pais! Eu já garanti um bom casamento! E sei muito bem que, assim que sair da escola, serei a Sra. Bagman!
Andromeda fechou os olhos e suspirou lentamente. Ela queria dizer que Narcissa estava errada, mas sabia que a sua irmã mais nova tinha razão. Narcissa já estava apaixonada por seu futuro marido. Bellatrix apenas não estava casada porque era difícil de agradar; mas, ainda assim, os homens pareciam cair de amores por ela o tempo inteiro. Já Andromeda... Simplesmente havia algo nela que repelia os garotos de boas famílias.
Ela jamais admitiria, mas o seu maior medo era ter que, um dia, pedir que os seus pais lhe arranjassem um casamento.
Andromeda balançou a cabeça, expulsando aqueles pensamentos.
- Que seja, Narcissa. Nós deveríamos ver se Bella está bem.
A irmã mais nova assentiu e logo as duas saíam do quarto e seguiam pelos corredores da mansão, seguindo as vozes cada vez mais altas de Bellatrix e Cygnus Black.
- Eu não vou permitir isso! – O pai delas bradou.
A discussão às portas abertas se passava no escritório de Cygnus. O pai das três garotas estava em pé muito perto de Bellatrix. Enquanto Bella parecia insolentemente calma, Cygnus tinha o rosto arroxeado, com veias saltando em seu pescoço e testa. Ele parecia alguém prestes a cometer um assassinado.
Atrás dele, com uma mão no ombro do marido, estava Druella. Ela parecia nervosa – o que era uma coisa rara para a quase sempre intocável Sra. Black.
- Eu não estou perguntando se posso fazer isso, papai! – Bellatrix disse, tentando controlar o tom da sua voz. – Eu estou afirmando que não vou me casar com Augustus!
- Você é minha filha! Fará o que eu ordenar!
- Não! Eu não fugiria desse casamento se Augustus tivesse me respeitado! Eu já disse o que aconteceu! Eu não vou passar o resto da minha vida com um homem infiel!
- Eu tive muita paciência com você, Bellatrix! Desta vez, se você não quiser casar, pode pegar as suas coisas e deixar essa casa!
A primogênita ergueu uma sobrancelha desdenhosamente e, com um sorriso de escárnio em seus lábios, disse:
- Devo arrumar a minha mala agora, querido papai?
Aquilo foi o suficiente para Cygnus. Andromeda sabia muito bem que o pai era violento; mas foi com surpresa que ela observou a mão dele erguer-se no ar e atingir pesadamente o rosto de Bellatrix.
- Já chega! – Druella quase gritou, colocando-se entre o marido e a filha. Ela respirou fundo algumas vezes, retomando a calma em sua voz. – Meu bem, por que não conversamos sobre isso? Enquanto deixamos a nossa filha se acalmar e, quem sabe, mudar de idéia?
Cygnus olhou para a esposa, totalmente rendido. Mesmo depois de mais de duas décadas, Druella Rosier ainda conseguia controlar o severo Sr. Black.
- Druella, dessa vez...!
- Dessa vez, se Bellatrix estiver falando a verdade, ela não é a culpada. Eu também quero que a nossa menina se case, mas apenas com alguém que lhe fará feliz. Nós temos que nos orgulhar de ter filhas puras. E acho que elas não merecem nada além da mais fervorosa fidelidade em troca desta pureza, você não concorda, meu bem?
- Sim, mas-
- Se nós dois pensamos assim, não podemos punir a nossa Bellatrix por também querer o melhor!
Cygnus suspirou pesadamente.
- Dru...
Ela sorriu calidamente, voltando-se para as duas garotas que ainda estavam na porta.
- Queridas, será que vocês podem nos dar licença por um momento?
Andromeda assentiu, entrando no escritório apenas para guiar Bellatrix – que ainda estava atordoada por ter sido agredida pelo pai. Quando as duas irmãs chegaram à sala, Narcissa já as esperava – na companhia de Madame Guisterd.
- Por Merlin, não vai haver casamento! – Bellatrix finalmente falou, nervosa. – O que você ainda está fazendo aqui!
- Oh, eu... Desculpe-me, Srta. Black... Mas eu tenho que saber se eu ainda receberei o meu pagamento.
- E você pretende esperar aqui, no meio do que parece ser uma crise familiar? Vá! Depois a minha mãe passará no seu ateliê! VÁ!
A mulher assentiu algumas vezes e quase correu para a saída – onde um elfo doméstico a esperava. Quando as três finalmente estavam a sós, Andromeda se sentiu livre para perguntar:
- Você está bem, Bella?
Ela bufou, finalmente tirando a mão de onde o pai lhe acertara. O formato dos dedos de Cygnus estava em alto relevo e pintado de vermelho e roxo, e apenas agora Andromeda percebia o sangue no canto da boca da irmã.
- Como você acha? Papai me bateu!
- Ele vai pedir desculpas... eu tenho certeza!
- Depois de mamãe controlar ele? Não quero, obrigada!
Narcissa se aproximou.
- O que aconteceu, Bella? Foi por causa da carta?
- Foi. Eu não posso me casar com um homem infiel, Cissy! – Ela deu um meio-sorriso. – Afinal, eu sou muito boa em magia negra! E sempre quis usar uma maldição imperdoável contra alguém! – Bellatrix riu-se e sentou-se no sofá. – Por Merlin, esse vestido é apertado! Eu sufocaria antes do fim da cerimônia, usando isso!
Andromeda sentou-se ao lado da irmã.
- Ele poderia lhe fazer feliz, Bella?
- Não. Não se ele agir assim. Eu mereço alguém que seja devotado a mim.
- Sabe, Bella... – Narcissa disse, ainda de pé. – Ninguém vai querer arriscar ser o quarto noivo deixado no altar!
- O quarto? De forma alguma, Cissa! Eu nunca cheguei a ir ao altar, certo?
As duas irmãs mais velhas riram, mas Narcissa apenas rolou os olhos. Ela achava, sinceramente, que Bellatrix estava desperdiçando boas oportunidades – afinal, um casamento bom era o objetivo de vida de uma jovem de família respeitável. E o que a chateava mais naquela situação era saber o quanto a atitude de Bellatrix traria vergonha ao seu pai.
Mais tarde, a filha mais nova de Cygnus foi ao escritório lhe ver. Ele havia se recusado a participar da visita que anunciaria aos Rookwood o fim do noivado, e Narcissa sabia que a única capaz de acalmar o pai era ela. Porque ela era a favorita.
Ela bateu a porta do escritório duas vezes antes de, lentamente, entrar.
Cygnus, à meia luz, concentrava-se numa garrafa de uísque de fogo, como esperado. Ela entrou cautelosamente.
- Papai?
Ele a olhou, e deixou um sorriso melancólico abrir-se em seu rosto.
- Pode entrar, Narcissa.
Narcissa se aproximou, sentando-se na beirada do gabinete do pai.
- O senhor tem que entender Bellatrix. Humilhar a família nunca foi a sua intenção, papai. Ela apenas... sabe que o casamento é uma decisão irrevogável. Ela quer ter certeza antes de aceitar esse compromisso.
Cygnus riu-se.
- Às vezes eu me impressiono, Cissa, com o quanto você se parece com a sua mãe; não apenas fisicamente. Ela me disse quase a mesma coisa, mais cedo.
- Mas é a verdade! Bella merece ser feliz.
- Todas vocês merecem. Eu apenas... Eu queria que a sua mãe aceitasse a idéia de casamento arranjado! O meu casamento com ela foi acertado quando éramos crianças, e eu gosto de pensar que somos felizes!
- Papai, o senhor tem três filhas muito bonitas. Nós somos perfeitamente capazes de conseguir os nossos próprios noivos.
- Você, com certeza; já conseguiu! Andromeda, provavelmente. Mas Bellatrix? Quem se casará com ela, depois de ter abandonado três noivos?
Narcissa deu um meio-sorriso.
- Bem, ela ainda é uma herdeira Black. Talvez alguns homens passem a vê-la como um desafio!
Ele segurou a mão da filha.
- Ela é um desafio!
- Sim... Bella é difícil.
- Mas você vai orgulhar a sua família, não vai, Cissa?
Narcissa assentiu.
- É o que eu mais quero, papai. Eu pretendo me tornar uma Bagman assim que deixar Hogwarts!
- Ludovic é um bom garoto. Ele é o capitão do time da Sonserina, não?
- Não. Eu não acho que o Ludo seria responsável o suficiente para levar o time nas costas. O capitão é o Lucius Malfoy.
- Ah, o garoto de Abraxas! Talvez ele fosse mais apropriado para você, não?
- Eu mal conheço o Lucius, papai. E Ludovic será um jogador de quadribol famoso!
- Oh, que seja. Eu gosto dele.
- E, mais importante, ele gosta de mim. O senhor não tem que se preocupar comigo, papai.
- Eu sei disso, Narcissa. Eu sempre soube.
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Feliz ano novo!
Eu sempre juro que vou me aposentar desse mundo das fics de HP, mas, aparentemente, eu sou uma cretina sem palavra. Mais uma fic pra vcs, então! (Essa, pelo menos, é diferente de qualquer coisa que eu já escrevi).
E, pra não perder o costume: reviews, por favor!
